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Católicos viram evangélicos cada vez mais e o clero não entende
Com a morte do papa Francisco, líderes da Igreja Católica passaram a discutir os desafios contemporâneos enfrentados pela instituição, incluindo a perda de fiéis para igrejas evangélicas.
A diminuição do número de católicos tem sido apontada por especialistas como um fenômeno global, mas que se manifesta com intensidade particular no Brasil. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2000, os católicos representavam 74% da população brasileira. Esse número caiu para 65% em 2010. Dados do Censo 2022 ainda não foram divulgados oficialmente, mas a expectativa é de nova queda.
De acordo com o instituto Datafolha, em levantamento divulgado em 2020, apenas metade da população brasileira se identificava como católica (50%), enquanto os evangélicos já representavam 31%. Em 2000, este grupo era de 15%, crescendo para 22% em 2010.
A antropóloga e historiadora Lidice Meyer Pinto Ribeiro, professora da Universidade Lusófona, em Portugal, observa que a identificação com o catolicismo muitas vezes ocorre de maneira apenas estatística. “A existência do católico não praticante é uma questão cultural brasileira”, afirma.
Para o sociólogo Francisco Borba Ribeiro Neto, editor do jornal O São Paulo, da Arquidiocese de São Paulo, o movimento de saída de fiéis da Igreja Católica para igrejas evangélicas está ligado a uma busca por formas mais conservadoras de vivência cristã. “O catolicismo não está perdendo fiéis porque estes se tornam ateus, mas sim porque abraçam um cristianismo mais conservador”, explica.
A tese, no entanto, não é unânime. Alguns estudiosos sugerem que o próprio conservadorismo da Igreja Católica pode estar contribuindo para o afastamento de fiéis. O teólogo e historiador Gerson Leite de Moraes, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie, observa que a instituição enfrenta um “desafio duplo”.
Segundo ele, a Igreja Católica precisa lidar tanto com a perda de hegemonia religiosa, quanto com a necessidade de manter engajados os que ainda se identificam como católicos: “É preciso manter acesa a chama do catolicismo no país, ainda o maior país católico do mundo”, pontua.
Ele também destaca que as igrejas evangélicas, ao crescerem, passam a encontrar no catolicismo um “grande fornecedor de fiéis”: “A Igreja Católica precisa preservar o que ainda resta, estancar a crise da perda de fiéis”, afirma.
Além disso, a Igreja Católica enfrenta a escassez de vocações sacerdotais, agravada por um cenário político cada vez mais polarizado, no qual a instituição ainda busca uma forma clara e eficaz de se posicionar diante dos desafios do século XXI, de acordo com a BBC.
A expectativa, agora, se volta para o próximo conclave, que deverá reunir os cardeais do mundo inteiro no Vaticano para eleger o novo pontífice.