igreja
Pastor pentecostal condenado por abuso sexual ao ‘exorcizar demônios’
Walter Masocha, de 61 anos, ex-líder da Igreja Ágape para Todas as Nações, foi condenado por múltiplos crimes sexuais cometidos contra duas mulheres no Reino Unido. A decisão do júri do Tribunal Superior em Livingston foi anunciada nesta semana, confirmando sua culpa por tentativa de estupro, agressão sexual e agressão indecente ocorridas entre 2006 e 2012. Masocha, originário do Zimbábue, está sob custódia até a sentença definitiva, marcada para 28 de julho.
Entre as vítimas está uma mulher que tinha 20 anos quando o abuso começou, conforme relatado ao tribunal. Hoje com 39 anos, ela afirmou que Masocha dizia que “Deus a havia entregue a ele” e a proibia de se relacionar com outros homens. O abuso teria ocorrido em encontros descritos por ele como “cirurgias espirituais”, nos quais alegava agir sob orientação divina.
Em um dos episódios narrados, o ex-pastor tentou violentá-la sexualmente em seu quarto, chegando a abaixar suas roupas. A vítima contou que conseguiu escapar após resistir. Outro episódio citado envolveu contato íntimo forçado em uma mansão de Masocha em Sauchieburn, avaliada em mais de £500 mil.
O marido da vítima confirmou ter confrontado Masocha de acordo com a tradição do Zimbábue, que exige prestação de contas dos mais velhos. Segundo ele, Masocha se prostrou diante do casal e afirmou: “Sinto muito por ter te amado demais”.
A segunda vítima, de 58 anos, contou que procurou o líder religioso para interceder por seu marido em questões imigratórias. Ela relatou que, durante o encontro, Masocha alegou que ela era um “presente de Deus” e a tocou indevidamente sob o pretexto de expulsar demônios. Conforme seu relato, ele dizia que se tratava de uma troca espiritual: “bênçãos por obediência”.
Durante o julgamento, o promotor Michael MacIntosh afirmou que Masocha abusava da confiança de mulheres que o viam como um guia espiritual. O réu, que se autodenominava “profeta” e “homem de Deus”, negou todas as acusações e sustentou que as mulheres estavam mentindo.
Masocha fundou a Igreja Ágape em 2007, após atuar como professor de contabilidade na Universidade de Stirling. O ministério cresceu para mais de 2 mil membros, com congregações espalhadas pelo Reino Unido, Estados Unidos, Canadá e países africanos. Ele assumiu o título de arcebispo e vivia, segundo documentos do processo, um “estilo de vida internacional”, visitando igrejas e realizando pregações pelo mundo.
Essa não foi a primeira vez que Walter Masocha enfrentou acusações na Justiça. Em 2015, ele foi considerado culpado por tocar de forma imprópria uma diaconisa e uma estudante sob o mesmo pretexto de exorcismo. Na ocasião, foi condenado a prestar serviço comunitário e incluído no registro de criminosos sexuais, mas a decisão acabou sendo anulada posteriormente por erro judicial.
A juíza Susan Craig, responsável pelo julgamento atual, revogou a fiança e afirmou que os crimes demonstraram um “comportamento terrível”. Ela determinou a elaboração de relatórios de antecedentes e avaliação de risco para a definição de uma possível sentença estendida. A expectativa é que o nome de Masocha permaneça no registro de criminosos sexuais de forma indefinida, em função da gravidade e duração dos crimes.