igreja perseguida
‘Chegamos a duvidar de Deus’, diz pastor sobre angústia da perseguição
Desde o golpe militar de 2021, milhares de cristãos em Mianmar enfrentam deslocamento forçado, perseguição religiosa e risco constante de morte. Entre eles está o pastor Yang (nome fictício por razões de segurança), que vive com a esposa e os filhos em fuga pela floresta, buscando refúgio longe dos ataques.
“Corremos e rastejamos sob o fogo cruzado. Às vezes, passamos a semana inteira buscando um refúgio seguro, lutando para sobreviver. As bombas continuam caindo atrás de nós”, relatou o pastor em conversa com cristãos que acompanham sua situação. Em uma floresta densa, a família tenta se esconder sob lonas improvisadas, sem acesso a comida, água ou abrigo digno. “Se descobrirem nosso esconderijo, os bombardeios recomeçarão. O choro das crianças é constante. Não temos nada”, disse.
Conflito e perseguição
A guerra civil no país se intensificou após o golpe militar de 01 de fevereiro de 2021, agravando a situação já difícil das minorias religiosas. Antes mesmo do golpe, os cristãos eram alvos frequentes de discriminação e hostilidade por parte de grupos budistas radicais e forças estatais. A escalada de violência resultou em ataques a igrejas, sequestros e destruição de comunidades inteiras. Organizações de defesa da liberdade religiosa estimam que mais de 40 mil cristãos foram deslocados ou forçados a se esconder apenas no primeiro ano após o golpe.
“Sinto-me impotente por não conseguir proteger minha família. Em momentos de desespero, chegamos a duvidar da presença de Deus”, confessou o pastor, cuja igreja foi atacada e dispersa. Durante a fuga, muitos fiéis ficaram sem contato, espalhados em regiões isoladas. “É extremamente perigoso tentar visitá-los. A qualquer momento, podemos ser vítimas de bombardeios e tiroteios”, afirmou.
A marca da instabilidade
Yang lembra que sua vida de fuga começou após ser abordado por policiais enquanto fazia compras no mercado. A simples suspeita de envolvimento com um protesto bastou para que ele e a esposa decidissem fugir. Desde então, a insegurança tem sido uma constante.
Ao longo dos anos, sua congregação sofreu perseguições diretas: “Os membros foram vendados e ameaçados com armas”, contou. Em outra ocasião, sua motocicleta e suas economias foram levadas por soldados. “Perdi tudo o que tinha”, disse.
A rotina de deslocamento, a falta de alimentos e a necessidade de proteger os filhos pequenos cobraram um alto preço emocional. “O fardo de fugir com crianças pequenas é insuportável. Quando saio para comprar comida, minha oração é: ‘Deus, ajude-me a voltar em segurança’”, compartilhou o pastor com a Missão Portas Abertas.
Apesar do sofrimento, o pastor Yang encontra consolo nas orações dos irmãos em Cristo e no consolo das Escrituras. “Sabemos que as orações dos cristãos ao redor do mundo nos protegem. Há um Deus que tudo pode. Ele nos sustenta”, afirmou. A cada noite, sua família ora pedindo forças para seguir. “Às vezes, a vontade de desistir é grande, mas somos encorajados a seguir em frente e servir ao Senhor”.
“Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados; perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos” (2 Coríntios 4:8-9).