opinião
Graças a Deus, a igreja tem debatido cosmovisão cristã
Não podemos nos limitar a uma vida apenas religiosa, devocional, voltada ao culto – precisamos influenciar a cultura.
Participei neste 15 de novembro do encerramento do projeto “Verdade Absoluta”, uma série de encontros promovidos pela Comunidade Evangélica Vida Nova, aqui em Salvador. A cada mês os jovens da igreja se reuniam para debater temas contemporâneos à luz da cosmovisão cristã (estive num desses bate-papos em setembro).
Agora, nos dias 14 e 15, eu e o pastor Márcio Klauber Maia, da Assembleia de Deus no Rio Grande do Norte, fomos convidados para dar palestras e participar de uma mesa-redonda, mediada por Hécio Bruno, um dos membros da igreja.
Os temas abordados pelo pastor Klauber Maria foram “Secularismo, o inimigo da igreja cristã” e “O cristão vivendo em Babilônia”. Minha palestra discorreu sobre “Aborto, casamento gay e os desafios da reconfiguração familiar”. Já para a mesa-redonda a ideia foi que as perguntas do público versassem acerca do tema “A atuação do cristão nas sete áreas da sociedade (Família, Economia, Governo, Artes, Mídia, Educação e Religião).
Junto a outros irmãos, venho participando, aqui em Salvador, de iniciativas que discutem assuntos dessa natureza, como um dia de palestras sobre conservadorismo, realizado na Igreja Batista Missionária Ágape, dirigida pelo Pr. Divani Rocha, ou uma mesa-redonda sobre ciência e religião coordenada pelo Departamento de Adolescentes da Assembleia de Deus (DEPAD-ADESAL).
Uso estes exemplos para dizer que tenho percebido o que pode ser um fenômeno de despertamento da Igreja brasileira para temas relacionados à cosmovisão cristã.
Esse movimento se percebe também nas redes sociais e na própria editora oficial de nossa denominação, a CPAD, que publicou recentemente uma revista de escola dominical sobre ética cristã aplicada a questões momentosas (ideologia de gênero, sexualidade, política, aborto, eutanásia, vícios e jogos, suicídio…).
A esquerda socialista não gosta de eventos como estes, porque reforçam a identidade não ideológica (e não utópica) do Cristianismo. Conservadorismo não é, a princípio, uma ideologia, mas uma disposição, uma atitude, um temperamento, uma forma de proceder perante o mundo, e que se baseia na prudência e na valorização das tradições, dos costumes, das ideias assentadas no decurso dos séculos. O conservadorismo apresenta-se como ideologia quando precisa reagir, tomar posição contra a investida de ameaças como o socialismo.
Em retaliação a essa tomada de posição conservadora, dizem os esquerdistas que o Estado é laico, que política não se mistura com religião, mas precisam ouvir algumas coisas em contraponto: não é a política que não se mistura com a religião – é o Estado que não deve se misturar com a Igreja; se não querem que a religião contrarie a política, então não venham se imiscuir em questões individuais, familiares ou religiosas; Estado socialistas e partidos socialistas gostam muito de gerenciar a religião ou mesmo eliminá-la; os “padres de passeata” (expressão de Nelson Rodrigues) estão aí para mostrar que a teologia da libertação é uma tentativa de dominação ideológica da religião católica; figuras do esquerdismo teológico e da esquerda político-acadêmica têm se movimentado para fornecer ferramentas teóricas no terreno da própria religião, agora especialmente evangélica pentecostal, porque sabem que é nesse terreno que mora um bastião profundamente conservador no Brasil.
O petista Gilberto Carvalho, em janeiro de 2012, e o psolista Marcelo Freixo, mais recentemente, defenderam uma disputa pelos evangélicos – no primeiro caso, porque parecia faltar somente esse campo à hegemonia petista; no segundo caso, porque os evangélicos votaram fortemente no candidato que derrotou o ventríloquo do presidiário-mor. Querem eles falar sozinhos, influenciando as igrejas paulatinamente: começam com pregações edulcoradas sobre amor, justiça, liberdade, diversidade, tolerância e inclusão, por meio de seus porta-vozes que falam bonito nas redes sociais, em certos seminários teológicos ou em publicações na imprensa ou na academia, para depois golpearem igrejas com dúvidas sobre a inspiração divina de passagens bíblicas das quais discordam ou que parecem muito graves.
Se existe uma guerra cultural, a Igreja brasileira precisa estar preparada. Desde a Era Apostólica, passando pela Era Patrística, a Igreja combateu, não somente heresias, mas também ideologias perniciosas, diagnosticando o espírito da época (cf. Rm 13.11) e dando respostas contundentes e objetivas a “filosofias e vãs sutilezas” (cf. Cl 2.8). Falar dessas questões é espiritual porque nosso Senhor criou todas as coisas, as quais restaurará no tempo oportuno.
Não podemos nos limitar a uma vida apenas religiosa, devocional, voltada ao culto – precisamos influenciar a cultura. Não nos esqueçamos de que a secularização visa à privatização da fé, ou seja, à conformação da religiosidade (principalmente cristã) aos estreitos limites da crença pessoal, sem que possa haver participação do crente no debate público. Vamos, então, cair inertes diante dessas ameaças?
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