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‘Morreu, virou santo’: jornalista católico critica legado do papa
A morte do papa Francisco, anunciada neste mês, mobilizou reações de pesar por parte de fiéis e lideranças religiosas em diversas partes do mundo. Matérias publicadas em veículos da grande imprensa destacaram o legado progressista do pontífice argentino, que liderou a Igreja Católica desde 13 de março de 2013. Entretanto, algumas vozes do meio católico expressaram reservas quanto ao balanço de seu pontificado, especialmente no campo ideológico.
Dois jornalistas brasileiros radicados nos Estados Unidos, Paulo Figueiredo Filho e Leandro Ruschel, utilizaram suas redes sociais para manifestar críticas à condução do papa Francisco à frente do Vaticano, apontando rupturas com a tradição e alinhamento a pautas consideradas progressistas.
Em publicação feita no X, Paulo Figueiredo afirmou: “Acho maneiro que, agora que o papa Francisco morreu, ele – quase que literalmente – virou santo! Até para conservadores! Fascinante… Não posso dizer que sentirei falta deste, mas espero que esteja descansando junto ao Nosso Senhor”.
Na sequência, compartilhou um artigo de opinião do The Wall Street Journal que argumenta que Francisco “defendeu os pobres ao mesmo tempo em que favorecia ideias que os mantinham pobres”, apontando uma suposta contradição entre a retórica social e os efeitos práticos de suas posturas econômicas, indicando uma evidência de sua militância ideológica.
Leandro Ruschel, que também atua como empresário e comentarista político, seguiu linha semelhante. Em sua análise, o papado de Francisco estaria marcado por um processo de instrumentalização ideológica da Igreja. “O aparelhamento da Igreja Católica pela extrema-esquerda representa uma dupla vitória dos comunistas: ao mesmo tempo que faz avançar a causa marxista, promove a destruição da Igreja por dentro”, escreveu.
As declarações de ambos os comunicadores refletem uma visão crítica que, ao longo dos anos, encontrou espaço entre segmentos mais tradicionais do catolicismo e do cristianismo conservador em geral. Durante o pontificado de Francisco, medidas como o endosso aos ativistas ambientais, a ênfase na imigração e defesa de uma abordagem de esquerda ao combate à desigualdade, além das medidas de favorecimento ao ativismo LGBT+, geraram debate interno na Igreja.
Francisco também promoveu reformas na Cúria Romana, criou novos cardeais de perfil mais pastoral, e buscou descentralizar decisões, incentivando conferências episcopais a terem maior protagonismo. Tais medidas foram lidas por alguns setores como tentativas de tornar a Igreja mais próxima da realidade contemporânea; por outros, como rupturas perigosas com séculos de tradição doutrinária.
O Catecismo da Igreja Católica, em sua introdução, orienta que “o depósito da fé” deve ser guardado com fidelidade e transmitido com zelo (cf. 1Tm 6,20). Em contextos de tensão e mudanças, passagens como esta são frequentemente evocadas por aqueles que veem com preocupação os rumos institucionais e doutrinários da Igreja.