opinião
3 conselhos de C.S. Lewis para estes tempos
Em tempos assim, vale considerar como nossos pais superaram situações adversas no passado e como nossos avós portaram-se diante do infortúnio.
Nossa geração está vivendo uma experiência avassaladora com o surgimento da pandemia do coronavírus. Ela expôs a fragilidade das relações humanas de uma forma que alguém jamais imaginou.
Não há parâmetro ou referências recentes no imaginário popular de algo similar vivido anteriormente na qual se possa apoiar para entender o que está acontecendo.
A pandemia do vírus de Wuhan colocou o cidadão comum no meio de uma guerra de extremos.
De um lado, temos aqueles que se apegam ao bom senso, à realidade dos fatos, cientes das consequências, apresentam seus argumentos e clamam contra o conformismo e a inércia. No outro extremo temos os negacionistas, estes sim, agarrados quase que exclusivamente à narrativas, defendendo ideias das quais não tem noção de quem as incutiu ou de onde as tiraram, politizando até mesmo protocolos de tratamento, replicam profusamente suas conjecturas nos canais de TV e demais veículos de comunicação.
No centro disso tudo, o cidadão comum padece atormentado por uma overdose de informações desencontradas.
Em tempos assim, vale considerar como nossos pais superaram situações adversas no passado e como nossos avós portaram-se diante do infortúnio.
Aqui entra C.S. Lewis. O escritor irlandês que vivenciou a 2ª Guerra Mundial e naquele momento tão difícil sobrepujou a desventura e com palavras sábias inspirou toda uma geração, evocando os fundamentos do cristianismo.
Quando a Alemanha Nazista, comandada por Hitler, invadiu a Polônia, no outono de 1939, C.S. Lewis pregou um sermão na igreja de “St. Mary the Virgin”, em Oxford, que venceu o tempo e permanece disponível para nós como um sábio conselho de quem enxergou uma saída no meio daquele caos que se abatia sobre a Europa.
Aqui apresentamos três inimigos em tempos de extrema dificuldade que C.S. Lewis identificou e que desafiavam os jovens naquele momento. Para cada um deles ele oferece um sábio conselho.
A inquietação
Somos submetidos a uma avalanche de notícias que sobrecarregam nossa mente com ansiedade e inquietação. São informações desencontradas e contraditórias que provocam um estado de euforia constante. Com essa overdose de informação que nos inunda, graças aos modernos meios de comunicação, fica difícil o indivíduo manter o foco em alguma coisa. Tudo move-se vertiginosamente numa espiral de notícias divergentes que inebriam o indivíduo e o paralisam diante das mais ordinárias atividades.
Nesse caos, parece que não há voz insuspeita para seguir. Mesmo os líderes religiosos ainda tateiam desorientados no escuro à procura de sentido para o que está acontecendo e o que nos oferecem ainda são discursos dissonantes sobre os rumos a tomar. Foi assim em 1939 no início da 2ª Guerra Mundial e suspeita-se que a história se repete em 2020.
O primeiro conselho de C.S. Lewis: “volte-se para a História”.
Ao contemplar os eventos do passado o indivíduo é impelido para a realidade já vivida e consegue perceber que a sua situação não é mais extraordinária que a que seus antepassados viveram. Através desse exercício de avaliação pode-se perceber que a vida humana foi e sempre será esse caminhar a beira de um precipício.
O cristão, dispõe de tantas passagens bíblicas que quando analisadas à luz do avanço dessa pandemia que atinge igualmente todas as classes sociais, tomam um sentido muito mais real em suas vidas. Moisés e o povo hebreu com o mar a frente e atrás, Faraó e seu exército; Daniel na cova dos leões famintos; Elias no desafio diante dos profetas de Baal e vários outros exemplos.
As histórias desses personagens não chegaram até nós gratuitamente, apenas para deleite intelectual, mas como modelos de comportamento divinamente inspirados para serem seguidos quando estivéssemos diante de dificuldades similares.
Imagine que a você foi dada a oportunidade de vivenciar o aparecimento de uma pandemia dessa abrangência e que Deus te oferece as competências necessárias para sobrepujar essa grande dificuldade e deixar um legado para quando alguém olhar para o passado, se inspirar na maneira como você venceu a adversidade.
Olhar para a História te faz ver que seus antepassados viveram desafios maiores, mais arriscados e sobreviveram. Essa análise ajuda a não cometer os mesmos erros ou até ver que sempre há uma maneira de superar o mal, por mais arrasador que pareça.
A frustração sobre o futuro
Assim como a iminência da guerra com seus horrores e mortes provocou muita incerteza sobre o futuro daquela geração, a pandemia do vírus de Wuhan também trouxe consigo as mesmas incertezas. Será que conseguirei terminar as coisas que comecei a fazer? Meus estudos, meus projetos, formar uma família, criar meus filhos, cuidar dos meus pais, meu trabalho etc. Como estará a economia quando tudo isso terminar? Quando vai terminar?
Como uma pessoa sensata, C.S. Lewis não tratou tais preocupações como infundadas nem com leviandade. Antes ele considerou que aquele que decidir viver o presente e entregar o futuro a Deus, ao final terá feito melhor escolha.
Certo é que a solução dada por Lewis está alinhada com as palavras de Jesus Cristo: “Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos?” Mateus 6:31. Ele próprio confessa que essa é a genuína atitude cristã nessas ocasiões, independente da idade; deixar o futuro nas mãos de Deus. E acrescenta: seja em tempos de guerra ou de paz, nunca comprometa sua felicidade cotidiana, com o futuro distante.
O segundo conselho de C.S. Lewis: “ore e agradeça pelo pão de cada dia”.
Concentre sua energia no dia que você tem hoje. Viva momento a momento. Dê um passo de cada vez e seja grato pelo dom da vida.
Uma grande obra é construída tijolo a tijolo; parede a parede e assim por diante. Dedique-se a fazer o que tiver às mãos naquele dia. Dê o seu melhor, não permita que suas preocupações com o futuro atrapalhem o seu dia e seja grato pelo seu dia de vida.
O medo da morte
A incerteza sobre o futuro acaba inevitavelmente levando o indivíduo a pensar sobre a morte.
C.S. Lewis novamente demonstra aguda perspicácia ao expor que nem a guerra iminente – nem o vírus de Wuhan – aumentam a probabilidade de morte, antes a torna mais real para nós. É como se os espelhos deformantes com os quais vemos e interpretamos o mundo fossem quebrados e ela se transfigurasse de um conceito distante em um incômodo visitante quase que palpável diante de nós.
Para questão dessa importância nem a negação ou desapego evasivo nem os devaneios com finais trágicos e desesperadores podem ajudar.
O cristão tem disponível nas Escrituras a sábia lição do salmista quando pede a Deus que o ensine a contar os dias para adquirir coração sábio (Salmos 90:12). Essa consciência da finitude e brevidade do tempo dá ao indivíduo a oportunidade de usá-lo com parcimônia.
O terceiro conselho de C.S. Lewis: “seja corajoso”.
Lewis lembra que 100% de nós morreremos. Essa taxa não poderá ser aumentada, muito menos diminuída. Ocorre que o advento de tragédias embaralha um pouco nossa percepção sobre o fluxo natural dessa caminhada. Algumas mortes parecem ter sido antecipadas, causando um sentimento de impotência diante das circunstâncias e esse desarranjo momentâneo da percepção entre a caminhada natural rumo ao último dia e a possibilidade real de antecipar esse final acabam provocando medo e pânico.
Se o trabalho e a rotina do dia a dia sufocam o ânimo do indivíduo para pensar na sua morte, tragédias como a guerra ou o aparecimento do vírus de Wuhan constrangem a pensar sobre ela.
Os jovens de 1939 foram designados para irem à guerra defender seu país e seus valores. A nós, foi incumbido o confinamento domiciliar a fim de preservar nossas vidas e barrar o avanço do vírus.
Tome coragem e procure tirar algo bom dessa situação. Use o confinamento para estudar, aprender algo novo, buscar a verdade, a beleza e a bondade.
O apóstolo Paulo nos deixa uma valiosa lição, independente do momento que estivermos vivendo. Há um texto que simboliza tudo o que falamos; pois ele trata de manter o foco, não inquietar-se com as circunstâncias e seguir com coragem a carreira que nos foi proposta:
“Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho.” Filipenses 1:21
Sendo sincero, tudo o que você tem é o momento. É nesse momento que você cumpre, um passo por vez, uma grande tarefa que você tem para concluir.
Referência:
https://bradleyggreen.com/attachments/Lewis.Learning%20in%20War-Time.pdf