estudos bíblicos
O que a Bíblia diz sobre política?
Como o cristão deve lidar com a política e a separação da Igreja e do Estado.
Há algumas acepções filosóficas ou sociológicas diferentes para a palavra política, mas nesta lição nós trabalharemos com seu conceito mais usual.
O Dicionário de Filosofia de Nicola Abbagnano cita Wolff, que definiu assim política: “a ciência de dirigir as ações livres na sociedade civil ou no Estado”.
Esta é a ciência ou a arte política (“a arte de governar) à qual se faz referência mais frequente no discurso comum. Embora o tema seja indigesto para muita gente, é impossível falarmos de ética cristã e não abordarmos esse assunto.
Ainda mais em virtude de estarmos em um ano de eleições, torna-se necessário que reflitamos a partir da Palavra de Deus sobre qual deve ser o posicionamento e a relação do cristão com a política.
Uma perspectiva bíblica da política
Antes de tudo, dizemos categoricamente: a Bíblia não é contrária à política, e em lugar nenhum de seus 31.173 versículos está sugerido que um crente não deva envolver-se em questões políticas, como se devendo considera-las algo inapropriado.
Ao mesmo tempo em que a Bíblia não sugere diretamente que cristãos devam concorrer a cargos políticos, para legislar ou governar, também não proíbe fazê-lo.
Foi Deus, não o diabo, que instituiu os governos: “não há autoridade que não venha de Deus”, diz Paulo (Rm 13.1). A administração pública pode ser uma dádiva de Deus tanto para fazer o bem ao cidadão íntegro, como para punir o mal na sociedade (v. 4).
Não é debalde que Jesus tenha dito aos que o perguntavam sobre a licitude de se pagar imposto ao governo: “Dai a César o que é de César…” (Mt 22.21). Pedro orienta que honremos ao rei (1Pe 2.17).
Orar pelos políticos
Paulo exorta-nos orar “pelos reis e por todos os que estão em eminência” (2Tm 2.2), e há duas razões para isto:
1°. Para que desfrutemos de uma vida quieta e sossegada (1Tm 2.2).
Assim, Paulo, com clara percepção das atribuições dos governantes, demonstra que a ordem social passa pela gestão pública dos que governam. Para quem acha que Deus deve mandar anjos para resolver todos os nossos problemas, ou fazer um milagre para cada crise social que enfrentamos, Paulo estabelece um caminho ordinário: orar para que Deus ajude os políticos na gestão dos recursos e no cumprimento do dever para com a sociedade.
2°. Para que a salvação de Deus alcance os que estão no poder, visto que Jesus também morreu em favor dos políticos (1Tm 2.4,6).
Todo pecador, seja ela quem for, precisa do Salvador Jesus. E certamente as “casas de poder” necessitam tanto de salvação quanto as “casas de meretrizes”! Observe algo aqui: Paulo não diz para orarmos para que os salvos abandonem a política, antes diz para orarmos para que Deus salve também os governantes, a fim de que tenhamos legisladores e governadores salvos, santos e sábios!
Compreendemos que em virtude dos desmandos na política brasileira, e devido a estes tempos de generalizada corrupção nas mais diversas instâncias de poder, corrupção esta que já vai enchendo as páginas dos noticiários e as celas de prisões federais (nunca se ouviu falar de tanto político preso como em nossos dias!), a sociedade de modo geral comece a alimentar uma aversão à política e aos políticos. Assim, aquela velha alienação da política insiste em se perpetuar também na igreja, através de discursos como “cristão e política não se misturam” ou “a política corrompe”. Corrijamos estas falácias:
“Cristão e política não se misturam”.
Então o que faremos com José no Egito, governando como primeiro ministro do faraó? Que faremos com Davi, rei de Israel? Que faremos com Daniel, Mizael, Hananias e Azarias, ministros do império de Babilônia? Que faremos com Neemias, governador de Judá no pós-exílio babilônico?
Que faremos com Ester, rainha na Pérsia através da qual Deus livrou os judeus da morte já decretada? Não eram estes verdadeiros servos do Senhor enquanto exerciam cargos políticos?
Não os chamamos de “cristãos” exatamente, porque viveram antes de Cristo, mas são crentes do Antigo Testamento, cujo exemplo de vida está posto como referencial para nós, crentes da nova aliança.
O cristão é sal da terra e luz do mundo, e é nos ambientes diversos da sociedade que o cristão tem que salgar e iluminar! Não fomos chamados para resplandecer debaixo da mesa, mas sobre os montes; não fomos chamados para ficar enclausurados nos saleiros, mas para dar o tempero e preservar a sociedade em nossa volta.
“A política corrompe, por isso não convém ao cristão”
Então vamos entregar a política nas mãos dos ímpios por causa disso? Salomão dizia que “Quando os justos florescem, o povo se alegra; quando os ímpios governam, o povo geme” (Pv 29.2).
Ninguém precisa renegar a política em nome da ética, da moralidade e da santidade, a menos que se veja incapaz de resistir as tentações e influenciar para a reversão dessa cultura de mentiras, corrupções e distorções dos valores.
Se a Igreja insistir na alienação da política, quem irá erguer a voz em favor dos necessitados? Quem fará resistência à tentativa de deseducação de nossas crianças através de projetos de lei que querem colocar ensinos perversos como ideologia de gênero nas escolas?
Quem cobrará que a justiça seja feita pelo pobre? E se políticos no futuro quiserem proibir o acesso aos hospitais e presídios para proclamação do Evangelho?
E se a liberdade de religião e culto for restringida? E se altos encargos começarem a serem cobrados das igrejas, na tentativa de frear a expansão dela na sociedade?
E se pregadores começarem a ser punidos com prisão e multa devido se oporem à homossexualidade, aos vícios e à própria corrupção política? Ficaremos “deitado eternamente em berço esplêndido, ao som do mar e à luz do céu profundo” enquanto projetos de lei que visam banalizar o aborto sejam aprovados e levem milhares de crianças às latas de lixo em clínicas abortistas?
Esperaremos Deus fazer as pedras clamarem em nosso lugar, como prova de nossa grosseira omissão em nome de uma pseudosantidade?
Citando como exemplo José no Egisto, Daniel na Babilônia, Neemias e Ester na Pérsia, Nicodemos e José de Arimatéia no Sinédrio Judaica, o erudito pentecostal Abraão de Almeida é assertivo: “A Bíblia nos mostra o quanto podem fazer em prol do bem-estar social pessoas de caráter que ocupem cargos de responsabilidade no governo”.
A separação do Estado da igreja: uma herança protestante
Há dois extremos nas quais a Igreja não pode cair: alienar-se da política, tratando-a como coisa vã e entregando-a aos ímpios, nem pode, por outro lado, aliar-se a política numa relação de barganha que confunda os papéis de ambas e enfraqueça a visão e a missão dela no que concerne à adorar a Deus, anunciar Jesus e transformar a sociedade mediante a proclamação do Evangelho e a defesa dos bons valores cristãos.
Tempos de perseguição movida pelo Estado
Durante os três primeiros séculos depois de Cristo, os cristãos sofreram duras perseguições movidas por imperadores romanos pagãos e inimigos da fé cristã.
O que dizer dos tiranos Nero (século I) e Diocleciano (séculos III e IV), sob mando de quem o sangue de muitos inocentes cristãos foi derramado? Gregório de Tours fala sobre a violência de um destes malignos imperadores romanos: “muitas perseguições se levantaram contra o nome de Cristo, e houve tamanha carnificina de fiéis que eles não podiam ser contados”.
Tempos de conciliação promovida pelo Estado
Entretanto, com o famoso Édito de Milão, essa onda de violência movida pelo Estado romano começou a mudar e caminhar numa direção oposta.
O Édito de Milão, promulgado em 13 de junho de 313 (século IV), foi um documento proclamatório no qual se determina que o Império Romano seria neutro em relação ao credo religioso, acabando oficialmente com toda perseguição sancionada oficialmente, especialmente aos cristãos.
Tal documento, publicado em forma de carta, transcreveu o acordo entre os tetrarcas Constantino (imperador do Ocidente) e Licínio (imperador do Oriente).
Avançando um pouco mais nessa relação de paz entre o Estado e a Igreja, o imperador Teodósio, no final do quarto século, decretou o Édito de Tessalônica, pelo qual o Cristianismo foi feito a religião oficial do império romano.
Embora geralmente se atribua a Constantino tal façanha, devido sua própria relação amistosa com os cristãos, a oficialização do cristianismo no império só veio em 380 com o decreto de Teodósio.
Essa aliança (ou seria fusão?) entre Igreja e Estado perdurou durante toda Idade Média. A princípio, a paz e a liberdade que os cristãos passaram a gozar no império romano pareceu valer a pena tal aliança, mas não se demorou muito para perceber como a política começou a corromper a Igreja e desviá-la de sua missão primordial, além de transformá-la numa máquina de guerra.
Tempos de separação entre a Igreja e o Estado
Mas no final da Idade Média (século XVI), em meio ao fermento da idolatria há muito instaurada no catolicismo romano, às ambições políticas dos papas, à corrupção moral do clero e às ameaças das fogueiras da Inquisição contra quem protestasse contrário ao status quo da Igreja, um forte coro de vozes de fora da Igreja (filósofos, artistas, políticos, etc.) e vozes dentre os cristãos começaram a ser erguer clamando, entre outras queixas, pela separação entre a Igreja e o Estado, por maior liberdade individual, e o retorno ao Cristianismo primitivo dos apóstolos, onde mesmo não gozando de prestígio político (“tendo pouca força” – Ap 3.8), a Igreja avançava transformando comunidades onde ela implantava seu trabalho.
Sobretudo a partir da Reforma Protestante (1517), encabeçada pelo monge alemão Martinho Lutero, é que paulatinamente os conceitos de liberdade, tolerância religiosa, democracia e Estado Laico foram alçados ao status de direitos fundamentais do ser humano.
A Reforma Protestante não curou de vez a doença da Igreja-Estado ou Estado-Igreja, inclusive alguns reformadores renomados usaram e abusaram da autoridade do Estado para promover perseguição a outros protestantes, católicos, hereges ou pagãos que discordavam de pontos doutrinários fundamentais do Protestantismo.
Mas a Reforma trouxe o remédio que, administrado pouco a pouco, foi resgatando os papéis distintos de cada uma destas entidades, Igreja e Estado.
Distinções dos papéis do Estado e da Igreja
As obrigações do Estado, ou seja, do governo de uma nação, é prover recursos intelectuais, sociais e materiais para o desenvolvimento de uma sociedade justa, livre e harmônica, na qual se possa ver: geração de emprego e renda, educação escolar, cuidados com a saúde pública, segurança, respeito aos direitos do cidadão, etc. As palavras constantes em nossa bandeira nacional – ORDEM E PROGRESSO – são atribuições inerentes do Estado: garantir a ordem social e promover o progresso da nação. A Carta Maior do Estado é a sua Constituição Federal.
As obrigações da Igreja, embora não alheias às necessidades sociais dos cidadãos, diz respeito prioritariamente à oração por todos os homens, inclusive os que exercem liderança governamental para desfruto de dias quietos e sossegados; proclamação e ensino sistemático do Evangelho para salvação dos homens; defesa firme dos bons valores éticos e morais que garantam a ordem da família e da sociedade; e, secundariamente, auxílio às entidades públicas no que diz respeito à ordem social, especialmente quanto a recuperação de viciados, drogados e delinquentes, e sempre conferindo maior fé à Bíblia sagrada como a Carta Magna de todo universo, e que é poderosa para salvar e transformar qualquer pecador (Rm 1.16; Tg 1.21).
Colaboração entre Igreja e Estado
Não obstante a separação, fato é que a Igreja deve contribuir com o Estado e a sociedade em geral, enquanto prega o Evangelho de paz, da justiça e da libertação, ressaltando a liberdade para que os homens foram criados e a dignidade de uma vida abundante proposta no Evangelho.
Veja-se, por exemplo, a própria Escola Dominical que tem funcionando como um poderoso instrumento de construção de cidadania, desde as suas origens na Inglaterra do século XVIII quando o jornalista inglês Robert Raikes, crente congregacional, resolveu fazer mais pela sociedade que imprimir notícias ou fazer trabalhos de ressocialização com presos nas cadeias.
O trabalho do irmão Raikes junto às crianças de Gloucester (Inglaterra), oferecendo a elas um pouco de civilidade e religiosidade, somado ao grande avivamento metodista (liderado pelos irmãos Wesley e pelo pregador do ar livre George Whitefield), contribuiu para salvar o seu país de uma terrível degradação moral e social. Não deve, em virtude de tal contribuição dada pela Igreja, o Estado, em contrapartida, ao menos viabilizar a liberdade da Igreja para realizar o seu trabalho?
Como diz o Pr. Antônio Gilberto, decano da Escola Dominical no Brasil, “A Escola Dominical também coopera eficazmente com o lar, na formação de hábitos cristãos legítimos, práticas e deveres sociais bíblicos, resultando na formação do caráter ideal, segundo princípios do genuíno cristianismo” (Antônio Gilberto, A escola dominical, 3 ed., CPAD, p. 9). Isso é ser sal da terra e luz do mundo!
Se por um lado, a política suja pode corromper um crente fraco, por outro lado, um crente justo e íntegro pode trazer saúde a uma política corrompida e enferma! Veja-se, por exemplo o caso de William Wilberforce, cujo legado foi deixado não só para a igreja, mas para o mundo!
William Wilberforce (24 de agosto de 1759 — 29 de julho de 1833) foi um político britânico, filantropo e líder do movimento abolicionista do tráfico negreiro. Começou sua carreira política em 1780 como candidato independente, sendo deputado do condado de Yorkshire entre 1784 e 1812.
Em 1785 converteu-se ao cristianismo e em 1787 conheceu Thomas Clarkson (abolicionista britânico) e um grupo abolicionista ao tráfico negreiro que incluía Granville Sharp, Hannah More e Charles Middleton, importantes nomes da época e que juntos persuadiram Wilberforce a entrar também na causa.
John Wesley, pregador inglês que já havia dado seu apoio ao movimento das escolas dominicais, também enviou cartas à Wilberforce dando seu apoio à causa abolicionista. Assim, Wilberfoce logo se destacou tornando-se líder do grupo britânico abolicionista, liderando uma campanha no parlamento inglês contra o tráfico de escravos que resultou, em 1807, na aprovação do Ato contra o Comércio de Escravos.
A liberdade e a dignidade humana dos negros africanos foram exaltadas pelo insistente compromisso daquele político cristão. Você pode assistir inclusive ao filme Jornada pela liberdade (ano: 2006, título original: Amazing Grace), que conta a história de luta deste parlamentar britânico contra o comércio de escravos. Há uma cena, que é uma das minhas preferidas, onde o grupo abolicionista está conversando com Wilberforce e lhe diz:
– Sr. William Wilberforce, sabemos que está tendo problemas em escolher se vai ficar a serviço de Deus ou a serviço da vida política. Nós humildemente sugerimos que faça as duas coisas.
Como o cristão deve lidar com a política
Creio que o Salmo 101 seja um dos mais interessantes textos bíblicos sobre o perfil de um líder ideal, seja ele líder no ambiente político, seja no ambiente eclesiástico.
Neste Salmo do rei Davi, encontramos uma espécie de carta de compromisso de um governante para com a integridade em seu governo.
Detenhamo-nos um pouco no estudo deste Salmo, pois creio que ele deveria ser lido, estudado e tomado como referencial especialmente por aqueles que pleiteiam cargos políticos em nossa nação, mas também serve a nós, eleitores, na medida em que nos oferece um perfil ideal de um bom político.
Versos 1 a 4: a integridade espiritual e moral do governante
Nestes primeiros versos, Davi expressa sua devoção ao Senhor e seu compromisso de viver a retidão. Ele anseia pelo auxílio do céu – “quando virás ao meu encontro?” (NVI) – e compromete-se a viver em integridade na sua casa (v. 2), que é seu lar, seu ambiente doméstico, lugar privado. O mal e a conduta dos infiéis é abominável para Davi; ele não quer se envolver com os “perversos de coração” (v. 4).
Como seria bom que nossos políticos tivessem temor a Deus e não agissem com hipocrisia quando diante das câmeras ou em ambientes públicos!
Como seria bom se a integridade de caráter começasse em casa, no ambiente privado, onde muitas vezes reuniões secretas são feitas para deliberar desvios de verbas públicas, corrupção no poder e leis injustas para oprimir os pobres.
Como seria bom se os políticos desejassem como Davi pelo constante auxílio de Deus! Ao menos é assim que deve agir um político cristão, sabendo que é Deus quem dá sabedoria para governar: “Por mim governam príncipes e nobres; sim, todos os juízes da terra” (Pv 8.16).
Versos 5 a 8: compromisso de zelo no governo
Nestes versos, Davi assume o compromisso de afastar da corte os servidores mentirosos, caluniadores, arrogantes, fraudadores, e até de eliminar “todos os malfeitores da cidade do Senhor” (v.8).
Mais provavelmente não significa que Davi iria destruí-los fisicamente, mas eliminá-los da vida pública, exonerando-os de seus cargos, caso percebesse a má conduta deles.
Quando Davi diz “Meus olhos aprovam os fiéis da terra, e eles habitarão comigo. Somente quem tem vida íntegra me servirá” (v. 6), ele está firmando um pacto de cercar-se apenas de pessoas idôneas em seu governo.
Visto que este é um salmo também com conotações messiânicas – Jesus é o Davi perfeito! – então é possível enxergarmos o prenúncio do governo milenar de Cristo, servido de seus santos servos, aos quais ele constituiu reino e sacerdócio (Ap 5.10).
Mas, antes disto, está aqui um compromisso que todo político deveria assumir, o de aliar-se apenas a pessoas com vida íntegra. Como dizia Paulo, “as más conversações corrompem os bons costumes” (1Co 15.33), e como diz o adágio popular: “Diga-me com quem andas, e direi quem tu és”.
O versículo 7, assim como o 6, geralmente é citado como se fosse uma fala de Deus em relação aos que usam de engano e que não permanecerão na Igreja.
Todavia, é o próprio Davi falando de seu compromisso em afastar da corte os mentirosos e enganadores. Salomão compreendeu uma das razões disto: “O governador que dá atenção às palavras mentirosas, achará que todos os seus servos são ímpios” (Pv 29.12).
Davi não queria politicagem em seu governo, ele queria integridade! O rei da Pérsia, Dario, procedeu uma limpeza em seu governo quando eliminou os inimigos de Daniel, devido a imoralidade deles (Dn 6.3,4,24).
Que políticos queremos para nos governar?
Davi não queria estabelecer alianças com mentirosos, corruptos, e especialmente com aqueles que até já foram condenados pela justiça por crimes cometidos durante mandatos políticos.
Aqui, creio, há uma lição para todos nós cristãos: queremos que políticos flagrados em atos ilícitos continuem ou voltem ao poder? Queremos que políticos condenados por desvio de dinheiro público voltem a governar ou legislar em nossa nação? A população brasileira clamou pela criação da Lei da Ficha Limpa, e agora que ela está regulamentada iremos dar nosso voto de confiança a políticos cheios de sujeira moral?
Como Davi, deveríamos ter repulsa contra a ideia de mentirosos e enganadores estarem no poder. Os tais deveriam ser banidos da política! E se alguém acha que não deveríamos ter tal anseio, eu digo: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos” (Mt 5.6).
No mais, além de orar pelos, votar em e cobrar dos políticos o cumprimento de suas promessas políticas (desde que adequadas à justiça e aos bons valores, pois há promessas que seria bom não serem cumpridas mesmo!), precisamos em última instância entender que que há coisas que somente o Evangelho pode fazer pelo nosso povo.
O perfeito governo do Príncipe da paz
O problema do país antes de ser econômico e político, é espiritual. O homem sem Deus é totalmente depravado, e vive segundo suas inclinações carnais. Somente o sangue de Cristo pode lavá-lo e somente a Palavra pode transformá-lo. Como Armando Filho cantava há décadas atrás,
“Dos homens não vem solução
Prá restaurar esta nação
Os salvadores vão surgir
Promessas não vão se cumprir
‘Ninguém segura este país’
É o que se ouve é o que se diz
Mas lá no céu no trono está
Um Deus poderoso, seu Nome é Jeová
Só Ele pode este quadro mudar”
Chegará o dia em que o “Príncipe da Paz” (Is 9.6) virá para reinar. Ele não ascenderá ao trono por votação e escolha dos homens, mas por desígnio do Pai que lhe deu um nome que está acima de todo nome (Fp 2.9).
Quando ele vier, destruirá todos os poderes humanos (Dn 2.32), maculados pelo pecado e influenciados por satanás, arrancará pelas raízes aos ímpios e os lançará no fogo (Ml 4.1), estabelecerá um governo de paz que satisfará nosso anseio por justiça.
Infelizmente, a despeito de todo o bom desejo de Davi, registrado no Salmo 101 como vimos, aquele famoso rei de Israel falhou em cumprir sua própria agenda política.
Davi mesmo caiu em erros que ele condenava (veja o caso de seu adultério com Bate-Seba, a morte premeditada do marido dela, Urias, e toda desgraça que caiu sobre a casa de Davi em consequência disto).
Todavia, o “filho de Davi” não falhará! Jesus nunca caiu nem cairá!
Ele é perfeito em tudo, “O qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano” (1Pe 2.22). Somente no governo de Cristo veremos se cumprir plenamente esta palavra: “E o efeito da justiça será paz, e a operação da justiça, repouso e segurança para sempre” (Is 32.17).