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EUA podem deportar pastor que estava ilegal há 24 anos

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O pastor Daniel Fuentes Espinal, de 54 anos, foi detido por agentes do Departamento de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE) no dia 22 de julho, em Easton, cidade rural da costa leste de Maryland. Natural de Honduras, Espinal vivia no país há mais de duas décadas com visto vencido, e foi transferido para um centro de detenção federal no estado da Louisiana, onde aguarda audiência de imigração.

De acordo com um porta-voz do ICE, “Fuentes entrou nos Estados Unidos com um visto de 6 meses e nunca saiu em 24 anos”. A mesma fonte declarou que “é um crime federal ultrapassar o período de tempo autorizado concedido pelo visto de visitante”.

No momento da prisão, Espinal retornava a um canteiro de obras após comprar materiais em uma loja Lowe’s e tomar café da manhã no McDonald’s. Segundo o relato de sua filha, Clarissa Fuentes Diaz, o pai não compreendia o motivo da abordagem e só percebeu o que estava acontecendo quando um policial uniformizado solicitou seus documentos e o algemou. “Ele disse que os agentes foram gentis com ele”, afirmou Clarissa à CNN.

A detenção do pastor gerou forte comoção entre fiéis e moradores da cidade. Espinal lidera desde 2015 a Igreja do Nazareno Jesus Te Ama, onde é considerado por membros como referência espiritual e comunitária. Sandra Perez, que conheceu o pastor ao chegar da Guatemala há 10 anos, declarou ao jornal The Baltimore Banner: “Ele não é um criminoso. Seu trabalho como pessoa, pai e pastor é necessário para a congregação”.

Condições de detenção e saúde

Após a prisão, Espinal passou inicialmente por uma unidade em Salisbury, depois foi transferido para Baltimore, onde, segundo sua filha, passou a noite em um banco em uma sala sem camas, sentindo dores nas articulações e febre. No dia 25 de julho, foi enviado à unidade da Louisiana, onde passou a receber medicamentos para problemas cardíacos e estomacais. “Ele está muito melhor do que em Baltimore”, disse Clarissa ao The Banner. “A enfermeira na Louisiana iria fornecer a medicação hoje”.

Mesmo detido, o pastor tem ministrado a outros detentos e até a agentes do ICE, conforme informou sua família.

Histórico e tentativa de regularização

Fuentes Espinal chegou aos EUA em 2001, fugindo da violência e da pobreza em Honduras. De acordo com a família, parentes foram assassinados naquele período, e ele deixou o país buscando segurança. Em Maryland, trabalhou inicialmente na construção civil e, em 2010, ingressou na igreja nazarena local após ter servido anteriormente como ministro de jovens na Igreja Católica. Foi nomeado pastor em 2015.

Apesar de o visto estar vencido há muitos anos, a família afirma que Espinal estava em processo de legalização. Clarissa disse que havia iniciado o processo para se tornar patrocinadora de seu pai e aguardava a entrevista do green card no momento da prisão.

Apoio comunitário

Uma campanha no site GoFundMe já arrecadou mais de US$ 29 mil para apoiar a família do pastor. Na descrição, Espinal é chamado de “um pilar querido da nossa comunidade”. O texto destaca que ele não possui antecedentes criminais e é amplamente reconhecido por oferecer alimentos, abrigo e apoio emocional aos mais vulneráveis.

Mais de uma dezena de cartas foram enviadas por membros da comunidade em apoio ao pastor, visando seu processo judicial e a tentativa de fiança. Ele é casado e tem três filhos, sendo o mais novo com 18 anos. Clarissa relatou que a mãe está profundamente abalada, sem conseguir comer ou dormir, preocupada com o estado de saúde do marido.

Impacto nas igrejas

O caso de Daniel Espinal se soma a uma série de prisões de líderes cristãos imigrantes em 2025, em meio ao endurecimento das políticas de deportação do governo Trump, reeleito no ano passado com promessas de intensificar a segurança nas fronteiras e realizar deportações em massa.

Em abril, uma coalizão formada pela Associação Nacional de Evangélicos e pela Conferência dos Bispos Católicos dos EUA alertou que 80% dos 10 milhões de imigrantes ilegais em risco de deportação são cristãos. As entidades afirmaram que as ações do ICE têm impacto direto sobre igrejas locais, muitas delas sustentadas por fiéis estrangeiros.

Na Flórida, o pastor Maurilio Ambrocio, da Igreja de Santidad Vida Nueva, foi deportado em julho, após viver 20 anos nos EUA. Já em Los Angeles, um pastor iraniano relatou que cinco membros de sua congregação, incluindo um casal que buscava asilo, foram detidos por agentes federais.

O Departamento de Segurança Interna confirmou a prisão dos dois cidadãos iranianos, sob alegação de estarem ilegalmente no país e representarem “interesse para a segurança nacional”, de acordo com informações do portal The Christian Post.

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