vida cristã
“A luta da desigualdade é uma armadilha que visa a destruição da família”
Antônio Cabrera falou sobre trabalho, juventude, socialismo, fé e trabalho.
Aos 60 anos, Antônio Cabrera Mano Filho pode ser apontado facilmente como um modelo para os cristãos evangélicos do Brasil, sendo um homem de negócios bem sucedido, com uma família estruturada e um coração voltado para Deus, envolvido em diversos projetos para ajudar a sociedade.
Desde os seus 13 anos de idade ele já trabalhava nas fazendas de seu avô, um espanhol vindo para o Brasil no final do século passado e que, após ter sido colono em fazendas de café no Espírito Santo, mudou-se para a região de São José do Rio Preto para montar os seus negócios.
Casado há 27 anos, com Angela, pai de quatro filhos, sendo três meninas, Barbara, Vitória e Giovana, e um menino, Antônio Netto, Cabrera é presbítero da Igreja Presbiteriana Central de São José do Rio Preto, São Paulo, onde atua como professor da Escola Dominical. Cabrera é formado em medicina veterinária pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Jabuticabal (SP), e tem pós-graduação em Produção Animal na Índia.
Além de empresário, atuando em um complexo agropecuário de 24 propriedades espalhadas por cinco estados da União, ele foi ministro da Agricultura e também consultor da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), órgão voltado para a produção de alimentos.
Enaltecendo o trabalho como um instrumento para honrarmos a Deus, Cabrera desenvolve diversos projetos de incentivo do empreendedorismo, da fé e do trabalho em si, incluindo sua nova ferramenta, Fé & Trabalho, onde reúne visões sobre os dois temas.
“O trabalho em diferentes formas é mencionado mais de 800 vezes na Bíblia, mais do que todos os termos usados para adoração, música, louvor e canto combinados. Assim, pode ter certeza de que o seu trabalho é importante para Deus”, lembra.
Em entrevista exclusiva ao Gospel Prime, Cabrera fala sobre fé, trabalho, socialismo e juventude.
Leia à íntegra da entrevista:
Temos visto um crescimento muito grande dos jovens “nem-nem”, que nem estudam, nem trabalham. Como podemos mudar essa situação?
Em um levantamento realizado em 2018, foi encontrado que 23% dos 47,3 milhões de brasileiros entre 15 e 29 anos não estudam nem trabalham. Ou seja, realmente temos hoje uma geração a quem muito foi dado e pouco foi esperado.
A Bíblia já ensina a necessidade de alcançarmos a maturidade: “Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino” (1 Coríntios 13:11).
Assim, não é bíblico este discurso de que o jovem é imaturo, tem uma longa fase de transição. Mas o que a Bíblia afirma é que o jovem é forte, ele tem a Palavra e, com Cristo, o jovem pode vencer o mundo e seus desafios: “Filhinhos, eu vos escrevi, porque conheceis o Pai. Pais, eu vos escrevi, porque conheceis aquele que existe desde o princípio. Jovens, eu vos escrevi, porque sois fortes, e a palavra de Deus permanece em vós, e tendes vencido o Maligno” (1 João 2:14).
O Fé & Trabalho quer mostrar muito disto, trazendo a valorização do trabalho em um mundo secular que cada vez mais afasta o trabalho do seu dia a dia. Temos que mostrar aos jovens a imensa contribuição deles na história da igreja, pois basta lembrar que a maioria dos primeiros missionários que aportaram no Brasil eram jovens.
E não apenas aqui, mas em todos os cantos. Robert Reikes tinha apenas 22 anos quando fundou a Escola Dominical.
A Bíblia fala muito sobre fé, mas também ensina sobre trabalho. Qual lição bíblica lhe inspira em relação ao trabalho?
O que mais me inspira é o imenso desafio que temos no mundo secular.
Se você fosse para casa hoje à noite e descobrisse que um parente há muito esquecido havia morrido e lhe deixara vinte milhões de reais, você estaria no trabalho amanhã?
Tenho a certeza de que a maioria das pessoas responderia que não, mas começaria a desfiar uma imensa lista de desejos que seria realizada.
Basta relembrar que um dos principais personagens da literatura brasileira, Macunaíma, tinha uma frase típica: “Ai que preguiça!”.
Gosto muito de mostrar a importância do trabalho aos cristãos, mostrando os efeitos devastadores do oposto do trabalho, que é o desemprego. Não é que os crentes não reconheçam o desemprego como prejudicial, é que muitas vezes subestimamos o quão destrutivo não ter um emprego é para o indivíduo e para a sua igreja.
Não custa relembrar que o Cristianismo foi a primeira cosmovisão a dignificar o trabalho como algo digno de respeito, não como no mundo antigo. Neste mundo antigo, o trabalho era algo apenas para escravos e adequado apenas para escravos. Esta era a visão grega do trabalho, que foi mudada graças ao cristianismo.
Neste ponto, a Bíblia é duríssima quanto a importância do trabalho: “Se alguém não quer trabalhar, também não coma” (2 Tessalonicenses 3:10).
Como o cristão pode alcançar sucesso na carreira profissional?
O trabalho não se trata apenas de conseguir sucesso, como também não é um mero meio de autossuficiência ou criação de identidade, mas sim uma forma de adoração a Deus e presentear outras pessoas.
A Bíblia dá uma pista sobre o sucesso: “E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus” (Colossenses 3:17).
Esta é a receita para uma boa vida: tudo, tudo sem exceção seja em feito em nome do Senhor Jesus. E na carreira profissional é importante ter isto em mente. Uma das razões para levar a sua fé ao trabalho é a sua identidade. Você tem uma impressão digital, você tem seus valores e você não pode deixá-los em casa e ser outra pessoa no trabalho.
Não posso ser uma pessoa no banco de minha igreja aos domingos e ser outra distinta no meu trabalho.
Não há satisfação maior do que o fim de um dia bem trabalhado. É preciso entender que uma sociedade que busca, embora em vão, eliminar o trabalho criando um mundo livre de trabalho, não terá futuro. É claro que sua carreira profissional não é a chave para a sua salvação, mas o homem cessa de ser homem se separado do trabalho.
Nos dias de hoje, grande parte do declínio moral na arena dos negócios ocorreu como resultado dos cristãos acreditarem que existe uma divisão “sagrada / secular” entre o que eles fazem no domingo e o que fazem na segunda.
O trabalho, ou a sua carreira profissional, expressa quem você é, o que você é e o que você acredita.
Muitos jovens têm sido enganados pelo socialismo. Qual a melhor maneira de instruí-los quanto aos prejuízos desta ideologia?
Isto tem acontecido pela falta de informação. Uma das inevitáveis tragédias da juventude é a tentação de pensar que o que é visto hoje sempre foi assim e não houve lutas para conseguir.
É irônico, mas estes jovens não estão abraçando o socialismo porque são pobres, mas porque são ricos. É curioso que a infelicidade deles raramente resulta de privação material real, mas muito mais de uma vida sem sentido, sem propósito.
Neste ponto, entendo que a verdade não é muito agradável, mas isto ocorre por dois principais motivos: grande parte dos jovens hoje gostam do socialismo devido a uma espécie de certa má paternidade, onde os pais não passam as informações necessárias e pela má educação, principalmente das escolas públicas. Infelizmente, a maioria das escolas públicas é um centro disseminador de ideias anticristãs e socialistas.
É interessante notar que esta é a geração mais próspera que já viveu. Os jovens de hoje, na média são os mais seguros, os mais livres, os mais educados, os mais longevos e os mais globalmente conectados. Mas também são os mais desinformados quanto as questões econômicas e os perigos do socialismo, como a falta de liberdade religiosa nos países socialistas. Eles exibem uma desconexão curiosa: rejeitam o livre mercado em sua maioria, ao mesmo tempo, eles celebram empresários e empresas. Isto mostra a necessidade de terem mais informações sobre tais assuntos.
Os ricos são culpados pela desigualdade social?
Não. A Bíblia aponta que sempre haverá desigualdade: “O SENHOR empobrece e enriquece; abaixa e também exalta” (1 Samuel 2:7).
Deus, em sua infinita sabedoria, distribui talentos e habilidades distintas entre a humanidade. Eu, apesar de ser santista, não tenho nenhuma habilidade futebolística no nível de um Pelé. Deus nos criou desiguais, o que mostra que a humanidade é diversa e individualizada. Sendo assim, então como alguém pode propor igualdade como um ideal?
Em primeiro lugar, o máximo que poderemos aspirar é que sejamos todos tratados de maneira igual pelas leis. Neste ponto, o maior inimigo da liberdade é um equívoco de igualdade, que deve ser aplaudido quando significa igual dignidade como pessoa e igualdade de tratamento perante a lei, mas, quando aplicada a resultados econômicos e sociais, destrói a dinâmica de ação e responsabilidade que compõe nossa liberdade.
Mas não se engane, a batalha pela igualdade será uma das principais do século XXI pelos progressistas. E reclamar da desigualdade é uma indústria em crescimento.
Toda vez que defendo a igualdade econômica, eu estou sendo contra a liberdade. Eu percebo que as pessoas que focam na pobreza querem realmente o melhor para os pobres. Mas as pessoas que focam na desigualdade querem na realidade um governo maior.
Portanto, muito mais importante do que a desigualdade é combater a pobreza.
Como cristãos, temos também que saber que a busca pela igualdade de oportunidades também exigiria a abolição da família, já que pais diferentes têm habilidades desiguais; isso exigiria a criação comunitária de crianças. O Estado teria que nacionalizar todos os bebês e criá-los em creches estaduais sob condições “iguais”. Mas mesmo aqui as condições não podem ser as mesmas, porque diferentes funcionários do Estado terão habilidades e personalidades diferentes. E a igualdade nunca pode ser alcançada por causa das diferenças necessárias de localização.
Assim, a família perpetua a desigualdade. Não custa lembrar que o ataque à família começou no livro “A origem da família, da propriedade privada e do Estado”, publicado em 1884, ano seguinte à morte de Marx (1883). Seu autor, Friedrich Engels, mostrou aos marxistas que o capitalismo está estritamente ligado à família. Portanto, para destruir o capitalismo, é necessário destruir a família. Afirma que a família é uma construção opressora, pois foi feito para deixar herdeiros. Dizia que o homem era o opressor sobre a mulher e filho. Para tanto, a família deveria ser destruída (como a Lei da Palmada). Aqui começou a guerra do “gênero”.
Resumindo, a luta da desigualdade é uma armadilha que visa a destruição da família.
O que é o projeto Fé e Trabalho?
O trabalho em diferentes formas é mencionado mais de 800 vezes na Bíblia, mais do que todos os termos usados para adoração, música, louvor e canto combinados. Assim, pode ter certeza de que o seu trabalho é importante para Deus!
O trabalho foi uma das primeiras e principais bênçãos que Deus construiu neste mundo e em nosso próprio projeto de vida. Somos projetados para trabalhar.
Hoje, em média, passamos noventa mil horas em nosso trabalho durante a nossa vida. Como isso se traduz em aproximadamente um terço da vida de uma pessoa, a presença do cristão no trabalho apresenta-se como a mais natural e, ao mesmo tempo, a mais negligenciada oportunidade de evangelizar o mundo.
Portanto, o trabalho permite usar os melhores anos de nossas vidas para a Glória de Deus. E não depois, no final da vida, darmos um pouco de anos para Deus na nossa aposentadoria.
Este é o objetivo do Fé & Trabalho. Apresentarmos ideias de como a fé e o trabalho são interconectadas.
É através das ideias que a História é feita. Mais do que isto, todas as ideias, sem exceção, têm consequências, e as más ideias resultam em vítimas.
Neste sentido, Fé & Trabalho é um gladiador na arena das boas ideias.
Visite as nossas mídias. São estas boas ideias que definem uma sociedade livre. Uma boa ideia ignora as fronteiras geográficas e ultrapassa os limites do tempo.
Seja bem-vindo! Junte-se a nós e vamos fazer o uso correto da liberdade e dos valores cristãos, pois é isto que incentiva a dignidade e o florescimento humano.