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A batalha de Gogue e Magogue será contra Israel étnico ou espiritual?

A Bíblia mostra que a igreja não substitui e nem é uma continuação de Israel.

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Bandeira de Israel
Bandeira de Israel (Cottonbro/Pexels)

“É isto que acontecerá naquele dia: Quando Gogue atacar Israel, será despertado o meu furor, palavra do Soberano SENHOR.” (Ezequiel 38.18)

Já vimos que há conexão entre os textos de Ezequiel e Apocalipse e que ambos indicam uma batalha contra Israel. E é muito comum ouvir entre os cristãos que “nós somos o Israel de Deus”. Como assim?

Algumas pessoas sugerem que o termo “Israel” esteja se referindo a todos os cristãos. Essa linha de interpretação é conhecida por “Teologia da Substituição”. De acordo com esse pensamento todo aquele que aceita a Cristo como seu Salvador passa a fazer parte do “Israel de Deus”, passando também a ser descendente de Abraão, pela fé. Os textos usados para reforçar esse pensamento são os seguintes:

“Todos vocês são filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus, pois os que em Cristo foram batizados, de Cristo se revestiram. Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus. E, se vocês são de Cristo, são descendência de Abraão e herdeiros segundo a promessa.” (Gálatas 3.26-29)

“Portanto eu lhes digo que o Reino de Deus será tirado de vocês e será dado a um povo que dê os frutos do Reino.” (Mateus 21.43)

Para os teólogos que defendem essa interpretação, a morte de Jesus na cruz acabou com a distinção entre Israel e Igreja, eliminando as questões étnicas. Por esse motivo, eles não acreditam que o texto que estamos estudando esteja se referindo à restauração de Israel como nação.

Na interpretação baseada em Israel étnico – os judeus são o foco do ataque. E o termo “Gogue e Magogue” representa a união das nações que formam um exército para, literalmente, guerrear contra os *israelitas. Israel como Estado é considerado aqui “o relógio de Deus”.

Vale lembrar que muitas outras etnias foram inseridas entre os israelitas. Veja:

“Os israelitas foram de Ramessés até Sucote. Havia cerca de seiscentos mil homens a pé, além de mulheres e crianças. Grande multidão de estrangeiros de todo tipo seguiu com eles…” (Êxodo 12.37-38)

O próprio José, filho de Jacó (Israel) se casou com uma egípcia. O professor e hebraísta Luiz Sayão reforça também dizendo que “o Israel do Antigo Testamento não é exclusivamente judaico; muitos heróis da fé, citados na Bíblia, também não tinham origem judaica”.

Na interpretação baseada em Israel espiritual – os cristãos do mundo inteiro são o alvo do ataque. Nessa interpretação, o cenário bíblico é reduzido ao Messias e seu povo de forma geral. Ou seja, o termo “Israel” significa “povo de Deus” representado pela Igreja.

Romanos 11 – Sobre a descendência espiritual

A carta aos romanos é muito rica em ensinamentos teológicos sobre a doutrina fundamental da fé cristã (capítulos 1 a 11). A igreja em Roma era composta por judeus e gentios e, já naquela época, os fieis questionaram sobre a situação do povo judeu depois da vinda do Messias. Veja o que Paulo respondeu:

“Pergunto, pois: Acaso Deus rejeitou o seu povo? De maneira nenhuma! Eu mesmo sou israelita, descendente de Abraão, da tribo de Benjamim. Deus não rejeitou o seu povo, o qual de antemão conheceu.” (Romanos 11.1-2)

“Novamente pergunto: Acaso tropeçaram para que ficassem caídos? De maneira nenhuma! Ao contrário, por causa da transgressão deles, veio salvação para os gentios, para provocar ciúme em Israel.” (Romanos 11.11)

“Se alguns ramos foram cortados, e você, sendo oliveira brava, foi enxertado entre os outros e agora participa da seiva que vem da raiz da oliveira, não se glorie contra esses ramos. Se o fizer, saiba que não é você quem sustenta a raiz, mas a raiz a você.” (Romanos 11.17-18)

Nessa última passagem, Paulo se refere metaforicamente aos gentios como “oliveira brava” ou zambujeiro, que é enxertada na raiz da oliveira cultivada, que representa os israelitas. Qual é a diferença entre as duas árvores?

Israelitas (oliveira cultivada) e gentios (oliveira-brava) são mencionados nessa metáfora como sendo ramos de árvores que são da mesma família, as oleáceas. Em botânica, entendemos que a oliveira que é “cultivada” dá frutos e a oliveira-brava que é “silvestre”, e nasce espontaneamente, não frutifica, e quando dá alguns frutos, eles não são comestíveis. Paulo estava dizendo que os israelitas não frutificaram e, portanto, foram cortados da oliveira que tem sua raiz em Cristo.

Sobre a metáfora da oliveira

O fruto da oliveira é a azeitona, utilizada na produção de azeite. No hebraico, essa árvore também é usada como símbolo de frutificação. Sayão enfatiza que é a “árvore mais especial da região de Israel e do Oriente próximo”. Então, no texto em questão “os ramos originais” que são os israelitas, foram cortados, enquanto os ramos da oliveira-brava foram enxertados como, por exemplo, a moabita Rute e Raabe, mulher de Jericó.

Na verdade, naturalmente, os ramos de uma “oliveira-brava” jamais poderiam ser enxertados em um tronco de oliveira bem cultivada, pois não produziriam frutos. O contrário sim – a árvore boa é que deveria ser enxertada na árvore ruim. Essa prática era utilizada para renovar árvores que dão frutos sem valor. É possível que Paulo soubesse disso, mas provavelmente usou essa figura para ilustrar uma situação espiritual. Deus trabalha nas impossibilidades e realiza o sobrenatural. E o destaque do texto é exatamente a raiz e sua seiva, que simbolizam Jesus Cristo. É a raiz que transforma os ramos.

A evangelização deveria começar pelos israelitas

Segundo Sayão, a vocação do povo de Deus, desde a primeira aliança, no Velho Testamento, tinha caráter missionário a fim e atingir as demais nações. Eles deveriam proclamar a glória de Deus para o mundo inteiro. Esse tema começa em Gênesis:

“Então o SENHOR disse a Abrão: Saia da sua terra, do meio dos seus parentes e da casa de seu pai, e vá para a terra que eu lhe mostrarei. Farei de você um grande povo, e o abençoarei. Tornarei famoso o seu nome, e você será uma bênção. Abençoarei os que o abençoarem, e amaldiçoarei os que o amaldiçoarem; e por meio de você todos os povos da terra serão abençoados.” (Gênesis 12.1-3)

Mas os israelitas não entenderam que Jesus era o Messias, por isso não o receberam. Veja o que diz o texto no livro de João:

“Aquele que é a Palavra estava no mundo, e o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o reconheceu. Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus, os quais não nasceram por descendência natural, nem pela vontade da carne nem pela vontade de algum homem, mas nasceram de Deus.” (João 1.10-13)

Aqueles que o receberam e creram em seu nome se tornaram filhos de Deus. Quanto aos israelitas, a consequência é explicada no texto a seguir:

“Quando virem Jerusalém rodeada de exércitos, vocês saberão que a sua devastação está próxima. Então os que estiverem na Judéia fujam para os montes, os que estiverem na cidade saiam, e os que estiverem no campo não entrem na cidade. Pois esses são os dias da vingança, em cumprimento de tudo o que foi escrito. Como serão terríveis aqueles dias para as grávidas e para as que estiverem amamentando! Haverá grande aflição na terra e ira contra este povo. Cairão pela espada e serão levados como prisioneiros para todas as nações. Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos deles se cumpram.” (Lucas 21.20-24)

Essa profecia é uma parte do sermão escatológico de Jesus (Mateus 24). Como em vários outros livros da Bíblia, aqui vamos encontrar uma profecia temporal e futura ao mesmo tempo. Parte dela se cumpriu no ano 70 d.C., com a segunda destruição do Templo através dos romanos, a mando do imperador Tito. A primeira se deu através de Nabucodonosor, rei da Babilônia, em 586 A.C. Sayão observa que a tradição judaica chora esse dia, que é chamado de Tishá BeAv – O dia da destruição do Templo. Porque as duas vezes caíram no mesmo dia do calendário hebraico.

O Israel de Deus continua sendo a “nação de Israel”
“Irmãos, não quero que ignorem este mistério, para que não se tornem presunçosos: Israel experimentou um endurecimento em parte, até que chegasse a plenitude dos gentios. E assim todo o Israel será salvo, como está escrito: Virá de Sião o redentor que desviará de Jacó a impiedade. E esta é a minha aliança com eles quando eu remover os seus pecados.” (Romanos 11.25-27)

E… “se não continuarem na incredulidade, serão enxertados, pois Deus é capaz de enxertá-los outra vez.” (Romanos 11.23)

Deus tem promessas para o povo de Israel

“Trarei de volta Israel, o meu povo exilado, eles reconstruirão as cidades em ruínas e nelas viverão. Plantarão vinhas e beberão do seu vinho; cultivarão pomares e comerão do seu fruto. Plantarei Israel em sua própria terra, para nunca mais ser desarraigado da terra que lhe dei”, diz o SENHOR, o seu Deus.” (Amós 9.14-15)

“Contudo, vêm dias, declara o SENHOR, quando já não mais se dirá: Juro pelo nome do SENHOR, que trouxe os israelitas do Egito. Antes dirão: Juro pelo nome do SENHOR, que trouxe os israelitas do norte e de todos os países para onde ele os havia expulsado. Eu os conduzirei de volta para a sua terra, terra que dei aos seus antepassados.” (Jeremias 16.14-15)

“Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Salvarei meu povo dos países do leste e do oeste.
Eu os trarei de volta para que habitem em Jerusalém; serão meu povo e eu serei o Deus deles, com fidelidade e justiça.” (Zacarias 8.7-8)

Conclusão

Mediante os textos lidos, concluímos que a igreja não substitui e nem é uma continuação de Israel. Israel é um povo singular e exclusivo, que manteve seu idioma e sua cultura ao longo de tantos séculos, mesmo perdendo sua terra. E, segundo a Bíblia, eles voltam a habitar suas próprias terras, Jerusalém não estará mais sob o domínio dos gentios e será o palco do fim dos tempos. Israel, então, terá uma restauração espiritual e haverá novamente um Templo em Jerusalém até que encontrem o Messias para a salvação do “Israel de Deus”.

A igreja, portanto, que é formada pelos gentios, não pode desconsiderar essa raiz. Devemos sempre nos lembrar que “…a salvação vem dos judeus”. (João 4.22)

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Jornalista e pesquisadora apaixonada pela Bíblia. Desenvolveu um trabalho de "Jornalismo Investigativo Bíblico", é autora dos livros Derrubando Mitos e Apocalipse Investigado. Seus temas envolvem missões transculturais, Igreja Perseguida, teorias científicas, escatologia e análises de textos bíblicos.

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