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Devoção ministerial: priorizando as prioridades

Nossas prioridades tendo como referência nossos relacionamentos.

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Círculos concêntricos na água (Reprodução / Shutterstock)

Devoção significa uma vida consagrada ou dedicada a Deus. Devotada, portanto, é a pessoa que não vive para satisfazer o seu próprio ego, mas procura fazer a vontade de Deus e procura considerá-lo em todas as áreas de sua vida.

Segundo o dicionário, ministério é a execução de uma tarefa, de uma obra; atividade, trabalho, mister ou a ocupação exercida por alguém; cargo, função, profissão.

Quando pensamos, então, no tema devoção ministerial, podemos presumir que estamos falando da dedicação que devemos ter no trabalho que executamos para o Reino.

Para entendermos o exercício do ministério no século XXI, é importante que tenhamos conhecimento do nosso tempo.

Essa questão de conhecer os tempos é tão importante que Deus escolheu uma tribo, dentre as 12 de Israel, para ser detentora da compreensão dos tempos para que Israel soubesse o que fazer.

E dos filhos de Issacar, duzentos de seus chefes, destros na ciência (entendidos, conhecedores) dos tempos, para saberem o que Israel devia fazer, e todos os seus irmãos seguiam suas ordens. (I Crônicas 12:32) 

Vivemos em momentos de muito estresse e agitação. Frequentemente, estamos correndo de um lado para o outro com uma agenda tomada de segunda a segunda.

Temos a impressão de que, se não estivermos ofegantes e na correria, não estamos, de fato, produzindo.

Tudo colabora para que nossas mentes estejam sempre em um turbilhão de estímulos e para que nossos pensamentos corram de um lado para outro em uma velocidade espantosa. Momentos de reflexão, meditação e de silêncio tornam-se cada vez mais raros entre nós.

Vivemos o que denomino a tirania do urgente.

Na roda viva da vida parece que há sempre alguma coisa a mais que deveríamos ter lembrado, feito ou dito. Portanto, embora sempre ocupados, vivemos, também, com a impressão de que nunca realmente cumprimos com as nossas obrigações, e o mais estranho é que não estar ocupado nos leva a um sentimento de culpa e de não realização, parece que viver ocupado virou símbolo de status.

Por isso, refletir e discernir nosso tempo, nossa época é fundamental para que possamos ser relevantes, eficazes e saudáveis em nossa comunicação e em nosso serviço como igreja e, desta forma, possamos ter a certeza de que como Davi também verdadeiramente servimos nossa geração (Atos 13:36).

Estamos inseridos em uma sociedade fluida e dinâmica que está em permanente mudança. As mudanças, quase sempre, geram algum tipo de estresse pois, como no efeito dominó, produzem ou desencadeiam outras mudanças que requerem nossa adaptação. Por isso, quando falamos de mudanças, somos levados a pensar em prioridades e, quando consideramos as nossas vidas diante das prioridades a ser escolhidas, tendemos a adotar modelos muito rígidos, e isso gera mais estresse e colabora, muitas vezes, para um adoecimento da alma e/ou corpo.

Muitos de nós em nossa caminhada cristã adotamos algumas trilhas de considerações que necessitam ser reavaliadas. Por exemplo, alguns categorizam suas prioridades na ordem: Deus, família, profissão e igreja, outros adotam a classificação: Deus, igreja, família, profissão, e a igreja então assume uma prioridade sobre a família. Seja qual for a ordem, não raras vezes enxergamos a vida como se ela fosse algo monolítico, como um bloco rígido, homogêneo e impenetrável.

E qual seria a maneira mais saudável de lidarmos com tudo isso?

Como é que eu coloco as minhas prioridades de tal forma que eu consiga exercer o ministério cristão e consiga ser um pai/mãe suficientemente bom, um bom esposo(a), e possa crescer profissional e espiritualmente como pessoa?

Como é que eu administro ou como é que eu vou gerir essas questões tão importantes?

Mais importante do que priorizar a sua agenda, é agendar as suas prioridades e, para isso, a primeira coisa é de fato tomarmos consciência de que a vida é muito frenética e alvoroçada e que, se não tivermos princípios claros diante de nós, certamente vamos acabar nos perdendo nas exceções ou nas demandas do dia, e aquilo que deveria ser exceção pode se transformar em uma nova norma.

Ernest Mosley trouxe uma sabia concepção de círculos concêntricos como uma maneira de gerenciarmos nossas prioridades, nas nossas vidas oferecendo uma proposta de algo muito ativo, na qual ele coloca como centro a “Pessoa Cristã”, o seu “eu” cristão ou a sua espiritualidade. Assume o centro de sua proposição aquilo que você é de fato como indivíduo.

Um indivíduo que conhece a Deus, que se relaciona com Deus e que tem Deus como prioridade, ou como o cerne da sua existência. Portanto, eu falo de uma nova criatura que passou da morte para vida, e que tem Cristo como centro de sua existência.

Em sua concepção, Mosley constrói ou distribui nossas prioridades tendo como referência ou maior valor nossos relacionamentos. Destarte, ele vai distribuir as prioridades não a partir das tarefas, isto quer dizer, dos ministérios e atividade que essa pessoa exerce e desempenha, mas a partir dos relacionamentos que estão envolvidos com as tarefas que deverão ser ou que estão sendo desempenhadas.

A figura abaixo ilustra esta concepção:

Figura adaptada do livro: Leadership Profiles from Bible Personalities.

Alterei o diagrama de Mosley acrescentando o círculo filhos, que não consta do diagrama original. Seguindo esta proposição, podemos identificar no centro, a Pessoa Cristã; no segundo círculo, a Pessoa Cônjuge, para aqueles que são casados; no terceiro, a Pessoa Filho(a), caso tenha; no quarto a Pessoa Pai/Mãe; no quinto, a Pessoa Membro da Igreja; no sexto, a Pessoa Colaboradora, no lugar onde eu trabalho; e no sétimo círculo, a Pessoa Comunitária, aquele que pertence a comunidade e que influencio.

Considerando que somos seres relacionais, se desejamos ter uma vida equilibrada e significativa, é importante que repensemos nossas prioridades a partir dos nossos relacionamentos.

Por isso, precisamos priorizar o que é prioritário, e podemos encontrar nas Escrituras vários princípios que nos guiam com relação a isso.

Uma boa imagem que nos ajuda a compreender esta dinâmica é a de uma pedra que cai em um lago e que forma vários círculos concêntricos; a água se movimenta e vários círculos então surgem a partir do ponto central que é a Pessoa Cristã. Esses círculos concêntricos não são estáticos, eles estão em movimento, e é muito importante que nós entendamos isso, porque a partir daí nós vamos estabelecer nossas prioridades de uma forma muito dinâmica e vamos ter mais abertura para aceitar as exceções como parte da vida.

Desta forma, o controle ou restrições nas prioridades devem ser de dentro para fora; dos círculos mais interiores para os exteriores.

Vamos ver alguns princípios que nos ajudarão nesta logística: 

Primeiro princípio

Narrado em Provérbios 4:23 “acima de tudo guarde o seu coração pois dele procedem as saídas da vida, ou dele depende toda a sua vida”, deve ser aplicado nas nossas prioridades. Ou seja, a mente da Pessoa Cristã, que deve ocupar o centro desse círculo, necessita ser guardada. O apóstolo Paulo em Filipenses 4:8 nos indica o caminho ao afirmar:

“Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento.”

Guardar a nossa mente de ser violentada ou seduzida por pensamentos, ideologias e conceitos que diminuem, desfiguram ou mutilam a imagem e semelhança de Deus em nossas vidas, é fundamental para que prossigamos em direção à saúde integral.

Muito me impressiona o fato de perceber que a maioria das pessoas têm mais cuidados com seu carro, celulares e eletrônicos do que com a sua mente que, sem dúvida, é o órgão mais nobre do nosso corpo.

Segundo princípio

Os círculos exteriores não devem tirar a atenção dos círculos interiores, isso quer dizer que eles não devem prevalecer sobre os interiores.

Por isso, se existe uma preocupação com a  igreja, ela não deve tirar a minha concentração com aquele relacionamento do círculo mais interior que é a minha esposa(o); ou aquela preocupação com a comissão da comunidade, da qual faço parte, não deve fazer que eu dê menos atenção aos meus filhos, que é um círculo mais interior.

Se considerarmos essa forma de gerir as questões da vida, fica mais fácil fazer juízo de valor do que é prioridade de fato.

É importante saber, que quando o círculo interior está fraco, o potencial nos círculos exteriores será limitado e que a preservação dos círculos interiores impacta diretamente os círculos exteriores.

Por isso, nós temos de ter muito cuidado para não igualarmos os nossos compromissos aos projetos e atividades na igreja, aos nossos relacionamentos e nossa lealdade a Cristo.

Muitas vezes, nós temos dificuldade para enxergar aquele círculo interior da Pessoa Cristã como prioridade porque nós contabilizamos várias atividades que fazem parte da nossa rotina pastoral, como preparar um sermão, visitar um irmão, presidir uma reunião na igreja, como pertencentes à Pessoa Cristã, e não são. Nós confundimos nossa identidade da Pessoa Cristã com aquilo que fazemos, temos ou com o que dizem de mim, e ao fundamentar nossas vidas nestes três pilares, nos tornamos vulneráveis e instáveis (trataremos deste assunto em um próximo artigo).

Com o nosso crescimento ou desenvolvimento muitas coisas vão se alterando.

Por exemplo, em um momento mais inicial da vida temos que decidir entre o que é certo e o que é errado, ao passo que, quando amadurecemos e estes conceitos já estão firmes em nós, as nossas escolhas se tornam mais complexas, pois, em muitos momentos, temos que escolher entre o bom e o melhor ou entre o importante e o que é vital e, certamente, estas são escolhas muito mais difíceis e complexas de se fazer.

Vamos ver um exemplo: uma mãe, que tem um bebê pequeno, quando ele está enfermo, o que assume prioridade na vida dela?

É o esposo? Não! Ela mesma?  Não! É o bebê!

A partir daí, você pode dizer que os círculos concêntricos foram quebrados? Não!

A pedra caiu no Lago e as ondas estão se movimentando. Nós estamos lidando com uma exceção, mas como temos princípios claramente definidos, aquela mãe tem que saber, de uma maneira muito clara, que aquele bebê não pode ser o centro da vida dela além do tempo necessário para sua recuperação.

Naquele momento de emergência, ela vai dar toda atenção ao bebê e priorizar o atendimento daquela criança enferma, mas assim, que possível ela precisa retornar à normalidade da vida. Quando ela tem esses princípios claramente definidos, ela sabe o risco que existe quando ela como mãe coloca os filhos numa posição de maior importância do que o esposo.

Quando nós entendemos a importância de nós como Pessoa Cristã assumirmos o centro teremos mais facilidade para fazer as escolhas mais acertadas e minimizar nossos erros.

Busquem, pois, em primeiro lugar o reino de Deus EA sua justiça e todas essas coisas lhe serão acrescentadas. (Mateus 6:33)

Terceiro princípio

Quando a ordem das prioridades é mantida experimentamos maior satisfação em nossas vidas e teremos uma eficiência maior em nosso trabalho.

A produtividade continua tendo um lugar importante, mas não tem lugar mais importante.

Em uma sociedade utilitarista onde as pessoas se tornam meios para que se possa produzir mais, ou irmãos da igreja se tornam ferramentas para manutenção do meu ministério, é importante que possamos alinhar nossas prioridades nos relacionamentos, assim também, valorizaremos as pessoas pelo que são e não pelo que produzem, possuem ou pela fama que têm.

Referências
Mosley E. Leadership Profiles from Bible Personalities. Broadman Press, 1979
Noween H. Making all things new. Harper San Francisco, 1981
Palestra Pr. Silvado – Projeto Josué

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