estudos bíblicos

As orações dos santos no altar de ouro

Subsídio para a Escola Bíblica Dominical da Lição 13 do trimestre sobre “Adoração, Santidade e Serviço”

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Estamos na penúltima Lição do trimestre, e, ainda baseado no livro de Levítico, estudaremos sobre o altar do incenso e suas implicações espirituais para os crentes hoje. O leitor deverá perceber que meu estudo complementar traz três tópicos e não apenas dois, como na Lição da CPAD, devido eu julgar extremamente necessário abordarmos o aspecto de Cristo como nosso grande intercessor, tipificado no altar do incenso (assunto este que não consta na Lição). Bom estudo! E oreis por mim, como tenho orados por vós!

I. O lugar santíssimo

  1. O altar do incenso
  • Visão panorâmica do tabernáculo de Moisés

Como sabemos, o tabernáculo de Moisés dispunha de três divisões: o pátio externo, onde ficavam o altar de bronze para os holocaustos e a pia de bronze para o lavatório; entrando no interior do tabernáculo propriamente, estava o primeiro ambiente, que era o Lugar Santo (ou átrio), onde ficavam três mobílias: à direta, a mesa dos pães da proposição, à esquerda o grande candelabro de ouro, e de frente, junto ao véu que separava o Lugar Santo do Lugar Santíssimo estava o altar de ouro para ofertas de incenso. Por trás desse grosso e pesado véu estava o Lugar Santíssimo, onde estava a arca da aliança feita de ouro, que trazia em seu interior as pedras dos mandamentos, a varão de Arão que floresceu e um pouco do maná que o povo comeu no deserto; ainda sobre esta arca da aliança (ou arca do testemunho/concerto) estava a chamada “tampa do propiciatório”, e sobre a tampa dois querubins esculpidos em ouro. Neste último ambiente, somente o sumo-sacerdote podia entrar uma vez ao ano, no Dia da Expiação; nos demais ambientes, os sacerdotes oficiavam culto e ofertas ao Senhor diariamente.

  • Medidas do altar

O altar do incenso no tabernáculo de Moisés era quadrado, de modo que seu cumprimento e largura mediam 1 côvado (45 cm), com 2 côvados de altura (90 cm). Assim como a mesa dos pães da proposição, o altar de incenso era feito de madeira de acácia e coberto de ouro puro; tinha também pontas em cada canto e duas argolas de ouro nas suas laterais para fins de transporte.

  • Relação entre o altar e o Lugar Santíssimo

Ainda que o altar do incenso ficasse localizado no Lugar Santo, tinha uma profunda relação com o significado espiritual do Lugar Santíssimo (ou Santo dos Santos), especialmente no Dia da Expiação se podia dizer que o altar do incenso pertencia a este último ambiente (Hb 9.2,3; Lv 16.12,13). É uma forma de dizer que as ervas queimadas que faziam subir uma fumaça com perfume agradável bem à frente do véu, eram como as orações do povo de Deus que deveriam subir como cheiro suave, isto é, agradável ao Senhor, que é santíssimo!

  1. O incenso

O incenso era oferecido, juntamente com outras ofertas (Lv 2.1), sozinho sobre o altar do incenso (Ex 30.1-9) ou em um incensário (Lv 16.12; Nm 16.17). A preparação do incenso está descrita em Ex 30.34-38; e as ocasiões cerimoniais para queimar o incenso, em Ex 30.7,8, assim como o Dia da Expiação, em que o incenso era posto sobre o fogo (Lv 16.12,13).

Sobre o altar de ouro o sacerdote queimava incenso ao Senhor pela manhã e à tardinha, como símbolo da constante adoração do povo à Yavé (Ex 30.1-10; 40.5; 1Re 6.22; Sl 141.2). De tal modo era sagrado aquele incenso, que não podia ser feito uma reprodução dele para uso comum (Ex 30.37,38) e, menos ainda, se podia usá-lo de modo profano no culto ao Senhor. Foi por intentar oferecer incenso com fogo estranho (provavelmente não proveniente do altar do holocausto) que Nadabe e Abiú, filhos do sumo-sacerdote Arão pereceram diante do Senhor (Lv 10.1,2).

II. Jesus, o sumo sacerdote que intercede por nós

  • O tópico que faltou

A Lição da CPAD desta semana, com comentários do Pr. Claudionor de Andrade, é demasiadamente curta. Apenas 2 tópicos e apenas duas páginas e meia de conteúdo. Creio que é perfeitamente cabível um terceiro tópico nesta Lição, e é o que apresento aqui neste estudo complementar: JESUS, O SUMO SACERDOTE QUE INTERCEDE POR NÓS. Afinal, a tipologia do tabernáculo aponta primeiramente para Jesus, e somente secundariamente para a Igreja. Antes das nossas orações (e não somos sumo sacerdotes, mas sacerdotes), vêm as orações de Jesus, nosso “grande sumo sacerdote” (Hb 4.14).

  • O presente simbólico para o menino Jesus

O incenso está tão intimamente ligado à Cristo, numa perspectiva tipológica, que desde seu nascimento vemos a presença deste elemento junto dele, apontando para seu ofício sacerdotal. Entre os três presentes que os magos do Oriente levaram para o menino Jesus, encontrava-se o incenso, além do ouro (que fala de sua realeza e divindade) e da mirra (que falam de seu sacrifício vicário).

O evangelista Mateus, único a registrar esse episódio (certamente não a toa, já que ele escreveu para os judeus, que estavam acostumados com a simbologia desses elementos no culto ao Senhor), assim escreve sobre as dádivas dos magos: “E, entrando na casa, acharam o menino com Maria sua mãe e, prostrando-se, o adoraram; e abrindo os seus tesouros, ofertaram-lhe dádivas: ouro, incenso e mirra” (Mt 2.11). É inegável que temos na oferta do incenso, uma antecipação muito simbólica do ministério da intercessão que Cristo haveria de assumir em favor dos seus discípulos.

  • Jesus intercede pelos seus

Todos conhecemos este texto: “Disse também o Senhor: Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, confirma teus irmãos” (Lc 22.31,32).

Estas palavras de Jesus provam para nós que o inimigo de nossas almas deseja sacudir-nos para cima e para baixo, a fim de separar-nos do trigo do Senhor e soprar-nos para longe, como palha levada pelo vento, mas ele sabe que não pode fazer isso sem expressa permissão divina. Embora Deus tem concedido ao inimigo permissão para nos tentar (até mesmo Jesus foi levado ao deserto pelo Espírito para ser tentado pelo diabo – Mt 4.1), não estamos sozinhos na batalha contra o mal: Cristo, fiel amigo, tem sido nosso parceiro forte nas lutas de cada dia. “Eu roguei por ti”, disse Jesus ao fraco crente Pedro.

Jesus, como nosso sumo sacerdote e fiel intercessor tem oferecido ao Pai intercessões por cada um de nós! Embora a decisão final de cair ou permanecer de pé seja nossa, nenhum de nós está fadado ao fracasso, desde que não desprezemos o auxílio do amigo Jesus, e estejamos unidos a ele num mesmo propósito de amar e obedecer ao Pai. Dois mil anos atrás, naquela que veio a ficar conhecida como “a oração sacerdotal”, justamente por antecipar o ofício sacerdotal de Cristo, após a sua morte e ressurreição, o nosso Senhor já oferecia por nós, crentes brasileiros do século 21, intercessões ao Pai, quando ele disse: “E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela tua palavra hão de crer em mim” (Jo 17.20).

Neste sentido, é corretamente bíblica e mui bela a composição de Antônio Almeida, no hino 524 da nossa Harpa Cristã, quando diz em versos:

Através da tempestade
Em qualquer calamidade,
Me consola esta verdade:
Cristo pensa em mim.

O apóstolo Paulo enfatiza o ministério de intercessão do nosso Senhor, quando diz: “Quem os condenará? Foi Cristo Jesus que morreu; e mais, que ressuscitou e está à direita de Deus, e também intercede por nós(Rm 8.34). O autor a carta aos Hebreus afirma que Jesus “pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles (Hb 7.25). Não é maravilhoso contar com as preces de Jesus em nosso favor? Ainda que ninguém lembre nosso nome em suas orações, Cristo Jesus está pensando em nós!

E as orações de Jesus têm muitas vantagens sobre as nossas próprias orações. Direi duas: a primeira é que ele intercede com perfeição, nunca fazendo queixas ao Pai ou pedidos inadequados à justiça e à santidade de Deus. Jesus é o perfeito Intercessor! E a segunda vantagem, nas palavras do próprio Jesus, é que “Eu bem sei que sempre me ouves” (Jo 11.42), isto é, o Pai sempre ouve ao Filho. Amado leitor, pode confiar nas orações de Jesus! Elas são santas e sempre atendidas pelo Pai.

  • “Tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome…” (Jo 16.23)

De tal modo Cristo as intercessões que os crentes fazem estão intimamente relacionadas, que o Senhor tantas vezes instruiu a que orássemos ao Pai em seu nome, isto é, em nome de Jesus. Como bem colocado por Rouw e Kiene, “é Cristo quem apresenta as nossas orações e nossas ações de graças a Deus. Elas seriam aceitáveis a Deus se viessem diretamente de nós? Não, Cristo as purifica e santifica” [1]

De tal modo precisamos estar em sintonia com Cristo nas nossas preces, que o apóstolo Pedro diz: “Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo (1Pe 2.5). Enfatizo: “por Jesus Cristo”, isto é, somente ofereceremos sacrifícios espirituais agradáveis a Deus se for através de Jesus Cristo, salvos pelo seu sangue, em comunhão com ele pela obediência à sua verdade e confiantes nos méritos dele unicamente, não nos nossos próprios méritos. Isso é orar em nome de Jesus.

III. As orações dos santos

Gunnar Vingren, pioneiro fundador da Igreja Assembleia de Deus no Brasil, em seu trabalho de conclusão do curso de bacharelado em teologia, assim interpretou o significado espiritual do altar de incenso:

“O altar de incensos encontra analogia na oração, conforme lemos em Hebreus 4.12. Portanto, vamos com coragem chegar até o trono da graça, onde encontraremos misericórdia na hora certa. Aos incensos usados nas ofertas se contrapõe a oração e o louvor. A oração é, simbolicamente, um incenso que exala perfume e sobe do coração santificado até o trono da graça. A fumaça aromática que subia do altar, agradava a Deus, assim como agrada a Deus, o coração dos que aprenderam com o Espírito Santo. Assim como o incenso estranho não era aceito nos altares, a oração, vinda de um coração de pouca fé, não é aceita pelo Senhor. Somente a oração feita por um coração cristão cheio de fé agrada a Deus e é aceita por Ele como oferta” [2]

  • Deus ouve orações

Foi enquanto oferecia incenso no Templo que o sacerdote Zacarias foi informado pelo anjo Gabriel de que teria um filho. É interessante notar o que o texto bíblico diz:

“E aconteceu que, exercendo ele o sacerdócio diante de Deus, na ordem da sua turma, segundo o costume sacerdotal, coube-lhe em sorte entrar no templo do Senhor para oferecer o incenso. E toda a multidão do povo estava fora, orando, à hora do incenso. E um anjo do Senhor lhe apareceu, posto em pé, à direita do altar do incenso. E Zacarias, vendo-o, turbou-se, e caiu temor sobre ele. Mas o anjo lhe disse: Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida, e Isabel, tua mulher, dará à luz um filho, e lhe porás o nome de João” (Lc 1.8-13).

Observe que tanto o sacerdote Zacarias, como também o povo do lado de fora, estavam todos orando no momento da oferta do incenso (o que demonstra a íntima ligação entre o elemento do culto hebreu e a prática espiritual); mas atente especialmente para o fato de que o anjo Gabriel disse a Zacarias que a sua oração foi ouvida. Que oração teria sido essa, senão, conforme o contexto evidencia, a petição por um filho, já que sua esposa Isabel era estéril e estava em idade avançada. Certamente era uma oração que se repetia muitas vezes em casa e por muitos anos. Mas Deus ouviu a persistente oração de Zacarias!

  • Orar com fé

Deus ouve as nossas orações, se feitas com fé. Sem fé, como diria Gunnar Vingren, nossas orações não passam de “incenso estranho”. Tiago, irmão do Senhor, dizia: “Mas peça-a com fé, sem nenhuma vacilação, porque o homem que vacila assemelha-se à onda do mar, levantada pelo vento e agitada de um lado para o outro. Não pense, portanto, tal homem que alcançará alguma coisa do Senhor” (Tg 1.6.7).

Ainda que a resposta demore vir, como para nosso irmão Daniel em Babilônia, podemos ter certeza de que Deus ouve nossas orações, desde o momento em que nos humilhamos diante de Deus (Dn 10.12).

  • Orar com persistência

Se quisermos ter vitória na vida, não podemos fracassar na oração! Como dizia o piedoso metodista Edward Bounds, “nenhuma formação intelectual pode tapar o buraco do fracasso na oração. Nenhum esforço intenso, nenhuma diligência, nenhum estudo, nenhum dom pode suprir o que falta por causa do fracasso em orar” [3].

O próprio Jesus exorta-nos: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26.41). A parábola da viúva que batia à porta do juiz suplicando solução para a sua causa foi contada por Jesus aos seus discípulos “sobre o dever de orar sempre, e nunca desfalecer” (Lc 18.1). O apóstolo Paulo, que costumava falar de suas orações e também pedir orações em seu favor em suas cartas, exorta: “Orai sem cessar” (1Ts 5.17) e ainda “Orando em todo o tempo com toda a oração e súplica no Espírito, e vigiando nisto com toda a perseverança e súplica por todos os santos” (Ef 6.18).

  • Uma vida de oração

Diariamente, ao menos duas vezes por dia, o sacerdote oferecia incenso ao Senhor sobre o altar no lugar Santo. Quantas vezes por dia estamos fazendo subir a Deus o bom perfume de nossas orações? Aliás, já oramos hoje a sós com Deus, manifestando-lhe nossa gratidão por seu amor? Em tempos de crise como os que vivemos, temos levado todas as nossas necessidades a Deus em oração (Fp 4.6), ou estamos preferindo o atalho das murmurações e ansiedades que nada resolvem? (Mt 6.27). Deus responde, mas responde ao que clama! (Jr 33.3). Quanta ansiedade com o comer, o beber e o vestir! Quanto ativismo profissional sequestrando nossas devoções! Quanto entretenimento banal, privando-nos da comunhão com o Pai celeste! Deveríamos nos envergonhar de não termos uma vida de oração, como a de Lutero, reformador alemão, que orava pelo menos duas horas por dia, ou como o puritanos ou wesleyanos que passavam madrugadas sob a luz de velas, suplicando a Deus um avivamento espiritual genuíno!

Samuel Dickey Gordon, em seu clássico de 1904, Quiet Talks on Prayer, dizia com muita contundência:

 “Os grandes da terra hoje são os que oram. Não me refiro aos que falam sobre a oração, nem aos que creem na oração, nem aos que sabem explicar os méritos da oração. Refiro-me às pessoas que separam tempo para orar e oram. Elas não têm tempo. O tempo deve ser subtraído de outra atividade qualquer. Essa atividade qualquer é importante e urgente, mas não quanto a oração”

Você e eu, somos gigantes ou nanicos na oração?

Conclusão

Ao final do estudo desta lição, que mais do que informar deve nos inspirar para uma vida de fé e oração, que possamos dizer como o salmista “Suba a minha oração perante a tua face como incenso, e as minhas mãos levantadas sejam como o sacrifício da tarde” (Sl 141.2). A oração é uma verdadeira batalha (Cl 4.12), e precisamos persistir e sermos diligentes a fim de conquistar a vitória. Satanás quer nos encher de atividades e entretenimentos a fim de nos fazer cansar e desanimar da oração. Disciplinemos nossa mente e coração, para garantir que estaremos sempre junto de Jesus, no Getsêmani da oração, a fim de que não soframos a reprimenda: “nem uma hora pudeste velar comigo?” (Mt 26.40). “Com Jesus a minh’alma deseja estar, no jardim em constante oração, quando a noite chegar e o mal me cercar quero estar em constante oração” (Emílio Conde).

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Referências
[1] Jan Rouw e Paul Kiene. A casa de ouro, Depósito de Literatura Cristã, p. 42
[2] Gunna Vingren. O tabernáculo e suas lições por Gunnar Vingren, CPAD, p. 79
[3] Edward Bounds. Poder pela oração, Vida, p. 24

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