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Billy Graham na China: saiba como foi a primeira pregação no país comunista

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Em 12 de abril de 1988, o evangelista Billy Graham desembarcou na China ao lado de sua esposa, Ruth Bell Graham, dando início a uma visita de 17 dias que se estenderia por cinco cidades. O itinerário incluiu encontros com autoridades chinesas, pregações em igrejas, palestras em universidades e visitas a marcos históricos da presença missionária cristã no país.

O relato da jornada foi registrado por Graham em sua autobiografia Just As I Am e rememorado por sua equipe por meio de publicações nas redes sociais.

O convite formal partiu do bispo KH Ting, então presidente do Conselho Cristão da China (CCC), com tratativas iniciadas em 1985. A visita estava inicialmente prevista para setembro de 1987, mas foi adiada após Graham fraturar uma costela durante uma viagem ao Japão. A agenda foi retomada em abril de 1988.

Em Pequim, o casal foi recebido por uma comitiva oficial, que incluía o embaixador chinês Zhang Wenjin, o bispo KH Ting, o vice-presidente do CCC Han Wenzao e o embaixador dos Estados Unidos, Winston Lord.

Autoridades e Universidade de Pequim

Durante sua estadia na capital chinesa, Billy Graham foi recebido pelo então primeiro-ministro Li Peng, com quem conversou por cerca de 50 minutos no complexo de Zhongnanhai. De acordo com o relato do evangelista, o encontro abordou a liberdade religiosa e o papel dos cristãos no processo de abertura da China. Li afirmou que a constituição chinesa garante liberdade de crença.

Outro compromisso marcante foi a visita à Universidade de Pequim. Graham destacou que a instituição havia sido fundada por missionários, entre eles John Leighton Stuart, que também foi o último embaixador dos Estados Unidos na China antes da Revolução Comunista.

Mensagem de Esperança

Na Igreja Chongwenmen, em Pequim, Graham pregou para um auditório com 1.500 pessoas. Observou fiéis orando no altar e mencionou a presença de uma delegação chinesa vinda do Brasil. Em sua mensagem, exortou a congregação a buscar uma renovação espiritual como parte da modernização da China.

Em Xangai, participou de cultos na Igreja Memorial Moore (Muen) e na Igreja Coração Puro. Graham relatou o grande interesse dos presentes por publicações cristãs. Já em Nanquim, discursou para cerca de 200 seminaristas. Ele considerou a dedicação dos estudantes como sinal de um futuro renascimento espiritual no país.

Em um dos momentos mais simbólicos da viagem, o evangelista visitou Wang Mingdao, antigo pastor preso durante a Revolução Cultural. O encontro aconteceu no apartamento simples de Wang, com quem Graham conversou sobre a Bíblia por cerca de meia hora. Wang encerrou a reunião citando Apocalipse 2:10: “Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida”.

Visita a Tsingkiangpu: Memórias de Ruth Graham

A jornada incluiu ainda uma passagem por Tsingkiangpu (atualmente Qingjiang), província de Jiangsu, local onde Ruth Bell Graham nasceu em 10 de junho de 1920. Ela viveu ali até os 17 anos de idade, enquanto seus pais, os médicos presbiterianos Dr. Nelson e Virginia Bell, serviam no Hospital Amor e Misericórdia, fundado por seu pai. O hospital foi, à época, o maior da missão presbiteriana e precursor do atual Segundo Hospital Popular de Huai’an.

O pastor Fei Su, que atuava na região, informou que a igreja local contava com cerca de 800 membros regulares e estimou em 130 mil o número de cristãos na província. Em seu diário, Ruth escreveu: “Eu me senti em casa […] tenho certeza de que tenho sangue camponês nas veias”, ao descrever o trajeto entre Lianyungang e Huaiyin.

Igrejas Domésticas e Juventude Cristã

Em Guangzhou, Graham visitou uma igreja doméstica independente, instalada em um prédio de três andares. O local estava lotado, e aproximadamente dois terços dos presentes eram jovens. O evangelista fez apenas uma saudação breve, demonstrando preocupação com a segurança dos anfitriões.

Na avaliação de Graham, a viagem foi uma das mais intensas de sua trajetória. “Em um período de dezessete dias, cobrindo três mil quilômetros e cinco cidades principais, fizemos mais palestras e pregações […] do que em qualquer outra viagem que fiz”, escreveu. Ele observou que a cobertura da mídia nem sempre refletiu a profundidade espiritual da experiência vivida.

Billy Graham retornaria à China em 1992 e 1994. Nessas visitas posteriores, notou o crescimento econômico do país e as rápidas transformações urbanas, mas reiterou seu foco na dimensão espiritual. “A cada visita, meu sentimento sobre o lugar estratégico da China no futuro se fortaleceu. Continuamos a orar pela China, para que ela se torne uma potência espiritual no futuro”, declarou.

Desafios do Cristianismo na China

Segundo Graham, dois desafios se colocavam diante da igreja chinesa: enraizar-se de maneira genuinamente local e suprir o vazio espiritual da sociedade. Ao concluir sua autobiografia, reafirmou seu anseio de ver a China espiritualmente fortalecida, afirmando: “Acima de tudo, instei-os a abrir seus corações a Cristo e ao Seu poder e amor transformadores”.

A visita de 1988 marcou não apenas o reencontro de Ruth Graham com sua terra natal, mas também um momento de abertura e diálogo entre o cristianismo ocidental e a realidade religiosa chinesa. Com base em informações do The Christian Post, a jornada se tornou um testemunho público de fé, esperança e comunhão com os irmãos na China.

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