opinião
A missão da igreja cristã no Brasil
Deus concedeu uma dupla missão para a Igreja.
Deus tem um plano de transformação para o Brasil. Mas a execução desse plano não cabe a anjos, a seres espirituais, nem ao próprio Deus. Ela cabe a cada um de nós e a todos nós em conjunto enquanto Igreja de Cristo nessa Nação. Deus nos deu a missão de formar nações com base na cultura do Reino (Mt. 5: 17-19; 28: 19-20). Quando cumprimos nossa missão com êxito, o conteúdo das leis e das políticas públicas da nossa Nação refletem os valores, princípios e ideias do Reino de Deus. Além disso, o contexto socioeconômico e político é caracterizado por alegria, paz e justiça, assim como é o Reino de Deus (Rm. 14: 17).
Infelizmente, a configuração atual do Brasil pouco e cada vez menos se assemelha à do Reino. Temos assistido à propagação de uma cultura ateísta, que questiona e busca anular a influência da fé cristã nas diversas esferas da sociedade. Nunca antes testemunhamos tantas iniciativas, no âmbito do Poder Executivo, Legislativo e Judiciário, bem como pela mídia, que não só atentam diretamente contra a vida, a família natural e o casamento, a identidade e a sexualidade natural dos indivíduos e o desenvolvimento natural das crianças e adolescentes, como fazem apologia ao aborto, a “famílias diversas”, ao casamento homossexual, à identidade de gênero, à homossexualidade, às drogas, enfim, a uma falsa liberdade cujo principal objetivo é promover um outro modelo social libertino, em substituição ao modelo judaico-cristão predominante.
Somado a isso, somos um país com expressiva desigualdade social, infraestrutura precária em muitos municípios, pobreza e miséria ainda significativas, alto indíce de criminalidade e de insegurança e corrupção estrutural. Somos um país, portanto, onde falta alegria, paz e justiça, isto é, os atributos do Reino de Deus.
Tudo isso não seria tão preocupante e considerado um sério problema se o Brasil não fosse o segundo país mais cristão do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos3! Nós, enquanto Igreja de Cristo, temos falhado no cumprimento de nossa missão em nossa Nação. Onde foi que erramos?
Deus concedeu uma dupla missão para a Igreja: alcançar cada criatura da terra pela pregação das Boas Novas e discipular as Nações (Mt. 28: 18-20). A tarefa quantitativa, alcançar todos os indivíduos pelo Evangelho, tem sido executada exitosamente há, pelo menos, um século. Em 2015, segundo pesquisa do Pew Research Center, os cristãos representavam 31% da população da terra e o Cristianismo consistia na religião predominante no mundo4.
Junto à tarefa quantitativa, recebemos uma tarefa qualitativa: discipular as Nações. A Igreja primitiva entendeu e exerceu essa dupla missão: suas reuniões de oração e de ensino da Palavra eram realizadas em locais públicos e se referiam aos diversos temas da vida cotidiana. O objetivo era disseminar a cultura do Reino e influenciar a sociedade na qual ela estava inserida. Os resultados dessa investida vieram séculos depois: o sistema jurídico romano foi moldado segundo as leis mosaicas de justiça, a Inglaterra estabeleceu um arranjo político próximo ao da República Hebraica, cujo ordenamento jurídico era baseado nos Dez Mandamentos, escolas, universidades e hospitais foram criados para atender à população em geral, os Estados Unidos da América se constituiu como uma Nação essencialmente cristã.
Poucos séculos depois, parece que a tarefa de discipular as Nações foi esquecida por parte expressiva da Igreja Cristã. Ao focar e reduzir o Evangelho somente à salvação, deixou-se de ensinar e aplicar as verdades bíblicas que caracterizam a cultura do Reino de Deus nas diferentes áreas da sociedade, isto é, na educação, na economia, na mídia e nas artes, na ciência e na política (governo civil). Como decorrência, perdemos a revelação de Deus como Grande Mestre: o Senhor da Educação, Jeová Jirê: o Senhor da Economia, Palavra Viva: o Senhor da comunicação, Deus Criador: o Senhor da Ciência, e Rei dos Reis: o Senhor da Justiça. Enquanto Igreja, urge reassumirmos e exercermos nossa missão de discipular o Brasil, se queremos verdadeiramente viver em uma Nação transformada pela cultura do Reino de Deus, que se caracteriza por alegria, paz e justiça.
Notas:
1 Este é o segundo artigo de uma série de reflexões cujo objetivo é preparar os cristãos para escolherem de forma consciente e acertada seus representantes políticos nos períodos eleitorais e para atuarem enquanto agentes de transformação do Brasil a partir de suas respectivas profissões.
2 Viviane Petinelli é pós-doutora em Ciência Política. É especialista em políticas públicas e participação social.
3 Dados obtidos em relatório do instituto de pesquisa do Pew Research Center. Dados disponíveis em http://www.globalreligiousfutures.org/.
4 Dados disponíveis em http://www.pewresearch.org/fact-tank/2017/04/05/christians-remain-worlds-largest-religious-group-but-they-are-declining-in-europe/.