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Os dilemas do crescimento da igreja evangélica brasileira

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Com base nas projeções estatísticas que utilizam informações constantes do IBGE, neste ano, os evangélicos chegarão a 25% da população brasileira. Isso representa a marca de mais de 50 milhões de evangélicos. Dentre este universo está uma série de denominações evangélicas que não abriram “novas unidades”, mas que aumentaram em seus templos, num curto espaço de tempo, a quantidade de membros sob a liderança espiritual de um pastor ou conjunto de pastores.

Neste ínterim, os problemas de ordem pastoral, eclesial ou de ambos começam a surgir em várias denominações que experimentam este crescimento. Uma espécie de retorno aos conceitos de clero e leigo tendem a ser um fenômeno bastante comum neste contexto, onde a dificuldade do leigo comunicar as suas necessidades ou pedido de orientação aos integrantes do clero, em especial ao pastor titular, torna-se um problema de ordem recorrente no seio da igreja.

Um efeito imediato deste crescimento é o acúmulo de responsabilidades e compromissos dos quais os pastores devem assumir e gerir com zelo. Este efeito compara-se a uma via de duas mãos, onde o pastor se vê com a necessidade de articular ações para manter toda a estrutura eclesiástica operante em detrimento do cuidado com as ovelhas e suas eventuais demandas de ordem espiritual. De maneira silenciosa e gradativa, esta situação acaba por minar a fé de muitos que se desanimam pela falta de acompanhamento ou feedback durante a caminhada cristã.

Em meio a este pernicioso processo de afastamento entre fiéis e líderes espirituais, pelo menos, três barreiras virtuais são criadas. A primeira barreira é a psicológica, onde o fiel observa o acúmulo de atividades importantes que o pastor assume e deixa transparecer durante suas exposições, e conclui que a sua demanda espiritual não é suficiente para acionar ou “incomodar” o então ocupado pastor.

A segunda barreira é a social, onde a liderança da igreja assume uma melhor condição financeira entre seus integrantes dificultando a comunhão ou o acesso dos membros de condição mais humilde, que não se vêm no direito de requisitar alguma ajuda ou orientação para os casos dramáticos do exercício da sua fé. Ainda neste caso, a intensa quantidade de pessoas envolvidas nos mais variados departamentos da igreja, quase sempre tomam o tempo do pastor para discutir o andamento dos trabalhos e eventos programados.

Por fim a terceira barreira é a própria visão pastoral. Esta é a mais graves de todas, pois o fiel entende que precisa compartilhar algum anseio pessoal com o pastor, mas não consegue ter o acesso para uma conversa mínima de quinze minutos. O pastor, de maneira consciente ou inconsciente, ingênua ou intencional, acaba pastoreando compromissos ao invés de ovelhas e considera que o tempo gasto para a execução das ações administrativas, burocráticas e de visibilidade eclesial é mais importante do que o tempo disposto para alimentar ou curar as ovelhas feridas.

Naturalmente que o membro cristão maduro deve buscar em Deus, através da oração e da Sua Palavra, a solução para os seus problemas. Enquanto isso não ocorre, é um dever da liderança caminhar junto até que esta ovelha tenha condição de avançar por conta própria. Felizmente, ainda há igrejas com lideranças firmes neste propósito.

Sendo assim, percebe-se que nem todo o crescimento é para a glória de Deus. É preciso considerar todos os ângulos na busca por encher o templo com novos crentes, pois, ao invés de serem libertos de uma vida de pecados, se decepcionam e acabam agravando ainda mais as suas feridas, a ponto de se juntarem a um crescente grupo social, os intitulados “desigrejados”.

Por fim, a pergunta que fica é esta: Será que é vontade de Deus que as igrejas estejam lotadas de membros, todavia, sem serem assistidos de modo coerente em suas necessidades e anseios espirituais ?

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