opinião
“Eu não preciso de Escola Dominical!”
Chega de gente querendo ocupar cadeira no púlpito para aparecer ou usar o microfone e se apresentar em cultos com a casa cheia, sem ter o mínimo interesse de aprender a Palavra de Deus junto de suas congregações.
Você já ouviu algum crente dizer isso: “Não preciso de Escola Dominical”? Pois é, já tive esse desprazer. Porém, de todos que ouvi isso, alguns hoje já não se encontram mais nos caminhos do Senhor, e outros se encontram enfraquecidos na fé, vivendo um cristianismo raso e infrutífero.
Enquanto superintendente de uma escola bem estruturada conheci um obreiro que não gostava de frequentar a EBD.
Em resposta aos muitos apelos que o dirigente da congregação lhe fizera para que comparecesse às aulas dominicais, aquele obreiro replicou: “Escola Dominical é coisa pra novo convertido!”. Tal obreiro, porém, gostava de receber oportunidades para cantar e pregar nos domingos à noite. Certo dia chegou a se queixar ao pastor por ter lhe dado uma oportunidade para dar apenas uma “saudação” (o que no contexto assembleiano significa uma palavra de até cinco minutos), e ainda disse com arrogância: “Eu não sou pregador de cinco minutos não!”.
Recentemente soube de um presbítero de idade não muito avançada, que disse: “Na minha idade, e sendo eu já presbítero, vou fazer o quê na Escola Dominical? Tenho mais cabeça pra isso não”. Certamente esse presbítero esqueceu não só da humildade como também de uma qualificação preponderante para a sua função ministerial: “ser apto para ensinar” (1Tm 3.2).
Esqueceu também que o sábio cresce em sabedoria, quando recebe mais instrução, e que o justo aumenta em entendimento quando se permite ser ensinado (Pv 9.9). Mas é lamentável o desprezo com que alguns crentes tratam os trabalhos de ensino em suas igrejas.
Não pretendo canonizar a Escola Dominical, nem reduzir todo aprendizado bíblico e teológico aos breves minutos que passamos em aulas dominicais. Entretanto, venhamos e convenhamos: que outra instituição gratuita e regular de ensino tem se demonstrado tão eficaz ao longo dos séculos para alcançar ambos os sexos (meninos e meninas/homens e mulheres), as mais diversas faixas etárias (crianças, jovens e velhos), bem como os distintos níveis culturais entre os membros da igreja local (leigos e doutores) para servir-lhes discipulado e instrução bíblica contínuos?
Nenhum seminário ou faculdade teológica tem sido tão popular e democrático(a) como a Escola Dominical. Um trabalho que começou educando crianças (Inglaterra, século 18), hoje alcança todas as faixas etárias. Num tempo em que as faculdades propagandeiam cursos à distância, para tentar sobreviver ou alcançar um alunado ainda mais volumoso, a Escola Dominical continua atendendo milhares de alunos e visitantes todas as semanas presencialmente! Isso diz muito sobre a força dessa singela instituição de ensino.
Além do que muitos seminários e faculdades, por perderem a conexão com a igreja e abandonarem o seu caráter “bíblico”, acabaram apostatando da ortodoxia e abraçaram teologias perniciosas, contrárias à sã doutrina, como a Teologia Liberal ou a Teologia da Libertação (que tem um viés ideológico esquerdista). A EBD, porém, devido sua natureza eclesiástica, continua atendendo aos propósitos da ortodoxia cristã.
Você não acha isso virtuoso? A EBD é serva da igreja! Acho que posso fazer minhas as palavras do pastor Claudionor de Andrade, comentarista de Lições Bíblicas da editora CPAD: “Dos obreiros, professores e doutores na Palavra que conheço, todos tiveram uma herança espiritual comum: a Escola Dominical”.¹
Agora, há muito o que melhorar? Sem dúvidas! Você conhece alguma escola, seminário e faculdade teológica perfeita e irretocável? Eu não conheço. Ressalte-se que a EBD não conta com investimentos de governos ou empresários, nem têm um corpo dirigente e docente assalariado para exigirmos tanto quanto alguns têm feito.
Entendo e de certo modo me solidarizo com irmãos sinceros, que desejam aprender mais de Deus e se esforçam para tanto, mas se encontram desestimulados para frequentar a EBD em suas igrejas devido a péssima qualidade das aulas: professores que só contam história, não explicam a Lição, ficam apenas reproduzindo acriticamente falas de terceiros, exposições monótonas, etc. Oro para que Deus ajude as lideranças a se despertarem nesse caso, para avivarem os trabalhos de ensino, promoverem formação pedagógica e teológica de seus professores e investirem na estruturação de uma EBD excelente.
Entretanto, há muitos se julgando “acima da média”, não necessitado sentarem para aprender todo domingo; ainda que suas igrejas contem com bons e dedicados ensinadores, julgam a Escola Dominical dispensável, pois, segundo dizem, “já passaram dessa fase”. De fato, passaram da fase da modéstia para a fase do orgulho; da humildade para a fase da soberba!
Há pastores esforçados buscando estruturar boas escolas; há superintendentes dinâmicos, tentando organizar a melhor equipe de trabalho; há professores dedicados, estudando e se aprimorando para levar a melhor aula possível para suas classes, e ainda assim há muitos membros (inclusive obreiros, pregadores, cantores e líderes) que dizem não precisar comparecer a estas escolas dominicais. Incharam ao invés de crescer!
Sem medo de errar, direi que ao pregador, músico, cantor ou obreiro que dissesse “eu não preciso de EBD”, a liderança da igreja deveria responder: “e esta igreja não precisa de você!”. Chega de gente querendo ocupar cadeira no púlpito para aparecer ou usar o microfone e se apresentar em cultos com a casa cheia, sem ter o mínimo interesse de aprender a Palavra de Deus junto de suas congregações.
É hora dos pastores valorizarem os que dão valor ao estudo bíblico, pois é estudando a Bíblia que se aprende a orar bem, cantar bem, tocar bem, pregar bem, liderar bem, servir bem… viver bem! “Santifica-os na verdade, a tua Palavra é a verdade”, disse Jesus em oração ao Pai (Jo 17.17).
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Nota
¹ Claudionor de Andrade. Teologia da educação cristã, 1° ed., CPAD, p. 38