opinião
O mundo está deixando de ser redondo?
“Na confusão, busca a simplicidade; na discórdia, busca a harmonia; na dificuldade, está a oportunidade”
Colombo zarpou da Espanha com as caravelas Santa Maria, Pinta e Nina, com o objetivo de descobrir um caminho mais curto para a Índia. Ele imaginava que, atravessando o Atlântico, haveria um caminho mais rápido para chegar até as Índias Orientais; ele acreditava na tese de que o mundo era redondo.
Em 1492, Colombo não chegou à Índia, como desejava, mas descobriu um novo continente no meio do Atlântico, o chamado Novo Mundo. Ele regressou à Espanha e provou para todos, diante do Rei Fernando e da Rainha Isabel, que a terra de fato era redonda. Esta descoberta mudou o mundo, a forma de ver, pensar e de desbravá-lo. Começamos então a pensar globalmente.
Passados mais de 500 anos, no século XXI, não mais na era dos descobrimentos de novas terras, chegamos até a era das grandes descobertas tecnológicas e do almejado “cheap, fast and good” – o que todos desejam: “barato, rápido e bom”. E agora, na mão inversa, grandes corporações estão provando que o mundo é plano, ou quase isso. Empresas com Microsoft, HP, WalMart (que, se fosse um país, estaria na lista dos maiores clientes da China, a frente de, por exemplo, Canadá e Austrália), UPS, FEDEX, IBM, Coca Cola, G.E. e os 13.000 McDonalds espalhados pelo mundo fazem parte desse grupo.
O call center da Delta Airlines, instalado em Bangalore na India, onde também está o da Jet Blue, que vai para casa das vovós mórmons do estado de Utha, são exemplo do que estas mega-empresas estão fazendo, a cada dia do mundo globalizado, por um mundo plano. Isso tem muitas implicações. Esta é a tese de Thomas L. Friedman, autor do Best Seller: “O Mundo é Plano – Uma breve história do século XXI”, um livro imperdível para pastores, líderes e missionários, que precisam estar conscientes das causas de muitas mudanças do mundo globalizado, que atingem em cheio a vida, o comportamento e a cultura do nosso mundo.
Apesar disso, a obra, por vezes, traz algumas afirmações voltadas ao patriotismo, como o questionamento do que aconteceria no mundo se os Estados Unidos criassem barreiras para entrada de produtos. Ele esqueceu de incluir em sua pesquisa a grande barreira protecionista que os EUA têm mantido nesse caso, como por exemplo contra a carne bovina brasileira, bem como o aço, barreira esta que só começou a cair agora em 2007. Mas isso é algo que todos nós esperamos quando lemos um livro desta natureza, produzido nos EUA.
O autor apresenta, de forma impecável, as dez forças que achataram o mundo, começando pela Queda do Muro de Berlim em 9 de novembro de 1989, quando “os muros ruíram e as janelas se abriram”, passando pelo 11 de setembro, até o mundo digital e virtual.
Desde a primeira instalação de um sistema de fibra ótica comercial, em 1977, e o primeiro PC, disponibilizado pela IBM em 1981, até as buscas e pesquisas realizadas aos milhões diariamente pelo Google, Yahoo, MSN, as coisas estão mudando numa velocidade inimaginável. O mundo está cada dia mais plano, quer dizer, o mesmo acesso que um estudante de Harvard, em Boston, tem, para pesquisar informações na rede mundial de computadores, na Wikipédia, por exemplo, também tem um aluno secundarista de uma escola pública de uma favela carioca.
É o “milagre” da World Wide Web. Ao mesmo tempo, acabei de ler, na internet, sobre a abertura de loja da rede americana Starbucks Coffe (que aportou no Brasil com duas lojas em São Paulo); a mesma gerou protestos ao abrir uma loja dentro da Cidade Proibida em Beijing. O fato é, mesmo que existam tentativas isoladas de um pseudo-neo-socialismo no ar, camuflado do que existe de pior no mundo, ou seja, a força, ditadura e falta de liberdade de expressão e de religião, o mundo continuará seu caminho para ser plano, porque todo ele deseja tudo “just in time” e “on-line”.
Ainda assim, de forma muito impactante, o autor chega à conclusão de que o MUNDO NÃO É PLANO. Com muita propriedade ele aborda o porquê disso, levantando as grandes desigualdades e abismos sociais, educacionais e financeiras instaladas no mundo; questões como HIV-AIDS, doenças curáveis como tifo, malária e tuberculose, que matam milhões em pleno século XXI, o problema da água e da eletricidade.
Fora dos EUA, você pode salvar uma vida com US$ 100,00. Ele também não deixa de analisar a questão do aquecimento global e poluição do planeta, como por exemplo a situação de Beijing, na China, com 802 novos carros por dia na cidade, número que cresce constantemente, cerca de 24% ao ano (se incluir os usados, são 30.000 vendidos por dia, só na capital da China). E também da insegurança mundial gerada pelo terrorismo.
O autor apresenta números que nos fazem pensar, como os da apresentação do Relatório de Desenvolvimento Humano Árabe, preparado em 2003 pela ONU, que mostram, por exemplo, que entre 1980 e 1999, todos os países árabes produziram 171 patentes; no mesmo período só a Coréia do Sul registrou 16.328, e a HP registra 11 por dia em média.
O número de engenheiros e cientistas é de 378 para cada milhão de habitantes entre os países árabes, na América Latina e Ásia é de 979. Somente 1,6% da população árabe têm acesso à internet, mas são 5% da população mundial. Ao demonstrar isso, o autor manda um recado firme para os países financiadores do terrorismo, mostrando o quanto deveriam estar investindo em tecnologia e educação.
Mesmo que o mundo plano traga muitos problemas e desafios, precisamos pensar como Albert Einstein, citado por Friedman para abrir o 7º capítulo: “Na confusão, busca a simplicidade; na discórdia, busca a harmonia; na dificuldade, está a oportunidade”. Penso que, possivelmente, ele buscou inspiração nas palavras do judeu-cristão Paulo de Tarso.
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