estudos bíblicos

O Messias na visão do profeta Daniel

“Mas, nos dias desses reis, o Deus do céu levantará um reino que não será jamais destruído; e este reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos esses reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre.” – Daniel 2:44

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Daniel, cujo nome em hebraico significa “Deus é meu juiz”, foi um importante profeta judeu na Babilônia durante o cativeiro do Reino do Sul – Judá, no século VI a.C.. O ministério profético de Daniel, além de frutífero, foi longo, estendendo-se até ao retorno parcial de Judá (Dn.9:1-2).

No período anterior ao cativeiro babilônico, o panorama histórico-político envolvendo a nação dos judeus era o seguinte: Neco, faraó do Egito, dominava Judá, tendo como vassalo o rei Jeoiaquim (2Rs.23:34). Neco foi derrotado por Nabucodonosor, que passou a ocupar o Reino do Sul (2Rs.24:1), deportando a elite de Judá, entre eles o jovem Daniel, para Babilônia, a capital do novo império mundial (Dn.1:1-7). Devido à rebelião do rei Jeoiaquim, o rei Nabucodonosor invadiu Jerusalém novamente, aprisionou o rei e saqueou o Templo (597 a.C.), deportando os judeus, entre eles o profeta Ezequiel. Finalmente, Jerusalém e o Templo foram destruídos em 586 a.C., na terceira e última invasão, agora por causa da rebelião do rei Zedequias (2Rs.25:8-11).

A mensagem no livro do profeta Daniel é de paciência e não de desespero, pois do juízo nascerá a esperança. Daniel vê o Reino do Messias que será implantado para sempre: “E foi-lhe dado o domínio, e a honra, e o reino, para que todos os povos, nações e línguas o servissem; o seu domínio é um domínio eterno, que não passará, e o seu reino tal, que não será destruído” (Dn.7:14); por meio de juízo divino e arrependimento humano (Dn.7:26-27).

Podemos dizer que o livro de Daniel está dividido em duas partes principais: Parte Histórica (Capítulos 1–6) e Parte Profética (Capítulos 7-12).

Encontramos ainda alusões a Daniel no Novo Testamento, particularmente com relação às citações do Senhor Jesus ao profeta sobre a atuação do Anticristo no período da tribulação, como encontrado em Mateus 24:15: “Quando, pois, virdes que a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, está no lugar santo; quem lê, entenda”. Ademais, este livro é considerado a chave para a compreensão do livro do Apocalipse.

Profecia Messiânica – a pedra cortada sem mão

Daniel, em meio às grandes revelações do Eterno Deus de Israel, teve algumas visões sobre o Messias prometido, como por exemplo a visão do Messias como a Pedra cortada sem mão (Daniel 2:29-35).

Deus revelou a Nabucodonosor um sonho e depois o fez esquecer o sonho, de forma diversa do sonho do Faraó do Egito na época de José, o que não daria possibilidade ao engano daquele que julgasse ter a revelação do sonho do rei e sua interpretação (Dn.2:3-10). Neste caso, o Senhor dirigiu as circunstâncias de modo que seu servo, Daniel, lembrasse e interpretasse o sonho para o rei – “Então foi revelado o mistério a Daniel numa visão de noite; então Daniel louvou o Deus do céu” (Dn.2:19) -, descrevendo cinco impérios mundiais por meio da interpretação da imagem da estátua feita de vários metais, através do uso da palavra chave “reino” nas seguintes expressões: “[Nabucodonosor] a quem o Deus do céu tem dado o reino” (Dn.2:37); “E depois de ti “[Nabucodonosor]  se levantará outro reino” (Dn.2:39); “e um terceiro reino” (Dn.2:39); “E o quarto reino” (Dn.2:40); “um reino dividido” (Dn.2:41).

A cabeça de ouro – Babilônia (Dn. 2:36-38). O peito e os braços de prata – Medo-Persa (Dn.2:39). O ventre e as coxas de cobre – Grécia (Dn.2:39). As pernas e os pés de ferro/barro – Roma (Dn.2:40-42). Estes quatro impérios aludidos pelo profeta Daniel na interpretação já se cumpriram na história da humanidade. Todavia, ainda falta o quinto: os dedos de ferro misturado com barro – que se acredita tratar-se da Roma restaurada (Dn.2:43). Essa precisão histórica extraordinária da profecia de Daniel colocou seu livro como um dos livros bíblicos mais atacados pelos céticos, juntamente com o livro dos começos  (Gênesis) e o livro do fim (Apocalipse).

Cumprimento Profético em Jesus Cristo

A Pedra é de origem divina, pois ela “foi cortada, sem auxílio de mão” e destruiu totalmente a estátua atingindo os pés de barro e ferro, sendo assim uma clara revelação do Messias – tendo em vista que, para o profeta Isaías e para todo o judaísmo, “a pedra” remete ao Messias (Is.28:16).

Já no Salmo messiânico número 118 encontramos a “pedra angular” que foi rejeitada pelos construtores, mas que se tornou a pedra principal: “A pedra que os edificadores rejeitaram tornou-se a cabeça da esquina. Da parte do Senhor se fez isto; maravilhoso é aos nossos olhos” (Sl.118:22); quanto a este trecho, cabe destacar que a pedra angular era a primeira pedra da construção, a partir da qual era executada toda a obra. Os construtores correspondem aos conhecedores da Torá, isto é, os príncipes dos sacerdotes e fariseus, muito dos quais rejeitaram o Senhor Jesus (Mt.21:42-45).

Quanto a isso, o Dr. Roger Liebi tem uma observação interessante: “…o Gólgota era uma mina de pedra desativada. As pedras que restaram ali eram de qualidade inferior, imprópria para ser aproveitada em construções. Isso significa que o Messias foi crucificado em uma pedra rejeitada pelos construtores. Isso é algo digno de observação em relação à passagem messiânica do Salmo 118:22” (LIEBI, in Lieth, 2010, p. 300). O Senhor Jesus Cristo é a pedra angular que foi rejeitada mas que se tornou a pedra principal (Mt.21:42; Ef.3:20), sendo esta referência ecoada nas palavras do apóstolo Paulo como o único “fundamento” (1Co.3:11), e pelo apóstolo Pedro, referindo-se a pedra de salvação ou juízo (1Pe.2:4-8; At.4:11-12).

Confirmando a profecia de Daniel, Jesus fez a seguinte declaração sobre a pedra: “E, quem cair sobre esta pedra, despedaçar-se-á; e aquele sobre quem ela cair ficará reduzido a pó” (Mt.21:44).

O monte é um símbolo bíblico para um reino judaico, conforme Isaías 2:2: “E acontecerá nos últimos dias que se firmará o monte da casa do SENHOR no cume dos montes, e se elevará por cima dos outeiros; e concorrerão a ele todas as nações” (cf. Jeremias 51:25; Ezequiel 20:40; Zacarias 8:3).

Aqui a pedra e o monte representam o reino de Deus, que, eventualmente, substituirá todos os reinos humanos (Apocalipse 16:13-16; 19:17). A destruição do último poder gentio, governado pelo Anticristo, resultará no estabelecimento do Reino Milenar de Cristo: “Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda morte; mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele mil anos” (Apocalipse 20:6) (LAHAYE, 2006. p.765).

Deste modo, podemos direcionar esta profecia à segunda vinda do Senhor Jesus, que, após mil anos, dará lugar ao reino eterno (Dn.2:44-45), momento no qual o Filho entregará o reino ao Pai e Deus será tudo em todos para todo o sempre (1Co.15:24-28).

Profecia Messiânica – o filho do homem

Há ainda outra importante visão do profeta Daniel, a visão dos quatro animais e do filho do homem diante do ancião de dias.

O profeta Daniel nos diz que o primeiro animal era como leão (Dn.7:4), sendo que o “leão” representa Nabucodonosor e o império babilônico. O arrancar das asas é uma referência à sua insanidade (LAHAYE, 2006. p.772).

O segundo animal, semelhante ao urso, (Dn.7:5) representa a Medo-Pérsia; o levantar-se “de um lado” (Dn.8:8,21,22) se refere às desigualdades entre os povos que compunham o império (tendo em vista que os persas gradualmente obtiveram supremacia sobre os medos); e as três costelas na boca do urso referem-se aos três reinos provinciais conquistados pelos medos e persas: Lídia, Babilônia e Egito (LAHAYE, 2006. p.772).

O terceiro animal era semelhante a um leopardo (Dn.7:6), representando a Grécia, sendo que suas quatro asas e cabeças falam da divisão do império grego em quatro partes após a morte de Alexandre, o grande (Daniel 8:8,21,22) (LAHAYE, 2006. p.772).

O quarto animal era terrível e espantoso (Dn.7:7-8), este corresponde ao reino das pernas de ferro (Dn.2:33,40) e simboliza o império romano; seus “dentes grandes de ferro” falam da força militar inigualável de Roma, ao passo que a referência a despedaçar e pisotear, encontrada no versículo 7, ilustra a imposição da cultura e das leis romanas aos povos conquistados. As “dez pontas”, por sua vez, equivalem aos “dez dedos” dos pés (Dn.2:41-43) e representam a forma final do poder gentio nos últimos dias. E, por fim, o reino do Anticristo é tipificado pelo “pequeno chifre” que surge dentre os “dez chifres” (Dn.7:25; 8:23-26; 11:36; 2Ts.2:3-8; Ap.13:5-8) (LAHAYE, 2006. p.772).

Nesta visão, o filho do homem remete ao Messias – “Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha nas nuvens do céu um como o filho do homem; e dirigiu-se ao ancião de dias, e o fizeram chegar até ele” (Dn.7:13) – que tem acesso a Deus, representado na figura do ancião de dias.

Daniel afirma que o Messias, na figura do filho do homem, receberá do ancião de dias domínio, honra e o reino, e que todos os povos, nações e línguas o servirão, referindo-se à honra que ele receberá. Ademais, a ideia de que seu senhorio será eterno e que este não passará remete à ideia de domínio; e o trecho “seu império jamais será destruído” diz respeito ao reino do Messias (cf. Dn.7:14).

Cumprimento Profético em Jesus Cristo

A visão do ancião de dias de Daniel 7:9-12 faz referência ao próprio Deus, o Pai, cuja descrição é semelhante àquela que João fez do Pai em Apocalipse 4. O “filho do homem” de Daniel 7:13-14, por sua vez, refere-se a Jesus Cristo, que recebe um reino de “domínio eterno” do Pai. Esta é uma predição clara da coroação do Messias para reinar como Rei sobre o mundo durante o Milênio (Sl.2).

A expressão Filho do homem no Novo Testamento aparece 84 vezes, muitas das quais demonstrando sua relação de intimidade com o Pai, como vê-se em Lucas 22:69 – “Desde agora o Filho do homem se assentará à direita do poder de Deus” – e em Atos 7:56, por ocasião da morte de Estevão, o primeiro mártir da Igreja, que viu o “Filho do homem em pé à direita de Deus”; mas aparecendo também em passagens que indicam que ele voltará sobre as nuvens com poder e glória (Mt.24:30), e que, por fim, se assentará no trono da sua glória (Mt.25:31).

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