política
Conservador vence eleições na Polônia após disputa apertada
O conservador Karol Nawrocki venceu o segundo turno das eleições presidenciais na Polônia neste domingo, 1º de junho, com 50,89% dos votos, superando por estreita margem o liberal Rafal Trzaskowski, que obteve 49,11%. Os dados foram divulgados pela Comissão Eleitoral Nacional após a apuração de 100% das urnas.
No total, Nawrocki recebeu 10.606.682 votos. Já Trzaskowski, atual prefeito de Varsóvia e apoiado pela coalizão governamental liderada pelo primeiro-ministro Donald Tusk, obteve 10.237.177 votos. A diferença de 369.505 votos representa uma vantagem de 1,78%, em uma das eleições mais disputadas da história recente do país.
Nawrocki, de 42 anos, é ex-boxeador e entrou recentemente na política nacional. Ele foi apoiado pelo partido conservador Lei e Justiça (PiS), hoje na oposição, e apresentou um discurso marcado por euroceticismo, reticência em relação à entrada da Ucrânia na OTAN e uma postura firme quanto à imigração. Ele também demonstrou simpatia pelo ex-presidente norte-americano Donald Trump, que manifestou apoio à sua candidatura.
Apuração acirrada
A eleição registrou uma participação de 71,63% do eleitorado, o maior índice já registrado em uma eleição presidencial na Polônia. A apuração foi marcada por tensão e reviravoltas. Pesquisas de boca de urna divulgadas logo após o fechamento das seções eleitorais indicavam uma ligeira vantagem para Trzaskowski. No entanto, nas horas seguintes, com a chegada dos resultados oficiais, Nawrocki assumiu a dianteira.
Ambos os candidatos chegaram a declarar vitória ainda na noite de domingo. Nawrocki manteve confiança nas urnas das zonas rurais, que historicamente favorecem os conservadores, enquanto Trzaskowski concentrou sua força nas grandes cidades.
A situação foi comparada por analistas à eleição presidencial de 1995, quando Aleksander Kwaśniewski ultrapassou Lech Wałęsa após lideranças alternadas nas pesquisas iniciais e nas primeiras urnas apuradas.
Impacto político
A vitória de Nawrocki representa um revés significativo para o governo liberal de Donald Tusk. Durante a campanha, Trzaskowski propôs medidas como a legalização do aborto em determinadas circunstâncias, o reconhecimento das uniões civis entre pessoas do mesmo sexo e a reversão de reformas judiciais promovidas pelo PiS.
Em contraste, Nawrocki promete manter a linha adotada pelo presidente Andrzej Duda, cujo mandato se encerra em agosto após dois períodos consecutivos. Duda frequentemente vetou projetos de lei apresentados por Tusk e manteve uma postura alinhada com a ala conservadora polonesa.
Nesta segunda-feira, 2 de junho, o presidente Duda parabenizou Nawrocki pela vitória e agradeceu aos eleitores pela mobilização. Em mensagem ao governo, declarou: “Mantenha-se forte, Polônia!”.
A presidência na Polônia confere ao chefe de Estado poder de veto sobre a legislação aprovada pelo Parlamento, capacidade de encaminhar normas ao Tribunal Constitucional — hoje amplamente composto por juízes indicados sob governos do PiS — e autoridade sobre nomeações diplomáticas e comando das Forças Armadas.
Adversários poderosos
A eleição teve ampla repercussão internacional. Nas redes sociais, o jornalista Paulo Figueiredo Filho afirmou que Nawrocki venceu “apesar de toda parcialidade do judiciário, da influência globalista (…) e da perseguição política”. Ele classificou o pleito como “uma das eleições mais importantes da Europa”, destacando a localização estratégica da Polônia e sua identidade religiosa.
A vitória do conservador reforça o peso político do eleitorado polonês mais tradicionalista e pode influenciar os debates sobre soberania nacional e políticas europeias. Ao mesmo tempo, projeta desafios à continuidade da agenda liberal do governo Tusk, que já havia reconhecido, após o primeiro turno, um “cartão amarelo” da população.
Valores em disputa
A eleição ocorre em um país de maioria católica e com presença significativa de comunidades evangélicas, especialmente no sul do país. Os debates sobre soberania, valores familiares, políticas migratórias e reformas judiciais têm se intensificado desde as gestões do PiS, que marcaram os últimos anos com enfrentamentos com a União Europeia.
A nova configuração do Executivo, agora com um presidente conservador e um governo liberal, aponta para possíveis embates institucionais. Com a posse de Nawrocki prevista para agosto, o governo de Donald Tusk deverá enfrentar obstáculos na tramitação de suas propostas.