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A Bíblia precisa ser atualizada?

Existem limites e consequências ligados ao comportamento das pessoas.

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Bíblia Sagrada (Foto: Jcomp/Freepik)

Tenho visto nos últimos dias uma crescente defesa dos direitos dos homossexuais e uma constante crítica ao posicionamento da igreja como instituição. Malgrado Deus não precise de quem O defenda, penso que os membros das igrejas devem saber estabelecer as diferenças substanciais que envolvem o tema Homossexualismo e Igreja (1Pe 3.15).

Não pretendo neste artigo defender a ideologia de gênero e exorcizar a fé cristã, nem tão pouco enaltecer a verdadeira e imprescindível Palavra de Deus e crucificar a ideologia de gênero. Meu objetivo é, tão somente, estabelecer trilhos seguros a serem seguidos pelos irmãos em Cristo que, dia após dia, enfrentam acaloradas questões sobre homossexualismo e igreja.

Todos são iguais perante a lei

O legislador constitucional, atendendo aos anseios da população brasileira, na segunda metade da década de oitenta do século passado, deu início a elaboração da Constituição Federal que viria a inaugurar um período pós ditadura militar. Assim, em virtude do quadro situacional da época a Carta Constitucional foi recheada pelo  estabelecimento de direitos que, por sua natureza, são inatingíveis por obra do legislador infraconstitucional, que, muitas vezes, movido por movimentos sociais ou políticas pessoais ou partidárias tende a alterar ou estabelecer textos de leis ditas ordinárias com o objetivo de afagar esse ou aquele interesse.

Esses direitos imutáveis são conhecidos como “Cláusula Pétrea”. Tais disposições, em princípio, de acordo com majoritária doutrina, não podem ser modificadas. A única maneira de alterar seria, em termos hipotéticos, estabelecer e convocar nova comissão constituinte e elaborar novo texto constitucional.

Como este artigo não tem por objetivo esgotar o assunto sob a ótica jurídica, irei pausar esta discussão pois, para a presente finalidade, basta reconhecer que a Maior Lei de nosso país assegura a TODAS as pessoas um tratamento IGUAL, segundo a LEI. A igualdade que se menciona no dispositivo (art. 5º, “caput”) objetiva assegurar tratamento isonômico a todas as pessoas sem nenhuma nódoa. Até aqui, qualquer diferença de tratamento entre as pessoas reconhecidas como homossexuais ou heterossexuais estaria, ao menos no campo das ideias, afastada e reputada como inconstitucional. Com base nos mesmos parâmetros, também está vedada a diferenciação entre cristãos e não cristão, pois todos são pessoas. O texto, contudo, continua e estabelece que “todos são iguais perante a LEI”. Que lei não pode estabelecer distinções? A resposta é simples e lógica: A LEI feita pelos homens!

Em síntese, nenhuma lei elaborada pelo Poder Legislativo poderá estabelecer diferenças, de qualquer natureza, ente pessoas brasileiras e aqueles que se encontram em território nacional.

Absolutamente TODOS possuem direitos a serem respeitados, independente de qualquer opção, orientação ou posicionamento político cultural, racial, social, religioso ou sexual.

A questão, embora delicada e palpitante, gera acalorados debates, pois atualmente, as pessoas encontram dificuldade em separar coisas, assuntos, temas ou fundamentações. Não devemos confundir “pessoas” – enquanto seres humanos e os comportamentos praticados; “direitos” – como algo conquistado e não como algo a ser estabelecido, e “igualdade” – algo a ser analisado no caso concreto.

Em se tratando dos direitos civis, TODOS são iguais em direitos e obrigações. Contudo, quer na igreja católica, quer na igreja dita como evangélica, começam a surgir vozes defendendo o direito dos homossexuais de participar de TODOS os atos de cunho religioso.

No campo religioso as bases a serem analisadas são diferentes e, portanto, requerem fundamentações distintas. Um bom engenheiro sabe que não pode analisar um solo rochoso da mesma maneira que analisa um arenoso. Um bom médico sabe que a enfermidade pode ser a mesma, mas os pacientes por serem pessoas ímpares necessitam de tratamentos específicos, bem como um nutricionista não serve a mesma comida a todas as pessoas.

Do que estamos falando

Ao se discutir a questão homossexual estamos analisando assuntos relacionados não ao sexo natural (afinal de contas eles mesmos não se reconhecem em seus corpos como sendo verdadeiros representantes de seus órgãos genitais, mas ao reconhecimento de direitos a serem instituídos em leis, em relação à prática COMPORTAMENTAL.

A questão que desafia uma análise mais detalhada não está na IGUALDADE, mas sim na LEI. Que lei deve assegurar os direitos dos homossexuais? A lei civil natural feita por pessoas eleitas para representar os interesses da população. Essa lei produz efeitos em toda a sociedade e seu objetivo é de elevar a qualidade de direito aquilo que na prática, de fato, já existe.

E como fica as relações nas igrejas?

A igreja é uma instituição humana que segue dois ordenamentos jurídicos, a lei dos homens no tocante a sua atividade civil e a lei divina no tocante as atividades religiosas. Estas últimas NÃO sofrem e nem estão sujeitas às primeiras, vez que por serem instituídas, segundo cremos, por Deus, estão acima da vontade dos homens.

Jesus, certa feita, quando colocado em debate para ver se cairia nas ciladas humanas disse: “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt 22.21).

Cada coisa no seu devido lugar, logo, devemos observar e saber diferenciar as situações. Respeito, acolhida, auxílio não se confundem com anuência ou incentivo.

Assuntos espirituais devem ser tratados em bases espirituais, assim como assuntos de ordem civil devem ser tratados com base na legislação civil.

Distinção ou preconceito

Distinguir algo pode ou não ter suas bases nos preconceitos, senão vejamos. No campo esportivo distinguimos torcedores do time “A” e do time “B”, que por suas roupas, palavreado ou pura e simples opção esportiva. Por outro lado, após realizar a distinção, é possível também ter preconceito em relação ao time “A”, conferindo aos seus torcedores pechas que, ainda que revestidas de certo grau de brincadeira, encontram forte cunho pejorativo.

Em relação aos homossexuais, independentemente de suas condutas, eles são pessoas dignas de respeito e de direitos e, como tal, devem ter sua integridade física, psicológica, moral e social respeitadas. O fato de não concordar com o COMPORTAMENTO não pode e nem deve ser utilizado como instrumento de agressão. Por outro lado, analisando a questão comportamental sob a ótica da igreja, destacamos que a Bíblica trata de regras comportamentais há mais de 4000 anos. Portanto, não se trata de algo que ainda está na fase de debates, análise e sujeita a aprovação.

Ministérios na igreja local

Aqui o regramento é diferente. Em João, 1.12, encontramos uma diferenciação baseada no comportamento individual. A questão de filiação divina está diretamente vinculada a um comportamento, voluntário e pessoal.

Também, lemos na Bíblia que nem todos estão aptos ao exercício do episcopado ou diaconato (1Tm 3, 1 a 13). Isso não é preconceito, mas distinção fundada no COMPORTAMENTO de cada pessoa.

Portanto, quer na vida secular, quer na vida eclesiástica, existem limites e consequências ligados ao comportamento das pessoas.

Atualização da doutrina bíblica para moldar-se a realidade

Aqui, talvez, esteja o maior equívoco. A Bíblia precisa ser “atualizada” ou “flexibilizada” para acolher as situações fáticas que pululam por toda sociedade?

Por limitações relacionadas ao tamanho do artigo irei responder sucintamente: NÃO!

A lei humana nasce de uma necessidade prática, vivida pela sociedade, para a qual não há uma resposta suficientemente segura e hábil a garantir a segurança das partes envolvidas. A luta homossexual é voltada a reconhecer uma situação COMPORTAMENTAL que, de fato existe, mas que por falta de amparo legal deixa seus agentes inseguros e descobertos. Assim, busca-se após a constatação de uma situação fática, a elaboração de uma lei que vise resguardar os interesses pessoais.

Contudo, esta não é a dinâmica das relações bíblicas. A Bíblia NÃO busca resguardar uma situação que de fato ocorre, pelo contrário, a Bíblia busca MUDAR O COMPORTAMENTO para se alcançar a segurança Divina. Em outras palavras, enquanto a lei dos homens busca regulamentar aquilo que acontece na vida real, a Lei de Deus busca mudar o que acontece na terra para adequar ao padrão divino.

Ainda, a Bíblia não busca satisfazer os interesses da sociedade ou das pessoas, a Bíblia busca preservar os interesses e a vontade de DEUS.

Por fim, a Bíblia NÃO reconhece o “direito” de ninguém, permanecer em seu comportamento pecaminoso, pelo contrário, ela aponta as falhas comportamentais com o objetivo de fazer com que a pessoa busque um padrão diferente de que usualmente é praticado.

Alterar as estruturas religiosas ou as interpretações bíblicas, fruto de labor por séculos, para atender aos anseios ou necessidades individuais é o mesmo que igualar a igreja a categoria de clube social que busca atender aos anseios da comunidade.

O homem muda, a Palavra de Deus não!

O homem erra, Deus é perfeito!

Devemos tratar o próximo com amor, respeito e consideração, mas a maior forma de amor é expressa quando, com carinho e gentileza, mostramos que determinado comportamento está errado aos olhos de Deus.

Ao arremate, e com os olhos voltados para aqueles que defendem a atualização ou “upgrade” da Bíblia como sendo a solução dos problemas, gostaria de lembrar que se como homens e falhos,  depois de muitos anos de estudo, análise e debates resolvemos conferir o status de “cláusulas pétreas” a disposições constitucionais feitas por homens, porque, não respeitamos a TOTALIDADE da Bíblia como “Cláusulas Pétreas”?

“O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar.” (Mt 24.35)

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