opinião
A regeneração precede a fé?
O Calvinista R.C. Sproul escreve,
“Regeneração não é o fruto ou o resultado da fé. Invés, regeneração precede a fé como a condição necessária para fé” [ênfase no original].[1]
E de novo Sproul escreve,
“Qualquer cooperação que nós apresentamos em direção a Deus ocorre somente após a obra de regeneração ter sido completada…Regeneração deve ocorre primeiro, antes que possa haver qualquer resposta positiva em fé” [ênfase no original][2]
“[Um] ponto principal da teologia Reformada é a máxima: Regeneração precede a fé…Nós não cremos a fim de nascer de novo; nós nascemos de novo a fim de crer”.[3]
Sproul não é o único Calvinista a ensinar que a Regeneração precede a fé:
A.W. Pink,
“O homem escolhe o que está de acordo com a sua natureza e portanto, antes que ele possa escolher ou preferir o que é divino e espiritual, uma nova natureza deve ser comunicada nele; em outras papalvras, ele deve nascer de novo”.[4]
J. Denham Smith
“Eu creio em livre-arbítrio; mas então só é livre pra agir de acordo com a natureza…O pecador em sua natureza pecaminosa nunca teria uma vontade de acordo com Deus. Por isso ele deve nascer de novo”.[5]
Edwin H. Palmer
“O homem está morto em transgressões e pecados, não somente doente ou ferido, mas, contudo ainda vivo. Não, o não-salvo, o não regenerado, é espiritualmente morto (Ef. 2). Ele é incapaz de pedir ajuda a menos que Deus mude seu coração de pedra por um coração de carne e o faz vivo espiritualmente (Ef. 2.5). então, uma vez que ele é nascido de novo, ele pode, pela primeira vez se voltar pra Jesus, expressando tristeza pelos seus pecados e pedindo pra Jesus o salvar”.[6]
Loraine Boettner
“Um homem não é salvo porque ele crê em Cristo; ele crê em Cristo porque ele é salvo”.[7]
Embora o ensino que a regeneração precede a fé é uma doutrina padrão no Calvinismo, James White, em um debate com Dave Hunt, assumiu uma postura não tão comum. Ele escreve,
“O erro fundamental que o Sr. Hunt faz nessa seção é confundir regeneração com a totalidade da salvação. A salvação inclui regeneração, perdão, adoção e santificação. Ele, na verdade, vai tão longe ao ponto de perguntar: ‘Como pode o Calvinista ignorar o claro ensino da Escritura que a salvação é por fé e concluir que a fé vem como resultado de ser salvo?’. Tal declaração significa que o Sr. Hunt ou é ignorante sobre os escritos reformados ou não a representa com precisão”. [8]
Não é assim. Charles Spurgeon escreve que, “um homem que é regenerado…já é salvo”.[9] Jonh MacArthur iguala regeneração/novo nascimento com a salvação.[10] Sproul, citado acima, iguala a regeneração com o ser nascido de novo. E Loraine Boettner, citado acima, escreve: “Um homem não é salvo porque ele crê em Cristo; ele crê em Cristo porque ele é salvo”.[11] Contra White, a doutrina reformada da predestinação implica salvação antes da fé. Se ele for consistente, White teria que concluir que Loraine Boettner, R.C. Sproul, John MacArthur e Charles Spurgeon foram, e são, ou ignorantes acerca dos escritos reformados ou não os representam com precisão. Penso eu que seria pouco provável, uma vez que os teólogos acima estavam expondo as suas próprias crenças. Isto é, quem melhor do que os próprios teólogos reformados para explicar o que a teologia Reformada na verdade é? White não pára por ai, embora em suas observações finais da seção, ele escreve,
“Primeiro, ele [Dave Hunt] confunde os termos, tais como salvação e regeneração. Na maioria das obras teológicas, regeneração é um subconjunto de de um termo largo e amplo, salvação, que com freqüência inclui dentro dela a justificação, perdão, redenção e adoção”.[12]
E, como Hunt acertadamente destaca em sua réplica, um ‘subconjunto’ da salvação seria uma parte da salvação (que White reconhece vir por fé), assim, fazendo a regeneração por fé também. A palavra regeneração ocorre somente uma vez na Bíblia, em Tito 3.5. O verso diz:
“Mas quando se manifestaram a bondade e o amor pelos homens da parte de Deus, nosso Salvador, não por causa de atos de justiça por nós praticados, mas devido à sua misericórdia, ele nos salvou pelo lavar regenerador e renovador do Espírito Santo,” (Tito 3:4,5 – NVI).
Como este é o único uso bíblico da palavra, qualquer teoria que coloca a regeneração antes da salvação, e assim, antes da fé (que é a condição da salvação), está operando a partir de uma definição não-bíblica. Tito deixa isso perfeitamente claro e Spurgeon acertou: salvação e regeneração não podem ser separadas, e um homem sendo regenerado, já está salvo.
Como a salvação e a regeneração não podem ser separadas, o Calvinista terá que mostrar a partir das Escrituras onde é dito alguém ter sido regenerado/nascido de novo antes de eles terem exercido arrependimento em direção a Deus e fé em Nosso Senhor Jesus Cristo. O que as Escrituras dizem? A regeneração precede a fé ou a fé precede a regeneração?
“E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado”. (Marcos 16:15-16 – ACRF)
“Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus” (João 1:12 – NVI)
“Para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. (João 3:15-16 – ACRF)
“Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece”. (João 3:36 – ACRF)
“Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida”. (João 5:24 – ACRF)
“Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam; E não quereis vir a mim para terdes vida”. (João 5:39-40 – ACRF)
“Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo”. (João 6:51 – ACRF)
“Jesus, pois, lhes disse: Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. … Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta, também viverá por mim”. (João 6:53-54, 57 – ACRF)
“Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá;” (João 11:25 – ACRF)
“Seja-vos, pois, notório, homens irmãos, que por este se vos anuncia a remissão dos pecados. E de tudo o que, pela lei de Moisés, não pudestes ser justificados, por ele é justificado todo aquele que crê”. (Atos 13:38-39)
“E eles disseram: Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa”. (Atos 16:31)
“Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego”. (Romanos 1:16)
“A saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação”. (Romanos 10:9-10)
“Visto que, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por meio da sabedoria humana, agradou a Deus salvar aqueles que crêem por meio da loucura da pregação”. (1 Coríntios 1:21 – NVI)
“Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam”. (Hebreus 11:6)
Em cada caso desses, a fé claramente precede a salvação/regeneração/a nova vida em Cristo. Mas, como ser regenerado ou nascido de novo envolve a recepção do Santo Espírito, a questão deve ser levantada: O Espírito Santo desperta o espiritualmente morto antes ou depois que eles creram? Novamente, as Escrituras são claras:
“Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre. E isto disse ele do Espírito que haviam de receber os que nele cressem; porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter sido glorificado”. (João 7:38-39)
“E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo;” (Atos 2:38)
“Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro; Para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios por Jesus Cristo, e para que pela fé nós recebamos a promessa do Espírito”. (Gálatas 3:13-14)
“E, porque sois filhos, Deus enviou aos vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai”. (Gálatas 4:6)
“Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa. O qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão adquirida, para louvor da sua glória”. (Efésios 1:13-14)
Como as Escrituras deixam perfeitamente claro, receber o Santo Espírito vem após a fé. O Calvinista James White não duvidaria objetar os versos acima sendo usados em apoio a crença que a fé precede a regeneração, justamente como ele fez em seu debate com Dave Hunt. Sua objeção estava baseada sobre a declaração que os versos somente provam que a salvação é por fé, e não a regeneração. Mas, como foi destacado acima, de acordo com a Bíblia, salvação e regeneração são inseparáveis, e assim, um homem regenerado é um homem salvo. Portanto, a objeção de White está baseada sobre seu funcionamento de uma definição não-bíblica de regeneração.
Em adição as Escrituras acima, há também as vidas de dois homens que refutam a idéia de que a regeneração precede a fé: Nicodemus (João 3) e Conélio (Atos 10). Nicodemus era 1) um Fariseu (João 3.1), 2) Chefe de Estado entre os judeus (João 3.1), e 3) um ensinador em Israel (João 3.10). De acordo com os primeiros versos do capítulo 3 de João, Nicodemus veio a Jesus a noite e disse que sabia que Jesus era de Deus. Perceba que Nicodemus não confessa crer que Jesus é o Messias Prometido; ele apenas confessa crer que Jesus é de Deus. E a maneira que Jesus respondeu a Nicodemus, na superfície, não parece ter nada a ver com o que realmente Nicodemus disse. Nicodemus começou dizendo que ele sabia que Jesus era de Deus, e Jesus respondeu dizendo a ele o que era necessário para entrar no Reino de Deus. Mas, como destaca John MacArthur, Jesus não estava respondendo ao que Nicodemus disse, mas estava respondendo ao que Ele sabia que estava no coração de Nicodemus:
Mas, olhe o verso 3, “E Jesus respondeu…” É interesante que Jesus responde uma questão que Nicodemus nem mesmo perguntou. E aqui você tem uma prova que esse é o Messias porque Ele lê o coração de Nicodemus e não se importa com o que Nicodemus diz com a boca. Verso 3 “Jesus respondeu e disse: Em verdade, em verdade te digo, se alguém não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus”.
Alguém diz, “Bem, o que o Reino de Deus tem a ver com alguma coisa? Quem está falando sobre o Reino de Deus?” Ninguém estava falando sobre isso, mas advinha quem estava pensando sobre isso? Você vê, havia apenas uma coisa na mente de Nicodemus, a mesma velha coisa que estava na mente de todos os outros judeus: como entrar no Reino de Deus? Ele olhou atrás para o Antigo Testamento e viu o Reino prometido.
O homem, toda a luta de sua vida era ser parte do Reino. E quando a Bíblia usa o termo “Reino de Deus” que é diferente de “Reino dos Céus”, quando a Bíblia usa o termo “Reino de Deus” se refere ao domínio de Deus. Isso é realmente a esfera da salvação em qualquer tempo. Em outras palavras, eu, mesmo agora como cristão, sou parte do Reino de Deus. O Reino de Deus terá um aspecto milenial, quando Cristo reinar na terra por mil anos. Esse será uma parte do Reino de Deus. O Reino de Deus tem um significado eterno, contextual…a eternidade será o Reino de Deus. Toda a esfera da salvação em qualquer tempo na história é o Reino de Deus. Ele tem um aspecto agora, um aspecto milenial e um aspecto no estado eterno.
E então, Nicodemus em seu coração, ele queria saber como chegar a Deus. Isso é o que ele queria saber. Como ser uma parte do mundo de Deus, como ser parte da esfera do homem redimido, como ser uma parte daqueles que são santos, que pode estar com Deus e viver com Deus e habitar em seu Reino. Isso é o que estava em seu coração. Ouça, ele não estava todo enrolado nessa religião apenas para o exercício. Ele estava nela porque ele estava buscando o Reino de Deus apaixonadamente.
E Jesus o respondeu, não a questão de sua boca, mas a questão do seu coração. Nicodemus nunca chegou a colocar a questão em palavras. Mas Ele diz, “Nicodemus, você tem que nascer de novo. Nascer de novo…o que você quer dizer? Eu quero dizer, você tem que começar tudo de novo, Nicodemus”.[13]
A razão que esse relato da vinda de Nicodemus a Jesus refuta a noção calvinista de regeneração precedendo a fé é que no sistema Calvinista, não apenas a regeneração precede a fé, mas a regeneração também precede a busca da pessoa por Deus. Mas aqui em João 3, Nicodemus está claramente procurando, mas ainda como um não-regenerado.
A segunda pessoa que refuta o Calvinismo é Cornélio no capítulo 10 de Atos. No verso 2 de Atos capítulo 10, nós lemos que Cornélio era “um homem devoto e temente a Deus com toda a sua casa…e continuamente orava a Deus”. Daí, nós lemos 1) As orações de Cornélio sendo reconhecidas por Deus, 2) um anjo de Deus mandando Cornélio enviar alguém a Pedro, 3) finalmente Pedro chegando, 4) Pedro pregando as Boas Novas a Cornélio e sua casa, e 5) nós lemos o Espírito Santo caindo sobre todos os que ouviram a Palavra. Agora, como a Bíblia deixa claro que um homem regenerado é um homem salvo (Tito 3.4,5), é igualmente claro que Cornélio não era regenerado até o Espírito Santo cair sobre ele. Mas, se ele não era regenerado até o fim do capítulo dez, então como, de acordo com o sistema Calvinista, Cornélio poderia ter sido um homem devoto que temia a Deus? Como ele poderia ter buscado a Deus sendo ainda não-regenerado? De acordo com o sistema Calvinista, ele não teria sido capaz de fazer isso, mas, de acordo com a Bíblia, ele fez. Assim, nós vemos nesse ponto que o Calvinismo não tem fundamento bíblico: não há um verso na Escritura que inequivocamente declara que o homem deve nascer de novo, ou ser regenerado, ou receber o Espírito Santo antes que ele possa ter fé em Cristo, nenhum. Até mesmo o Calvinista Charles Spurgeon viu a insensatez de ensinar que a regeneração precede a fé:
“Se estou a pregar a fé em Cristo a um homem que é regenerado, então o homem sendo regenerado, já é salvo e isso é uma coisa desnecessária e ridícula para mim pregar Cristo a ele, e tentar fazer ele acreditar a fim de ser salvo quando ele já salvo, sendo regenerado. Mas você vai me dizer que eu deveria pregar apenas para aqueles que se arrependem de seus pecados. Muito bem, mas desde que o verdadeiro arrependimento do pecado é a obra do Espírito, qualquer homem que tenha arrependimento é certamente salvo, porque o arrependimento evangélico nunca pode existir em uma alma não renovada. Onde há arrependimento já há a fé, pois eles nunca podem ser separados. Assim, então, eu estou somente a pregar a fé para aqueles que já a tem. De fato absurdo! Esta não é a espera do homem ser curado e em seguida trazer-lhe o remédio? Esta é a pregação de Cristo aos justo e não aos pecadores”.[14]
Recuperado de: http://counteringcalvinism.wordpress.com/2011/06/26/does-regeneration-precede-faith/
Traduzido por Walson Sales
[1] R.C. Sproul, Essential Truths of the Christian Faith, (Tyndale House Publishers Inc., Wheaton, IL, 1992), p. 172.
[2] Sproul, What Is Reformed Theology? (Baker Books, 1997), p. 186.
[3] Sproul, Chosen By God, pp. 72-73, as quoted in Whosoever Will: A Biblical-Theological Critique of Five-Point Calvinism, (B&H Academic, Nashville, Tennessee, 2010), p. 136.
[4] A.W. Pink, The Sovereignty of God, (Bridge-Logos,Alachua,FL, 2008), p. 138.
[5] J. Denham Smith, quoted in Pink, The Sovereignty of God, p. 151.
[6] Palmer, The Five Points of Calvinism, p. 19.
[7] Loraine Boettner, The Reformed Doctrine of Predestination, p. 101.
[8] James White, in Debating Calvinism, p. 293.
[9] Charles Spurgeon, The Warrant of Faith, disponível online em (<http://www.spurgeon.org/sermons/0531.htm>), URL correct at 20th May, 2011.
[10] John MacArthur, The New Birth, 19th April, 1970. disponível online em (<http://www.gty.org/Resources/Sermons/1505B_The-New-Birth>), URL correct at 30th May, 2011.
[11] Loraine Boettner, The Reformed Doctrine of Predestination, p. 101.
[12] White, Debating Calvinism, p. 305.
[13] John MacArthur, The New Birth, 19th April, 1970. disponível online em (<http://www.gty.org/Resources/Sermons/1505B_The-New-Birth>), URL correct at 30th May, 2011.
[14] Charles Spurgeon, Sermon: The Warrant of Faith, disponível online em (<http://www.spurgeon.org/sermons/0531.htm>) URL correct at 20th May, 2011.