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opinião

A responsabilidade do cristão nas eleições

Se o íntegro e justo não governar, o corrupto e injusto o fará.

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Vivemos em um país democrático, cuja Constituição Federal define que “todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente” (Brasil, 1988, artigo 1º, parágrafo único). A cada dois anos, somos chamados a exercer nosso poder político na escolha de prefeitos e vereadores, e de deputados estaduais e governadores, deputados federais e senadores, e na escolha do Presidente da República. Neste ano especificamente, elegeremos 28 Chefes do Executivo – 1 Presidente da República e 27 governadores e seus respectivos vices – e 1.599 legisladores – 1.059 deputados estaduais, 513 deputados federais e 54 senadores – para nos governar, pelo menos, nos próximos quatro anos (2019-2022).

Embora tenhamos o poder político para decidir quem nos governará, nós, Cristãos, muitas vezes, não damos a necessária atenção e/ou não atribuímos a devida importância a nossa participação consciente e ativa nas eleições. Uma das razões para essa apatia e/ou descaso em relação à política e ao nosso papel de cidadãos está relacionada com nossa visão acerca da política. Há ainda um discurso recorrente na igreja Cristã que prega a incompatibilidade da fé com a política e, por conseguinte, o não envolvimento do Cristão com a política em qualquer de suas dimensões.

Biblicamente, porém, o Cristão é chamado para ensinar e discipular as Nações, o que inclui uma atuação ativa em todas as esferas da vida, seja ela pessoal, familiar e eclesiástica, seja ela econômica ou política. No que se refere à esfera política especificamente, as Escrituras não só incentivam a participação na escolha de representantes, como também o envolvimento direto na política.

Saul e Davi foram declarados reis de Israel somente após a aprovação dos líderes religiosos e das tribos de Israel (1Sm 10. 19-24; 2Sm 2.4). Deus atribuiu ao povo a responsabilidade de aprovar o reinado deles, mesmo sendo Ele a indicá-los. Semelhantemente, a igreja primitiva foi chamada a escolher e escolheu, dentre os seus, sete homens de bom testemunho e cheios do Espírito Santo e de sabedoria para cuidar de suas viúvas (At 6.1-7).

Além de participar politicamente, o Cristão vocacionado também deve se envolver e buscar influenciar a política. José governou o Egito e influenciou significativamente as decisões tomadas por Faraó, rei do Egito. Certa vez, José aconselhou o rei a ajuntar os mantimentos a serem obtidos nos sete anos de fatura que a terra do Egito vivenciaria (conforme sonho dado por Deus ao rei) e guardá-los para servir de suprimento nos sete anos de fome que se seguiriam aos anos de fatura. Além de seguir esse conselho, Faraó colocou José como governador do Egito e essa Nação não só teve mantimento para os sete anos de fome, como ainda abasteceu outros povos carentes (Gn 41).

Do mesmo modo, Daniel atuou politicamente durante o governo de Nabucodonosor na Babilônia. Ele aconselhou o rei a praticar a justiça e a ter misericórdia para com os pobres (Dn 4.27). Nabucodonosor seguiu o conselho de Daniel e se tornou um Rei justo e misericordioso. A partir daí, Deus restituiu sua majestade, seu resplendor e aumentou a glória do seu reino (Dn 4.36).

A Rainha Ester também participou e influenciou o reinado de seu esposo, o Rei Assuero. Ester intercedeu junto à Assuero para que o povo de Israel não fosse destruído e aniquilado por seus inimigos e o rei ouviu o clamor de sua esposa. Pela atuação política de Ester, o povo de Israel gozou de alegria e paz nos anos seguintes (Et 7-9).

Além de José, Daniel e Ester, diversos profetas, dentre os quais, Moisés e Neemias, foram usados por Deus na esfera política para alertar, conscientizar e orientar os governantes a agir. Moisés exigiu de Faraó que libertasse o povo de Israel e o deixasse ir (Ex 8.1). Por sua vez, Neemias, autorizado pelo rei Artaxerxes da Pérsia, o qual dominava sobre o povo de Israel, liderou o povo na reconstrução dos muros de Jerusalém (Ne 1-13). A atuação política de Moisés libertou o povo de Israel da escravidão e a de Neemias restaurou a segurança e a atividade política e comercial de Jerusalém.

Se, por um lado, o envolvimento e a atuação do Cristão verdadeiro na política trazem alegria, paz e prosperidade para a Nação, por outro, o governo ímpio produz sofrimento e injustiça (II Sm 23. 1-4; Sl 33. 12; Pv 29.2). A nação de Israel viveu, por muitos séculos, sob governos tirânicos e opressores. Em Êxodo 3.9-10, Juízes 14.4, II Reis 25.1-21, entre outras passagens, as Escrituras relatam o domínio cruel de diferentes reis sobre Israel, os quais levaram o povo cativo e o escravizaram por muitos anos.

A apatia, o descaso e o não envolvimento na política de cristãos capazes, justos e tementes a Deus têm implicações negativas para a Nação. Se o íntegro e justo não governar, o corrupto e injusto o fará. Nosso papel enquanto Cristãos não se resume apenas em respeitar (Tt 3.1), obedecer (Rm 13.1-5) e orar (I Tim 2.1-3) pelos nossos governantes; compreende também o participar e o influenciar diretamente a política. Se quisermos ver nossa Nação transformada, precisamos assumir e exercer com conhecimento e sabedoria nosso papel político!

Notas:
1 Este é o décimo terceiro artigo de uma série de reflexões cujo objetivo é preparar os Cristãos para escolher de forma consciente e acertada seus representantes políticos nos períodos eleitorais e atuar enquanto agentes de transformação do Brasil a partir de suas respectivas profissões.

Possui graduação em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais (2007) e doutorado em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais e Universidade Harvard (2014). É pós-doutora em Ciência Política, especialista em Políticas Públicas e Participação Social.

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