vida cristã

“A vocação do homem, desde a criação, é de crescer”, diz Paulo Oliveira

Pastor está lançando instituto para incentivar o empreendedorismo cristão.

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Paulo Oliveira (Foto: Reprodução/Facebbok)

Ao longo de seus 30 anos de ministério, casado há 33 anos com Leni Shmayev Oliveira, com quem teve Paulo André Shmayev Oliveira, o pastor Paulo Oliveira tem incentivado o crescimento cristão em todas as áreas e atualmente é presidente da Igreja Cristã da Família e um influente empreendedor.

Engenheiro pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, foi vice-presidente da Bolsa de Valores e está a frente do Instituto Tela Negócios e Missões, que busca incentivar o empreendedorismo entre cristãos.

Além da sua experiência de mais de 40 anos no mercado financeiro,  Paulo Oliveira também preside o Instituto Renovo, uma entidade sem fins lucrativos que tem como objetivo desenvolver e apoiar projetos sociais que promovam a transformação em diversas áreas.

Com exclusividade ao Gospel Prime, o pastor falou sobre empreendedorismo, negócios e projetos.

Leia a entrevista na íntegra:

O que levou um pastor a se envolver em um projeto de incentivo empreendedor?

Minha história já se inicia com este chamado bivocacional. Participei da fundação da Igreja que presido hoje ainda cursando a Escola Politécnica na USP. Fui trabalhar como engenheiro, depois no mercado financeiro, chegando a ser Diretor de Tesouraria de Bancos de Investimento em paralelo ao meu pastorado. Em 2008 assumi a posição de vice-presidente da Bolsa de Valores. Em 2010 fui o iniciador e 1º presidente da BRAiN, Brasil Investimentos e Negócios, uma iniciativa da Bolsa, Febraban, Fecomercio e todos os grandes bancos brasileiros, para transformar o Brasil num polo de negócios internacional.

Foram anos de muitas viagens e conexões com os grandes centros de negócio, além da relação com o próprio governo brasileiro, para entender o que faz realmente um país empreender e ser um centro de negócios.

Foi nesta época, visitando negócios e Igrejas ao redor do mundo, que pude perceber a grande força formadora de gente que a Igreja tem. A maior rede global de RH existente!

O TELA nasceu há 2 anos, da confluência de pessoas e destinos que se interligaram nesse mesmo propósito (uma coisa bem de Deus). Assim, gente de diferentes igrejas e matizes, de diferentes lugares e com diferentes ocupações se encontraram debaixo deste guarda chuva que é o TELA. Minha jornada pessoal foi apenas um desses caminhos, de uma ideia que não nasceu no coração de um só.

Por que promover o incentivo dos cristãos para o empreendedorismo?

A vocação do homem, desde a criação, é de crescer, frutificar e dominar a terra. Isto é chamado de mandato cultural. Empreender é parte disto. Todo cristão carrega o DNA do Criador dentro de si. Esta capacidade única de enxergar possibilidades atrás de dificuldades e propósitos além de resultados. Podemos dizer então que empreendedorismo é uma volta às origens, uma condição que deveria ser natural a um cristão, além de uma maneira de enxergar o trabalho como adoração a Deus e não como um incômodo suor necessário  à nossa sobrevivência…por isso, não sem razão, a palavra hebraica para trabalho, é a mesma para adoração – avodah.

Uma das missões do Tela é compartilhar princípios bíblicos da mordomia financeira. Quais os princípios mais importantes?

Mordomia Financeira é antes de tudo mordomia…uma palavra mal empregada no português. Mordomo é o administrador geral dos negócios de seu senhor. Tem todo controle sobre tudo mas não tem a posse de nada. Precisa, então, prestar contas de sua mordomia.

Mordomia financeira, portanto, se inicia quando se entende quem é o seu Senhor. Jesus declarou que não podemos servir a dois senhores, porque vamos amar a um e aborrecer ao outro, E continua declarando que não podemos servir a Deus e a Mamom (o deus das riquezas).

E há duas maneiras de servir às riquezas: para os que a tem, lutando para não a perder; e para os que não a tem (a vasta maioria) sonhando em conquistá-la… Salomão disse que o que toma emprestado é servo de quem empresta (Provérbios 22:7).

Assim, os dois princípios mais importantes da mordomia financeira são:

  1. Quem é o meu Senhor: (é o dinheiro que manda em mim ou eu nele?);
  2. O que o meu Senhor quer que eu faça com o dinheiro que vou ganhar para Ele? (Aprender a buscar primeiro a Sua justiça).

Como os empresários podem ser ferramentas para a Grande Comissão?

Empresários e empreendedores são 2 coisas distintas: O empreendedor tem o olhar, a ideia, a motivação do que fazer. O empresário tem a capacidade de fazer aquilo acontecer e fazer o negócio crescer.

Assim, todo empreendedor precisa ter um empresário junto, ou também saber ser um (nem sempre uma realidade!).

Mas focando na sua questão, há vários modos de um empreendedor/empresário cumprir a Grande Comissão.

Se o seu chamado (vocação) é ser diretamente o missionário, ele precisa entender como empreender para poder ser aceito num lugar que não valoriza seu papel de evangelizador. Cada vez mais as portas se fecham para quem quer pregar o Evangelho, mas continuam abertas a quem quer fazer negócios. Para estes, o negócio é o chamariz e o fator de credibilidade para sua missão junto ao povo local.

Outra coisa é empreender num negócio que, ao se expandir, gera receitas e oportunidades de crescimento ao evangelho. Este foi o modelo de crescimento missionário americano, que inclusive nos evangelizou como país. Cristãos e empresas cristãs, focados em expandir o Reino de Deus na Terra. Esta hoje é também a oportunidade para os empreendedores brasileiros: entender seu papel como cristãos nessa arena global de missões através dos negócios (business as mission).

O senhor acredita que este movimento pode mudar a perspectiva sobre os recursos investidos para a propagação do Evangelho?

O que eu sempre digo é que precisamos entender os tempo e as horas…O Brasil vive um momento como país em que existe a real oportunidade de crescer e se expandir diante das nações.

Como sempre frisa Antonio Cabrera, vice presidente do TELA e empreendedor na agricultura, se você superpor o ranking dos 10 maiores países em área, população e economia do mundo, só 3 estarão nessa lista: Estados Unidos, China e Brasil.

Qual é então a oportunidade de um país que, além de ter água, energia, produção agrícola e mercado interno pronto para se expandir, tem diante de si para enriquecer? Entender sua vocação global.

Nós não somos comparáveis aos países do BRIC. Somos comparáveis aos EUA, 100 anos atrás.

A pergunta é: vamos aproveitar também nossa oportunidade e realmente crescer?

De que forma os pastores e líderes podem se engajar em assuntos e projetos de objetivo social?

Toda Igreja, assim como cada cristão, percorre um percurso de crescimento ao longo de sua jornada. Começa buscando soluções para si e seus problemas, passa a buscar conhecimento sobre a vontade e propósito de Deus e termina por cumprir este propósito, ainda que à custa de criar para si novos problemas (o processo de perder para ganhar).

Quando paramos de buscar crescer e passamos a ajudar outros a crescerem (que é uma maneira de entender que chegamos à maturidade da vida adulta), este ciclo se repete do lado de lá.

A ajuda social é assim o 1º passo da Igreja no resgate à dignidade do homem, para que possa deixar de pensar na sobrevivência e comece a entender o propósito. Isto é cumprido através da obra assistencial: distribuição de alimento, saúde e trabalho (direta ou indiretamente).

Mas o 2º passo é a transformação social. E esta se dá quando o resultado da minha ação empreendedora, gera a riqueza que não apenas ajuda na sobrevivência, mas traz a prosperidade ao meu entorno.

Pastores estão bem acostumados a buscar recursos para crescerem ou para cobrirem as necessidades de suas ovelhas. O TELA vem para auxiliá-los na tarefa de ensinarem as ovelhas a transformar a sociedade através de empreendedorismo cristão.

A destruição da renda e problemas relacionados a uma má interpretação sobre as riquezas tem causado preocupação para a sociedade. O empreendedorismo pode ajudar a mudar essa realidade?

Ao longo dos anos, essa percepção de que trabalho é um fardo, um mal necessário à sobrevivência, criou a ilusão de que bênção de Deus é trabalhar pouco para ganhar muito; e de que alguém quem tem que nos prover do que precisamos mas não temos (o Estado).

O empreendedorismo, mais do que trazer prosperidade, nos faz compreender que a geração da riqueza está em nós e não no Estado. E que quanto mais cristianismo houver na sociedade, maior a equidade desta distribuição. Quando a motivação para crescer está além da nossa necessidade pessoal de crescimento, todos crescem. Quando não existe motivação para crescer, seja porque não há ambiente propício, seja porque não há vontade própria, todos empobrecem e a destruição de renda se consuma.

O Brasil é apontado como sendo um país difícil para o empreendedorismo, apesar de ser um dos povos mais criativos. Como podemos mudar essa realidade?

Há duas grandes barreiras ao empreendedorismo no Brasil.

A 1ª é a motivação: Muitos começam a empreender por falta de opções. Perdem o emprego, levantam o Fundo de Garantia e abrem um negócio. Isto explica a alta taxa de mortalidade das PMEs brasileiras. O foco está equivocado, posto na sobrevivência financeira (sempre muito importante, aliás) e não no propósito do negócio

A 2ª grande barreira é o chamado Custo Brasil, que mistura vários fatores que nos faltam, quando comparados com grandes economias mundiais, como um sistema tributário simplificado, mão de obra qualificada e custo do dinheiro. A boa notícia é que lentamente estamos melhorando nas 3 áreas, principalmente na maior facilidade de acesso ao crédito/investimento.

Daí a importância de uma preparação empreendedora que te torne capaz também de atrair capital.

Qual a visão do instituto a médio e longo prazo?

Fora a Escola de Empreendedorismo Cristão, o TELA também proporcionará networking local de relacionamentos, eventos como o TELA Talks de apresentar negócios e oportunidades de ação a investidores (e vice versa), lançto de literatura especializada no tema de Mordomia Financeira e Empreendedorismo Cristão no Brasil, Viagens de Negócios e apoio às Igrejas na formação e treinamento de uma nova geração de líderes empreendedores.

Que conselho o senhor deixaria para quem deseja empreender?

Empreender é saber olhar e saber resistir. Olhar e diferenciar o ordinário do extraordinário. E resistir enquanto o tempo exato para que os demais passem a enxergar o que você anteviu, chegue.

Meus conselhos:

  1. Aprenda a olhar com olhos de curiosidade, não de desfrute;
  2. Aprenda a estabelecer checkpoints, para validar se suas premissas iniciais continuam válidas;
  3. Não ande sozinho…venha para o TELA.

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