estudos bíblicos

As cortinas do tabernáculo

Subsídio para a Escola Bíblica Dominical da Lição 6 do trimestre sobre O Tabernáculo – Símbolos da Obra Redentora de Cristo.

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Cortinas do Tabernáculo. (Foto: Reprodução)

O estudo de hoje volta-se para as cortinas que cobriam a tenda do tabernáculo. Estudaremos os materiais e as cores em que foram trabalhadas, bem como as devidas representações de Cristo que ali se podem ser percebidas. Há muitos detalhes no texto bíblico quanto as descrições daquelas cortinas os quais não julgamos necessário deter-nos sobre eles, visto que foram importantes para a montagem da tenda portátil do tabernáculo, mas que não necessariamente têm aplicações cristológicas. Assim, para evitar interpretações tipológicas extravagantes, focaremos naquilo que é de maior importância: Cristo prefigurado no tabernáculo.

I. As cobertas e as cortinas do tabernáculo

Sabemos que a área total do tabernáculo, incluindo o pátio, tinha dimensões aproximadas de 45 metros de cumprimento por 25 metros de largura. Sabemos também que a área da tenda propriamente (Lugar Santo e Santíssimo) era de quase 14 metros de cumprimento por 5 metros de largura. O pátio era cercado por um grande cortinado, porém, era uma área descoberta, onde se ofereciam sacrifícios a Deus sob a luz do sol; já a tenda, segundo orientações divinas, deveria ser coberta por quatro camadas de cortinas especialmente trabalhadas pelos artesãos liderados por Bezalel e Aoliabe. A luz no interior advinha do candelabro de ouro, que devia ser mantido constantemente aceso.

O texto de Êxodo 26.1-14 traz uma espécie de “manual do fabricante”, onde Deus orienta Moisés sobre como fazer e como montar toda aquela complexa estrutura de cortinas que fariam a cobertura da tenda. As tábuas de cetim ou acácia revestidas de ouro em bases de prata, bem com as colunas também de ouro (que serviam para suspender os véus), constituíam a estrutura do edifício. “Por cima desse esqueleto”, como dizem Rouw e Kiene, “eram estendidas quatro grandes cortinas que formavam o teto e protegiam a casa de ouro, assegurando contra o vento e o mau tempo”. [1]

Ao mesmo tempo em que aquelas quatro camadas de cortinas denotavam beleza, também sugeriam modéstia: beleza para os que adentram ao santuário, modéstia para os que observam de fora. Leo Cox comenta algo importante sobre esse jogo de glória e simplicidade no tabernáculo:

Há excelentes lições espirituais no capítulo 26 [de Êxodo]. A cobertura graciosamente colorida que estava por baixo das outras coberturas só podia ser vista por dentro do Tabernáculo. De fora, os pelos de cabra, as peles de carneiro e de texugo davam uma aparência muito comum, mas de dentro a beleza era notória. De fato, o caminho de Deus parece monótono e pouco atraente, mas para o cristão a visão interior é gloriosa. [2]

Para melhor compreensão do assunto em análise, oferecemos aos nossos leitores um vídeo curto que ilustra as cobertas da tenda do tabernáculo. A pedagogia nos ensina que aprendemos mais quando vemos e ouvimos do que quando apenas lemos. Então, assistam:

1. Primeira coberta: cortinas internas (26.1-6)

A primeira camada de cortinas era a mais bela, a mais detalhada e a mais colorida. Feita de dez cortinas entrelaçadas umas às outras, de linho fino retorcido, com cores azul, púrpura e carmesim (ou escarlate), ainda recebiam os desenhos de querubins bordados habilidosamente pelos artesãos.

Sem dúvidas, ali estava a ilustração do céu glorioso, que somente o sacerdote ou sumo sacerdote podia contemplar quando adentrasse ao lugar Santo e olhasse para o alto. Era uma vívida mensagem sem uso de palavras, mas com desenhos e cores: assim como Deus habita no céu entre os querubins, ele também está presente nesta casa. Reverência diante dele!

Visto que o tabernáculo prefigura o nosso Senhor Jesus, cremos que é razoável pensar que essa primeira cobertura aponta para a divindade do Filho de Deus, aquele que “desceu do céu” (Jo 3.13) e que “subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas” (Ef 4.10). Aquele que é adorado por todos os anjos (Hb 1.6), e diante de quem todos devem reverentemente se dobrar (Fp 2.10,11).

2. Segunda coberta: pelos de cabra (26.7-13)

Acima da primeira coberta de linho fino, estava uma segunda coberta feita de pelos de cabra, e suas dimensões eram ainda maiores, de tal modo a encobrir totalmente a primeira coberta e ainda estender-se sobre as paredes de ouro da tenda. Eram onze cortinas entrelaçadas, cujas medidas totais eram de aproximadamente 14 metros de cumprimento por 20 de largura.

Essa era a coberta mais rústica da tenda, visto que não passou por nenhum processo de tingimento. Abraão de Almeida sugere que esta coberta de pelos de cabra (não se sabe ao certo se de cor clara ou escura, embora de modo geral os ilustradores prefiram a cor branca), indica a pureza da justiça de Cristo [3]. Uma pele natural que não foi tingida bem poderia prefigurar o caráter imaculado do Filho de Deus (Jo 8.46; Hb 7.26). “O qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano” (1Pe 1.22). E é com esta santidade plena que Cristo deseja revestir a sua Igreja, como uma noiva que se veste de branco para o casamento. “Porque estou zeloso de vós com zelo de Deus; porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma virgem pura a um marido, a saber, a Cristo” (2Co 11.2).

3. Terceira coberta: peles de carneiro tingidas de vermelho (26.14)

Não nos foram dadas as dimensões desta nem da última coberta. Mas é curioso que as peles de carneiro tingidas de vermelho compusessem a terceira camada da cobertura da tenda. Rouw e Kiene nos lembram que na consagração dos sacerdotes um carneiro era morto, quando aqueles líderes religiosos eram dedicados ao serviço de Deus (Ex 29.15-35; Lv 8.2). Daí concluem: “Este animal sacrificial representa a completa consagração do Filho ao Pai. ‘Obediente até a morte, e morte de cruz!’ (Fp 2.8). Peles tintas de vermelho reforçam o pensamento de Sua morte e o derramamento de Seu sangue” [4].

Foi um carneiro que Abraão avistou perto dele no monte Moriá e o tomou para sacrificar em lugar de seu filho Isaque, a quem Deus poupou da morte (Gn 22.13). Aquele carneiro apontava para Cristo, imolado em nosso lugar na cruz do calvário. A terceira coberta de peles de carneiro tingidas de vermelho sobre a tenda do tabernáculo muito apropriadamente se vê cumprida em Cristo, aquele que voltará glorioso a esta terra, vestido “de veste tingida em sangue” (Ap 19.13).

4. Quarta coberta: peles de texugo (26.14)

Esta é a cobertura superior, que estava por cima de todas as outras e que ficava visível para quem olhasse de fora. É também a coberta mais envolta de mistérios, devido não haver um consenso sobre o que realmente significa “peles de texugo”.

Conforme Êxodo 25.5, versão Almeida Revista e Corrigida (ARC), um dos materiais usados na fabricação do tabernáculo foi a “pele de texugo”, mas outras versões dizem: “pele fina” (ARA), “couro” (NVI) ou “pele de animal marinho” (ALM’21, TB, VIVA). Essas diferentes traduções do termo hebraico tachash divergem entre si, e não é sem razão: ninguém tem certeza de que espécie de animal se está falando no texto original, embora a opinião predominante entre os comentaristas bíblicos seja de que se trata de animal marinho (muito provavelmente um mamífero marinho, e não um peixe exatamente).

A tradução texugo, a despeito da semelhança com o termo hebraico tachash (se pronuncia tarraxe), tem sido cada vez menos preferida pelos tradutores e exegetas. Como pontua Champlin [5], é possível que o tachash fosse o dugongo, mamífero marinho, a única verdadeira espécie marinha da ordem Serenia, que ainda existe até hoje nos mares da região e que antes era muito abundante no golfo de Acaba. Um dugongo adulto chega a ter 3 metros de comprimento, e poucos dugongos adultos seriam necessários para extração da pele que cobriria o tabernáculo, além de favorecer a última coberta do tabernáculo com sua pele impermeável.

Ressalte-se que alguns comentaristas pensam que nos tempos bíblicos o texugo e o dugongo fossem um mesmo animal marinho, e não o mamífero que escava tocas profundas no chão. É o que sugere o Dicionário Bíblico Wycliffe (CPAD). Em todo caso, nenhuma opinião está comprovada totalmente, e o Dicionário Ilustrado da Bíblia (Vida Nova) explica o porquê:

“Muitos animais são mencionados na Bíblia. Entretanto, muitos dos nomes são suposições dos tradutores. Em alguns casos o significado é óbvio, e há passagens que oferecem informações úteis para que se descubra de que animal o autor bíblico estava falando. Já outras passagens não dão nenhuma pista sobre o animal mencionado. Nesses casos o significado do nome se perdeu”.

Seja como for, o fato é que a opinião mais comum entre os comentaristas bíblicos é de que essa última coberta era impermeável, “mantendo a chuva e o calor do lado de fora” [6], e não parecia atrativa ao observador externo. “Por serem rústicas, quem olhasse a Tenda estando do lado de fora do Tabernáculo nada veria de especial a chamar-lhe a atenção”, diz Abraão de Almeida [7]. Jesus deixou claro aos mestres da lei em sua época que “O reino de Deus não vem com aparência exterior” (Lc 17.20).

Muitos rejeitaram a Cristo porque não conseguiam entender como aquele humilde carpinteiro de Nazaré podia ser o grande e esperado Messias (Mc 6.3). Na verdade, ele era “mais que um carpinteiro”, como disse Josh McDowell, mas a incredulidade cegou-lhes os olhos para entender as maravilhosas obras que Jesus efetuara, em demonstração da unção do Espírito que repousava sobre ele e de sua procedência divina (Mt 13.14,15).

No reino de Deus é assim: sob a simplicidade do evangelho estão escondidos mui ricos tesouros que somente terão acesso aqueles que buscarem pela fé. “Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos” (Mt 11.25).

II. As cores das cortinas do tabernáculo

Novamente lidamos com a tipologia presente nas cores do tabernáculo. Na verdade, as cores que já vimos na porta de entrada do pátio (Lição 3), estavam igualmente presentes na cobertura da tenda (Ex 26.1), e ainda nos dois véus do santuário (na porta de entrada do lugar Santo – Ex 26.36; e no véu do lugar Santíssimo – Ex 26.31). Eram sempre as cores do linho fino (branco), azul, púrpura e carmesim.

Elienai Cabral comenta:

As cortinas internas e as externas do Tabernáculo foram feitas com especial primor e beleza para, em primeiro lugar, enaltecer a presença divina no Tabernáculo e, em segundo lugar, para dar um sentido de santidade aos serviços sacerdotais no seu interior. [8]

Revisitemos os significados daquelas quatro cores no tabernáculo do Senhor e reafirmemos nossa confiança quanto as representações do caráter e da obra redentora de Cristo ali expressos.

1. A cor azul celeste

“Não é muito difícil compreender o significado do azul. Apenas olhe para cima, para o céu! Cristo é chamado de o Senhor do céu (1Co 15.47), o Senhor da glória (1Co 2.8). Mesmo quando andou aqui na Terra, Ele era Aquele que ‘veio do céu’ (Jo 3.31), sim, até mesmo ‘o que está no céu’ (Jo 3.13)”. [9]

A presença da cor azul desde a entrada até o interior do tabernáculo deve servir-nos de lembrança quanto a necessidade de nossa vida e nosso culto serem impregnados com os valores celestiais. “Pai nosso que estás nos céus… Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu”, é o que Jesus nos ensina a pedir ao Pai (Mt 6.9,10). A exortação paulina busca “pintar a nossa conduta” com o azul do céu: “Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra” (Cl 3.1,2).

O céu precisa ser tema de nossas pregações e canções, precisa ser o grande alvo de nossa vida! Se nossos pensamentos, ações e adoração fossem dominados por uma profunda consciência da presença de Deus em volta de nós, certamente evitaríamos o pecado e viveríamos uma vida de constante reverência e serviço ao Senhor! Todo dia diríamos “Maranata!”.

Não deixemos o secularismo nos dominar. Tenhamos os pés no chão, mas os olhos fitos no céu!

2. A cor púrpura

“Este era um tecido muito valioso, e somente era vestido pelos reis e ricos. É notável que praticamente só leiamos do [tecido] púrpura nas Escrituras fora da nação de Israel, e mais particularmente nas cortes dos grandes impérios. A púrpura representa a riqueza mundial, universal. Está relacionada com a glória do Senhor Jesus…”. [10]

Sabemos que Jesus Cristo é Rei dos reis e Senhor dos senhores (Ap 19.16), e que ele é o Soberano da criação de Deus (Ap 1.5; 3.14). Não há menção no Novo Testamento a vestes de cor púrpura sobre Jesus, a não ser no episódio da zombaria dos soldados romanos (Mc 15.17; Lc 16.19; Jo 19.2). Mas mesmo nesse episódio vemos como na cultura antiga a púrpura remetia à realeza, pois ao vestirem Jesus com roupa de púrpura, os romanos escarneciam do fato de ele ser proclamado rei de Israel.

Um dia este Senhor voltará glorioso para estabelecer seu trono e seu reino de paz. O próprio Pai o garante: “Eu, porém, ungi o meu Rei sobre o meu santo monte de Sião” (Sl 2.6). E quando este dia chegar, nós, a Igreja a quem Jesus constituiu “reino e sacerdócio”, viremos com ele para reinar, como ele prometeu (Ap 5.10; 22.5). Quanto aos zombadores, não mais se achará lugar para eles, pois da boca deste Rei supremo sairá uma espada aguda para ferir a todos os ímpios (Ap 19.15). Quanto a nós, os salvos, diremos: “Aleluia! pois já o Senhor Deus Todo-Poderoso reina” (Ap 19.6).

3. A cor escarlate (ou carmesim)

Como já dissemos no primeiro tópico, o vermelho aponta para o sangue do Cordeiro de Deus; e como o sangue representa a vida, estamos falando da própria vida de Cristo revestindo-nos enquanto o presente tabernáculo de Deus (Rm 13.14; 2Co 5.1; 2Pe 1.13,14). Precisamos dizer como o apóstolo Paulo: “não vivo mais eu, mas Cristo vive em mim” (Gl 2.20).

A nossa cobertura espiritual é o sangue de Jesus. Sem esse sangue aspergido em nós, estamos como as casas dos egípcios sob o juízo de Deus. É o sangue de Jesus que  nos perdoa, nos purifica, nos justifica, nos reconcilia com Deus e nos habilita a triunfar sobre as acusações e assédios do inimigo.

4. A cor branca do linho

O branco é sempre uma representação da pureza e da justiça. Jesus se transfigurou diante de seus discípulos “e as suas vestes tornaram-se resplandecentes, extremamente brancas como a neve, tais como nenhum lavadeiro sobre a terra as poderia branquear” (Mc 9.3). A santidade de Cristo é incomparável! Ele é maravilhosamente e irretocavelmente santo!

Embora Jesus seja o único “Santo” com “S” maiúsculo (At 3.14), os remidos do Senhor, também partilham de sua santidade e justiça. Por isso, os vinte e quatro anciãos estavam vestidos de branco (Ap 4.4), ao que vencer foram prometidas vestes brancas (Ap 3.5), aos mártires da tribulação foram dadas vestes brancas (Ap 6.11), e Jesus oferece à igreja vestes brancas (Ap 3.18). Quando Cristo vier para reinar, nos é dito que “seguiam-no os exércitos no céu em cavalos brancos, e vestidos de linho fino, branco e puro” (Ap 19.14). Confiantes de que faremos parte destes exércitos, cantamos:

Quando lá do céu descendo,
Para os Seus, Jesus voltar,
E o clarim de Deus a todos proclamar,
Que chegou o grande dia do triunfar do meu Rei,
Eu, por Sua imensa graça, lá estarei.
[Harpa Cristã, hino 48]

Conclusão

De fato, conforme vamos nos aprofundando no estudo do tabernáculo, percebemos com maior clareza como aquele templo portátil carregava símbolos da obra redentora de Cristo. Se aos hebreus esta revelação ainda não estava disponível, a nós, para quem “já são chegados os fins dos séculos” (1Co 10.11), esta revelação está dada mediante a encarnação do Filho de Deus e a doutrina de seus santos apóstolos. Em figuras, Cristo revestia o tabernáculo do deserto; em verdade, Cristo hoje reveste, protege e preenche a sua Igreja! Tributemos-lhe honras, glórias e louvores!

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OBSERVAÇÃO: O leitor que acompanhou este estudo com a revista da Escola Dominical da editora CPAD em mãos poderá ter percebido que suprimimos o tópico II da Lição 6, que trata do cortinado do pátio do tabernáculo. A razão é simples: um estudo do cortinado que compunha a cerca em volta do pátio já fora feito na Lição 3, tópico II. Julgamos que não era necessário repetir o assunto, dado já ter sido abordado satisfatoriamente em nosso estudo complementar naquela ocasião. Interessados poderão ler nosso subsídio da Lição 3, neste link: http://www.goodprime.co/licao-3-entrando-no-tabernaculo-o-patio/

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Referência

[1] Jan Rouw e Paul Kiene. A casa de ouro, Depósito de Literatura Cristã, p. 37
[2] Leo Cox em Comentário Bíblico Beacon, vol. 1, CPAD, p. 212
[3] Abraão de Almeida. O tabernáculo e a igreja, 3° ed., CPAD, p. 44,5
[4] Rouw e Kiene. Op. cit.
[5] R.N. Champlin. Enciclopédia de Bíblica, Teologia e Filosofia, Hagnus.
[6] Leo Cox. Op. cit., p. 210
[7] Abraão de Almeida. Op. cit., p. 44
[8] Elienai Cabral. O tabernáculo: símbolos da obra redentora de Cristo, CPAD, p. 67
[9] Rouw e Kiene. Op. cit., p. 34
[10] Rouw e Kiene. Op. cit., p. 34

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