estudos bíblicos

Davi é ungido rei

Subsídio para a Escola Bíblica Dominical da Lição 7 do trimestre sobre “O Governo Divino em Mãos Humanas – Liderança do Povo de Deus em 1º e 2º Samuel”.

em

Rei Davi. (Foto: Reprodução)

A Lição de hoje e as demais desse trimestre irão focar na vocação e obras de Davi, o mais destacado personagem dos dois livros de Samuel. Não seria nada estranho se esses livros em verdade se chamassem 1 Davi e 2 Davi, pois neles predominam relatos sobre o jovem filho de Jessé e também vitorioso rei de Israel.

A Lição de hoje se detém aos episódios da unção de Davi na casa de seu pai e os fatos que sucederam este evento, antes que Davi viesse assumir o trono (o que será tratado mais especificamente na Lição 9). Com a Bíblia em mãos, estudemos tão preciosa Lição!

I. Davi: o rei ungido

1. Significado e propósito da unção

O Dicionário Bíblico Wycliffe (CPAD) nos traz detalhada definição do verbete UNÇÃO, dentre o que destacamos este trecho que nos é suficiente quanto à unção ministrada sobre pessoas (sacerdotes, profetas e reis) como também sobre coisas ou objetos (como toda a mobília do Tabernáculo):

“A unção separava o objeto ou a pessoa para um serviço especial à Deus, tornando-se dessa forma sagrada e intocável (1Sm 24.6; 26.9). A unção era frequentemente considerada um ato de Deus [veja-se, por exemplo, quando o Salmo 89.20 diz “Achei a Davi, meu servo; com santo óleo o ungi”], porque Ele ordenava que fosse feita (cf. 1Sm 9.16 com 10.1), e era associada ao derramamento do Espírito do Senhor (1Sm 10.9; 16.13; Is 61.1)”.[1]

Ainda que nem mesmo Jessé esperasse que o seu filho mais novo Davi fosse objeto de interesse da parte de Deus para receber alguma unção (talvez por isso somente mediante ordem do profeta Samuel é que Davi foi buscado no campo; caso contrário, ninguém o teria chamado – 1Sm 16.11,12), era sobre o menino Davi que estava o chamado e os investimentos divinos para o reino de Israel.

2. O simbolismo da unção

Ainda citamos o Dicionário Wycliffe, segundo o qual,

“os escritores do Novo Testamento entendiam metaforicamente a unção, que consiste em dotar de poder espiritual e entendimento (1Jo 2.20,27). No Antigo Testamento, a unção está associada ao ofício dos reis (1Sm 10.1-9; 16.13), mas no Novo Testamento está associada com Cristo e com aqueles que são testemunhas cristãs, dentro de um contexto de proclamação do Evangelho”.[2]

Portanto, unção diz respeito à separação para o serviço do Senhor e a devida capacitação espiritual para isso. É lamentável ver como hoje esta palavra tem sido mal compreendida e banalizada, especialmente em igrejas pentecostais não bem instruídas, onde costuma-se confundir barulho com unção. Muitas pessoas pensam que cantores e pregadores com unção são aqueles que mais gritam, pulam e correm, ou que conseguem manipular as emoções alheias, ainda que não tenham nenhum conteúdo bíblico, nenhuma música de fato com boa poesia e melodia ou pregação relevante. Não confundamos unção com emocionalismo barato!

3. A unção do rei

Comentando sobre a razão do porquê Davi ter sido ungido “no meio de seus irmãos” e diante de seu pai Jessé, Payne escreve: “Um profeta podia ter um chamado da parte de Deus, mas um homem escolhido para ser rei devia ter algo mais do que apenas uma voz interior a chama-lo, algo de que outras pessoas poderiam duvidar”[3]. Isto é, a unção de Davi para o reino precisava ser mantida acima de qualquer suspeita, e finalmente quando chegasse o tempo de Davi assumir o trono, poderia se dizer em Israel: ele foi ungido para isso!

A unção do Senhor sobre Davi o transformou de jovem pastor ao mais famoso e respeitado rei de Israel em todas as épocas! Como se pode ver a partir do segundo livro de Samuel, e também 1 e 2 Reis e também 1 e 2 Crônicas, Davi se tornou o parâmetro de Deus para os demais reis, sendo a grande referência positiva para todos os que viriam após ele. Diferentemente de Saul que, segundo 1Samuel 10.1, foi ungido com um “vaso” (em hebraico, pak, isto é, frasco ou ânfora de barro/argila, demonstrando a fragilidade do seu reino), Davi, conforme 1Samuel 16.1 (veja as versões ARA, BKJ, NVI, NAA), foi ungido com um “chifre” (em hebraico, qeren, que é símbolo de força, apontando para a força de Davi e a benção de Deus sobre seu governo).

Mais que rei bem-sucedido, Davi veio a ser um tipo do Messias, de quem, de fato, Davi é predecessor na carne. Isto é, Jesus descende de Davi, sendo ambos da tribo de Judá, a tribo donde viriam os reis de Israel, segundo a vontade de Deus, conforme a benção ministrada pelo patriarca Jacó (Gn 49.10). Jesus é muitas vezes aclamado como “filho de Davi” (Mt 1.1; 12.23; 15.22; Mc 10.47), não apenas em referência à sua genealogia, mas muito mais em referência ao seu direito legítimo ao trono sobre Israel.

Todavia, o grande rei Davi pecou; mas o nosso Senhor Jesus é o Davi perfeito! É o Leão da Tribo de Judá (Ap 5.5), é o Rei dos reis e Senhor dos senhores (Ap 19.16)!

II. Davi: o rei que era servo

1. O ungido servindo

Davi era não somente o mais novo dentre os oito filhos de Jessé, mas certamente tinha ainda tão pouca idade que não podia alistar-se para o exército de Israel, ficando assim responsável pelo cuidado com as “poucas ovelhas” de seu pai no campo (1Sm 16.11; 17.28), bem como por prover seus três irmãos mais velhos, que eram soldados de Saul, de mantimento no campo de batalha (17.17-18). Davi cumpria diligentemente ambas atribuições delegadas por seu pai (conf. 17.20-22,34,35).

Quanto aos serviços prestados por Davi ao rei, destacam-se esses: quando Saul precisou de um guerreiro para derrotar o gigante Golias, lá estava o moço Davi e sua funda (17.40-51). Quando Saul precisou de um músico para acalmar-lhe a mente perturbada, lá estava Davi e sua harpa (16.14-23). Em muitas outras empreitadas, “Davi saía aonde quer que Saul o enviava e tinha êxito” (18.5). Por sua sincera disposição em servir, Davi podia apresentar-se ao rei sem demagogia, como “este seu servo” (17.32,34,36).

Todavia, os irmãos de Davi pareciam não ter bons olhares para ele. “Sei que você é presunçoso e mau” – este foi o julgamento de Eliabe contra Davi (1Sm 17,28). O irmão mais velho tinha uma visão negativa de seu irmão mais novo. Mas o que importa é o julgamento de Deus sobre Davi: “Achei Davi, meu servo; com meu santo óleo o ungi” (Sl 89.20). Enquanto Eliabe, julgava Davi um moço intrometido, Deus o via como um servidor; enquanto Eliabe reprovava Davi como um jovem mau, Deus lhe via como um rei ungido. Diante da opinião negativa que os irmãos de Davi tinham ao seu respeito, torna-se ainda mais vibrante a afirmação bíblica sobre a unção de Davi para o reino: “Samuel… ungiu Davi no meio de seus irmãos” (1Sm 16.13).

2. O Espírito do Senhor se retira de Saul

“O Espírito do Senhor se retirou de Saul” – é a forma retumbante das Escrituras tratarem o início do declínio espiritual de Saul e a sua tragédia anunciada (16.14). Como fora outrora com Sansão (Jz 16.20), saindo o Espírito Santo do homem, resta-lhe tão somente o fracasso moral, espiritual e, finalmente, a morte.

Mais à frente, o próprio Davi, após o seu fatídico pecado de adultério, demostra-se profundamente arrependido e, temendo cair na mesma desgraça que estes líderes de Israel que o antecederam, roga: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto. Não me lances fora da tua presença, e não retires de mim o teu Espírito Santo” (Sl 51.10,11). Davi sabia que não era o trono nem as habilidades naturais que ele tinha, mas a presença do Espírito Santo é que era de fato a sua glória e a sua força! O hino Não sai de mim, Senhor, interpretado por Marcos Antonio, é uma bonita composição que bem retrata essa súplica de Davi, que também deve ser a nossa súplica quando na caminhada da vida viermos a tropeçar e cair (1Jo 2.1,2).

O Espírito do Senhor se aparta de Saul, e então um espírito mau, vindo da parte de Deus, passa a lhe atormentar, como que um julgamento divino sobre o primeiro rei de Israel, devido sua desobediência e orgulho. Ainda que Saul tenha reinado muitos anos, o fizera sem a atuação interior do Espírito de Deus; embora, conforme 1Samuel 24.6, Davi o tivesse por “ungido do Senhor” (e de fato era, no sentido de ter sido outrora ungido por Deus, através de Samuel, para a monarquia), Saul de fato já havia perdido esta unção.

Strauss comenta com muita propriedade: “A ascensão de Davi é contrabalanceada com o declínio de Saul, cuja inveja egoísta contrasta com a confiança de Davi e paciente espera no Senhor. A partir de sua unção, o brilho de Davi cresce, enquanto o de Saul diminui”[4].

3. Deus levanta autoridades

O Deus que outrora chamou os patriarcas, ungiu sacerdotes e capacitou os juízes, faria o mesmo agora nos tempos da monarquia. O fracasso de Saul e o lamento de Deus por havê-lo colocado líder sobre o povo não significavam que o Senhor relegaria seu povo à anarquia. Desde o primeiro pecado de Saul, o profeta Samuel já havia prenunciado que Deus levantaria por rei sobre Israel um homem “segundo o seu coração” (1Sm 13.14; At 13.22).

Davi era este homem escolhido por Deus para substituir Saul (16.12,13), e para isso fora ungido na casa de seu pai, no meio de seus irmãos. Entretanto, em momento algum após a unção, vemos Davi fazer motim contra Saul ou promovendo ações que desequilibrassem o seu governo para finalmente puxar-lhe o tapete e receber o trono prometido. É que Davi foi ungido como rei e não como oposição ao rei; seu tempo de reinar chegaria, nem que ele tivesse que esperar por volta de uma década e meia (já que começou a reinar com 30 anos de idade, conforme 2Samuel 5.4).

Nem mesmo quando ameaçado de morte pelo próprio “rei de fato” Saul, o “rei por direito” Davi revidou, antes confiava em Deus para julgar aquela demanda (1Sm 24.12). Neste sentido, Davi é mesmo um tipo de Cristo, pois nosso Senhor “quando o injuriavam, não injuriava, e quando padecia não ameaçava, mas entregava-se àquele que julga justamente” (1Pe 2.23). A paciência de Davi se assemelha à de Cristo. E quanto a nossa paciência, será que se assemelha à deles?

III. Davi: o rei que era guerreiro

1. O gigante Golias

A batalha entre o menino hebreu Davi e o gigante filisteu Golias é realmente uma das mais memoráveis passagens bíblicas (1Sm 17). Uma batalha que, ao que parece, fora decidida rapidamente, mas tornara-se épica por tudo o que ela representou para Davi, em particular, para o povo de Israel, em geral, e para a glória manifesta de Deus acima de tudo!

A descrição do gigante filisteu, especialmente pelo temor que sua presença impunha ao exército de Israel (Saul e todo o Israel “ficaram assustados e com muito medo” – 17.11), leva-nos a crer que Golias era uma verdadeira máquina mortífera, cujas ameaças deveriam ser encaradas com tremor pelos seus oponentes.

Pelo seu tamanho (quase três metros de altura), pela armadura pesada que lhe garantia tranquila defesa, e pelas perigosas armas de ataque que trazia (só a ponta da lança pesava mais de sete quilos), o gigante filisteu podia gabar-se antecipadamente da vitória, ainda mais que seu oponente era um adolescente sem treinamento oficial em táticas militares e viera à batalha sem nenhuma armadura ou mesmo armas próprias de guerra para o combate.

Ainda mais que nenhum soldado de Israel se ofereceu para o combate, Golias e os filisteus estavam com as mãos no cinturão de ouro. Mas apareceu o ousado Davi para atrapalhar os planos e sufocar os gritos arrogantes dos filisteus.

2. Davi, ungido e cheio de fé

É realmente palpitante lermos as linhas de 1Samuel 17, especialmente quando Davi espontaneamente compareceu diante do rei Saul para oferecer-se para a batalha contra o gigante: “Assim feria o teu servo o leão, como o urso; assim será este incircunciso filisteu como um deles; porquanto afrontou os exércitos do Deus vivo. Disse mais Davi: O Senhor me livrou das garras do leão, e das do urso; ele me livrará da mão deste filisteu” (vv. 36,37). Esses dois versículos demonstram a grande fé de Davi para livramento e vitória. Vejamos:

a) Livramento – “O Senhor me livrará da mão deste filisteu”. O escudo de defesa de Davi era o Senhor, que garantiria ao seu servo proteção enquanto estivesse lutando. Ó bendito escudo que nos é necessário hoje! “Israel, confia no Senhor; ele é o seu auxílio e o seu escudo” (Sl 115.9)

b) Vitória – “feri o leão e o urso, assim ferirei este incircunciso que afrontou os exércitos do Deus vivo”. Embora carregando uma funda e pedras, a grande arma de ataque de Davi era o próprio Deus, em cujas mãos estava o coração do pequeno belemita! Davi sabia que não iria à batalha para fazer graça, ganhar tempo e ficar macaqueando diante do gigante filisteu, antes estava indo para liquidá-lo como fizera outrora às feras do campo.

3. As armas do garoto

Golias, ainda que fosse uma máquina de guerra, ignorava duas coisas: a primeira é que Davi não lutaria confiando em habilidades humanas, pois “o SENHOR estava com ele” (18.14), e este Senhor, como havia dito Moisés, é “varão de guerra” (Êx 15.3); em segundo lugar, Davi não precisaria de outras ferramentas além daquelas que eram costumeiras ao seu trabalho no pastoreio: uma funda e pedras, com as quais Davi muitas vezes afugentara animais selvagens que intentavam contra as ovelhinhas de seu pai Jessé. Agora, era a vez do pequeno Davi afugentar o grande lobo filisteu que buscava devorar as ovelhas de Yavé!

Consciente de quem lhe ajudaria na batalha, Davi recusa a armadura do desviado rei Saul (17.38,39); precavido quanto à possibilidade da batalha prolongar-se, ainda que tivesse certeza da vitória, Davi colhe cinco pedras à beira do riacho, embora fosse precisar apenas de uma para vencer o gigante (v. 40).

Não parece loucura a atitude de Davi? Não seria aquele jovem reprovado por muitos hoje como sendo um “petulante”, “atrevido” ou, como precipitadamente julgou seu próprio irmão Eliabe, um “presunçoso”? Não. Davi era um ungido de Deus e o Espírito de Deus estava sobre ele (16.14)! E como dizia o hino Unção divina, interpretado por Mara Lima, “Qualquer coisa vira arma, nas mãos de quem tem unção”. A unção é que faz toda a diferença! Senão vejamos o que prometeu Jesus aos seus discípulos: “Eis que vos dou poder para pisar serpentes e escorpiões, e toda a força do inimigo, e nada vos fará dano algum” (Lc 10.19).

Mais tarde, o guerreiro Davi que também era poeta vai escrever os belos e contundentes versos: “Uns confiam em carros e outros em cavalos, mas nós faremos menção do nome do Senhor nosso Deus. Uns encurvam-se e caem, mas nós nos levantamos e estamos de pé” (Sl 20.7,8).

4. O contraste entre Davi e Golias

Em estatura física, Golias era gigante, Davi era pequeno; mas em estatura espiritual, o gigante era Davi, enquanto Golias era menos que uma formiga! Golias tinha muitos deuses, em nome dos quais amaldiçoou Davi; Davi, porém, adorava somente um Deus, o único e verdadeiro Deus, “o SENHOR dos Exércitos” (v. 45), em nome de quem Davi revestiu-se de força para declarar a derrota ao incircunciso filisteu.

Conclusão

Davi, que não buscava outra coisa senão a glória de Deus e o zelo pela honra do Senhor, foi elevado ao posto de rei de Israel, sucedendo Saul, que fora rejeitado por Deus devido sua desobediência. Mas, diferentemente do orgulhoso primeiro monarca de Israel que chegou até mesmo a erguer um monumento em sua própria honra (1Sm 15.12), Davi não ambicionava coisas altivas. Ainda que falho, soube reconhecer seus erros, arrepender-se, abandonar o pecado e, sempre buscar agradar ao Senhor acima de tudo. O breve Salmo 131, de autoria davídica, descortina o coração do humilde rei de Israel: “Senhor, o meu coração não é orgulhoso e os meus olhos não são arrogantes. Não me envolvo com coisas grandiosas nem maravilhosas demais para mim…”. Que Deus nos faça homens e mulheres segundo o seu coração, e encontre em nós verdadeiros adoradores como encontrou a Davi!

_________

Adquira o novo eBook Reflexões contundentes sobre Escola Bíblica Dominical, de Tiago Rosas, autor deste estudo que você acabou de ler. Preço promocional até 30 de novembro: R$ 14,99. Contate-nos pelo WhatsApp: (83) 98708-7983

_________
Referências

[1] Dicionário Bíblico Wycliffe, CPAD, p. 1976
[2] Ibid.
[3] D.F. Payne em Comentário Bíblico Vida Nova, Vida Nova, p. 477.
[4] M.L. Strauss. em Novo Dicionário de Teologia Bíblica, Vida, p. 655

Trending

Sair da versão mobile