opinião
Hanukka ou Natal? Qual festa a Igreja deve celebrar?
Engana-se quem pensa que o Hanukka se trata do Natal dos judeus.
Há alguns anos que, embora sempre esteja falando sobre isso em nossos ensinos sobre restauração, sempre procuro não travar discussões sobre o assunto.
Falar sobre as razões de não celebrar essa data e não considerá-la bíblica dentro da minha perspectiva depende em primeiro lugar da educação da pessoa, grau de conhecimento histórico que o indivíduo está disposto a ouvir ou possuir, e sobre a percepção de conceitos religiosos e etc…
Não será um papo de meia hora pelo Whatsapp, um post da internet, um vídeo do YouTube de algum pastor ou líder religioso de nome, que irá legitimar ou condenar a prática ou a não prática da celebração.
Não podemos negar que nos últimos anos a Igreja tem buscado uma aproximação maior com Israel em costumes e tradições. E o avanço e crescimento de denominações Restauracionistas como: Adventista do Sétimo Dia, Movimento Apostólico e grupos Messiânicos, têm resgatado para o meio cristão alguns costumes do movimento judaico-cristão que formavam a igreja no século primeiro, dentre estes costumes as festas de Israel.
Logo, surge um debate constante nestes últimos tempos: Os cristãos devem deixar de celebrar o Natal, para celebrar a Festa de Hanukka? Dia 25 de Dezembro é igual dia 25 de Kislev?
Antes de falarmos sobre a origem das duas festas, é importante ressaltar que não encontramos nenhuma normativa nas Escrituras Sagradas para as celebrações. Vamos fazer valer a palavra do apóstolo Paulo aos Romanos: “Assim, seja qual for o seu modo de crer a respeito destas coisas, que isso permaneça entre você e Deus. Feliz é o homem que não se condena naquilo que aprova” (Romanos 14:22).
Historicamente foi em 25 de dezembro de 336 EC, em Roma, que ocorreu a primeira celebração de Natal. Os cristãos puderam exercer abertamente seus cultos, pois o Cristianismo havia sido liberado no Império Romano (Edito de Milão, em 313). Pouco tempo depois, o papa Júlio I (pontificado de 337 a 352) formalizou o 25 de dezembro como data do Natal pela Igreja Católica.
A Igreja Ortodoxa levou mais tempo para aceitar a data e, mesmo assim, ela foi adotada aos poucos por cada igreja oriental: Constantinopla e Capadócia em 380, Antioquia em 386, Alexandria em 432, Jerusalém em 439.
As origens do Natal cristão remontam às festas romanas Saturnálias, em homenagem ao deus Saturno (ou Krono, para os gregos), eram extremamente populares no Império Romano. As celebrações começavam no dia 17 de dezembro e duravam uma semana.
Ao final delas ocorria a homenagem a Mitra, o deus Sol Invicto (“sol invencível”), culto procedente da Síria e introduzido pelo imperador Aureliano no ano 274. Depois de vencer o exército da rainha Zenóbia de Palmira na Síria em 272. O imperador Aureliano foi ao templo local de Mitra para agradecer a vitória. Mitra era então uma divindade popular no Império, especialmente entre os soldados. Aureliano transferiu o culto de Mitra para Roma, erigiu-lhe um templo com sacerdotes e tornou-o um culto oficial com uma data de comemoração: 25 de dezembro, “natalis del Sol Invictus”. O 25 de dezembro foi inserido no calendário civil romano como o Dia do Sol Invencível, que triunfa sobre a escuridão. A data marcava a virada do solstício de inverno, quando a luz do dia começava a aumentar gradativamente.
Com o crescimento do Cristianismo, as datas destas celebrações pagãs foram ressignificadas. Isso porque o Imperador Constantino que legalizou o Cristianismo como religião imperial já era um adorador do deus sol e também trouxe estes costumes para o início da religião do império.
“Que todos os juízes, e todos os habitantes da cidade, e todos os mercadores e artífices descansem no venerável dia do Sol. Não obstante, atendam os lavradores com plena liberdade ao cultivo dos campos; visto acontecer a miúdo que nenhum outro dia é tão adequado à semeadura do grão ou ao plantio da vinha; daí o não se dever deixar passar o tempo favorável concedido pelo Céu.” – Codex Justinianus, lib. 13 it. 12, par. 2 (3).
Já a festa de Hanukka, que significa: Dedicação, é chamada pelo historiador Flávio Josefo de “Festa das Luzes” (Sidur, p.317-319). Nasce no período chamado interbíblico, após a revolta dos Macabeus. Três anos depois com a retomada do templo, no ano de 164 AEC. No dia 25 de Kislev, mês que corresponde aos meses de novembro e dezembro do calendário ocidental.
Engana-se quem pensa que o Hanukka se trata do Natal dos judeus. A tradição possui suas próprias características, datas e celebrações.
De acordo com as fontes históricas, como o Primeiro e o Segundo Livro dos Macabeus, e o primeiro livro da Guerra dos Judeus do historiador Flávio Josefo (37 – 100 EC.). O Reino Asmoneu teve seu início com uma revolta de judeus contra o rei selêucida Antíoco IV, que após sua bem–sucedida invasão do Egito ptolemaico ser minada pela intervenção da República Romana passou a procurar assegurar seu domínio sobre Israel, saqueando Jerusalém e seu Templo, reprimindo as práticas religiosas e culturais judaicas e impondo práticas helenísticas (gregas).
“Não muito tempo depois, o rei mandou um ancião ateniense convencer os judeus a que abandonassem as leis dos antepassados e deixassem de se governar segundo as leis de Deus. Mandou também profanar o Templo de Jerusalém e dedicá-lo a Júpiter Olímpico, e também a Júpiter Hospitaleiro, dedicar o templo do monte Garizim, conforme o desejo dos moradores do lugar. De fato, o Templo ficou cheio de libertinagem e orgias de pagãos, que aí se divertiam com prostitutas e mantinham relações com mulheres no recinto sagrado do Templo, além de levarem para dentro objetos proibidos. O próprio altar estava repleto de ofertas proibidas pela Lei.
Não se podia celebrar o sábado, nem as festas tradicionais, nem mesmo se declarar judeu.” (2Ma 6:1-6)
Conta-se a história que quando os judeus chegaram ao Templo na tentativa de purificá-lo procuraram acender a Menorá, castiçal de sete braços que deveria estar aceso continuamente no Templo. Encontraram apenas um vaso com o óleo e o selo do sumo-sacerdote que queimaria apenas por um dia. Aconteceu então o milagre, o vaso com óleo para um dia durou oito dias, o tempo suficiente para se produzir o novo óleo.
O Talmud contém o trecho que descreve esse evento: “Um jarro de azeite (…) cujo conteúdo seria suficiente para iluminar por um dia apenas, mas aconteceu um milagre e o jarro durou por oito dias (…)”
Por isso, Hanuká é conhecida como a Festa das Luzes. Judas Macabeu estabeleceu oito dias para a comemoração da Festa de Hanuká. A Hanukiá é o nome dado ao castiçal de oito braços mais um braço, o “shames” (o servo), com o qual se acende a cada noite da festa uma luz.
Entretanto como o livro de Macabeus é um livro deuterocanônico, chamado de apócrifo. Hanukka então não seria uma festa “bíblica” dentro da tradição cristã protestante. Contudo também não é uma festa estabelecida por Deus no Sinai como as demais festas do povo de Israel. Havendo uma diferença entre a Hanukka, e o Natal que foi extraído da cultura Greco Romana e travestido de uma cultura Cristã.
Temos uma citação em João 10 que o Messias estava em Jerusalém para celebra-la, como cotidiano normal da vida de um judeu.
Então voltamos à pergunta inicial. Qual festa devemos celebrar?
Dentro do âmbito religioso é comum nomear alguém como herege somente pelo fato do outro não seguir a mesma ortodoxia (doutrina correta) que nós. Quando a maneira mais sensata não seria apenas identificá-lo como heteroxo (que segue doutrina diferente)?
O grande problema é que assim como eu, muitos irmãos e amigos que hoje possuem o mesmo posicionamento em relação a data do Natal, somos algumas vezes discriminados por se tratar de uma data considerada “cristã”, e de fato é dentro de uma ótica protestante e católica.
Penso que cada um deve caminhar na sua Luz, estamos caminhando na nossa que é Yeshua a Luz do Mundo. Um Judeu de 33 anos que morreu pelo mundo, mas também celebrava as festas do Eterno. “E em Jerusalém havia a festa da dedicação, e era inverno. E Yeshua andava passeando no templo, no alpendre de Salomão”(Jo. 10:22,23).
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