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Quão esquisito é o nosso mundo!

Como um conceito tão perene quanto a bondade deixa de ser padrão?

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A bondade em nosso mundo é um mistério. É estudada, nas universidades, sob o nome de altruísmo, pois, como a Teoria da Evolução é a regra geral, atitudes de abnegação, renúncia e desprendimento em favor do próximo quase sempre são vistas como “algo estranho”, “surpreendente”, que merece a atenção de estudiosos. Tudo isto se dá, penso, pela perda milenar que tivemos do padrão correto do Homem. Não é o Homem atual que é o padrão, pois, conforme nos diz a Bíblia, este foi corrompido pela ação do Pecado (Rm. 5:12). Uma prova disto, segundo o Apóstolo Paulo, é a própria morte. Esta, por sua vez, é aceita, mas também um mistério.

O mistério da bondade – se posso chamar assim – é percebido no fato de que as pessoas, normalmente, não acreditam em ações puramente boas. A desconfiança quanto a estas é “normal”, à medida em que o padrão de “normalidade” se estabeleceu a partir do contrário. Normal, hoje, é aceitar que a bondade não é padrão em lugar (ou coração) algum.

Como um conceito tão perene quanto a bondade deixa de ser padrão? Quando é substituído por outro, tão forte quanto, tão perene quanto, ao menos aparentemente. E este outro conceito é o egoísmo, um fruto direto da maldade, consequência imediata do pecado. Assim, o egoísmo passa não somente a ser “o padrão”, como também uma espécie de “alvo”, por meio do e para o qual devemos voltar nossos esforços. Ninguém chega a dizer para você ser egoísta, pois sabe-se, no íntimo, que não cairia bem. Mas, efetivamente somos e incentivamos os demais também a serem, implementando o egoísmo como base e alvo em nossa sociedade doente.

Desse modo, o Cristianismo, que é a própria essência da abnegação, é visto como “um mal” e, portanto, ligado àquilo que atualmente há de mais “esquisito”. O Cristianismo exige, primeiramente, renúncia pessoal: “Dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me”, Lucas 9:23. Exige a “humilhação pessoal” diante de um Deus que tudo pode: “Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará”, Tiago 4:10. Requer que “tenhamos o outro como superior a nós mesmos”: “Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo”, Filipenses 2:3. Requer, enfim, que “façamos aos outros o que queremos que os outros façam a nós”: “Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a Lei e os Profetas”, Mateus 7:12. Aqui, Jesus Cristo sintetiza a Lei e os Profetas num mandamento que ilustra bem o que acabei de dizer.

Este, portanto, é exatamente o problema. Em um mundo onde tais expressões da verdade ressoam como “inatingíveis”, “utópicas” ou apenas “delirantes” é fácil perceber porque de fato o padrão do mundo é justamente o oposto. Bombardeados como somos para enxergarmos que o alvo de nossas existências é “nunca renunciar os sonhos, por nada nem por ninguém”, que “a humilhação é uma tática dos fracos”, que “devo fazer de tudo e em tudo para mostrar a todos como o que faço é superior”, e finalmente, onde se propaga que “devo exigir que me tratem como quero para talvez tratar os outros da mesma forma”, não é de admirar que, a não ser por uma ação de algo que fuja do modus operandi no qual estamos inseridos desde que nascemos, é impossível pensar diferente e rejeitar o mesmo processo que nós criamos, cultivamos, defendemos, sendo ele próprio o motivo de nossa sociedade viver constantemente doente, à beira do colapso.

A Bíblia não nos deixa dúvidas quando nos aponta escatologicamente a solução. Necessitamos de fato de “novos céus e nova terra”. De um modo de vida que não nos intoxique, que não nos sufoque, sendo alimentado justamente pelas ações que deveriam erradica-lo.

E o motor que permite que esta engrenagem sem fim continue trabalhando, como um ingrediente que não é percebido pelo Homem, mas que está presente em tudo, como algo que permeia toda a existência, é o pecado, justamente, o nosso desvio do padrão, o rasgo da existência, o ponto de descontrole de nossa espécie, que nos deixa vulneráveis aos nossos próprios medos, anseios e misérias, não nos permitindo alcançar o bem, a paz e a harmonia que podemos apenas idealizar.

E esse mundo continuará “esquisito”, invertido e envenenando-se a si mesmo, até que venha aquele que detém todo o poder para, enfim, pôr em ordem, equilibrar e restaurar todas as coisas no tempo do fim, como se nos está predito: “E eis que venho sem demora, e comigo está o galardão que tenho para retribuir a cada um segundo as suas obras”, Apocalipse 22:12.

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