opinião
O que é benção? O conhecimento leva à compreensão
Não é pecado buscar as bênçãos. O erro se configura quando fazemos das bênçãos o alvo principal e objeto de culto.
Esta é uma palavra comumente utilizada no dia a dia das pessoas, seja na expressão do desejar o melhor a alguém, seja no desejo de alcançar uma graça do Ser divino. Esse breve texto tem a finalidade de esclarecer alguns contextos de uso deste termo segundo a bíblia.
Abençoar, no hebraico, é “barach”. A raiz dessa palavra possui algumas variações: vrachá (benção); berech (ajoelhar) entre outras. O sentido hebraico desta palavra é: “conceder poder a alguém para alcançar prosperidade, longevidade, fecundidade, obter sucesso e muitos frutos.” No latim “benedictio” refere-se à ação de louvar, bendizer, proteger ou consagrar algo ao culto divino ou invocar a bênção divina a favor de alguém ou de si mesmo.
Na língua portuguesa assumiu novos aspectos, dentre outros, o de toda providência divina que vem para suprir nossas necessidades ou de outrem.
Em ambas as línguas o seu significado é relevante. A ideia de Benção como transmissão de autoridade como se vê na orientação de Deus para Arão abençoar seus filhos: “Deus te abençoe e te guarde e faça resplandecer o Seu rosto sobre ti…” (Nm 6.22-24). Parafraseando: “Deus te conceda poder e autoridade para que você seja bem sucedido, próspero, fecundo, fértil e que tudo te multiplique…” que você resplandeça a imagem e semelhança do Criador, Sua própria natureza. Daí a importância de passarmos essa orientação adiante: “transmitir” essa autoridade em nome de Jesus: os pais abençoarem os filhos; o marido abençoar a esposa, o sacerdote ao povo, o patrão aos seus subordinados e assim por diante.
Outro aspecto significativo foi a expressão divina para Abraão: “[…]Sê tu uma benção”… (Gn12:2). O Sentido desta não é “tenha” Abraão uma benção, mas, sim, “seja” Abraão uma benção. Isto é significativo, tendo em vista que, caso ele “tivesse” a benção, traria a ideia de que esta era algo de si mesmo. Nesse contexto, o objetivo era mostrar que sendo Abraão uma benção, isso não era algo dele mesmo, mas que existia para ele. Em outras palavras, Abraão não seria nada se Deus não o desse. Como foi Deus que o fez, este se tornou uma benção para si mesmo e sua família em seus dias, para seu povo Israel e para o mundo.
A discussão a partir desse ponto é a de “benção” como sinônimo de “providência” divina para nossas necessidades na perspectiva comum, digamos assim. Quando recebemos as BENÇÃOS, comumente temos uma alteração em nossas emoções: nos alegramos, pulamos e etc. No entanto, quando estamos servindo à Deus e as coisas não vão bem, a provisão que esperamos não chega já dizemos que não somos ou não fomos abençoados. Nos esquecemos que, como no caso de Abraão e outros ícones bíblicos do AT e NT, até alcançarem a porção maior (percebam que não disse a totalidade – caso de Abraão por exemplo) da benção tiveram alegrias e tristezas, altos e baixos, percalços no caminho. Porque digo isso? Para desconstruir esse conceito deturpado de que ser cristão não pode haver lutas ou provações (não pode adoecer porque serve a Deus; não pode estar em dificuldades financeiras porque é servo de Deus, não pode isso, não pode aquilo…).
Esta não é a mensagem do evangelho de Jesus, haja vista, que a verdadeira mensagem produz no cristão não uma paz para viver do mundo, mas, sim, uma esperança viva que o faz ter esperança e estar em paz no mundo. Leva-o ao entendimento que as bênçãos de Deus envolvem o prazer como também a dor e, esta última não o faz desfalecer porque a sua fé está firmada na Rocha que é Cristo. Este não vive para obter as bênçãos que a fé em Cristo possibilita, mas vive para o Cristo que o contempla deliberadamente com as mais ricas e preciosas bênçãos. Desta forma, sua esperança é viva, sua fé é forte e seu relacionamento com Deus sólido e estável. Infelizmente, em nossos dias, muitas pessoas vão aos templos com um único objetivo: receber bênçãos de Deus.
Não é pecado buscar as bênçãos. O erro se configura quando fazemos das bênçãos o alvo principal e objeto de culto, e das dádivas divina o nosso deus. Em outras palavras, as bênçãos recebem a atenção principal do culto, as mensagens deixam de ser cristocêntricas e passam a estar centradas apenas nas necessidades das pessoas fazendo com que Deus deixe de receber atenção que lhe é devida e o foco passa a ser o sujeito, sua necessidade e as mensagens de provisão divina em favor do “fiel”.
Isto não quer dizer que Deus não se preocupe com a necessidade do cristão. Não é isso. No entanto, quando Jesus ensina um modelo de oração em Mateus 6.9-13 Ele mostra nos versículos 9 e 10 que o objetivo primário de nossa busca por Deus deve ser adorá-lo e glorificá-lo e, posteriormente, buscar sua providência para nossas necessidades.
Portanto, ao fazermos uso desta expressão em favor de alguém ou buscarmos ser beneficiados pela mesma em oração tenhamos em mente suas implicações para que contribuamos para a compreensão de seu verdadeiro significado. A contemplação com esta, seja na transmissão de autoridade, no recebimento do favor divino na longevidade ou na provisão das necessidades, esta só é possível em Deus e deve ser desejada para glória do seu Nome.