estudos bíblicos
Orando sem cessar
Subsídio para a Escola Bíblica Dominical da Lição 13 do trimestre sobre “Batalha espiritual”
Ao longo deste trimestre já vimos falando sobre a importância da oração para vitória nas batalhas espirituais. Hoje, porém, dedicamos uma Lição para tratar deste tão importante assunto. Agora, ressalto desde o começo: não basta estudar sobre oração, mais do que isto precisamos nos dedicar a prática da oração! Como dizia Samuel Dickey Gordon, os grandes da terra hoje são os que oram; não me refiro aos que falam sobre oração, nem aos que creem na oração, nem ainda aos que sabem explicar os méritos da oração; refiro-me às pessoas que separam tempo para orar e oram! Professores e alunos da EBD, não nos contentemos em falar corretamente sobre a oração, oremos sem cessar!
I. A oração
1. Definição
Uma das primeiras coisas que a criança aprende na vida é a falar com Deus, especialmente se seus pais são cristãos devotos e que praticam em casa o que a Bíblia ordena: “ensina a criança no caminho que deve andar…” (Pv 22.6). Com a palma das mãos colada uma na outra, a criança se põe a repetir: “Papai do céu, obrigado…”. Sem o tecnicismo dos compêndios de teologia, qualquer pessoa sabe definir o que é oração, pois o aprendeu desde a infância. Oração é a comunicação com o céu; orar é falar com Deus. Já dizia uma canção antiga que o telefone do céu é a oração.
Matthew Henry, piedoso teólogo reformado do final do século 17 e início do século 18, dizia que ao passo em que a Bíblia é uma carta que Deus nos enviou, a oração é uma carta que nós enviamos para Deus. Você costuma mandar cartas para Deus todos os dias?
2. Oração e batalha espiritual
Há muitas formas, inclusive poéticas, de definirmos a oração. Entretanto, visto que estamos finalizando um trimestre cujo tema geral é batalha espiritual, tema este que norteou cada um dos nossos estudos dominicais, devemos ressaltar que a oração é também uma arma de defesa contra as adversidades enfrentadas no dia a dia. Pela oração obtemos poder do alto e nos fortalecemos, e pela oração nos abrigamos no esconderijo do Altíssimo onde encontramos descanso para nossa alma (Sl 91.1).
Sem oração, o crente está fragilizado, privado de discernimento, desatento aos ardis de Satanás, indiferente à vontade de Deus e tateando no escuro em meio ao campo de batalha. Não à toa Lutero dizia: “Se eu não orar as duas primeiras horas do dia, o diabo terá me vencido o dia inteiro”. Daí o porque de Paulo insistir no assunto da oração ao final da descrição da armadura de Deus. Ele fala tanto de “oração” como de “súplica” – que é o que fazemos quando oramos a Deus necessitados de algum urgente auxílio celestial (Ef 6.18). Todos conhecemos a máxima da oração: muita oração, muito poder; pouca oração, pouco poder; nenhuma oração, nenhum poder. Não há atalhos, truques ou habilidades humanas que possam compensar o nosso fracasso na oração!
3. Exemplos bíblicos
Desde que o homem perdeu a conexão direta com o Senhor no Éden, fez-se necessário essa conexão indireta (que não é face a face) através da oração (Gn 4.26). Nosso pecado não torna Deus mudo, mas deixa-nos surdos para ouvi-lo! (Is 59.1) Não vemos a Deus, mas, se nos aproximarmos com fé e humildade, podemos falar com Ele e ouvi-lo. “Clama a mim e responder-te-ei”, ele nos promete (Jr 33.3). Com certeza cada um de nós teríamos um ou muitos exemplos para contar de orações que foram respondidas pelo nosso Deus.
A Bíblia está repleta de homens e mulheres de Deus que foram movidos em seu íntimo para uma vida constante de oração, mas destaco dois que não são muito citados: Ana, no Antigo Testamento, e Epafras, no Novo Testamento.
A irmã Ana, esposa de Elcana, orava com angústia de espírito, suplicando a Deus por um filho. Na batalha espiritual travada em sua mente devido às ofensas que a outra esposa de Elcana lançava contra ela, humilhando-a diariamente por ser estéril, Ana não revidou com palavras, ameaças ou agressões, antes, “com a alma amargurada, chorou muito e orou ao Senhor” (1Sm 1.10ss). Tamanha era a dor no coração daquela serva do Senhor, que às vezes ela nem conseguia falar, apenas “seus lábios se mexiam, mas não se ouvia sua voz” (v. 13). Todo estresse, toda aflição, toda ansiedade, Ana levava aos pés do Senhor em oração! E pela oração, Deus a fez vitoriosa! Abriu-lhe a madre e deu-lhe muitos filhos (v. 20; 2.21), começando por Samuel – cujo nome significa “Deus ouve”. Sim, Ele ouve! Que mui belo exemplo de paciência e fé em meio ao sofrimento a irmã Ana nos deixa!
Quanto a Epafras, ele era um obreiro da igreja em Colossos e cristão pioneiro naquela cidade (Cl 1.5-8). Tanto um mestre na Palavra como um soldado no exército da oração. Paulo faz menção deste obreiro nos seguintes termos: “Epafras, que é um de vocês e servo de Cristo Jesus, envia saudações. Ele está sempre batalhando por vocês em oração, para que, como pessoas maduras e plenamente convictas, continuem firmes em toda a vontade de Deus” (Cl 4.12, NVI). O verbo “batalhar” no texto grego é agonizomai, que fala da agonia, da luta, da batalha por alcançar alguma coisa. Epafras se empenhava firmemente na oração, suplicando a Deus dádivas em favor de seus irmãos colossenses. É a batalha da intercessão! É quando precisamos superar o desânimo, o sono, a dúvida, a ansiedade, as distrações seculares, as tentações malignas, as fraquezas de nossa carne… para nos dedicarmos à luta espiritual, com o firme objetivo de sermos vitoriosos! Leonard Ravenhill, no seu famoso clássico do final da década de 50, Por que tarda o pleno avivamento?, criticava a apatia espiritual da igreja moderna dizendo que muitos hoje sabem organizar, mas poucos querem agonizar. Temos nós sido crentes como Epafras? Agonizando em oração para ver Deus trabalhar na vida de nossos familiares, amigos e irmãos? Quanto tempo do nosso dia temos dedicado às intercessões? E qual a qualidade dessas nossas orações? São genuínas? Sinceras? Ou mero “cumprimento de tabela”? Que Deus nos ajude a sermos parte desse exército de intercessores!
4. Jesus e a prática da oração
As páginas dos quatro evangelhos estão impregnadas com o hálito da oração de nosso Senhor. Ele começa seu ministério público orando, nas águas do batismo no rio Jordão (Lc 4.21,22), e finda seu ministério na cruz orando (Lc 23.46). Embora não seja dito diretamente nos textos que falam da tentação no deserto, é certo que Jesus se dedicou a longos períodos de oração, assim como ao jejum, naqueles quarenta dias em que foi tentado pelo diabo. Aquele que sabia que algumas castas de demônios não são expulsas senão pela “oração e o jejum” (Mt 17.21), certamente deve ter orado muito para triunfar sobre o maioral dos demônios no deserto. Como já vimos na Lição passada, das batalhas travadas desde o início do ministério no deserto até o Getsêmani, instantes antes da prisão, Jesus nos é apresentado pelos evangelistas como um verdadeiro Suplicante e Intercessor. Ele disse a Pedro: “eu roguei por ti” (Lc 22.32); ele rogou em favor dos discípulos, na famosa “oração sacerdotal” de João 17; até pelos pecadores ele intercedeu (Is 53.12; Lc 23.34).
Agora a pergunta que nos inquieta: se ele que era Deus encarnado precisou orar tanto, quanto mais nós precisamos orar? Que o Senhor produza em nós um avivamento que leve-nos de volta ao altar da oração, pois somente Quando tudo perante o Senhor estiver, e todo o teu ser ele controlar, só então hás de ver que o Senhor tem poder, quando tudo deixares no altar.
II. A oração no sermão do monte
1. Oração nas praças e nas sinagogas
No famoso sermão que proferiu sobre um monte (Mateus 5 – 7), Jesus não proibiu a oração ao ar livre ou em templos religiosos, nem reduziu o ambiente da oração ao quarto de porta fechada. A censura de Jesus foi aos religiosos “hipócritas” que buscavam “serem vistos pelos homens” (Mt 6.5). Ou seja, não era o que eles faziam nem onde faziam, mas a intenção com que faziam que foi objeto de crítica da parte do Senhor. O apóstolo Paulo nos exorta a orar “em todo lugar” (1Tm 2.8), e em “todo o tempo” (Ef 6.18). Portanto, se fizermos com sincera devoção ao Senhor, e não para exibicionismo e autogratificação, podemos orar nas ruas, nas praças, no ambiente de trabalho ou estudos, em hospitais, na hora das refeições, em companhia de pessoas ou sozinhos. Podemos falar com Deus em qualquer lugar e a qualquer hora! Mas atentemos para isso: Deus julgará a intenção de nossos corações, mais do que o adorno de nossas palavras.
2. Oração em secreto
A orientação de Jesus para que entremos em nosso quarto e oremos sob porta fechada (Mt 6.6) não implica dizer que somente orações privadas são aceitas por Deus, antes significa que precisamos vencer a tentação para o exibicionismo e também nos disciplinarmos para termos nosso momento particular com Deus. Orações para exibição pessoal feitas em voz alta dentro de um quarto com a porta fechada são igualmente reprováveis diante do Senhor!
Na verdade, muitos de nós estamos precisando fazer como Jacó: cruzar o vau de Jaboque sozinhos para nos encontrarmos com Deus (Gn 32.22-30). Orações em grupo são proveitosas e orações feitas coletivamente são um meio de nos fortalecermos mutuamente; precisamos, porém, garantir que diariamente nos encontraremos com Deus em nosso Jaboque particular. Ainda que nosso cônjuge ou filhos não nos acompanhem, precisamos, sozinhos, buscar a Deus pela nossa família. Senão vejamos ainda o nosso irmão Jó, que toda madrugada oferecia a Deus holocaustos em favor dos filhos. Certamente aqueles holocaustos exalavam um bom perfume às narinas de Deus, não pela fumaça da carne queimada, mas pelas preces paternais oferecidas pelo patriarca.
Oremos em público, mas, muito mais, oremos em secreto! Cada um de nós precisa ter em nossa casa o nosso recinto secreto da oração. Louvo Deus pela vida de Edward Bounds, cujo livro escrito no início do século 20, Poder através da oração, muito me despertou para o hábito diário da oração matinal em minha casa. Como é bom passar momentos a sós com Deus em oração logo ao despontar do dia! Nas palavras de Bounds:
A oração dá inteligência, traz sabedoria, alarga e fortalece a mente. O recinto secreto é um perfeito professor e escola para o pregador. O pensamento não é só iluminado e aclarado na oração. Podemos aprender mais em uma hora de oração, quando oramos realmente, do que em muitas horas no gabinete. Há livros, no recinto secreto, que não podem ser encontrados ou lidos em qualquer outro lugar. Há revelações que não podem ser feitos em qualquer lugar que não seja o recinto secreto. [1]
3. Vãs repetições
Novamente precisamos atentar para os adjetivos usados por Jesus. Ao instruir seus discípulos para que não usasse de vãs repetições na oração (Mt 6.7,8), o destaque recai sobre o termo “vãs”, ou seja, vazias e inúteis repetições. Não é errado repetirmos palavras, expressões ou mesmo petições – o próprio Jesus orou três vezes a mesma oração no Getsêmani (Mt 26.39,44), e também tomou como exemplo uma viúva que repetia insistentemente o mesmo pedido diante do juiz, até que foi ouvida (Lc 18.1ss). O problema são as repetições vazias que, como mantras das religiões orientais, pensam que pelo simples exercício de repetir palavras ou expressões poderá atrair a atenção de Deus.
Orações decoradas e esvaziadas de uma devoção sincera também são praticadas pelos “gentios”, isto é, pelos pagãos não convertidos. Jesus espera que oremos com sinceridade, manifestando reverência, adoração e petições que realmente digam respeito às nossas necessidades. Nesse sentido, é pertinente o conselho de Thomas Boston: “Não dê importância à quantidade de suas orações, isto é, à duração ou ao número delas. Estas coisas nada valem diante de Deus, que não conta, mas pesa as orações”. Evitemos a tentação para os discursos retóricos na oração; Deus não se impressiona com palavreado refinado. É ao contrito e quebrantado de coração que Ele almeja ouvir! (Sl 51.17)
III. O Pai Nosso
1. O nosso Deus
Somos ensinados por Jesus a dirigir-nos a Deus como o nosso Pai, o Pai que ama seus filhos e que tudo provê para eles. O apóstolo João destaca o grande amor com que o Pai nos amou a ponto de conceder-nos ser chamados “filhos de Deus” (1Jo 3.1). Visto que é o Pai nosso que está no céu (Mt 6.9), podemos nos aproximar dele sem medo através da oração, pois Ele tem “pensamentos de paz e não de mal” para nós (Jr 29.11). Entretanto, devemos reverenciá-lo, isto é, santificar o seu nome, tratá-lo com pureza e não com leviandade (por isso, indecência na oração e impureza em nosso proceder diário são abomináveis!).
Este Pai, que é Deus, também é Rei supremo. Por isso Jesus nos ensina a orar “venha a nós o teu reino” (v. 10). Esse pedido deve expressar nosso anseio pela presença de nosso Senhor e da plenitude do seu governo sobre nós. Agora, Charles Finney, no clássico Uma vida cheia do Espírito, nos faz um importante alerta ao clamarmos pelo reino de Deus:
Repetir como um papagaio “Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, na terra como no céu”, enquanto a vida está longe de se conformar com a vontade de Deus, é simplesmente revoltante. Ouvir os homens orarem: “venha o teu reino”, enquanto está mais do que evidente que estão fazendo pouco ou nenhum sacrifício ou esforço para promoverem este reino, é uma refinada hipocrisia.
Peçamos pelo reino, mas vivamos como leais súditos deste reino! Que nossos lábios expressem um sincero desejo do coração de ver o reino de Deus conquistando os corações dos homens, a começar do nosso.
2. As nossas necessidades
Jesus nos ensina a pedir pelo “pão nosso de cada dia” (Mt 6.11), isto é, a nossa provisão diária (não apenas o alimento propriamente). Ou seja, não devemos pedir ao Pai coisas arrogantes e supérfluas, para gastar em nossos prazeres e deleites (Tg 4.3), até porque tal oração não seria atendida por Deus. Nosso Pai sabe do que necessitamos antes mesmo de lhe pedirmos (Mt 6.8), então não adianta insistir em petições por coisas que são inúteis ou que até mesmo se constituiriam um embaraço em nossa caminhada espiritual. Dizer “eu preciso” não vai adiantar muita coisa, pois Ele sabe o que realmente precisamos. E mais: oremos pedindo o pão, e quando Ele nos der, lembremos de orar agradecendo, como Jesus costumava fazer (Mc 8.6,7; Mt 26.27).
Percebamos o que Paulo nos diz: “Dediquem-se à oração, estejam alerta e sejam agradecidos” (Cl 4.2, NVI). Qualquer que seja a resposta de Deus às nossas orações, demonstremos gratidão! Deus sempre sabe o que faz, embora nem sempre saibamos o que pedimos.
3. O livramento dos perigos
Aqui vemos com mais clareza a conexão deste tema – oração – com o tema geral do nosso trimestre na Escola Dominical, que é “batalha espiritual”. Estamos cercados de perigos tanto de ordem espiritual (tentações), quanto física (doenças) ou social (violência), e limitados como somos não podemos nos livrar de todos estes males. Precisamos do auxílio divino, que é onisciente, onipotente e onipresente, para não nos deixar cair em tentação (essa é uma melhor tradução que “e não nos induzas à tentação”, da Almeida Corrigida) e para nos livrar do mal ou do Maligno (como traduzem as versões King James, Bíblia de Jerusalém e Viva).
Como soldados em meio à guerra, estamos cercados de perigos, mas não precisamos temer, pois em oração podemos suplicar o auxílio daquele que é o Senhor dos Exércitos, o Deus de Jacó, Ele é o nosso refúgio! (Sl 46.7,11). O nosso Deus é Deus de livramento! Nesta confiança podemos dizer como Davi: “Em paz me deito e logo adormeço, pois só tu, SENHOR, me fazes viver em segurança” (Sl 4.8).
Conclusão
Com a graça de Deus estamos a concluir o primeiro trimestre de 2019. O assunto batalha espiritual se encerra por aqui, mas a batalha propriamente segue até Jesus nos chamar para o descanso eterno. Assim, de posse de tudo o que aprendemos, vivamos uma vida de constante temor, vigilância e oração, para que dia a dia galguemos vitória após vitória. Estamos debaixo da maravilhosa promessa do Senhor da Igreja: “as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. Graças a Deus!
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Referência
[1] Edward Bounds, Poder através da oração, Editora Batista Regular, p. 87