opinião
Educação transformada e transformadora
Ao lado da família, a Igreja, enquanto instituição, também tem papel na educação, tanto por ser sua extensão, como por apresentar a missão de alcançar todo o mundo pelo discipulado das Nações (Mt 28.19-20).
A Bíblia é um manual de educação. Foi escrita para nos dar entendimento e nos educar em relação a todas as coisas. Toda a Escritura diz respeito ao aprendizado: Deus deseja que O conheçamos, ensina-nos a conhecê-lo através de tudo o que Ele criou, e nos orienta sobre como cuidar e administrar sua criação tal como é no Reino dos Céus.
A raiz da palavra “educação” apresenta duplo significado: corresponde tanto ao ato de derramar para dentro (ensino) quanto ao de tirar para fora (aprendizado). Educação compreende não só o ato de ensinar, mas também o ato de aprender pela prática. Como tal, a educação lida principalmente com o homem interior, com a formação de seu caráter. Ela corrige temperamentos, forma comportamentos e hábitos, e prepara os indivíduos para serem úteis na vida adulta.
A Bíblia atribui o dever de educar aos pais, à família (Gn 18.19; Pv 22.6; Sl 78.5; Dn 1.4; Dt 6.4-7). Na perspectiva de Deus, o lar é a principal fonte de conhecimento e influência para a formação do caráter e visão de mundo dos filhos. O lar é o lugar de promoção do aprendizado: nele, as crianças devem aprender valores, princípios e comportamentos e discernir o certo do errado, o bem do mal, o lícito do ilícito, o justo do injusto. Nele, as crianças devem aprender a lidar com problemas, propor soluções, superar dificuldades, e agir com confiança e excelência em tudo o que fizerem.
Ao lado da família, a Igreja, enquanto instituição, também tem papel na educação, tanto por ser sua extensão, como por apresentar a missão de alcançar todo o mundo pelo discipulado das Nações (Mt 28.19-20). A expressão “fazer discípulo” (Mt 28.19) faz referência a “ensinar um acadêmico sob disciplina”, enquanto a expressão “ensinando” (Mt 28.20) corresponde ao ensino ativo, prático da verdade. Portanto, foi dada à igreja a responsabilidade de ensinar tanto a salvação em Cristo quanto os fundamentos e princípios bíblicos para todas as áreas da vida.
Os discípulos entenderam e propagaram essa visão. No início da era Cristã, os Cristãos criaram escolas para educar e levar salvação às crianças de famílias pagãs e para assim expandir o Reino de Deus. Na Idade Média, John Wycliffe, teólogo e professor da Universidade de Oxford, traduziu as Escrituras para o Inglês comum e iniciou um movimento de alfabetização de pessoas por meio da leitura da Bíblia. Nos séculos seguintes, o papel de educar da Igreja foi continuado pelos reformadores e seus seguidores, como os Peregrinos, os Puritanos e os Quakers3. Desse investimento, foram fundadas as primeiras universidades europeias, como a de Genebra, Cambridge e Oxford, e norte-americanas, dentre elas, Harvard, Yale e Princeton e se consolidou a ideia de educação universal e gratuita para crianças e adolescentes – na Nova Inglaterra puritana, pela primeira vez na história, a educação se tornou universal e gratuita ainda em meados do século XVII.
No Brasil, a educação consiste em um direito social, cuja promoção é dever do Estado e da família (Constituição da República, 1988, art. 205). Ao Estado, cabe ofertar ensino de conteúdo disciplinar, enquanto, à família, cabe a educação moral e religiosa dos filhos (Convenção Americana sobre Direitos Humanos, 1969, art. 12, 4). Na prática, porém, tem competido ao Estado a educação de crianças e adolescentes, seja como resultado da transferência voluntária de autoridade da família para o governo civil, ou em decorrência de uma interferência ilegal do Estado na autoridade de educar das famílias. Tem sido o Estado o responsável por definir um currículo que prioriza a problematização à investigação, a crítica ao conhecimento, o desenvolvimento afetivo em relação ao cognitivo, e que possibilita a doutrinação político-ideológica dos estudantes. Tem sido o Estado a ofertar, cada vez mais, educação em tempo integral, sobretudo, para a educação infantil. Tem sido o Estado a ditar e promover o tipo de educação que as crianças e adolescentes brasileiros têm recebido.
Deus atribuiu a autoridade para educar à família e, de modo complementar, à Igreja. Deus não a deu ao governo civil por uma razão simples: a educação é um processo individual, não coletivo; particular, não partilhado; interno, não externo. Como tal, só se desenvolve apropriadamente na família. A família pode até delegar o ensino de conteúdo disciplinar de seus filhos ao sistema público e privado de ensino; mas jamais abdicar de sua autoridade e seu papel na educação deles. A família educa; a escola ensina.