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Cristãos de esquerda se desculpam por usar sermões de Billy Graham contra Trump

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O grupo “Evangélicos por Harris”, formado por cristãos identificados com pautas da esquerda americana, reconheceu nesta semana que errou ao utilizar imagens do falecido evangelista Billy Graham em peças publicitárias veiculadas durante a campanha presidencial de 2024 nos Estados Unidos. A organização, que passou a se chamar “Evangélicos pela América” após a derrota eleitoral da ex-vice-presidente Kamala Harris no outono passado, divulgou uma nota pública reconhecendo o equívoco e pedindo perdão à Associação Evangelística Billy Graham (BGEA).

“Antes da eleição presidencial de 2024, a campanha ‘Evangélicos por Harris’, do Evangelicals for America PAC, produziu diversos anúncios usando clipes do Rev. Billy Graham”, declarou o grupo. “Fizemos isso acreditando que o uso dos clipes do Rev. Graham, embora não tenha sido feito com a permissão prévia da Associação Evangelística Billy Graham (BGEA), atenderia aos critérios de Uso Justo da Lei de Direitos Autorais dos EUA”.

A campanha veiculou os vídeos em estados considerados decisivos, gastando mais de US$ 1 milhão. As peças usavam trechos de sermões antigos do evangelista para sugerir que o então presidente Donald Trump representaria um comportamento semelhante ao descrito em 2 Timóteo 3:1-5 — passagem bíblica que alerta para homens egoístas e amantes de si mesmos nos últimos dias.

Reação da família

A Associação Evangelística Billy Graham, com sede em Charlotte, na Carolina do Norte, reagiu com firmeza ao uso não autorizado do conteúdo. Em outubro de 2024, a entidade enviou uma carta de cessação e desistência ao comitê político, expressando preocupação com a vinculação do nome e imagem do evangelista a uma campanha eleitoral.

Franklin Graham, filho do falecido evangelista e atual CEO da BGEA, manifestou-se publicamente nas redes sociais. Em publicação no verão passado, Graham afirmou: “Os liberais estão usando tudo o que podem para promover a candidata Harris. Eles até criaram um anúncio político tentando usar a imagem do meu pai. Estão tentando enganar as pessoas”. Franklin destacou ainda que Billy Graham, se vivo, manteria os mesmos valores conservadores que o aproximaram de Trump em 2016.

Em sua nota recente, os Evangélicos pela América afirmaram que “não tinham a intenção de infringir os direitos autorais da BGEA ou de insinuar que o Rev. Graham havia tomado partido político”. O grupo declarou ainda: “Mantivemos o diálogo com a BGEA desde a eleição e reafirmamos sua posição de que o propósito do Rev. Graham sempre foi claro: falar às pessoas sobre o Filho de Deus, Jesus Cristo, o único que veio do céu à terra para abrir um caminho para que toda a humanidade fosse salva de nossos pecados”.

Compromisso com a reconciliação

Diante do impasse, os Evangélicos pela América decidiram remover todos os vídeos que usavam trechos dos sermões de Billy Graham e assumiram o compromisso público de não utilizar novamente qualquer material vinculado à BGEA sem autorização expressa e por escrito.

A nota de retratação afirmou ainda: “Nossa esperança é que essas ações e nosso compromisso de não usar o Rev. Billy Graham em um contexto eleitoral partidário esclareçam a confusão sobre a mensagem em nossos anúncios originais; afirmem o valor e a importância do diálogo cristão sobre a maneira como nos envolvemos na política e priorizem os cristãos que permanecem em comunhão, apesar das diferenças”.

O grupo agradeceu à BGEA pela maneira pacífica como a questão foi conduzida, mencionando o ensinamento de Romanos 12.18: “Se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens”.

Divisão e críticas

Enquanto Franklin Graham se posicionou contra a utilização do legado do pai em contextos políticos progressistas, outros membros da família adotaram postura distinta. Jerushah Duford, neta de Billy Graham e conselheira em causas ligadas à comunidade LGBTQ em Greenville, Carolina do Sul, participou de eventos promovidos pelos Evangélicos por Harris e chegou a declarar:

“Para mim, votar em Kamala é muito mais importante do que políticas. É um voto contra mais quatro anos de líderes religiosos justificando as ações de um homem que destrói a mensagem que Jesus veio espalhar, e é por isso que me envolvo na política”.

Duford criticou o apoio de líderes cristãos a Trump, afirmando que tal postura estaria afastando pessoas da fé cristã. Sua fala reforçou a tensão entre diferentes interpretações políticas dentro do evangelicalismo americano, uma divisão que tem se acentuado desde as eleições de 2016, de acordo com o The Christian Post.

Billy Graham, ao longo de sua vida, enfatizou a centralidade do Evangelho acima de interesses partidários, como reconheceu o grupo em sua retratação: “Ele nunca politizou o Evangelho de Jesus Cristo ou as obras que criou por meio da BGEA. O Rev. Graham tinha como objetivo fazer com que o Evangelho fosse ouvido por todas as pessoas, fossem elas americanas que se identificavam como democratas, republicanas ou de outra forma”.

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