estudos bíblicos

O Lugar Santo

Subsídio para a Escola Bíblica Dominical da Lição 7 do trimestre sobre O Tabernáculo – Símbolos da Obra Redentora de Cristo.

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Hoje abriremos a cortina que encobria o interior do santuário e adentraremos ao primeiro cômodo da casa de Deus no deserto. Refletiremos sobre a beleza e a riqueza do chamado “lugar Santo”, a reverência que aquele ambiente exigia do adorador que diariamente ministrava ali, e apontaremos as prefigurações de Cristo que podem ser percebidas naquele local sagrado e em seus utensílios.

Somente o sacerdote podia entrar naquele ambiente santo, mas, visto que somos “reino e sacerdócio” de Cristo, e que ele abriu para nós um novo e vivo caminho, nós hoje também podemos ir além do átrio. Podemos entrar no Santo Lugar!

I. Lugar Santo: um local de serviço e comunhão com Deus

1. Dimensões

Não temos as medidas do lugar Santo, todavia, se as proporções das áreas do tabernáculo eram análogas as do templo de Salomão, então o Santo dos Santos era quadrado, e o Santo Lugar era duas vezes mais longo que sua largura [1]. Alguns comentaristas sugerem que o Santo Lugar media cerca de 10 metros de comprimento por 5 metros de largura e 5 metros de altura [2].

2. Estrutura

Com paredes feitas de madeira de acácia (ou cetim) revestidas de ouro e sentadas sobre bases de prata, a estrutura do Lugar Santo ainda era adornada com a bela cobertura de linho fino com querubins habilidosamente bordados pelos artesãos de Israel. Querubins foram bordados na cobertura e também no segundo véu; isto é, o sacerdote estava envolto dos anjos do Senhor!

Cruzando o primeiro véu e adentrando naquele ambiente, o sacerdote que oficiava culto diariamente ao Senhor podia exultar diante de tamanha beleza, no reluzir do ouro e no contraste das cores azul celeste, púrpura e carmesim. Sim, se podia dizer que o ministro se sentia num pedacinho do céu!

3. Funcionalidade

Diariamente o sacerdote adentrava ao lugar santo, carregando brasas retiradas do altar do holocausto para queimar especiarias sob o altar do incenso, conforme Deus ordenara. Era um sacrifício de ervas selecionadas exclusivamente para o culto ao Senhor e que de modo algum podiam ser tomadas para uso comum.

Diligência no abastecer o castiçal de ouro com óleo e reverência no comer dos pães da proposição eram imprescindíveis aos ministros do culto que adentravam naquele ambiente. Deus era adorado e sua presença era sentida naquele lugar enquanto o sacerdote ministrava ofertas e orações a Deus em favor de si mesmo e de todo o povo!

Foi enquanto oferecia incenso no Lugar Santo (não do tabernáculo, mas do templo reformado por Herodes), que o sacerdote Zacarias teve a maravilhosa visitação do anjo do Senhor ao lado do altar do incenso e que lhe disse: “a tua oração foi ouvida” (Lc 1.13). Deus sempre nos ouve quando o adoramos em espírito e em verdade!

II. As três peças que compunham o interior do lugar Santo

1. A mesa dos pães da proposição (Êx 25.23-30)

Estava colocada na direção norte do tabernáculo, isto é, a direita da porta de entrada do Lugar Santo. Media aproximadamente 90 centímetros de comprimento por 45 centímetros de largura e 65 centímetros de altura, e era fabricada em madeira de acácia e revestida de ouro.

Sobre esta mesa estavam doze pães empilhados (duas fileiras, seis de cada lado), representando as doze tribos de Israel. Eram pães asmos, isto é, sem fermento, preparados pelos coatitas e substituídos por pães novos todo sábado. Quando na troca, os sacerdotes comiam os pães velhos enquanto se oferecia uma oferta de incenso queimado ao Senhor (Lv 24.5-9).

São chamados de pães da proposição ou da presença (NVI) porque eram mantidos continuamente na presença de Deus no tabernáculo, simbolizando a dependência que os hebreus tinham do Senhor, que supre as necessidades físicas e espirituais do seu povo.

Tipologicamente, aqueles pães prefiguravam Cristo, “o pão vivo que desceu do céu” (Jo 6.51), aquele que ofertou sua própria carne pela vida do mundo que vagava para a destruição eterna. Aos que padeciam de inanição espiritual, Cristo trouxe o alimento que não perece (Jo 6.27), que não envelhece e que, a semelhança dos pães da proposição, não tem fermento – o fermento do pecado! Sua promessa é: “quem comer este pão viverá para sempre” (Jo 6. 58). Por isso, ele disse a seus discípulos o que rememoramos em toda celebração da Ceia do Senhor: “tomai e comei, isto é o meu corpo que é partido por vós” (Lc 22.19; 1Co 11.24).

Não deixa de ser digna a observação de cunho homilético feita por Matthew Henry sobre o pão renovado na Igreja, isto é, a boa porção da Palavra que alimenta o rebanho de Cristo:

“Os ministros de Cristo devem providenciar pão novo para a casa de Deus em todos os cultos, a produção de seus estudos sobre as Escrituras, sempre renovados, para que a sua proficiência fique evidente a todos, 1 Timóteo 4.1,5” [3]

2. O candelabro de ouro (Êx 25.31-40)

Também chamado de castiçal de ouro ou candeeiro, ficava na direção sul do tabernáculo, isto é, de frente para a mesa dos pães da proposição e à esquerda da porta de entrada. Não temos as suas dimensões, mas sabemos que era todo feito em ouro (um talento de ouro, algo em torno de 30 a 40 quilos), com uma haste central e três braços de cada lado, somando um total de sete braços artisticamente trabalhados sobre uma base (ou pedestal) de ouro.

Em cada braço havia um cálice no topo abastecido com óleo para queimar e iluminar o ambiente que era totalmente fechado e, consequentemente, não recebia iluminação externa. Simbolizava assim a presença iluminadora e orientadora de Deus, bem como sua clara e perfeita visão de tudo o que ocorria entre o seu povo. Não há treva densa alguma que possa esconder os homens de Deus! (Jó 34.22; Sl 139.7-12; Jr 23.24). Seus olhos estão sobre nós “como chama de fogo”, esquadrinhando até nossos pensamentos, para dar-nos a devida retribuição! (Ap 1.14). “Os olhos do Senhor estão em toda parte, observando atentamente os maus e os bons” (Pv 15.3).

Tipologicamente, o castiçal de ouro aponta para Cristo, que é “a luz do mundo” que dissipa as trevas da ignorância e do pecado (Jo 8.12), e que é também a “testemunha fiel e verdadeira” (Ap 3.14). Jesus é tanto a luz que nos direciona para Deus e que nos tira da obscuridade maligna, como é também aquele que julga perfeitamente as intenções do nosso coração, que esquadrinha nosso interior com riqueza de detalhes, e que faz avaliações precisas sobre quem somos. “Eu sou aquele que sonda os rins e os corações” (Ap 2.23).

O pregador Leonard Ravenhill, no final da década de 1950 dizia que em cada um de nós existem três homens: aquele que pensamos que somos, aquele que os outros dizem que somos, e aquele que Deus sabe que somos! Sim, a Luz não se engana! A Testemunha Fiel e Verdadeira não se equivoca. Ele sabe quem realmente somos para muito além das aparências! Passado, presente e futuro, exterior e interior, ações e pensamentos… tudo lhe é perfeitamente conhecido! “E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar” (Hb 4.13).

3. O altar do incenso (Êx 30.1-10)

Ficava bem de frente à entrada, junto ao véu que separava o Lugar Santo do Santíssimo, e no meio dos outros dois utensílios. Era quadrado (45 cm X 45 cm) e tinha a altura de 90 centímetros. Também feito de madeira de acácia, mas revestido em ouro. Feito para queimar incenso fabricado com ervas exclusivas para uso sagrado (estoraque, ônica e gálbano).

Tanto pela manhã quanto ao cair da tarde, o sacerdote queimava incenso neste altar, com brasas retiradas do altar do holocausto. Talvez por desobedecer a esta expressa ordem de Deus é que Nadabe e Abiú, sacerdotes filhos de Arão, foram fulminados diante do tabernáculo quando intentaram oferecer ao Senhor incenso com “fogo estranho” (Lv 10.1-2), isto é, fogo que não procedia do altar de bronze que ficava no átrio.

O incenso queimado nesse altar exalava um aroma doce, agradável, simbolizando o prazer de Deus em receber a adoração do seu povo quando este se propõe a obedecê-lo.

Tipologicamente, este altar de ouro apontava para Cristo, aquele cujo sacrifício exalou para Deus um aroma agradável, e que agora vive para interceder por nós (Hb 7.25). As orações do Filho são sempre agradáveis ao Pai – “Eu bem sei que sempre me ouves”, disse Jesus em oração ao Pai, diante do túmulo de seu amigo Lázaro (Jo 11.42).

Em seu ministério sacerdotal, Cristo oferece constantemente ao Pai preces em favor de sua Igreja. Por isso Paulo diz que Cristo ressuscitou dos mortos, ascendeu aos céus e “está à direita de Deus, e também intercede por nós” (Rm 8.34). Na verdade, mesmo antes de voltar para a sua casa celestial, Cristo já oferecia intercessões ao nosso favor, sim, por nós crentes do século 21, quando dizia na famosa oração sacerdotal: “E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela tua palavra hão de crer em mim” (Jo 17.20).

Não é maravilhoso saber que mesmo antes de existirmos, Cristo já nos contemplava e intercedia em nosso favor? Não só sobre Pedro, mas sobre cada um de nós Jesus está a dizer: “eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça” (Lc 22.32). O Espírito Santo ora por nós a partir do nosso interior (Rm 8.26,27), e Jesus ora por nós a partir do céu, ao lado do Pai. Que mui grandioso consolo é para nós saber que Cristo se importa conosco e que ele e o Espírito Santo são nossos parceiros fiéis na batalha da oração!

III. O véu que demarcava o Lugar Santo

Deixaremos para abordar apenas na semana seguinte o segundo véu que separava o Santo do Santíssimo, visto que na Lição 8 teremos dois tópicos só para falar sobre este véu e, portanto, não precisaríamos antecipar o estudo na aula deste domingo, que já tem muito conteúdo para ser explicado e aplicado.

O texto bíblico (Êx 26.36,37) sobre o primeiro véu da entrada do Lugar Santo é bem sucinto:

Farás também para a porta da tenda, uma cortina de azul, e púrpura, e carmesim, e de linho fino torcido, de obra de bordador. E farás para esta cortina cinco colunas de madeira de acácia, e as cobrirás de ouro; seus colchetes serão de ouro, e far-lhe-ás de fundição cinco bases de cobre.

Esta primeira cortina, que apontava o limite onde o adorador comum podia chegar, trazia as mesmas cores da cortina na porta de entrada do pátio e da primeira cobertura da tenda, e ocultava o interior do santuário para os hebreus que ofereciam sacrifícios no lado externo. Quanto as simbologias destas cores, já comentamos tanto na Lição 3 como na Lição 6.

A cortina que permitia a entrada no tabernáculo não poderia ser levantada por qualquer vento. O acesso ao interior da tenda era altamente restrito por esta pesada e ornamentada barreira. Destacamos o pertinente comentário de Matthew Henry [4]:

Este véu, que era toda a defesa que o tabernáculo tinha contra ladrões e salteadores, poderia ser facilmente transposto pois não era trancado nem bloqueado, e a abundância de riquezas no tabernáculo, poderíamos pensar, poderia ser uma tentação. Mas ao deixá-lo assim exposto: (1) Os sacerdotes e levitas eram ainda mais obrigados a manter uma rígida vigilância ao tabernáculo, e: (2) Deus mostraria os seus cuidados para com a sua igreja na terra, que parecia fraca e indefesa, e continuamente exposta. Uma cortina seria (se Deus assim desejasse fazê-la) uma defesa tão forte para a sua casa quanto portões de bronze e barras de ferro.

Conclusão

Deus está nos chamando para além do átrio, Ele quer que adentremos ao interior do tabernáculo e nos aproximemos cada vez mais dele. “Chegai-os a Deus e ele se chegará a vós”, disse Tiago, irmão do Senhor (Tg 4.8). É lamentável que muitos crentes não tenham interesse de irem mais fundo em sua amizade com Deus, e vivam na periferia da fé, nadando em águas rasas, vivendo um cristianismo superficial e insípido! Vejam quanta beleza e quantos significados podemos encontrar no tabernáculo do deserto, representações da beleza do caráter e da obra redentora de nosso Senhor Jesus. Se nosso desejo é o mesmo de Paulo – “quero conhecer a Cristo” (Fp 3.10, NVI) – então prossigamos no estudo da tipologia e cresçamos na graça e no conhecimento que há em nosso Salvador!

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Referências

[1] Dicionário Bíblico Wycliffe, CPAD, p. 1872
[2] Dicionário Ilustrado da Bíblia, Vida Nova, p. 1304
[3] Matthew Henry. Comentário Bíblico – Gênesis a Deuteronômio, CPAD, p. 428
[4] Matthew Henry. Op. cit., p. 315

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