opinião
Tenho fé verdadeira, mas não sei se ela opera em mim como acho que deveria
Contra fatos não há argumentos.
Aprendi no jornalismo que a palavra “Fato” deriva do latim factum, particípio do verbo facere, que significa fazer. “Fato” designa, portanto, eventos ou episódios que realmente aconteceram. As notícias são fatos contados.
Uma foto de uma montanha não é a montanha em si, mas designa e aponta a existência dela. A foto é a imagem de um fato, alguém viu a montanha e a fotografou. O fotógrafo é o mediador entre a montanha, vista por ele, e o outro que a observa tempos depois através da imagem, de longe.
Penso que hebreus 11 está falando disso no seu primeiro versículo quando diz: “Que é fé? A fé e a certeza de que o que nós esperamos está nos aguardando e a prova de que existem coisas que não podemos ver adiante de nós. Pessoas, em tempos passados [fotógrafos], deram testemunhos [imagem] da sua fé.” (Grifo meu).
Sempre ouço que temos que desenvolver a fé. Mas temos que aprender, primeiramente, o que é fé. Neste campo, apesar de ser cristã da vida quase toda, sinto que ainda estou a engatinhar no tapete da sala da mamãe.
Como sei que estou vivendo por fé, e não por vista? Quando oro devo acreditar que meus pedidos serão atendidos? Ou, quando oro a minha fé está operando simplesmente por estar eu buscando, naquele momento, a Deus e o seu poder? E isso em si já é fé?
Resolvi fazer um pedido bem pessoal ao Senhor, bem íntimo mesmo. Algo que decidi pedir sozinha e não revelar a mais ninguém. Este seria o meu auto teste de fé.
Não desejei dividir este anelo com outros, nem com meu esposo, parceiro de oração, nem na minha igreja ou no meu Pequeno grupo, nem com as minhas irmãs com as quais sempre faço um propósito ou outro de orarmos por uma causa. Pois pensei cá comigo: Se o Senhor realizar o meu pedido, tal qual coloquei, Ele terá me ouvido, e terei exercido a minha fé!
Os dias foram passando, e enquanto aguardava a resposta muitas outras questões se avolumaram dentro de mim. Comecei a me questionar quanto a minha fé e o produto dela. As seguintes questões começaram a brotar: Tenho pouca fé e por isso oro pouco? E quando comparada aos heróis bíblicos, ou mesmo a irmãos meus contemporâneos, fico bem lá no final da fila envergonhada? Ou, não oro o suficiente e esta é a causa da minha pouca e tímida fé?
Para resolver as questões surgidas arregacei as mangas e fui ler o livro escrito aos Hebreus.
Logo no inicio o autor diz que Deus falou de muitas maneiras, mas que agora falou de um modo todo especial. Ele trouxe seu próprio filho Jesus aqui à terra para revelar todas as palavras do seu Pai. Jesus é o mensageiro supremo. E ele nos trouxe a certeza de uma vida eterna. Que notícia!
Enquanto cristo esteve aqui na terra ele intercedeu por cada um de nós. E agora definitivamente, ele suplica por nós nos céus. E essa é a esperança, como âncora forte na nossa alma que nos liga ao próprio Deus Triúno. Ele, Jesus é o tabernáculo eterno, aberto, sem cortina. Depois de ele mesmo ter se oferecido na cruz, foi ressuscitado com a ajuda do Espírito Santo e entronizado nos céus novamente pelo o Pai de onde está neste exato momento a interceder pelos seus. O caminho vivo foi aberto por Cristo e nós podemos ter acesso ilimitado à presença de Deus, diante do trono da graça.
Depois que li tudo isso, cheguei a galeria da fé. Um verdadeiro álbum fotográfico em 3D. Personagens que viveram a dois mil, quatro mil, seis mil anos atrás, desfilam o relato dos fatos vividos por cada um. Esses personagens, pela ousadia de terem vivido pela fé nos servem hoje de testemunhas oculares, como verdadeiros fotógrafos, de tão grande livramento e salvação.
Concluí que em toda a Bíblia a imagem é sempre a mesma, fé. E o que é fé mesmo?
Fé é dobrar os joelhos e o coração em oração. É chorar na presença de Cristo, como fez a mãe de Samuel. É expor toda a amargura de uma alma debilitada, cansada, fraca pela falta do fato não ter acontecido ainda. É mover os lábios freneticamente, num grito silencioso.
Fé é levantar-se ao comando da palavra do sacerdote: “Tenha bom ânimo, levante-se. Vá em paz, que o Deus de Israel te conceda o que você pediu”. Fé é levantar-se, enxugar as lágrimas e voltar a se alimentar e a se alegrar com o seu esposo e um ano depois retornar com o seu pedido no colo, o fato.
Fé é vigiar na Palavra, e de lá não sair, como fez Noé. Mesmo que todo o resto da raça humana estiver fazendo exatamente o contrário. Fé é a solidão do justo lutando para fazer, milimetricamente uma arca de julgamento e de salvação sua e de sua família. Fé é correr na direção contrária da maioria ensandecida pela operação do erro. Nadar contra a corrente, seguindo as palavras, o receituário das escrituras, sem mágoas ou sentimento de perdas. Fé é fechar a porta e ficar quieto, e ouvir ao longe o barulho das ondas tortuosas.
E finalmente, descobri que, fé é festejar as promessas na adoração. É no levantar das mãos, em rendição. E na mente uma recapitulação das promessas feitas, num verdadeiro remake do Espírito Santo. Fé é a certeza de que o Senhor da Glória vai sim, primar, aparar e aprimorar em nós os detalhes da sua santa vontade até a eternidade. “Pois como ele disse nas Escrituras: ‘Um pouco mais de tempo, e virá aquele que há de vir; ele não vai demorar. E aqueles cuja fé os tornou justos aos olhos de Deus devem viver pela fé, confiando Nele em tudo. Do contrário, se eles recuarem, Deus não terá prazer neles.’” Hb 10. 38…
E quanto ao meu pedido secreto? Ele vai continuar na taça de ouro dos céus, e se Ele quiser trazê-lo á existência, toda a glória será dele, do meu Senhor. Se não acontecer, será mais um daqueles misteriosos cuidados do pai com uma filha que continua a viver por fé.