igreja perseguida
Putin visitou “igreja” ortodoxa na Coreia do Norte para culto em sua homenagem
Este evento destacou que a visão de Putin para o “mundo russo” vai muito além das terras eslavas da Europa Oriental.
No início deste mês, Vladimir Putin visitou a Coreia do Norte em busca de aliados e influência. A visita despertou preocupações globais, especialmente na Coreia do Sul e no Japão, onde o potencial fortalecimento dos laços militares entre a Rússia e a Coreia do Norte é motivo de grande apreensão. Este evento destacou que a visão de Putin para o “mundo russo” vai muito além das terras eslavas da Europa Oriental.
Um aspecto da visita de Putin, no entanto, passou despercebido por muitos: sua parada na Igreja da Trindade Vivificante. Durante sua visita à Coreia do Norte, Putin participou de ofícios divinos em sua homenagem nesta igreja, uma ação carregada de simbolismo político, reminiscentes dos tempos soviéticos, com total apoio do Patriarca de Moscou, conforme relata Christian Today.
À primeira vista, pode não fazer sentido que o presidente russo e o chefe da Igreja Ortodoxa Russa prestem tanta atenção a uma pequena congregação em um estado isolado e stalinista. Contudo, subestimar a importância da Igreja Ortodoxa Russa como instrumento de soft power global é um erro. A aliança entre Putin e o Patriarca Kirill, forjada desde que este último se tornou primaz em 2009, amarra a ascensão do estado russo à igreja e vice-versa. A Igreja da Trindade Vivificante, estabelecida antes do episcopado de Kirill, tornou-se uma peça crucial nesta parceria.
Para entender a relevância da visita de Putin, é necessário um pouco de história.
O cristianismo ortodoxo na península coreana começou nos últimos dias do Império Russo. Em 1900, a mando do estado russo, um pequeno grupo de clérigos ortodoxos russos iniciou missões na Coreia. Durante 20 anos, a Rússia manteve uma pequena comunidade ortodoxa na Coreia. Após a Revolução Russa, o apoio do Patriarcado de Moscou cessou, deixando os cristãos ortodoxos coreanos sem suporte externo durante a ocupação japonesa e a Guerra da Coreia.
Em 1953, um capelão grego, parte das forças enviadas para lutar na península, tomou conhecimento da comunidade ortodoxa e ajudou a restabelecer uma paróquia em Seul. No ano seguinte, a Metrópole da Coreia foi incorporada ao Patriarcado Ecumênico de Constantinopla. Este status permaneceu inquestionável até que Kim Jong-il, após uma visita à Rússia em 2002, ordenou o estabelecimento do Comitê Ortodoxo Coreano. Em 2006, a Igreja da Trindade Vivificante foi consagrada em Pyongyang, com membros da igreja russa presentes.
Por quase 22 anos, a Igreja da Trindade Vivificante foi a única igreja ortodoxa na Coreia do Norte e uma das poucas igrejas cristãs no país.
Enquanto isso, na Coreia do Sul, a Metrópole da Coreia tornou-se um exemplo de sucesso do cristianismo ortodoxo fora de suas terras tradicionais, com uma maioria de clero e fiéis coreanos, além de expatriados gregos, russos e romenos adorando juntos.
Em 2019, o Patriarca de Constantinopla concedeu independência à Igreja Ortodoxa Ucraniana, provocando a fúria do Patriarcado de Moscou. Este movimento levou Moscou a estabelecer sua própria diocese na Coreia do Sul, ameaçando a unidade do cristianismo ortodoxo na península. A decisão de Moscou foi claramente geopolítica, reforçando a aliança Putin-Kirill por meio dos esforços missionários da Igreja Ortodoxa Russa.
A presença da Igreja Ortodoxa Russa em Pyongyang visa enviar uma mensagem sobre a esfera de influência russa, que não é apenas econômica ou militar, mas também cultural. Para Putin e Kirill, a missão é restaurar a dignidade percebida da Rússia. Ao orar em uma igreja construída por uma das últimas ditaduras stalinistas restantes do mundo, Putin enviou uma mensagem sobre o alcance e a profundidade da influência russa — uma mensagem destinada ao mundo inteiro.