opinião
Demolidores de purgatórios, construtores de infernos
Tudo começa com a crítica.
Não há nada tão ruim que não possa ser pior. E a maior prova histórica desse fato nós encontraremos nos países que aplicaram na política as ideias de Marx. Quanto maior a aplicação, maior o sofrimento e a desgraça. Eles foram especialistas em demolir purgatórios para construir infernos. Quando não transformaram verdadeiros paraísos em geenas incandescentes.
Tudo começa com a crítica. Desde o Éden que tudo começa com a crítica, sutil ou aberta. Depois vem a promessa de algo melhor. Depois a propaganda em cima de umas poucas melhorias que fizeram. Não importa se foi só um enxerto, uma plástica que melhorou o rosto retirando da perna um naco de carne considerável.
Ninguém tão cedo vai reparar na perna, mas o rosto servirá de argumento. Até que a perna infeccione e tenha que ser amputada. E até que o próprio rosto tenha de pagar seu preço. Aí já é tarde demais. O poder está nas mãos deles. Então, não apenas com o suor do seu rosto você comerá do seu pão. Eles comerão o pão deles com muito, mas muito suor do seu rosto e a você deixarão as migalhas. A não ser que já tenha se tornado um deles.
O czarismo na Rússia não era o céu, mas com certeza o comunismo fez da Rússia o inferno. A China não era um hotel cinco estrelas quando Mao assumiu o poder. E ele a transformou em uma grande masmorra. A próspera Coreia do Norte virou campo de concentração. Cuba é a senzala dos irmãos Castros, reinando em sua Casa Grande. Não há espaço e nem tempo, mas basta conhecer um pouco da história do Vietnam, do Camboja, da Albânia e do Leste Europeu para começar a desfrutar de uma saudável “marxismofobia”. Esta doença pode salvar a humanidade!
Sua primeira crítica é contra as elites. Na verdade o problema dos marxistas não é a existência de uma elite. O que os incomoda é que os membros dessa elite não são eles.
O que os incomoda não é a pobreza em si. É a pobreza deles mesmos. Como podem eles, os conhecedores das leis da história não desfrutarem do poder absoluto? Eles já decifraram o enigma da existência, sabem onde está o paraíso futuro. Basta lhes dar poder e eles guiarão o mundo na direção certa.
Uma coisa se aprende na vida: muitas vezes, como Absalão, filho do rei Davi, o crítico apenas almeja o lugar do criticado. Não é o bem da sociedade o alvo final do marxista. É o seu próprio bem. A esquerda caviar[1] que o diga.
Eles querem ser a elite e a criticarão até tomar seu lugar. Claro que há sempre fatos ruins sobre o governo, a liderança, a elite. Sempre há. Lembre-se apenas que não há governo tão ruim que não possa ser pior. Já tivemos na história muitas Revoluções dos Bichos[2] para provar isso! Se não quer parábolas, conheça o Regime do Terror, fruto inevitável da Revolução Francesa.
Eis uma descrição exata da técnica de domínio comunista. Assim foi e assim tem sido:
“A técnica comunista de se insinuar numa sociedade consiste em isolar um segmento das classes média e baixa, geralmente a classe média baixa e a classe baixa alta. Nesse segmento é comum haver um pequeno grupo de intelectuais frustrados de classe média, os quais podem ter sido impedidos em suas tentativas de ascensão social ou representar a minoria incapaz.
Esses intelectuais se unem aos elementos da classe baixa, estes bastante sofridos nos aspectos econômicos, social e político, e assumem a liderança da revolução. A ex-classe alta tem de ser então liquidada, ou por meio do confisco, a fim de destruir seu poder econômico, ou pela destruição física, ou pela lavagem cerebral.
Tendo assumido a liderança, a nova classe alta, composta pelos membros do partido por determinados técnicos, estabelece então uma pesada barreira entre ela e a classe média. A liderança não é recrutada na classe média (…); as decisões e controle da comunicação continuam sendo exercidos por uma elite (…).
Por exemplo, na Alemanha Oriental, durante os últimos anos, os alunos mais brilhantes, filhos de profissionais da classe média, eram discriminados na obtenção de oportunidades para progredir nos estudos, enquanto os filhos menos inteligentes dos operários recebiam tratamento preferencial.
As pessoas selecionadas de acordo com esse sistema e que, por serem membros do partido pularam da condição de classe baixa para a mais elevada possível, naturalmente devem tudo o que possuem ao partido, não a realizações ou antecedentes pessoais. Por isso, são muito mais obedientes ao partido do que seria de esperar, pois a expulsão do partido significa não um movimento mais ou menos horizontal, como em nossa sociedade, mas uma dura perda de privilégios e posição social.”[3]
Temos que relembrar Alan Besançon. Nunca é o proletariado (a classe baixa) que exerce o poder. A ditadura do proletariado sempre foi uma ditadura no sentido mais cruel da palavra, mas nunca foi do proletariado. O poder é exercido pela seita ideológica que fala em nome do proletariado sem lhes dar chances de ser ouvido. É a elite do mal.
Não devemos estranhar que na Bíblia a história humana comece com a serpente criticando as determinações divinas, prometendo algo melhor em seguida, e no fim temos o desastre apocalíptico, com um governo totalitário exigindo para si obediência absoluta sob pena de morte.
Nem toda crítica é construtiva. Principalmente quando sua intenção não é corrigir o erro e sim se apossar do poder para tentar criar um mundo à imagem e semelhança de uma ideologia demente que já fez tanto estrago.
[1] Expressão de origem francesa que descreve a hipocrisia socialista que prega a igualdade e distribuição de riquezas, mas vive no luxo e na ostentação.
[2] Referência ao clássico Revolução dos Bichos, de George Orwell, onde os animais expulsam os donos da fazenda sob a liderança dos porcos, para em seguida ver os porcos estabelecerem um governo muito mais tirânico.
[3] NIDA Eugene A. Comunicação e estrutura social. Artigo publicado na obra Perspectivas, editora Vida Nova, 2011, p. 456.
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