estudos bíblicos
A salvação pela graça
Subsídio para a Escola Bíblica Dominical da Lição 7 do trimestre sobre “A obra da salvação”
Você já ouviu falar do inglês John Newton? Talvez não. Mas já ouviu falar na música intitulada Amazing Grace (Maravilhosa Graça)? Provavelmente sim. Provavelmente já a ouviu, ainda que não soubesse desse título. Um verdadeiro clássico da música evangélica, da autoria de John Newton, ex-traficante de escravos no século 18.
Antes de experimentar a graça salvadora de Deus, John Newton não tinha o menor receio de xingar e proferir palavrões quando se irava, de blasfemar contra o Deus do céu, de zombar da Bíblia, de ridicularizar a consagração a Deus, de se envolver em atos depravados, nem o mínimo escrúpulo de comprar e vender seres humanos como se fossem objetos ou mercadorias.
Entretanto, John Newton mudou completamente após a sua conversão, voltando à antiga fé que sua mãe lhe ensinara quando ele era um garoto com menos de sete anos de idade. A conversão de Newton foi dramática, e seu medo do inferno foi substituído pelo amor a Deus, o Deus de inefável graça! Mais tarde, ele se tornou pastor e exerceu o ministério pastoral por 23 anos, sempre salientando em seus sermões o tema da graça de Deus.
Ele compôs e publicou centenas de hinos, inclusive o famoso hino interpretado na voz de muitas celebridades da música secular e de cantores cristãos em todo mundo: a música Amazing Grace, que descreve a própria trajetória de redenção do compositor, através da graça inefável do Senhor. Ouça esta canção quando puder.
É sobre esta maravilhosa graça que estaremos a falar nesta presente Lição da Escola Dominical. E com este estudo fica a minha oração para que você seja totalmente envolvido por esta graça maravilhosa proveniente do trono de Deus e encarnada para sempre na pessoa bendita de Jesus Cristo, nosso Salvador!
I. LEI E GRAÇA
- Graça sobre graça!
O apóstolo João, em seu Evangelho, declara que “a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (Jo 1.17). Esta declaração se mal interpretada pode levar a equivocada conclusão costumeiramente ouvida nos arraiais evangélicos: no Antigo Testamento, Deus é justiça; no Novo Testamento, Deus é graça. Um Deus que numa aliança é vingativo, noutra aliança é amoroso.
Esta bipolaridade não existe em Deus, mas apenas em nossa confusão teológica. Justiça e graça de Deus podem ser vistas andando juntamente desde o Éden até a consumação de todas as coisas. Não foram os sacrifícios expiatórios instituídos no Antigo Testamento expressões claras da graça de Deus, que oferecia aos judeus a possibilidade de transferirem sua culpa para um animal que viria a ser morto em lugar do transgressor?
E os muitos milagres, como a libertação da escravidão do Egito e as vitórias incontáveis que Deus concedeu sobre muitos reinos inimigos de Israel, não são expressões legítimas de sua graça? E quanto ao Novo Testamento, não é a própria morte de Cristo a mais sublime declaração da vingança de Deus contra o pecado e a afirmação de sua justiça eterna? Se não houvesse justiça no Novo Testamento, ou se ela fosse algo amenizado na nova aliança, teria Cristo padecido tão vergonhosa e horrenda morte pelos nossos pecados?
E quanto a Ananias e Safira que foram fulminados por mentirem ao Espírito Santo diante dos apóstolos (At 5.1-10)? E quanto a Herodes que morreu devorado em seu interior por vermes (At 12.21-22)? E quanto a muitos milagres operados pelos apóstolos, impondo castigo aos adversários do Evangelho, como Elimas, que ficou cego após imprecação do apóstolo Paulo (At 13.8-11)? E os crentes de corinto que comiam e bebiam indignamente a ceia do Senhor, entre os quais muitos já haviam ficado fracos e doentes, além de outros que haviam morrido (1Co 11.30)?
E quanto a Jesus dizendo sobre uma tal Jezabel na Igreja de Tiatira na Ásia Menor: “Eis que a porei numa cama, e sobre os que adulteram com ela virá grande tribulação, se não se arrependerem das suas obras. E ferirei de morte a seus filhos…” (Ap 2.22,23)? Certa vez me perguntaram: Jesus mata? Respondi enfaticamente que SIM, e citei essa porção do Apocalipse. Olhos esbugalhados e uma expressão facial de surpresa apareceram diante de mim. Erramos quando tratamos com exacerbado romantismo o Novo Testamento!
Ademais, é preciso deixar claro como a luz do sol: nunca houve dois modos de salvação na Bíblia, sendo um pela observância da Lei na antiga aliança, e outro pela fé em Cristo na nova aliança. Na verdade, sempre houve um único modo de salvação, em todos os tempos: pela graça de Deus, por meio da fé! Aliás, lembremo-nos que existiram muitas gerações antes da Lei de Moisés, dentre as quais incontáveis almas foram salvas (José, Jacó, Isaque, Abraão, Noé, Enoque…). Todos quantos foram salvos em todo tempo, o foram pela graça de Deus, os que puderam exercitar conscientemente a fé, foram chamados e capacitados a fazê-lo; outros que não puderam (por exemplo, as crianças), foram redimidos pelo sangue eficaz de Jesus Cristo (cujo alcance é não só perspectivo, mas retrospectivo, alcançando todos quantos morreram sob a aliança com Deus nos tempos passados). Mas todos, absolutamente todos os salvos em toda história da humanidade, só o foram por causa da maravilhosa graça, dom de Deus do qual nenhum de nós éramos merecedores.
Mas e então, o que significa as palavras de João sobre a Lei ter vindo por Moisés e a graça e a verdade terem vindo por Cristo?
Curiosamente, o texto de João 1.17, que deve ser interpretado juntamente com o versículo 16, aponta na direção favorável à manifestação da graça divina mesmo antes de Cristo, embora encontre nele sua expressão plena, absoluta e final! Aliás, toda graça manifesta na Bíblia sagrada é por causa de Cristo, sem o qual não haveria em tempo algum provisão pelo pecador diante de Deus. Tão verdadeiro é esse entendimento, que o autor da Carta aos Hebreus, referindo-se à Moisés diz de modo bastante vívido: “Por amor de Cristo, considerou a desonra riqueza maior do que os tesouros do Egito, porque contemplava a sua recompensa” (Hb 11.26).
Voltando ao texto de João, veja o que diz o versículo 16: “Todos recebemos da sua plenitude, graça sobre graça” (Jo 1.16, NVI). E logo em seguida, o versículo 17 começa com uma conjunção explicativa (explicando assim a declaração anterior): “Pois a Lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por intermédio de Jesus Cristo” (Jo 1.17). Noutras palavras, graça (manifesta plenamente no Cristo encarnado) é colocada sobre graça (manifesta parcialmente na Lei de Moisés). Ninguém há de negar que houvesse verdade nos dias de Moisés ou na Lei, mas todos concordamos que em Cristo a verdade materializa-se, “se fez carne e habitou entre nós”, como diria João; de tal modo, que Jesus pode dizer: “Eu sou… a verdade” (Jo 14.6). Como explica o comentário Beacon: “Não é que João pensasse na lei e na graça como antitéticas, ou que a lei não fosse verdadeira. Ela era verdadeira, porém limitada. A lei era insuficiente em relação às necessidades mais profundas do homem, ao passo que Cristo é mais do que suficiente, uma vez que Ele é a fonte de toda a verdade e graça” (1). Assim, pois, em Cristo, graça e verdade são maximizados!
Em Moisés, a Lei que outrora estava gravada no coração dos homens, materializa-se nas pedras do Sinai e nos papiros nos quais a lei foi diversas vezes manuscrita. Em Cristo, a graça e a verdade que estavam disseminadas entre os homens, noutros tempos, agora materializa-se nele mesmo, ganhando “carne e sangue”, podendo ser vista e apalpada (Jo 1.14; 1Jo 1.1; 2Pe 1.15). Assim, se pode com absoluta clareza dizer que “a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens” (Tt 2.11).
O exegeta Donald Carson segue esta interpretação, quando afirma: “Diante disso, parece que a graça e a verdade que vieram por meio de Jesus são o que substitui a Lei; a própria Lei é entendida como uma manifestação anterior da graça (…) A aliança da Lei, portanto, é vista como um dom gracioso da parte de Deus, agora substituído por um dom mais gracioso, ‘a graça e a verdade’ incorporada em Jesus Cristo – aqui nomeado, pela primeira vez, como o ser humano que é nada mais que a ‘Palavra que se tornou carne’” (2). Em Cristo temos graça abundante, graça tomando o lugar da graça, graça aperfeiçoando a graça, graça multiplicando-se e enchendo-nos totalmente! Não alcançaremos pela graça de Cristo maior graça quando cruzarmos os portais da glória celeste, do que já a temos experimentado aqui? Já dizia o pregador congregacional norte-americano D. L. Moody, “Alguns creem que quando chegam ao Calvário já possuem o melhor – mas existe algo melhor que lhes aguarda: a glória!” (3). Isso é graça sobre graça!
- Para quê, então, a Lei de Moisés foi dada?
A Lei não foi dada com intuito de justificar ou aperfeiçoar os pecadores. Paulo é incisivo: “ninguém é justificado pela prática da lei” (Gl 2.16). Os judeus que buscavam a justificação pelas obras da Lei, e não pela fé, tropeçaram (Rm 9.31,32).
Embora tenha sido boa – porque procede do Deus que é bom e de quem emana toda boa dádiva (Tg 1.17) – a Lei tencionava de modo muito limitado:
- Revelar o alto padrão de santidade de Deus (Lv 11.45).
- Evidenciar a corrupção do coração humano e a natureza vã de todo seu orgulho (Rm 2.17-29; 5.20).
- Proporcionar um aio, um guia espiritual temporário para o povo eleito de Deus, e os que a ele fossem agregados nos tempos antigos, até que viesse “a plenitude dos tempos” e a revelação final de Deus em Cristo (Gl 3.24).
Resumindo nas palavras do erudito Abraão de Almeida, “o objetivo último da lei é fazer que o pecador sinta a necessidade de justificação e perdão, e leva-lo, ao final, a confiar em Jesus Cristo e recebe-lo como seu único Salvador e Senhor, recebendo dele a salvação do pecado e da consequência deste, a morte espiritual” (4). Ou ainda de forma prática, como diz o teólogo pentecostal Myer Pearlman, fazendo uma comparação interessante entre a Lei e a Graça: “A Lei diz: ‘pague tudo’, mas a graça diz: ‘tudo está pago’. A Lei representa uma obra por fazer, a graça é uma obra consumada. A Lei restringe as ações, a graça transforma a natureza. A Lei condena, a graça justifica. Debaixo da Lei, o indivíduo é servo assalariado; debaixo da graça, ele é filho em alegria de herança ilimitada” (5).
II. O FAVOR IMERECIDO DE DEUS
- Graça de Deus versus mérito do homem
A graça de Deus remove a pretensão do mérito humano. A salvação é mais valiosa que qualquer coisa que pudéssemos dar a Deus. Na verdade, qualquer coisa que pudéssemos dar a Deus, já por direito dele! “Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém” (Rm 11.36). O apóstolo Paulo perguntava aos coríntios: “que tens tu que não tenhas recebido?” (1Co 4.7). Do Senhor vem a salvação (Jn 2.9), e é um presente de Deus que recebemos pela fé, não pelo esforço. Mesmo os esforços que seguirão à conversão, na luta pela santificação diária e pela vitória sobre o mal, não são esforços desprovidos de fé, nem substitutos à fé, mas esforços legitimados pela fé, que é a vitória que vence o mundo! (1Jo 5.4). O justo viverá pela fé!
Logo cedo na Igreja, os apóstolos cuidaram de resolver o equívoco reminiscente do judaísmo: a obrigatoriedade da observância da Lei mosaica para salvação. Uma grande discussão sobre esta questão ocorreu no concílio da Igreja em Jerusalém (At 15), na qual Pedro estabeleceu o que viria a ser um dos principais artigos de fé nos Credos, Confissões e Declarações de Fé das igrejas genuinamente cristãs posteriormente: “cremos que somos salvos pela graça de nosso Senhor Jesus” (v. 11, NVI). Não à toa este é um dos pilares da Reforma Protestante, e das igrejas verdadeiramente protestantes: Sola Gratia, ou seja, Somente a Graça! Graça que é o favor imerecido de Deus; graça que é a concessão de bens àqueles que, com justiça, mereciam a condenação. De Cristo são todos os méritos de nossa salvação, como diz Elienai Cabral, “o remédio para o pecado está, não em algum mérito pessoal do pecador, mas no mérito da obra expiatória de Cristo que tira o pecador do estado de pecado e o coloca ‘debaixo da graça salvadora de Deus através de Cristo Jesus’” (6).
No primeiro século ainda Paulo foi o apóstolo que mais combateu os enganos dos cristãos judaizantes que queriam a todo custo perpetuar a validade da Lei Mosaica e sustentar a interpretação equivocada de que a observância dela é que garantiria a salvação. Paulo sobe o tom de repreensão, e questiona os gálatas: “Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela carne?” (Gl 3.3). Ou seja: vocês que que foram regenerados e santificados pelo Espírito, por meio da pregação da fé (v. 2), querem agora concluir a vossa salvação pelo próprio esforço em praticar as obras da Lei? Então Paulo dá a sentença aos que persistirem em tentar alcançar por méritos próprios a salvação: “Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído” (Gl 5.4). Ninguém em tempo algum poderia ser justificado pela Lei, e menos ainda o seria após ela ter caducado para dar lugar à revelação mais sublime de Deus em Cristo Jesus!
- A graça não banaliza a ofensa do pecado
Um ponto importante e bem destacado nesta Lição, é como diz o próprio comentarista, o Pr. Claiton Pommerening, “a graça não é salvo-conduto para pecar”. Se de um lado os judaizantes buscavam um regresso às obras da Lei por acharem que a salvação da graça era “fácil demais” – estes são os genuínos legalistas, os veneradores da lei –, por outro lado havia o equívoco de muitos cristãos em pensar que devido a salvação um presente de Deus, poderiam continuar deliberadamente na prática do pecado, dando assim lugar à libertinagem. Dois extremos que o Novo Testamento corrige reiteradas vezes!
A mesma graça que é salvadora é também santificadora. Escrevendo sua carta pastoral a Tito, Paulo diz: “Porque a graça salvadora de Deus se há manifestado a todos os homens, ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente, Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo” (Tt 2.11-13). Preste atenção nos detalhes:
- A graça é salvadora
- A graça está manifesta a todos os homens
- A graça ensina-nos a viver de modo sóbrio, justo e piedoso
- A graça ensina-nos que devemos renunciar à impiedade e às concupiscências mundanas
- A graça possibilita-nos aguardar a vinda de Cristo
Os que vivem na época da graça não estão liberados para viver como bem entenderem, alimentando pensamento impuro, usando linguajar impróprio, envolvendo-se em todo tipo de entretenimento, visitando todo tipo de lugar, relacionando-se sexualmente fora do casamento, assumindo liderança e pastorado na igreja apesar de envolvimentos em traições, divórcios, bebedeiras e escândalos. A graça não pode se prostituir! Ela é santa, visto que procede do Deus santo! Ela não pactua nem com o legalismo, nem com a libertinagem. A graça chama-nos a um compromisso de santidade!
Se existem igrejas que multiplicam exacerbadamente as regras de conduta para seus membros, tornando a ética cristã algo quase impraticável e geralmente furtando do Espírito Santo seu papel preponderante na santificação, há, ao contrário destas, aquelas igrejas que dizem ter entendido plenamente a graça de Cristo, e se abriram para a banalização do divórcio, a ordenação pastoral de membros homossexuais, para o consumo de toda sorte de bebida alcoólica e até para a dessacralização do culto cristão, introduzindo elementos pagãos como músicas seculares na liturgia, e participação de cantores e bandas não convertidos ao Evangelho de Jesus Cristo. Mas a graça não nos liberta para o pecado e sim do pecado! Não fomos feitos livres para viver do modo como bem entendemos, mas para viver em total submissão à Cristo, pela fé. É neste sentido que está posta a declaração paulina: “Permaneceremos no pecado, para que a graça abunde? De modo nenhum. Nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?” (Rm 6.1,2). Os que vêm a Jesus, vêm para serem aliviados do fardo e da opressão do pecado (Mt 11.28-29), não para terem, em nome de Cristo, mais pecados acumulados ao seu fardo!
Os que foram verdadeiramente alcançados pela graça, precisam ouvir atentamente a exortação do apóstolo Paulo: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.1,2). Se nos entregamos à libertinagem, então, “temos recebido a graça em vão” (2Co 6.1).
Que surpresa haverá naquele Dia de prestação de contas diante de Deus, quando muitos libertinos reivindicaram a graça de Cristo sobre si, mas apenas sofrerão o juízo eterno, por haverem banalizado a tão preciosa dádiva divinal!
III. O ESCÂNDALO DA GRAÇA
- Graça e justiça
Neste tópico, o comentarista faz uma importante pergunta, mas que infelizmente ele deixa sem resposta: seria a graça injusta? Vamos colocar essa pergunta de outra forma: de que modo a graça de Deus está em perfeita harmonia com a justiça de Deus? Ainda melhor: vamos transformar essa pergunta em duas, e então perceberemos como a graça é maravilhosa:
- Foi justo que Cristo fosse punido, sendo ele inocente, em nosso lugar, sendo nós os pecadores? (suponho que os gregos e os romanos teriam interesse em saber a resposta desta pergunta)
- É justo que Deus perdoe e justifique os pecadores pela fé somente, não exigindo deles antes previamente obras que os tornem dignos do perdão? (suponho que os judeus não convertidos gostariam de ler a resposta a este questionamento, que era justamente o questionamento deles na época dos apóstolos)
Os teólogos pentecostais quadrangulares Guy Duffield e Nathaniel Van Cleave nos ajudarão a responder ambas as perguntas e levar-nos a compreender como a graça de Deus está em perfeita harmonia com a sua justiça.
Sobre a primeira pergunta, os autores supracitados, discorrem:
“Argumentou-se ser imoral Deus punir um inocente pelo culpado, e, portanto, a ideia de substituição seria insuportável. Devemos dizer, em primeiro lugar, que Deus não cogita de punir o inocente pelo culpado. Jesus tomou sobre si nosso pecado, a fim de assumir nossa culpa. Segundo, não é ilegal que um juiz pague ele mesmo a pena imposta. Cristo é verdadeiramente Deus; e teve, portanto, o direito de pagar pela penalidade do nosso pecado. Terceiro, isso só poderia ser considerado imoral se Jesus fosse obrigado a sacrificar-se por nós, mas se Ele tomou voluntariamente essa decisão, não houve qualquer injustiça”
Mas à frente, Duffield e Van Cleave são ainda mais assertivos: “É necessário compreender muito bem que não somos salvos pelo assassinato de um homem, mas por alguém que se ofereceu voluntariamente por nós” (7). Fica respondida, então, a primeira pergunta: sim, Cristo assumindo a punição em nosso lugar, voluntariamente e estava em seu poder recusá-la, demonstra que a dádiva da salvação é justa. Deus não se torna comparsa dos pecadores, ao evitar puni-los e ainda presenteá-los com dádivas eternas. O pecado foi punido! A sentença foi aplicada! Cristo a suportou em nosso lugar. E ele disse: está consumado! (Jo 19.30)
Quanto a segunda pergunta em destaque, ainda Duffield e Van Cleave também nos oferecem uma solução para ela:
“A única base sobre a qual um Deus santo poderia perdoar o pecado era fazendo seu Filho suportar o castigo da culpa do pecador. Ele não perdoaria simplesmente perdoar mediante o arrependimento do pecador, mas só quando a penalidade tivesse sido inteiramente paga. Deus não perdoa os pecadores, como alguns pregam, porque os ama. Seu amor o levou a dar seu Filho unigênito como resgate pelo pecado, a fim de que o pecador possa ser perdoado” (8).
Assim fica respondido que sim é justo que Deus perdoe os pecadores em virtude da resposta da fé, mas não porque Deus dá perdão de modo banal ou porque Ele resolveu ignorar a ofensa dos pecados dos homens, mas porque tal ofensa recebeu a sua justa retribuição lá no Calvário, quando Cristo foi “ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades” (Is 53.5).
Portanto, de qualquer ângulo que se observe, a graça de Deus está em perfeita sintonia com a justiça de Deus, não sendo de modo algum antagônica a ela! Não existe graça X justiça, mas graça & justiça. Graça e Justiça não são irmãs rivais, disputando espaço em casa. São irmãs que estão unidas fraternalmente, e que se abraçam!
- Graça supridora e transformadora
Pela graça vivemos, pela graça comemos, pela graça nos vestimos, pela graça falamos e agimos, pela graça cantamos, pregamos e oramos, pela graça recebemos a Bíblia, o Espírito e os dons, pela graça de Deus casamos, constituímos família e trabalhamos. A cada corrente de ar que atravessa os nossos pulmões, ali está manifesta a graça de Deus! É por esta graça que milhares de pecadores em todo mundo têm tido um encontro real e transformador com o Senhor Jesus! É por esta graça que a garota de programa pode abandona a vida de prostituição, casar-se e ser mãe de filhos, mulher sábia e santa! É por esta graça que muitos jovens têm largado o vício e o tráfico de drogas, bem como a vida de delinquência para encherem as trincheiras dos jovens guerreiros do Senhor na santa obra de Deus! É por esta graça que muitos marginais têm substituído facas e revolveres por Bíblias e revistas da Escola Dominical! É por esta graça que muitos pais de família têm abandonado as mesas de bares para estarem mais presente às mesas de suas casas na companhia da esposa e filhos! É por esta graça que milhares, não, milhões de almas dantes perdidas e agora achadas cruzarão os portais da glória celestes e ouvirão o Salvador Jesus dizer: “Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que para vós foi preparado desde a fundação do mundo” (Mt 25.34). A alta conta do nosso pecado foi pago graciosamente por Jesus Cristo! E agora, ele abriu graciosamente para nós um novo e vivo caminho para o Pai (Hb 10.20).
O ímpio questiona: “mas como isso é possível? Roubou, xingou, prejudicou, matou… e agora diz que é salvo e vai morar no céu?”. Sim, é possível! É graça! É dádiva de Deus que é recebida pela fé no Salvador Jesus! É a porta da graça aberta para todos os pecadores em todo mundo, e que exige apenas o passaporte da fé, do despojar-se de todo sentimento de autossuficiência, e que se confie totalmente no Cristo da cruz e da tumba vazia!
Como compôs o poeta Haldor Lillenas (1885-1959), ministro wesleyano, também num belíssimo clássico cantado por muitos corais no Brasil:
“Graça! Quão maravilhosa graça de Jesus!
Alta como o firmamento, é sem fim!
É maravilhosa, é tão grandiosa,
É suficiente para mim!
É maior que a minha vida inútil,
Bem maior que o meu pecado vil.
O nome de Jesus engrandecei
E glórias dar!”
A graça de Deus nos basta! (2Co 12.9). Que possamos dizer como Paulo: “…a graça de nosso Senhor transbordou sobre mim…” (1Tm 1.14)
Boa aula para você neste domingo!
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REFERÊNCIAS
(1) Comentário Bíblico Beacon, vol. 7, CPAD, p. 33
(2) A. Carson. O comentário de João, Shedd Publicações, pp. 132,3
(3)D. L. Moody, sermão O sangue, parte 2
(4) Abraão de Almeida. O sábado, a Lei e a graça, 19 ed., CPAD, p. 47
(5) Myer Pearlman. Conhecendo as doutrinas da Bíblia, 3 ed., CPAD, p. 235
(6) Elienai Cabral. Teologia Sistemática Pentecostal, CPAD, p. 322
(7) Guy Duffield e Nathaniel Van Cleave. Fundamentos da Teologia Pentecostal, vol. 1, 2 ed., editora Quadrangular, p. 251,2
(8) Guy Duffield e Nathaniel Van Cleave. Op. cit., p. 246