estudos bíblicos

O cristão e as redes sociais

Qual deve ser o comportamento e os cuidados que o cristão deve tomar nas redes sociais.

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Redes Sociais. (Benjamin Sow / Unsplash)

Basicamente o propósito das redes sociais é justamente colocar em rede, unir, conectar pessoas. De fato, isso tem acontecido: quantos amigos de infância ou ex-colegas de escola ou trabalho você já reencontrou nas redes sociais? Se não muitos, ao menos alguns. Não é uma boa sensação? Poder reaproximar-se daquele amigo ou parente que há anos você não via.

Você posta um texto, uma foto ou vídeo, um amigo seu compartilha sua publicação, e quando você menos pensa, alguém de um outro estado distante está vendo sua publicação, de alguma forma interagindo com comentários ou outros compartilhamentos. Comentários em redes sociais às vezes são impertinentes, carregadores de zombaria, desrespeito e ignorância; mas quando carregados de gentileza, conhecimento e virtude, pode até mesmo nos ajudar a rever posicionamentos antiquados e melhorar nossa forma de ver e nos posicionar sobre o mundo.

Se por um lado é justa a crítica de que as redes sociais, mal utilizadas, podem distanciar-nos das pessoas próximas e aproximar-nos das pessoas distantes, por outro lado é também verdade que as redes sociais, se bem utilizadas, podem aumentar seu leque de amizades ou, no mínimo, de outros contatos que podem ser úteis de alguma forma para nosso crescimento pessoal, profissional, intelectual e espiritual.

Questiona-se se 5 mil amigos no Facebook são realmente “amigos”; mas por acaso 100 contatos salvos na agenda de nosso celular são realmente nossos amigos?

Aliás, 50 componentes no mesmo coral da igreja em que cantamos, são realmente nossos amigos, no sentido mais sublime desta palavra? Certamente que não. Aliás, com a inserção das empresas e dos empreendedores nas redes sociais, estes ambientes virtuais se transformaram em muito mais que ambientes para fazer amigos apenas, mas também ambientes para se fazer negócios, onde se amealham muitos clientes.

CUIDADOS: de fato, o ser humano foi feito para viver em sociedade. “Não é bom que o homem esteja só”, foi a primeira constatação divina sobre o homem (Gn 2.18). Salomão diz que aquele que se isola falta com sabedoria (Pv 18.1). Precisamos “estar em rede” com as pessoas, mas devemos cuidar para:

  1. Não ficarmos o tempo todo online para o mundo e offline para a família
  2. Não nos fazermos companheiros dos tolos, especialmente em contendas de palavras (Pv 13-20; 1Tm 6.20)
  3. Não criarmos uma dependência de louvores dos outros pelo que somos ou fazemos (Pv 27.2; Rm 12.16)
  4. Muitos casamentos estão sendo destruídos devido adultérios virtuais! Muitos jovens estão caindo em fornicação devido terem transformado algumas redes sociais em verdadeiros motéis ambulares! Encontros indecentes estão sendo marcados para o pecado, a partir de uma interação perniciosa nas redes sociais. O crente precisa vigiar e fugir do assédio, como José que fugiu da sedutora mulher de Potifá (Gn 39.12)! Precisa fugir do convite para o pecado, se quiser manter sua fidelidade a Deus, ao casamento e a família! Há “amizades” que não valem a pena ter. Salomão diz que interagir com a prostituta e cair em suas seduções para o pecado, é ser levado como um boi para o matadouro ou como ave que se apressa para o laço: “não sabe que está armado contra a sua vida” (Pv 7.7-23)

Simplificação da informação

As redes sociais são também um instrumento de mensagem instantânea. Você já não precisa enviar aquela carta ou telegrama para um parente ou amigo distante e esperar por 15 a 30 dias pelo recebimento e um tempo semelhante pela resposta. Você pode enviar uma mensagem virtual e receber a resposta em questão de segundos, se o destinatário estiver online; ou ainda pode conversar ao vivo, dispensando a ligação telefônica, e até fazendo vídeo-chamadas.

Os famosos “orelhões” em vias públicas e até mesmo os telefones fixos residenciais estão sendo substituídos por aparelhos celulares, que são ao mesmo tempo aparelhos telefônicos, mas também computadores de mão. Para um mundo cada vez mais impaciente, as redes sociais têm se demonstrado uma boa ferramenta para uma comunicação ágil.

Cuidados

A proliferação do conhecimento já é prevista nas Escrituras (Dn 12.4), e a simplificação da comunicação é um claro resultado deste avanço da ciência. Não podemos nos prender a ferramentas do passado, demonizando todas as inovações. Entretanto, precisamos cuidar para que nem nossos afazeres domésticos, nem nossas atividades profissionais, nem nossas devoções espirituais sofram prejuízo devido excessos de períodos gastos em conversas nas redes sociais – Deus cobrará pelo tempo que não oramos, não lemos a Bíblia, nem fizemos a sua obra por estarmos distraídos e embaraçados com os negócios desta vida (2Tm 2.4).

Precisamos também vigiar para que as facilidades na comunicação virtual não se coloquem como uma pedra de tropeço para pecarmos “pelos olhos” (sensualidade e pornografia, por exemplo) ou “pelos ouvidos” (fofocas e mexericos, por exemplo).

Quanto mais tempo gastamos vendo, ouvindo e conversando nas redes sociais, mais suscetíveis ficamos às coisas inconvenientes deste vida, e mais risco corremos de dar lugar ao “velho homem” para ele nos dominar. Façamos da oração do salmista a nossa oração: “Põe, ó Senhor, uma guarda à minha boca; guarda a porta dos meus lábios” (Sl 141.3).

Informação rápida

A internet de modo geral, e agora especialmente as redes sociais, trouxeram um encurtamento das distâncias e uma velocidade extraordinária na transmissão de informações. Ninguém mais precisa esperar pelo jornal da TV do meio dia ou das 19h para poder se inteirar dos fatos mais relevantes no mundo.

A notícia é repassada imediatamente tão logo o fato ocorra através das redes sociais, e isso sem falar das transmissões ao vivo (lives) onde os fatos são transmitidos em tempo real para informar o usuário da internet. Claro que essa informação rápida, dada em tempo real, corre o risco de não ser bem apurada, e, portanto, vir viciada de erros e distorções – daí vem as queixas de muitos profissionais do jornalismo.

Cuidados

Todo critério é pouco antes de divulgarmos uma informação recebida numa rede social. Existe hoje o que é chamado de “fake news”, expressão em inglês que quer dizer “notícia falsa”.

Há muitas notícias falsas sobre eventos, sobre instituições, e sobre pessoas circulando na internet, e precisamos ter sabedoria, prudência e discernimento, antes de comentar ou compartilhar uma informação, para que não venhamos na ignorância nos intrometer em assuntos alheios, nem participar de uma verdadeira rede de boatos (Ex 23.1), cujo propósito não é outro senão destruir a imagem de outras pessoas ou instituições.

É sempre bom conferirmos em outros perfis das redes sociais, ou em portais de notícias já conhecidos, se aquela informação realmente procede.

“Notícias bombásticas” como se costuma dizer, são sempre veiculadas em grandes portais de notícia.

E tem mais um detalhe: “fake news” podem trazer consigo links de internet carregados de vírus que só danificarão o computador ou aparelho celular, roubarão informações pessoais que você tenha salvo no aparelho ou usado para alguma compra na internet (como dados de cartão de crédito), e poderão te deixar num grande prejuízo! A regra de Tiago vale para estas questões: “todo homem esteja pronto para ouvir, seja tardio para falar e tardio para se irar” (Tg 1.19).

Com o historiador Lucas aprendemos que só podemos passar uma informação adiante depois de “já [ter nos] informado minuciosamente de tudo desde o princípio” (Lc 1.3).

Negócios

Hoje em dia se fala muito de uma nova dinâmica de trabalho, é o “home office”, ou seja, o trabalho em casa. As redes sociais têm ajudado muito desde profissionais autônomos até grandes empresas na realização de bons negócios na internet.

Pelas redes sociais é possível comprar, vender, trocar, comparar preços, se informar sobre promoções e fechar negócios que são muitas vezes melhores que aqueles feitos diretamente em lojas físicas próximas de casa.

É possível fazer uma ótima pechincha em grupos de compra e venda no WhatsApp; grupos de bazar no Facebook, e outros.

Cuidados

Todo cuidado é pouco quando vamos fechar negócios pelas redes sociais: averiguar a idoneidade da pessoa ou empresa que está vendendo o produto, certificar-se da procedência legal do produto e da honestidade no preço, para que não venhamos incorrer no creme de receptação de furto ou contribuir com o mercado ilegal. Se não formos prudentes, como diz o ditado, “o barato pode sair caro”, e a alegria do momento da compra pode se transformar numa grande dor de cabeça posteriormente!

O homem ímpio não teme fazer negócios ilícitos, mas o crente em Jesus deve ser prudente e detestar o mal. “Aborrecei o mal e apegai-vos ao bem” (Rm 12.9).

Outro cuidado importante é com o consumismo: não podemos sair comprando coisas que vimos em bazar virtual apenas porque “o preço é bom”, mas se a necessidade realmente nos pede pela aquisição daquele objeto.

Nossa casa não pode ser um depósito de quinquilharias inúteis, que servem apenas de abrigo para baratas, ratos e escorpiões, antes devemos ser modestos e sensatos, economizando para o que é essencial, especialmente em tempos difíceis de crise econômica como o que atravessamos. “Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão? E o produto do vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer?…” (Is 55.2).

Disseminação do Evangelho

As redes sociais são um ambiente virtual muito pertinente para divulgarmos assuntos da Palavra de Deus, seja para edificação de nossos irmãos na fé, seja para evangelização dos descrentes. Quem nunca foi edificado por um texto, um áudio ou um vídeo compartilhados nas redes sociais? Há grupos de estudo, como os grupos de professores da Escola Dominical, onde há troca de informações, partilha de conhecimento, sugestões de leituras, etc. Quantos pregadores e ensinadores passamos a conhecer através das redes sociais, os quais dificilmente conheceríamos pessoalmente ou, menos ainda, num programa de televisão? Quantos livros bons adquirimos através de sugestões de amigos, para nos enriquecer espiritualmente? E a quantas pessoas já alcançamos com um simples post publicado numa rede social, falando do amor de Deus, da redenção efetuada por Jesus Cristo, da salvação, da vida eterna, do consolo que a Bíblia nos traz ou mesmo das advertências e exortações do santo Livro para uma vida prudente, digna e santa? Há frutos de nossas sementes que só conheceremos quando as encontrarmos no céu!

Para glória de Deus eu posso dizer que já recebi muitos relatos de adolescentes, jovens, pais e mães de família, do país e até de outros continentes, que de alguma forma foram abençoados, edificados e instruídos com minhas publicações nas redes sociais. Deus sabe que em minhas orações matinais tenho inclusive intercedido por todos os que me seguem virtualmente.

Outro detalhe: pelas redes sociais, aquela pessoa que ficou impossibilitada de ir ao culto devido doença ou trabalho, pode acompanhar a transmissão ao vivo do culto de sua igreja ou de outra, e assim ser também edificado com louvores e a pregação – isso nada tem a ver com o fenômeno do desigrejamento, que é a decisão arbitrária de não frequentar mais igrejas locais em templos físicos (o que é contrário ao ensino e costume bíblico – Hb 10.25). Pelas redes sociais um maior número de amigos pode ser convidado para ir a um culto evangelístico, do que conseguiríamos convidar se tivéssemos de ir “de porta em porta” (embora de modo algum o evangelismo virtual deva substituir o evangelismo corpo a corpo, cultos ao ar livre ou cruzadas de massa! O encontro pessoal é insubstituível!). Se devemos pregar o Evangelho a toda criatura, como Jesus ordena (Mt 28.19,20; Mc 16.15), e as criaturas estão também nas redes sociais, então não devemos ignorar esta boa oportunidade de alcançar as almas por quem Cristo morreu. Pela internet podemos chegar em lugares que jamais chegaríamos presencialmente e alcançamos pessoas as quais jamais teríamos a oportunidade de conhecer pessoalmente. Por isso, “Prega a tempo e fora de tempo”, exorta Paulo a Timóteo (2Tm 4.2).

CUIDADOS: alguns cuidados são importantes no uso religioso das redes sociais. Pontuo alguns:

  1. Cuidado com o nosso testemunho virtual, para que nosso convite para o Evangelho não seja desacreditado por nossa conduta de vida (Tito 2.7,8)
  2. “Remir o tempo”, ou seja, aproveitar as oportunidades para anunciar o Evangelho
  3. Não é errado usar as redes sociais para atividades apologéticas, mas se nos ocupamos apenas delas, e desperdiçamos as oportunidades para o uso evangelístico, então estamos pecando por descumprir aquela mais primitiva e fundamental ordem de Cristo: “Ide e pregai o Evangelho”.
  4. Sermos sábios na evangelização dos pecadores: ousados, mas não atrevidos; francos, mas não truculentos; vigorosos, mas não insensíveis; sinceros, mas não desrespeitosos. “Sejam sábios no procedimento para com os de fora; aproveitando ao máximo todas as oportunidades. O seu falar seja sempre agradável e temperado com sal, para que saibam responder a cada um” (Cl 4.5,6)

Conselhos finais

O salmista Davi exclamou: “Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e tudo o que há em mim bendiga o seu santo nome” (Sl 103.1).

Perceba: tudo o que há em mim deve bendizer, isto é, falar bem de Deus. Deste modo, com todo nosso ser e em todas as nossas ocupações e com tudo o que temos, devemos dar bom testemunho do nosso Senhor. Seja conversando, vendendo, trocando, comprando, curtindo, comentando ou compartilhando, assistindo ou gravando, enviando ou recebendo um arquivo… que em tudo possamos exalar o bom perfume de Cristo, e assim, o inimigo de nossas almas não tenha de que nos acusar.

Usemos e desfrutemos das redes sociais com temor, responsabilidade e moderação, para que possamos dizer como Paulo: “Meus irmãos, tenho cumprido meu dever para com Deus com toda a boa consciência, até o dia de hoje” (At 23.1).

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