opinião
A Graça de Deus
A graça de Deus. (estudo 1 – Graça preveniente)
“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.” Ef 2.8
Um dos conceitos mais incompreendidos no meio cristão, até pelo número vasto de aplicações e significados, e por se trata de ato divino, é “a Graça de Deus”.
Segundo a concordância exaustiva Joshua a palavra graça (na versão JRC) aparece 73 vezes no antigo testamento e outras 144 no novo.
Contudo, o que iremos destacar, neste artigo, é a graça como “dádiva”, “favor imerecido”, isto é, no que diz respeito à salvação do homem, parte específica de tão grande favor de Deus dado aos homens, a redenção em Cristo Jesus.
Segundo o dicionário Strong, do grego, χαρις charis, cuja tradução mais comumente aceita é “favor imerecido”.
Para o dicionário Léxico-Grego (F. Wilbur Gingrich) do Novo Testamento
χάρις, ιτος, ή—1. graciosidade, atratividade Lc 4.22; Cl 4.6.—2. favor, graça, ajuda graciosa, boa vontade Lc 1.30; 2.40, 52; At 2.47; 7.10; 14.26; Rm 3.24; 4.4; 5.20s; 11.5s; Gl 1.15; Ef 2.5, 7s. Crédito Lc 6.32-34. Aquilo que traz o favor (de Deus) 1 Pe 2.19s.— graça ou favor (divinos) em fórmulas fixas no início e fim de cartas cristãs, e.g. Rm 1.7; 16.20; 2 Co 1.2; 13.13; 1 Ts 1.1; 5.28; Hb 13.25; 1 Pe 1.2; Ap 1.4.—3. aplicação prática da boa-vontade, um sinal de favor, ato gracioso ou dom, beneficio Jo 1.14, 16s; At 13.43; 24.27; 25.3, 9; Rm 5.2; 6.14s; l Co 16.3; 2 Co 1.15; Ef 4.29; Hb 10.29; Tg 4.6; 1 Pe 5.10.—4. de efeitos excepcionais produzidos pela graça divina Rm 1.5; 12.6; 1 Co 15.10a, b; 2 Co 8.1; 9.8, 14; 1 Pe 4.10. Dificilmente pode ser diferenciada de poder, conhecimento, glória At 6.8; 1 Co 15.10c; 2 Co 1.12; 2 Pe 3.18.—5. gratidão χάριν εχειν ser grato 1 Tm 1.12; 2 Tm 1.3; Hb 12.28. Em outras expressões Rm 6.17; 7.25; 1 Co 10.30; 15.57; 2 Co 9.15; Cl 3.16.
De fato, um favor imerecido é difícil de ser integralmente compreendido, pelo simples fato de não ter uma causa inicial, não ser conseqüente a ato ou uma recompensa, mas (tradução que gosto) é uma dádiva ou “presente”, favor, benevolência que não se explica.
Karl Barth nos dá uma boa dica da complexidade da graça e como devemos entendê-la.
“Graça é o fato real, embora incompreensível, que Deus se agrada do ser humano e que este pode alegrar-se em Deus. Mas a graça somente é graça quando ela for reconhecida como inexplicável [sem razão de ser], incompreensível.
E por isso que só há graça sob o reflexo da ressurreição, como dádiva de Cristo, que eliminou a distância entre Deus e os homens, tirando-a violentamente [quiçá, vencendo o afastamento que a morte implicitamente encerra, com o rompimento violento do túmulo para o surgimento triunfante da vida].” (Carta aos Romanos, pg 31)
“Ora, ao que trabalha não se lhe conta a recompensa como dádiva, mas sim como dívida; porém ao que não trabalha, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é contada como justiça;” Rm 4.4-5
A graça é o favor de Deus, imerecido, dado aos homens.
Podemos perceber que toda a criação foi feita em amor, em graça, isto tem um único fundamento – Deus é amor, e o homem sua imagem e semelhança.
Deus não tinha a obrigação de criar nada, de perdoar nada, mas livremente decidiu criar o mundo e a humanidade, e decidiu, ainda, redimi-los em carne, no sangue e no corpo de Cristo, proveniente de uma natureza divina, mas em forma humana.
A bondade de Deus, provisão e preparação de toda criação, e conseqüente compartilhar de domínio dado ao homem sobre todos os seres viventes, mostra-nos a Sua antecedente bondade.
“E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se arrasta sobre a terra.” Gn 1.26
“E viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom. E foi a tarde e a manhã, o dia sexto.” Gn 1.31
Ao longo de nossos estudos e leituras nos deparamos com muitos conceitos de graça, sabemos que ela é uma só, é claro, mas para explicar a sua ação, ao longo da história, a Graça de Deus foi subdividida em “partes”, por assim dizer.
Entre os conceitos, alguns dos mais difundidos, temos, entre os calvinistas (que crêem na predestinação incondicional):
“Graça comum” – “Ao lado da doutrina da graça particular (dos predestinados e somente para eles, inserção nossa), ele desenvolveu a doutrina da graça comum. Esta graça é comunal, não perdoa nem purifica a natureza humana, e não efetua a salvação dos pecadores. Ela reprime o poder destrutivo do pecado, mantém em certa medida a ordem moral do universo, possibilitando assim uma vida ordenada, distribui em vários graus dons e talentos entre os homens, promove o desenvolvimento da ciência e da arte, e derrama incontáveis bênçãos sobre os filhos dos homens. Desde os dias de Calvino, a doutrina da graça comum é geralmente aceita na teologia reformada (calvinista), embora encontrando ocasional oposição. “ (Teologia Sistemática de Berkhof, pg 427)
Teólogos arminianos guardam um conceito semelhante de “graça comum”.
“Os efeitos do pecado sobre a humanidade decaída são tão devastadores que sem a graça comum de Deus (isto e, a sua graça não-salvífica que esta disponível a toda a humanidade), a existência da sociedade ficaria inviabilizada e a salvação seria inatingível.” (Norman Geisler, Teologia sistemática, v 2, pg 110)
(Teses calvinistas, abaixo, que não incluímos entre as definições que demonstram a graciosidade divina.)
“Graça evanescente” – (Seria uma espécie de iluminação temporária) “contudo não é de admirar que nos chamados justos, temporariamente, se desvaneça o senso do amor divino, o qual, embora seja afim à fé, entretanto difere muito dela. Declaro que a vontade de Deus é imutável e sua verdade é sempre consistente com a mesma. Contudo nego que os réprobos avancem até o ponto de penetrar essa secreta revelação que a Escritura reivindica só para os eleitos. Nego, porém, que eles ou apreendam a vontade de Deus, como é imutável, ou com real constância lhe abracem a verdade; por isso é que se detêm em um sentimento evanescente, como uma árvore, plantada não bastante funda para produzir raízes vivas, seca-se no decurso do tempo, ainda que por alguns anos simule não só flores e folhas, mas até mesmo frutos.” (Calvino, Institutas, 3, pg 36)
“Graça irresistível”, também chamada de “Graça eficaz” (é um dos acrósticos da TULIP, os pontos formaram um acróstico mneumônico com nome da flor que é símbolo da Holanda, que em inglês é TULIP.O documento está datado de 25 de abril de 1619.) “A Graça Irresistível é o ensino que Deus irresistivelmente conquista a vontade do pecador eleito com sua graça e o regenera, concedendo-lhe fé e arrependimento para crer em Jesus Cristo.” (Laurence Vance, o Outro lado do calvinismo)
“Os calvinistas respondem que a graça de Deus não pode ser obstruída, visto que sua graça é irresistível. Os calvinistas não querem significar com isso que Deus esmaga a vontade obstinada do homem como um gigantesco rolo compressor! A graça irresistível não está baseada na onipotência de Deus, ainda que poderia ser assim, se Deus o quisesse, mas está baseada mais no dom da vida, conhecido como regeneração. Desde que todos os espíritos mortos (alienados de Deus) são levados a Satanás, o deus dos mortos, e todos os espíritos vivos (regenerados) são guiados irresistivelmente para Deus (o Deus dos vivos), nosso Senhor, simplesmente, dá a seus escolhidos o Espírito de Vida.
No momento em que Deus age nos eleitos, a polaridade espiritual deles é mudada: Antes estavam mortos em delitos e pecados, e orientados para Satanás; agora são vivificados em Cristo, e orientados para Deus.” (Os cinco pontos da TULIP, por Duane Edward Spencer)
“Graça soberana” – Nome utilizado para enfatizar a ação da graça irresistível (calvinista) e eleição incondicional, personificando a graça e lhe atribuindo “soberania”, de forma que o homem não tem qualquer parte nela, nem pode recebê-la, ou a tem ou não, isto em virtude de um “decreto divino” em uma eleição incondicional antes da fundação do mundo. (“graça soberana – expressão utilizada pelos chamados batistas particulares)
Definitivamente, tenho certa dificuldade em entender/pontuar a graça como uma pessoa, ela é manifestação/ação do Espírito Santo de Deus (este é uma pessoa), mas em si mesmo a graça é um ato, um favor, uma dádiva, não uma pessoa, age livremente, manifesta-se livremente, mas não podemos dizer “soberanamente”, não porque não o seja, mas porque soberania é atribuída a pessoas, isto é, a quem tem personalidade. E mesmo a ação da pessoa do “soberano” Espírito Santo pode ser resistida, tal definição “graça soberana” induz o leitor a erro. Em último caso, a não ser que a intenção de seus defensores, qual seja o significado, que a graça é uma “ação soberana” de Deus, isto, sim, seria correto afirmar a respeito. O problema de uma “eleição incondicional” é que ela simplesmente condiciona a Livre Graça de Deus à indivíduos pré-selecionados à recebê-la.
“Homens de dura cerviz, e incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo; como o fizeram os vossos pais, assim também vós.” At 7.51
“Vede, irmãos, que nunca se ache em qualquer de vós um perverso coração de incredulidade, para se apartar do Deus vivo; antes exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado; porque nos temos tornado participantes de Cristo, se é que guardamos firme até o fim a nossa confiança inicial;” Hb 3.12-14
“E nós, cooperando com ele, também vos exortamos a que não recebais a graça de Deus em vão; (porque diz: No tempo aceitável te escutei e no dia da salvação te socorri; eis aqui agora o tempo aceitável, eis aqui agora o dia da salvação);” 2 Co 6.1
Entre os teólogos Arminianos, destacamos James Arminius e John Wesley.
Para Armínio e os remonstrantes (líderes Holandeses que se opuseram ao calvinismo) o destaque é o conceito de “Graça preveniente.” (comentado mais adiante)
Para John Wesley a Graça poderia ser entendida, em partes, pelo campo de ação do Espírito Santo na vida do homem, divida em: “Graça preveniente”, “conservadora”, “justificadora’, “santificadora” e a “glorificadora”. Queríamos poder tratar de cada uma delas, mas neste artigo não será possível. O destaque entre os arminianos é o ponto comum (entre todos) “Graça preveniente”, e esta comentaremos.
O conceito de graça preveniente
“Graça Preveniente
“Preveniente significa “anterior,” e a expressão graça preveniente se refere à obra executada por Deus no coração dos homens — imerecida do lado humano — anterior a salvação, que encaminha as pessoas em direção a este objetivo por intermédio de Cristo.
Paulo fala a este respeito em Tito: “Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens” (2.11). Ele acrescenta em 2 Corintios 8.9: Porque já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, por amor de vos se fez pobre, para que, pela sua pobreza, enriquecêsseis.
Esta graça também e vista no fato de que “a benignidade de Deus te leva ao arrependimento” (Rm 2.4). Dessa forma, a graça preveniente e a graça de Deus exercida em nosso lugar mesmo antes dele nos conceder a salvação.” (Norman Geisler, Teologia sistemática, v 2, pg 197)
Artigos 1º e 2º dos remonstrantes holandeses.
“Que Deus, por um eterno e imutável plano em Jesus Cristo, seu Filho, antes que fossem postos os fundamentos do mundo, determinou salvar, de entre a raça humana que tinha caído no pecado – em Cristo, por causa de Cristo e através de Cristo – aqueles que, pela graça do Santo Espírito, crerem neste seu Filho e que, pela mesma graça, perseverarem na mesma fé e obediência de fé até o fim; e, por outro lado, deixar sob o pecado e a ira os costumazes e descrentes, condenando-os como alheios a Cristo, segundo a palavra do Evangelho de Jo 3.36 e outras passagens da Escritura.”
“Que, em concordância com isso, Jesus Cristo, o Salvador do mundo, morreu por todos e cada um dos homens, de modo que obteve para todos, por sua morte na cruz, reconciliação e remissão dos pecados; contudo, de tal modo que ninguém é participante desta remissão senão os crentes.” (fonte: www.arminianismo.com)
Armínio “Essa Graça (…) antecede, acompanha e segue; ela nos desperta, assiste, opera para que queiramos o bem, coopera para que não o queiramos em vão. Ela afasta as tentações, ajuda e oferece socorro em meio às tentações, sustenta o homem contra a carne, o mundo e Satanás, e nessa grande luta concede a satisfação da vitória. (…) A graça é o princípio da Salvação; é o que a promove, aperfeiçoa e consuma. Confesso que a mente (…) do homem natural e carnal é obscura e escura, que suas afeições são corruptas e imoderadas, que sua vontade é obstinada e desobediente e que o próprio homem está morto em pecados.” (Citado por R. Olson, em História da Teologia Cristã, pg 481)
Ao contrário do que se pensa a origem da doutrina da “Graça preveniente” é anterior a James Arminius, ela, segundo (Heber de Campos e o Wikipédia, tem origem em Agostinho de Hipona. (Agostinho (354-430) usou o termo em sua luta contra Pelágio (354-418), em sua obra A Natureza e a Graça, 35. Ver também: BETTENSON, Henry. The later Christian fathers. London: Oxford University Press, 1970, p. 204-205.) Além de podermos notar a presença do conceito em alguns movimentos como dos anabatistas especialmente em seus líderes, Baltasar Hubmair e Menno Simons, por ocasião da reforma protestante do século XVI.
Alguns textos bíblicos relacionados à graça preveniente.
“De longe o Senhor me apareceu, dizendo: Pois que com amor eterno te amei, também com benignidade te atraí. “ Jr 31.3
“Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido.” Lc 19.10
“Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia.” Jo 6.44
“Mas, quando aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou, e me chamou pela sua graça, revelar seu Filho em mim, para que eu o pregasse entre os gentios, não consultei carne e sangue…” Gl 1.15-16
“Nós o amamos, porque ele nos amou primeiro.” I Jo 4.19
Pois bem, em suma a “Graça preveniente” é aquela que precede, antecede, é literalmente ”a graça que vem antes”.
Eu fico muito feliz em ver a clareza destes homens usados por Deus (Agostinho, Armínio e Wesley) ao falar da graça que antecede, isto porque não vejo como a graça de Deus não ser preveniente, desta forma não haveria melhor definição para a iniciativa salvífica de Deus para o homem, isto deixando claro que a bondade, o favor de Deus vem primeiro, antes de qualquer iniciativa humana.
A graça de Deus é sempre preveniente, ela nunca é conseqüente, é favor imerecido, do contrário não seria graça, mas prêmio, é um ato livre do criador em direção a humanidade, é a escolha (livre) de Deus de salvar homens pecadores, antes de qualquer mal ou bem que fizessem, de obras, antes de súplicas, mas pela manifestação desta graça, isto é, do favor de Deus exposto, manifesto, e convidando aos homens ao arrependimento pela pregação do evangelho.
“E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade; e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai.” Jo 1.14
“Mas Deus, não levando em conta os tempos da ignorância, manda agora que todos os homens em todo lugar se arrependam;” At 17.30
“Porque não me envergonho do evangelho, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego.” Rm 1.16
A oferta de Deus, a escolha livre de Deus em ser bom para com o homem, em dar dádivas, vida, é anterior a qualquer anseio humano, é anterior, inclusive, a própria existência. A Graça de Deus, a redenção, dada aos homens é preveniente, não espera o querer de indivíduos, sua aceitação ou não, mas é de Graça oferecida remissão pelo sangue do sacrifício do Cordeiro, do Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo (Jo 1.29).
“Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a sua descendência; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.” Gn 3.15
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.” Jo 3.16-17
O sacrifício e a redenção é um presente que não merecemos, não fizemos nada por merecê-lo, não temos parte em sua perfeição, em sua bondade manifesta, podemos apenas ser tocados por ela, alcançados, amados.
E por que o homem carece de graça (preveniente)?
Isto esta relacionado ao estado pecaminoso do homem sem Deus, de corrupção da natureza humana, teologicamente chamada de “Depravação Total”. Wesley nos ajuda a entender (comentando sobre a queda de Adão):
“A liberdade acabou com a virtude; em vez de estar no comando do mestre indulgente, está sob o comando de um tirano impiedoso. O sujeito da virtude torna-se escravo da depravação. Não foi de boa vontade que a criatura obedeceu à vaidade, e, agora, a regra é por necessidade; o cetro do outro foi trocado por uma barra de ferro. Antes, os laços de amor, na verdade, atraíam a criatura para o céu; contudo, se ela quisesse, poderia se arremeter para a terra. Mas, agora, ela está tão presa à terra que não consegue nem mesmo levantar os olhos para o céu.” (Kenneth J. Collins, Teologia de John Wesley, pg 88-9)
“Nós, por natureza, não temos conhecimento de Deus, não temos familiaridade com Ele.“ “E sem o conhecimento, não podemos amar a Deus; (pois) não podemos amar a quem não conhecemos.” (Ibid, pg 95-6)
Wesley era um ferrenho defensor do conceito clássico de “depravação total”, a ponto de dizer a despeito de tal conceito a conseqüência seria a perversão da fé, o engodo da realidade (morto espiritualmente) impossibilitando um genuíno arrependimento.
Os opositores de Wesley sempre confundem, ou misturam, penso que propositadamente, os conceitos de graça comum e graça preveniente, isto porque, para Wesley esta é dada a todos os homens (Jo 1.9), a semelhança da graça comum, já comentada.
Atribuem, os seus opositores, à tese de Graça ingênita, que vem do homem, com base nas seguintes declarações feitas por Wesley, vejamos:
“Todos, em alguma medida, têm aquela luz, algum tímido raio reluzente que, cedo ou tarde, mais ou menos, ilumina a todos os homens que vêm ao mundo”…
“Todo homem tem, em maior ou menor medida, essa graça que não espera pelo chamado do homem” “totalmente livre a quem é concedida”. (citado por Collins, em teologia de John Wesley, pg 101)
Na verdade, o termo “ingênita” é propositalmente inserido a teologia de Wesley a fim de lhe atribuir um suposto semi-pelagianismo (conceito que afirma que o homem pode ir sozinho, sem auxilio de Graça, e por si mesmo, a Deus), mas o que percebemos que a “Graça preveniente”, é concedida, isto é, não está no homem, vem de Deus. Não passam de falsas acusações tentando desmerecer tão brilhante legado deixado pelo fundador do metodismo.
Sobre a prevenção da bondade divina. Perguntamos:
Quem clamou por redenção de pecados? Adão, Eva? Quem escolheu o sacrifício que redime o homem? Quem escolheu a forma (pela pregação, mediante a fé)?
Quem nos deu as promessas (a começar de Gn 3.15)?
Ou quem Lhe deu primeiro a Ele, para que lhe seja recompensado ? Rm 11.35
Quem é merecedor da Graça de Deus, do favor de Deus?
Quem pode impedi-Lo de ser gracioso, bondoso, com quem quiser?
Quem pode dizer “salva a este e deixa aquele”, este é justo e aquele injusto?
Quem pode salvar-se a si mesmo?
A graça, o favor de Deus, sempre antecede as intenções humanas, esta é a nossa conclusão.
A Graça, como favor de Deus dispensado aos homens, é sempre preveniente.
Que a Graça e a Paz de nosso Senhor Jesus Cristo seja convosco.
“Nós o amamos, porque ele nos amou primeiro.” I Jo 4.19
“No início, antes deste nosso tempo e antes deste nosso espaço, antes da criação e, portanto antes de uma realidade distinta de Deus, e objeto de seu amor, antes que ela pudesse ser o palco das ações de sua liberdade, Deus antecipou em si mesmo (no poder de seu amor e liberdade, seu conhecimento e seu querer), já determinou como o alvo e o sentido de todo o seu agir com o mundo que ainda não existia: em seu Filho ser gracioso ao ser humano, pois ele queria se comprometer com ele. No início era a eleição do Pai, tornar verdade esta aliança com o ser humano, a quem entregou o seu Filho, para ele próprio se tornar um ser humano para a consumação de sua graça. No início era a eleição do Filho, para ser obediente à graça e entregar-se a si mesmo e tornar-se um ser humano, para que aquela aliança tenha sua realidade. No início era a resolução do Espírito Santo, para que a unidade de Deus, a unidade do Pai e do Filho por intermédio dessa aliança com o seres humanos não seja destruída, muito menos rasgada, muito mais seja mais gloriosa, para que a divindade de Deus, a divindade de sua liberdade e seu amor justamente nessa entrega do Filho se deva confirmar e comprovar. Essa aliança era no início.”
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”E como sujeito e objeto dessa eleição estava Jesus Cristo no início. Ele não estava no início de Deus: Deus não tem início algum. Mas ele estava no início de todas as coisas, no início de todo agir de Deus com a realidade que lhe é distinta. Jesus Cristo era a eleição de Deus em relação a esta realidade. Ele era a eleição da graça de Deus dispensada ao ser humano. Ele era a eleição da aliança de Deus com o ser humano..” (Wikipedia, teologia de Karl Barth)