vida cristã

“A igreja precisa de pastores que saibam orientar o povo politicamente”, avalia teólogo

Gunar Berg é coordenador acadêmico da EETAD.

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Gunar Berg ministrando a Palavra de Deus (Reprodução)

Para o pastor e teólogo assembleiano Gunar Berg, coordenador acadêmico da Escola de Educação Teológica das Assembleias de Deus (EETAD),  os pastores precisam saber como orientar o povo politicamente. Ele avalia que os pastores não devem usar os ancos do templo para formar “currais eleitorais para si e seus apaniguados”.

Ao Gospel Prime, Gunar, que é teólogo e historiador formado pela Global University, em Springfield, Missouri (EUA), destacou que não tem dificuldades na participação política dos cristãos, mas avalia que “existem alguns limites a serem observados”, apontando que isso garante que ele ficará menos sujeito a riscos.

Berg também critica o posicionamento de alguns candidatos a cargos eletivos que fazem “pré-campanha”, o que na sua avaliação é crime eleitoral, pois trata-se de campanha antecipada. “E quem não pode ser inteiramente íntegro mesmo antes da campanha começar não poderá manter-se honesto se for eleito”, pontuou.

O pastor, que leva o nome dos dois fundadores da Assembleia de Deus no Brasil, concedeu entrevista ao Gospel Prime respondendo sobre posicionamentos políticos que a Igreja deve tomar.

Leia à íntegra:

Gospel Prime – Como você vê a relação entre política e a igreja?

Gunar Berg – Para início, é muito importante estabelecer uma diferença entre posicionamento político e posicionamento partidário. Posto isso, entendo que o grande problema do relacionamento entre a igreja e a política é justamente o fato de que nossos pastores, em sua imensa maioria, só têm cuidados com o partidarismo, esquecendo-se completamente das demandas realmente políticas, ideológicas. Já tive o desprazer de ver irmãos de igreja concorrendo a cargos eletivos pelo Partido Comunista do Brasil para beneficiar-se do quociente eleitoral. Isso é de uma mediocridade espiritual e política aberrante. A igreja precisa de pastores que saibam orientar o povo politicamente, e não de pastores que formem, com os bancos do templo, os currais eleitorais para si e seus apaniguados.

Pastores devem se posicionar politicamente? Se sim, até que ponto? Se não, porquê?

Se por posicionamento político estamos entendendo a orientação que nos define como de esquerda, ou de direita, ou mesmo de centro, então, sim. Os pastores devem posicionar-se. E por mais que os rótulos possam incomodar a alguns de nós, não há como fugir a esta classificação. Porém, ainda antes de declarar um posicionamento político, aquilo de que mais carecemos é o posicionamento de princípios. Então, antes de dizer aos cristãos que eles devem se posicionar politicamente, é preciso ensiná-los sobre como se posicionar moralmente: somos contra o aborto em qualquer situação, somos contra a eutanásia, somos contra o divórcio, somos contra o feminismo militante, e contra o machismo beligerante, somos a favor da família dita tradicional, somos contra o homossexualismo e sua ideologia de gênero, somos contra aa socialização dos bens e dos direitos, somos contra a agenda ideológica e progressista que contaminou as escolas e as universidades. E se é a direita quem melhor encarna estes princípios, então já ficou claro que os crentes não podem ser esquerdistas. Após isso, obviamente, segue-se a escolha dos candidatos que mais bem representam estas questões – e aí, espero que os pastores se abstenham da politicagem, porque ela não é correta nem à direita e nem à esquerda.

A Igreja pode ser influenciada pela polarização política?

A igreja não pode evitar os efeitos desta polarização. Aliás, o termo polarização tem sido usado no ambiente político como sendo coisa nova, inexistente até aqui. Mas é um engano. A bem da verdade, ainda que pareça apenas uma simplificação, sempre houve polarização, o ser humano sempre precisou escolher entre as pautas progressistas e imorais ou as conservadoras. O que mudou foi o nome dado a estas duas opções ao longo do tempo. Especialmente no Brasil, as pessoas tendem a acreditar que a direita é uma novidade no espectro político. Ao contrário! Embora o atual presidente seja o primeiro realmente conservador desde o período do governo militar, não significa que os conservadores fossem minoria até agora. Na verdade, a população brasileira é conservadora. A mídia e os jornalistas, uma minoria muito barulhenta, é que passam esta falsa impressão de que o Brasil é um antro de imoralidade e libertinagem. Libertinos são a rede Globo e seus satélites.

A maioria das bandeiras defendidas pelos cristãos (contra aborto, família, propriedade privada, liberdade religiosa e de expressão etc.) se encontra à direita do espectro político. Como lidar com esta questão sem politizar a fé?

Entendendo e admitindo que está não é uma pauta política, mas bíblica. Mesmo a liberdade religiosa é um preceito bíblico. Observemos algo. É fato que Deus não tolera idolatria e o culto aos falsos deuses. É fato que o Senhor requer exclusividade por parte de nós seus adoradores. É fato, também, que o mesmo Deus concedeu ao ser humano liberdade para escolher o que deseja fazer da vida, e quem escolher errado vai dar contas a Deus em juízo, nos ensina o livro de Eclesiastes.

Governo (política) é uma das sete áreas de influência, como cristãos vão escalar esse monte sem se sujar? Como promover mudanças num ambiente com tanta opressão?

Eu não vejo qualquer dificuldade em que um cristão queira abraçar a vocação política pelos cargos eletivos. Acho natural e até desejável. Mas preciso dizer categoricamente que existem alguns limites a serem observados como forma de garantir que essa carreira na vida pública esteja menos sujeita a riscos. Primeiramente, essa não é uma atividade para pastores. Pastor de igreja não deve ser candidato a coisa alguma. É um erro vocacional tremendo e que entristece ao Senhor.

Então, para começo de conversa, quem quiser abraçar o Legislativo ou o Executivo precisa se desvencilhar de todos os seus compromissos eclesiásticos. Em segundo lugar, o cristão não deve concorrer por meio de partidos ligados ao comunismo ou ao socialismo. Este é um erro conceitual ridiculamente primário, pois demonstra a tolice de quem não sabe discernir a mão direita da esquerda.

Finalmente, o cristão verdadeiro é correto e honesto onde se encontrar. É claro que no ambiente político a pressão pela corrupção é maior que noutros lugares, mas devemos ser santos em toda a nossa maneira de proceder, pois foi para esta vocação que Deus nos chamou.

A Igreja brasileira está politizada? Qual solução e posicionamento ela deve tomar?

Estamos nos aproximando do período de eleições, e o que antecipo é um show de tolice praticada pelos crentes que se querem lançar candidatos. Começo pelo fato patético e criminoso de se apresentar como pré-candidato. Ora, isso é antecipação de campanha eleitoral, é crime! Como eu posso votar em alguém que se diz prudente como a serpente, mas na largada da corrida eleitoral já comete uma infração? Aliás, penso já ter eliminado de meu Facebook e outras redes sociais uma centena de crentes incautos que se tem apresentado como pré-candidato. É momento mais que urgente que os santos se destaquem pela santidade. E quem não pode ser inteiramente íntegro mesmo antes da campanha começar não poderá manter-se honesto se for eleito. Esse é o filtro.

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