estudos bíblicos

O ensino bíblico na igreja e na internet

O ensino bíblico é essencial para capacitar a igreja para a realização de suas atividades missionais.

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Bíblia. (Foto: Ben White / Unsplash)

O ensino das doutrinas bíblicas fundamentais sempre foi um elemento de fundamental importância para a igreja, para cumprir a missão que ela recebeu diretamente do Senhor Jesus, ao ordenar que se fizessem discípulos de todas as nações, e ensiná-los “a guardar todas as coisas que eu tenho ordenado a vocês.” (Mt 28.20 NAA).

Goheen (2014, p. 171) destaca que o relato de Lucas nos informa que a comunidade cristã primitiva se dedicou a quatro práticas que funcionariam como canais pelos quais a vida do Espírito seria nutrida nela, e a primeira delas é ocupar-se diligentemente com o ensino dos apóstolos, transmitido a todos os cristãos.

O ensino bíblico é essencial para capacitar a igreja para a realização de suas atividades missionais. Lopes (2010, p. 140) assevera que a educação cristã tem a tarefa formativa que a igreja realiza com seus membros, para habilitá-los a participar da vida e dos compromissos de sua comunidade, pois ela “deve objetivar influenciar a sociedade na busca pela finalidade última da educação, que é Deus”.

Zabatiero (2009, p. 55) valoriza o ensino da Palavra na igreja, como meio de educação dos crentes, quando afirma que se deve trabalhar para que “se torne presente a função educacional do culto, para que seu caráter pedagógico seja valorizado”. Se não se fizer isto, ele questiona: “como pode haver uma educação transformadora na igreja?”.

O estudo constante, sério e disciplinado da Bíblia é fundamental para o crescimento espiritual da igreja. Para que a igreja cristã possa manter um testemunho ativo nesta geração, e para que os cristãos possam crescer e tornar-se cristãos maduros e eficientes, é da maior importância que os pastores e mestres providenciem para o povo o verdadeiro ensino fundamentado na Bíblia e que dela se origina.

Aliado ao uso do púlpito para transmissão do ensino bíblico que é essencial para a igreja, o uso da internet pode expandir este universo de pessoas alcançadas pelo mesmo ensino que é ministrado na igreja, para levar os benefícios da exposição da Palavra a muitas outras pessoas, em lugares distantes, ou mesmo pessoas que, embora pertençam à mesma comunidade, estejam, por qualquer motivo, impossibilitadas de ir ao culto no templo da igreja local (mais ainda neste tempo de isolamento social necessário).

Para justificar-se o esforço adicional de transmitir a palavra ministrada nos cultos por meio da internet, e considerando-se que há muitas pessoas que não viriam à igreja, mas acessam continuamente as redes sociais, parte-se do pressuposto de que é preciso trabalhar nos meios de comunicação com mais efetividade. Se há possibilidade de usar os recursos midiáticos e a realidade da utilização em massa destes meios, pela população em geral, e pelos cristãos em particular, obriga a essa situação, deve-se falar de Jesus utilizando as tecnologias que estão à disposição para evangelizar a todos.

Paes (2003), ao relacionar princípios que são, em sua avaliação, indispensáveis para um crescimento saudável e equilibrado da igreja, lista entre eles: igrejas que tiram grande proveito da mídia, e afirma que por meio da mídia o evangelho tem chegado a lugares em que um pregador não chegaria por vias tradicionais, dado o seu poder de penetração.

A Igreja cresce através das redes de relacionamentos naturais (família, colegas de trabalho, amizades, etc.). Tudo aquilo que não cresce vai se degenerando. Isso vale para as pessoas, as comunidades e também para a missão da igreja. Evangelho é vida e é parte da sua essência crescer e propagar a nossa fé. Por isso, a importância da propagação da Palavra de Deus no mundo atual, utilizando-se, inclusive, os meios de comunicação.

O objetivo deste artigo, primeiramente, é estabelecer a importância do ensino bíblico na igreja, baseado, principalmente, no fato concreto de que as Escrituras são um meio da graça de Deus para os homens, que visa a sua salvação, edificação, santificação e despertamento espiritual.

Em seguida, pretende-se analisar o uso da internet, pela igreja, e como este meio da graça, a Palavra de Deus, ministrada no culto, pode ser propagado através da mídia, visando ampliar o seu alcance a outras pessoas.

A Bíblia é um meio da graça

“Meios da Graça”, segundo define Wiley (1990, p. 436), são “canais divinamente designados por Deus través dos quais as influências do Espírito Santo são comunicadas à alma humana”. São coisas específicas que Deus concedeu aos crentes para ajudá-los a desenvolverem sua salvação, fazerem as boas obras que Ele determinou e a crescerem na graça. Embora a expressão “meios da graça” não se encontre na Bíblia, é uma designação adequada para aquilo que está ali ensinado.

Grudem (1999, p. 801) define os meios da graça como “quaisquer atividades na comunhão da igreja que Deus usa para distribuir mais graça aos cristãos”, e lista como primeiro item na lista destes meios: o ensino da Palavra de Deus, ou seja, a exposição dos princípios revelados por Deus, conforme foram registrados na Bíblia Sagrada.

Há dois tipos de meios da graça: os particulares (palavra, oração) e os públicos (adoração, Ceia do Senhor, Batismo). Enquanto a teologia católica enxerga estes meios como “meios de salvação”, a teologia protestante os vê como sendo apenas meios de alcançar as bênçãos de Deus, pois a salvação é garantida pela obra de Cristo (GRUDEM, 1999, p. 802). Destaca-se que, em si mesmos, estes meios da graça são completamente ineficientes e só produzem resultados espirituais positivos mediante a eficaz operação do Espírito Santo.

A Palavra de Deus é um dos meios universais da graça, e é pela pregação que se administra a graça aos ouvintes. Wiley ressalta que a Bíblia deve ser pregada conforme a direção do Espírito Santo e buscando instruir os cristãos nas verdades do evangelho:

É importante que esta pregação seja em demonstração do Espírito e de poder (1 Co 2.4), porque à parte da operação do Espírito sobre os corações humanos a Palavra carece de poder. Deriva a sua eficácia como um meio da graça apenas quando se transforma em instrumento do Espírito. Para ser completamente efetiva, a Palavra deve ser pregada para a ‘doutrina’ ou instrução nas verdades do Evangelho; para a ‘repreensão’ de negligência ou fracasso; para a ‘correção de tendências errôneas’, e para a ‘educação’ na justiça ou na arte de viver santamente (2 Tm 3.16).” (WILEY, 1990, p. 436, 437).

A eficácia da Bíblia, de comunicar a graça de Deus, depende exclusivamente de que ela seja um instrumento do Espírito Santo. O livro em si mesmo não tem poder, seu poder deriva do Seu Autor e Instrutor, Deus.

O ensino da Bíblia é um meio de salvação.

A Bíblia é necessária para a salvação (GRUDEM, 1999, p. 78). Para que alguém possa ser salvo, ele “precisa ler a mensagem do evangelho por si mesmo, ou ouvi-la de outra pessoa” (idem).

A Bíblia reivindica para si mesma esta indicação de ser um meio para salvação para os homens, pois ela foi escrita para que a humanidade tenha a vida eterna (Jo 20.31). O apóstolo Paulo escreveu sem sua epístola dirigida aos cristãos de Roma que o evangelho é poder de Deus para salvação de todo aquele que crê (Rm 1.16).

Ele também afirma, em sua carta endereçada aos cristãos da cidade de Corinto, que Deus resolveu salvar os crentes pela loucura da pregação (1 Co 1.21), e na sua epístola enviada a Timóteo, que as sagradas letras podem tornar o homem sábio para a salvação (2Tm 3.15).

Também o apóstolo Pedro, dirigindo-se aos cristãos espalhados nas regiões do Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia, afirma que o crente é regenerado pela Palavra de Deus (1Pe 1.23). Tiago, o irmão de Jesus, em sua epístola universal, também contribui para fundamentar este ponto, pois assevera que fomos gerados pela verdade da Palavra (Tg 1.18).

A pregação do evangelho é um meio da graça de maior importância para alcançar os homens que estão perdidos (Rm 10.13-17; 1Co 1.17,18; Lc 24.47; At 1.8). Conforme observamos no livro histórico do Novo Testamento, Atos dos Apóstolos, o crescimento da igreja está diretamente ligado à proclamação do evangelho (At 6.7; 12.24; 13.49).

A salvação se dá unicamente pela fé em Jesus como Salvador (Ef 2.8,9), mas para crer em Cristo é preciso conhecer a verdade do evangelho, que se revela nas Sagradas Escrituras. Logo, a Bíblia é instrumento de Deus para a salvação. Não há rotas alternativas de salvação, à parte da revelação de Deus no evangelho. O carcereiro na cidade de Filipos foi sacudido pelo terremoto, mas alcançou a salvação por meio da pregação de Paulo, baseada no evangelho de Jesus (At 16.25-34).

Goheen (2014, p. 245) afirma que o propósito da pregação é “conduzir os ouvintes a um encontro face a face com Jesus Cristo e com todo o seu poder de salvação a fim de sermos equipados para a nossa missão abrangente no mundo”.

Como assevera Washer (2013, p. 19), “foi Deus quem designou a ‘loucura da pregação’ para ser o instrumento que leva a mensagem de salvação do evangelho ao mundo (1 Co 1.21)”.

Charles Hodge (apud GRUDEM, 1999, p. 804) afirma que, embora seja possível, geralmente não há indicação da influência salvadora do Espírito Santo em lugares onde se desconhece a Palavra de Deus e que “o cristianismo floresceu proporcionalmente ao grau de conhecimento da Bíblia, ao grau de difusão das suas verdades entre as pessoas”.

O ensino da Bíblia é um meio de santificação

Os cristãos são santificados, separados do mundo e consagrados a viver para Deus, quando se unem a Cristo pela fé. O Espírito Santo, através da sua obra no interior do cristão, o conduz a uma vida de santificação progressiva. O terceiro meio de santificação é a Palavra de Deus.

Jesus declarou, em sua oração sacerdotal, que o cristão é santificado pela Palavra de Deus (Jo 17.17; 15.3). A Bíblia é a “água” que lava o homem de suas impurezas (Ef 5.26). O salmista afirma, no Salmo 199, que guardou a Palavra de Deus em seu coração para evitar o pecado (Sl 119.11).

Horton (in GUNDRY, 2006, p. 131) explica que este instrumento não está desvinculado da obra do Espírito Santo nem é adicional a ela, mas que “a Palavra é a sua principal ferramenta e ele a usa para cumprir a obra na vida e no coração das pessoas”.

A Bíblia foi escrita por homens chamados de santos, que foram santificados por Deus, enquanto Ele os inspirava e guiava, por intermédio do Espírito Santo (2Pe 1.21). Ela ensina, principalmente, o que as pessoas precisam saber sobre a pessoa e o caráter de Deus e quais os deveres que Ele exige daqueles que querem ser seus filhos.

A Bíblia revela os princípios pelos quais Ele julgará a humanidade e demonstra o supremo padrão pelo qual devem ser averiguados todos os comportamentos, credos e opiniões dos homens.

Para o homem ser santo, que é uma exigência de Deus para seus filhos, conforme afirma o apóstolo Pedro (1Pe 1.16), é preciso conhecer a Deus e este conhecimento é revelado ao homem nas páginas do sagrado livro. Assim, entende-se que a Bíblia é necessária para a santificação.

O ensino da Bíblia é um meio de edificação

A Bíblia é o principal instrumento pelo qual Deus fala aos homens. Enquanto eles leem a Bíblia, Deus os abençoa e os fortalece com tudo que eles necessitam para seu viver diário. O apóstolo Paulo, durante a sua segunda viagem missionária, estando na cidade de Mileto, dirige-se aos anciãos da igreja de Éfeso e afirma que Deus, por Sua Palavra, pode edifica-los e dar-lhes herança entre todos os santificados (At 20.32).

A Bíblia é necessária para a manutenção da vida do crente, para sua nutrição espiritual (Mt 4.4). A Palavra de Deus é verdadeiro alimento (Jó 23.12). Moisés, o grande líder dos judeus no êxodo do Egito para a terra de Canaã afirma ao povo de Deus que a Palavra lhes daria vida (Dt 32.47). A Bíblia é o “leite” que alimenta o crente no princípio de sua vida espiritual (1Pe 2.2; 1Co 3.2; Hb 5.12,13) e o alimento sólido para o que está mais amadurecido (Ef 4.14; Hb 5.14). As palavras que transmitem graça são úteis para edificação dos cristãos (Ef 4.29).

Além disto, a Palavra de Deus é útil para “o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça” (2Tm 3.16), para nos dar esperança (Rm 15.4) e para dar sabedoria (Sl 19.7) aos que se dedicam a ouvir a proclamação das suas verdades.

O estudo das Escrituras é fundamental para que se possa estabelecer uma cosmovisão bíblica. Cosmovisão é o conjunto de “pressupostos fundamentais cognitivos, afetivos e avaliadores que um grupo de pessoas adota sobre a natureza das coisas e que utiliza para organizar a vida”, segundo a define Hiebert (2016, p.19). Ele também define cosmovisão bíblica como “a compreensão humana dos pressupostos básicos das Escrituras” (Op. Cit. p. 291). A Bíblia, portanto, fornece os pressupostos básicos para organizar a vida humana de acordo com a Sua vontade.

Hiebert (2016, p. 311) destaca a importância da proclamação das verdades do evangelho para todos, quando afirma que “o evangelismo é central na vida da igreja, não só para os que são salvos por meio dele, como também para manter a vitalidade da igreja”.

O conhecimento sobre Cristo e sobre a maneira que o cristão deve viver é importante tanto para a salvação como para o crescimento na fé, como afirma Hiebert:

Conversão, então, é um ponto – uma mudança de rumo. Essa mudança pode envolver uma quantidade mínima de informações a respeito de Cristo, mas ela realmente implica uma transformação no relacionamento com Ele – um compromisso de segui-lo, embora o conheçamos pouco, de conhecê-lo mais e obedecer-lhe à medida que ouvimos sua voz. Mas a conversão também é um processo – uma série de decisões que se originam dessa mudança inicial. Pensando assim, Papayya [um camponês indiano analfabeto] pode se tornar cristão depois de ouvir o evangelho uma vez, mas os que o conduzem a cristo têm uma grande responsabilidade em discipulá-lo, estabelecendo-o de maneira firme em sua nova fé. Sem discipulado, ele pode se tornar um cristão natimorto, por assim dizer. Ao longo de sua vida, ele pode crescer na fé; também pode ‘apostatar’. (HIEBERT, 2016, p. 339-340).

Nascimento (2016, p. 192) afirma a importância do conhecimento bíblico para a defesa da fé cristã, quando afirma que “o ponto de partida para uma apologética sadia é o estudo sistemático das Escrituras”, e ampara esta afirmação no fato de que “nela estão arraigados os fundamentos da nossa crença e os motivos da esperança que temos em Cristo Jesus”.

O ensino da Bíblia é um meio de avivamento

O avivamento é uma obra da graça de Deus, agindo de maneira surpreendente entre os cristãos. Stephen Olford (apud Shedd, 2004, p. 11) descreve o avivamento como “aquela estranha e soberana obra de Deus na qual ele visita o seu próprio povo, restaurando-o, reanimando-o e libertando-o para receber a plenitude de suas bênçãos”.

Tanto no surgimento quanto na manutenção dos resultados destes momentos de avivamento, é fundamental o genuíno ensino bíblico, pois “a teologia que nega as verdades centrais da Bíblia não tem o poder de transformar vidas, muito menos de provocar um avivamento” (SHEDD, 2004, p. 15). Observa-se que este ensino bíblico está intimamente relacionado aos avivamentos, desde o Pentecostes.

R. O. Roberts (apud SHEDD, 2004, p. 66-68) lista entre as características de igrejas e indivíduos que necessitam de um avivamento:

  • a) Quando a busca pela verdade bíblica fica estagnada e os cristãos se acomodam, pacificamente, com as verdades adquiridas há muito tempo.
  • b) Quando o conhecimento bíblico é tratado como fato externo e falta uma aplicação ao coração e à vida.

Entre os resultados de um avivamento observa-se que muitos têm o seu surgimento fomentado pelo estudo da Palavra de Deus. Vida sem doutrina gera misticismo e experiencialismo subjetivista. Avivamento sem doutrina é fogo de palha, é movimento emocionalista, é experiencialismo personalista e antropocentrista.

Deus tem compromisso com a verdade e a sua Palavra é a verdade e todo avivamento precisa estar fundamentado na Palavra. O avivamento precisa estar norteado pelas Escrituras e não por sonhos e visões. Precisa estar dentro das balizas da Bíblia e não dentro dos muros de revelações subjetivistas, muitas vezes surgidas apenas da imaginação humana.

O ensino da Palavra de Deus acerca do Espírito Santo desperta a busca pelo poder do Espírito Santo

O conhecimento advindo do ensino bíblico desperta o interesse pelo poder e os dons do Espírito Santo. Aqueles que não têm este conhecimento geralmente não têm o desejo de buscar esta manifestação do Espírito (At 19.2).

No Pentecostes, Jesus falou que enviaria o outro Consolador e que eles esperassem em Jerusalém até que fossem revestidos de poder (Lc 24.49). Eles obedeceram e foram todos batizados. Pedro, em seu discurso inflamado, dirigido aos moradores de Jerusalém e todos os que presenciaram o derramamento de poder, aponta-lhes o ensino das Escrituras: esta promessa é para vocês também (At 2.39) e eles continuaram buscando o poder do Espírito Santo.

Nos EUA, o estudo do livro de Atos dos Apóstolos feito pelo professor da Escola Bíblica Bethel em Topeka (Kansas), Charles Fox Parham, foi fundamental para o início do avivamento naquela escola. Este estudo despertou William Seymour, que foi usado por Deus para um grande avivamento na Rua Azusa, em Los Angeles (1906-1909), que espalhou o fogo pentecostal em muitos países, inclusive no Brasil (GUNDRY, 2006).

No avivamento ocorrido em Pyongyang, na Coreia, muitas pessoas se reuniam para orar e estudar a bíblia. Eles testemunharam: “Uma das características notáveis do grande avivamento desse ano foi a inteira ausência de fanatismo. A razão, sem dúvida, foi o acompanhamento do estudo da Palavra” (SHEDD, 2004, p. 46).

A Igreja precisa manter o ensino das doutrinas pentecostais e a busca pelo poder do Espírito Santo, para que o avivamento perdure.

O ensino da Palavra de Deus pela pregação impacta o coração dos ouvintes e causa temor de Deus e um arrependimento profundo e duradouro

Aconteceu assim no dia de Pentecostes, conforme registrado em Atos dos Apóstolos. A pregação de Pedro causou um impacto na vida dos que ouviram e muitas conversões aconteceram, segundo o relato lucano nos informa (At 2.37-41). Também foi assim em Éfeso, pela pregação do apóstolo Paulo (At 19.17,18).

Jesus afirmou que o Espírito Santo é quem convenceria o homem do pecado (Jo 16.8) e o apóstolo Paulo assevera que o conhecimento do pecado vem pelo ensino da Palavra de Deus (Rm 3.20), pois ela é penetrante e reveladora, conforme nos indica o escritor da epístola aos Hebreus (Hb 4.12,13). Quando a igreja está cheia do Espírito Santo, o mandamento bíblico é que a exorta: Sede santos (1 Pe 1.16) se torna mais fácil de ser praticado. Isto vira uma realidade na igreja avivada pelo Espírito que é Santo.

No avivamento que alcançou a Universidade Evangélica de Wheaton em 1950 cerca de 100 alunos foram tomados de um intenso desejo de confessar seus pecados. Outros alunos foram tocados pelo mesmo desejo e todos foram à frente para testemunhar e pedir perdão, numa reunião que começou na quarta-feira à noite e terminou na sexta-feira pela manhã (SHEDD, 2004, p. 69).

No avivamento ocorrido em Nova Jersey, EUA, em meados do século XVIII, a aflição na alma dos índios produzida pela pregação de David Brainerd foi de tal intensidade que eles passaram mais de uma hora rolando no chão, pedindo perdão a Deus (SHEDD, 2004, p. 30).

Em Mapumulo, na África do Sul, a igreja liderada pelo evangelista Stegen experimentou um avivamento que mudou a história daquele lugar, após a conversão de muitos feiticeiros e libertação de centenas de pessoas. O avivamento trouxe um quebrantamento ao coração das pessoas, como descreve Gomes:

[…] ao sairmos pela porta da frente da casa, encontrávamos cem, duzentos pecadores endurecidos, chorando como crianças. “O que houve?”, perguntávamos, e a resposta era: “Somos pecadores”. Era como se o dia do juízo final houvesse chegado. Lembro-me de um certo pagão zulu de Singa, um homem adulto, chorando num quarto como se alguém o estivesse surrando com um chicote. “O que foi?”, perguntei. Ele disse: “Entre mim e o inferno existe apenas um centímetro”. Quando tentaram consolar os que sentiram a profunda convicção de pecados com a verdade do sangue de Jesus que purifica as iniquidades, não acreditaram que Cristo pudesse perdoá-los, tão profundos eram seus pecados. Eles os enumeraram um por um. Quando, finalmente, sentiram que tinham sido perdoados, os seus rostos brilhavam como anjos. (GOMES, 1996, p. 58 apud SHEDD, 2004, p. 100).

No avivamento de Gales, liderado por Evan Roberts, em 1904, as igrejas ficaram lotadas e não havia hora para terminar os cultos. Confissões de todos os tipos de pecados se fizeram e muitos bêbados, viciados e ladrões foram salvos. Shedd (2004, p. 104) afirma que “nas primeiras cinco semanas do avivamento, foram salvas ente 25 a 30 mil almas”.

A igreja precisa manter a pregação da salvação para todos os homens, pela fé em Jesus, para que mais vidas possam ser avivadas e alcançadas pela graça salvadora.

O avivamento é marcado pelo desejo de conhecer mais a Deus e cumprir a Sua vontade, conhecida pela Palavra.

Após o dia de Pentecostes, a multidão dos discípulos perseverava na doutrina dos Apóstolos, indo todos os dias ao templo para receber o ensino bíblico (At 2.42,46). O estudo bíblico fomenta o avivamento e este produz o desejo pelo estudo bíblico.

Os capítulos 8 e 10 do livro de Neemias descrevem um dos maiores avivamentos registrados no Antigo Testamento. Este avivamento teve início mediante um autêntico retorno à Palavra de Deus e um esforço decisivo para a compreensão da sua mensagem (v.8); durante sete dias, seis horas por dia, Esdras leu o livro da lei (v. 3,18). Uma das principais evidências de um avivamento bíblico na igreja é a grande fome de ouvir, ler e estudar a palavra de Deus.

Deus se revela principalmente através da Sua Palavra. É por meio dela que conhecemos a Deus e a tudo que diz respeito a Ele. Pela Palavra conhecemos o Evangelho, para salvação (Rm 10.13-17) e a vontade de Deus, segundo afirmou Moisés aos judeus antes de eles entrarem em Canaã (Dt 29.29).

Quando ocorreu o avivamento em Gales, na Grã-Bretanha, em 1904, tendo Evan Roberts como principal líder, as livrarias ficaram sem bíblias por causa de uma enorme procura por elas, conforme afirma Shedd (2004, p. 27).

O avivamento cria uma renovada urgência pela evangelização e um amor pelas almas perdidas, pregando a Palavra

A igreja primitiva, impulsionada pelo poder do Espírito e pela Palavra de Cristo, evangelizou o mundo inteiro (Mt 28.19; Mc 16.15). Os crentes foram por toda parte anunciando a Palavra de Deus, segundo o registro histórico empreendido por Lucas (At 4.31; 8.4; 11.19,20).

No avivamento da Coreia até as crianças corriam atrás das pessoas, na rua, rogando-lhes que aceitassem a Jesus como Salvador (SHEDD, 2004, p. 59). Após eclodir o avivamento entre os morávios comandados por Nicholas Von Zinzendorf, na Saxônia, eles enviaram 226 missionários para os povos não alcançados, mais do que todas as igrejas tradicionais enviaram em 200 anos (Ibid, p. 65).

Como resultado do avivamento ocorrido na universidade evangélica de Wheaton, alguns alunos foram movidos por Deus para montar uma rádio missionária na Libéria, que levou o evangelho para milhões de pessoas, em 42 línguas, na África, na Europa e no Oriente Médio. Entre 500 a 600 missionários saíram daquela escola para servir ao redor do mundo, inclusive dois deles, que foram martirizados por índios aucas do alto Amazonas, no rio Curaray, no Equador, em 1956 (SHEDD, 2004, p. 70, 71).

É a Palavra de Deus que gera fé nos corações e produz a salvação, como explica o apóstolo Paulo na sua epístola dirigida aos cristãos romanos (Rm 10.8-17). Sem conhecimento do evangelho não há pregação e sem pregação não há fé.

A igreja precisa entender seu papel no cumprimento do “ide” de Jesus, sua participação na implantação do Reino de Deus na terra, e seu envolvimento na preparação do mundo para a vinda de Cristo.

O estudo da Palavra de Deus, pois, é de suma importância para que aconteça um genuíno avivamento e o conhecimento desta Palavra, além de exortar os crentes a buscar mais a Deus, preserva-os de misticismo e fanatismo. O homem avivado consegue cumprir os mandamentos revelados na Bíblia com mais alegria e temor no coração.

Os meios particulares da graça foram concedidos aos homens para sustenta-los em sua vida cristã diária, em um mundo de atividades cotidianas. Praticá-los agora resultará em crescimento e frutificação da vida cristã. Quando o crente utiliza os meios da graça, percebe os resultados em sua própria vida: crescimento espiritual, maturidade, alegria, santidade e semelhança a Cristo.

O ensino bíblico na internet

Segundo os textos bíblicos, o apóstolo Paulo, após visitar uma comunidade, ou fundar uma igreja, continuava a se corresponder com essa através de suas cartas, a fim de manter viva a sua palavra, a fé e a esperança daqueles que creram no Evangelho anunciado por ele.

Se este apóstolo estivesse vivendo na sociedade contemporânea, seria indispensável para ele o uso dos avançados meios de comunicação disponíveis para comunicar as Boas Novas a todas pessoas. Com certeza, ele faria diversas “navegações” pela internet e por suas comunidades virtuais, a fim de lançar as sementes do Reino por todo o mundo.

Portanto, essa realidade do real e do virtual, em que ambos fazem parte da vida contemporânea pós-moderna, auxilia na possibilidade de ampliação de saberes e da fé. Os dois mundos, virtual e real, atualmente fazem parte da igreja do século XXI, portanto, não há como negar ou renegar esse virtual, pois esta realidade já está presente na humanidade toda.

O espantoso crescimento do uso da internet no Brasil revela que grande parte da população brasileira faz constante uso da rede mundial de computadores para obter instrução ou entretenimento. Uma das plataformas mais acessadas é o YouTube, onde um número gigantesco de vídeos é disponibilizado diariamente, mas também há a possibilidade de uso de podcasts e divulgação em outros formatos.

A igreja precisa estar presente nestas plataformas e em outros sites, para oferecer a estes milhões de internautas um conteúdo de qualidade, com estudo bíblico consistente, para suprir a demanda desta população. Vivemos no mundo do ciberespaço, de telefones celulares que capturam vídeo, fazem downloads de vídeo e música, das redes de relacionamento social, das mensagens de texto e blogs, dos equipamentos portáteis e podcasts.

A Internet pode ser usada para proclamar o evangelho de Jesus Cristo e, com a mesma facilidade, pode ser usada para vender a sujeira e a imundície da pornografia. Se o maligno pode usar a mídia para difundir suas sujeiras, a igreja pode utilizar-se deste meio para propagar o genuíno conhecimento da Palavra de Deus, um meio da graça para abençoar a vida de muitas pessoas.

Pensando nisto, a igreja local precisa inserir a internet em seu arsenal de ferramentas usadas para divulgação da Palavra de Deus, a seus membros e a todos que navegam pela rede. O evangelho não muda, mas nossa cultura, sim. Isso significa que cada geração precisa tanto pregar a verdade eterna do evangelho como descobrir como o evangelho pode ser relevante na cultura na qual vivemos.

Percebe-se que há um grande desafio para a igreja de hoje, que é evangelizar o “continente digital”, ou seja, a igreja deve participar de maneira qualificada na cultura da comunicação digital. Com o recente advento da internet, a sociedade se vê imersa na cultura midiática e não deve desprezar esse canal de comunicação e evangelização.

Considerações finais

O ensino bíblico – a proclamação das verdades divinas registradas nas Escrituras, realizado na igreja, em seus cultos, é essencial para que as pessoas possam ser salvas, possam ser conduzidas num processo de santificação, possam crescer na fé o no relacionamento com Deus e ser despertadas para buscar o poder do Espírito Santo, sendo capacitadas para cumprir a missão que receberam do Pai.

Como meio da graça de Deus, pelo qual o Espírito Santo age convencendo, transformando e corrigindo, este ensino é determinante para a saúde espiritual e o crescimento equilibrado do povo de Deus, além de estabelecer as bases para a sua missão ao mundo.

Aliada à proclamação dirigida do púlpito aos seus membros, em suas reuniões, a igreja local pode e deve fazer uso da mídia para ampliar o alcance de seu impacto transformador à sua comunidade, alcançando pessoas que não vem (ou não viriam) ao templo para aprender a Palavra.

Para cumprir seu chamado missional, a igreja também precisa levar o conhecimento bíblico ao “continente digital”, sendo relevante não apenas no seu espaço geográfico, mas também no ciberespaço.

A igreja que faz uso da mídia para divulgar a Palavra pregada semanalmente em seu púlpito tem alcançado muitas pessoas em diversos locais, tanto no Brasil como em outros países, ampliando em muito, o alcance da sua proclamação e levando a graça de Deus “aos confins da terra”.

Percebe-se, assim, que o estudo das verdades da Palavra de Deus é essencial para o crescimento equilibrado do evangelho e a sua divulgação na mídia é de grande importância para tornar conhecidas as verdades das Escrituras a um número maior de pessoas.

Referências

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