estudos bíblicos
A salvação pela graça
Subsídio para a Escola Bíblica Dominical da Lição 7 do trimestre sobre “A obra da salvação”
II. O FAVOR IMERECIDO DE DEUS
- Graça de Deus versus mérito do homem
A graça de Deus remove a pretensão do mérito humano. A salvação é mais valiosa que qualquer coisa que pudéssemos dar a Deus. Na verdade, qualquer coisa que pudéssemos dar a Deus, já por direito dele! “Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém” (Rm 11.36). O apóstolo Paulo perguntava aos coríntios: “que tens tu que não tenhas recebido?” (1Co 4.7). Do Senhor vem a salvação (Jn 2.9), e é um presente de Deus que recebemos pela fé, não pelo esforço. Mesmo os esforços que seguirão à conversão, na luta pela santificação diária e pela vitória sobre o mal, não são esforços desprovidos de fé, nem substitutos à fé, mas esforços legitimados pela fé, que é a vitória que vence o mundo! (1Jo 5.4). O justo viverá pela fé!
Logo cedo na Igreja, os apóstolos cuidaram de resolver o equívoco reminiscente do judaísmo: a obrigatoriedade da observância da Lei mosaica para salvação. Uma grande discussão sobre esta questão ocorreu no concílio da Igreja em Jerusalém (At 15), na qual Pedro estabeleceu o que viria a ser um dos principais artigos de fé nos Credos, Confissões e Declarações de Fé das igrejas genuinamente cristãs posteriormente: “cremos que somos salvos pela graça de nosso Senhor Jesus” (v. 11, NVI). Não à toa este é um dos pilares da Reforma Protestante, e das igrejas verdadeiramente protestantes: Sola Gratia, ou seja, Somente a Graça! Graça que é o favor imerecido de Deus; graça que é a concessão de bens àqueles que, com justiça, mereciam a condenação. De Cristo são todos os méritos de nossa salvação, como diz Elienai Cabral, “o remédio para o pecado está, não em algum mérito pessoal do pecador, mas no mérito da obra expiatória de Cristo que tira o pecador do estado de pecado e o coloca ‘debaixo da graça salvadora de Deus através de Cristo Jesus’” (6).
No primeiro século ainda Paulo foi o apóstolo que mais combateu os enganos dos cristãos judaizantes que queriam a todo custo perpetuar a validade da Lei Mosaica e sustentar a interpretação equivocada de que a observância dela é que garantiria a salvação. Paulo sobe o tom de repreensão, e questiona os gálatas: “Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela carne?” (Gl 3.3). Ou seja: vocês que que foram regenerados e santificados pelo Espírito, por meio da pregação da fé (v. 2), querem agora concluir a vossa salvação pelo próprio esforço em praticar as obras da Lei? Então Paulo dá a sentença aos que persistirem em tentar alcançar por méritos próprios a salvação: “Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído” (Gl 5.4). Ninguém em tempo algum poderia ser justificado pela Lei, e menos ainda o seria após ela ter caducado para dar lugar à revelação mais sublime de Deus em Cristo Jesus!
- A graça não banaliza a ofensa do pecado
Um ponto importante e bem destacado nesta Lição, é como diz o próprio comentarista, o Pr. Claiton Pommerening, “a graça não é salvo-conduto para pecar”. Se de um lado os judaizantes buscavam um regresso às obras da Lei por acharem que a salvação da graça era “fácil demais” – estes são os genuínos legalistas, os veneradores da lei –, por outro lado havia o equívoco de muitos cristãos em pensar que devido a salvação um presente de Deus, poderiam continuar deliberadamente na prática do pecado, dando assim lugar à libertinagem. Dois extremos que o Novo Testamento corrige reiteradas vezes!
A mesma graça que é salvadora é também santificadora. Escrevendo sua carta pastoral a Tito, Paulo diz: “Porque a graça salvadora de Deus se há manifestado a todos os homens, ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente, Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo” (Tt 2.11-13). Preste atenção nos detalhes:
- A graça é salvadora
- A graça está manifesta a todos os homens
- A graça ensina-nos a viver de modo sóbrio, justo e piedoso
- A graça ensina-nos que devemos renunciar à impiedade e às concupiscências mundanas
- A graça possibilita-nos aguardar a vinda de Cristo
Os que vivem na época da graça não estão liberados para viver como bem entenderem, alimentando pensamento impuro, usando linguajar impróprio, envolvendo-se em todo tipo de entretenimento, visitando todo tipo de lugar, relacionando-se sexualmente fora do casamento, assumindo liderança e pastorado na igreja apesar de envolvimentos em traições, divórcios, bebedeiras e escândalos. A graça não pode se prostituir! Ela é santa, visto que procede do Deus santo! Ela não pactua nem com o legalismo, nem com a libertinagem. A graça chama-nos a um compromisso de santidade!
Se existem igrejas que multiplicam exacerbadamente as regras de conduta para seus membros, tornando a ética cristã algo quase impraticável e geralmente furtando do Espírito Santo seu papel preponderante na santificação, há, ao contrário destas, aquelas igrejas que dizem ter entendido plenamente a graça de Cristo, e se abriram para a banalização do divórcio, a ordenação pastoral de membros homossexuais, para o consumo de toda sorte de bebida alcoólica e até para a dessacralização do culto cristão, introduzindo elementos pagãos como músicas seculares na liturgia, e participação de cantores e bandas não convertidos ao Evangelho de Jesus Cristo. Mas a graça não nos liberta para o pecado e sim do pecado! Não fomos feitos livres para viver do modo como bem entendemos, mas para viver em total submissão à Cristo, pela fé. É neste sentido que está posta a declaração paulina: “Permaneceremos no pecado, para que a graça abunde? De modo nenhum. Nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?” (Rm 6.1,2). Os que vêm a Jesus, vêm para serem aliviados do fardo e da opressão do pecado (Mt 11.28-29), não para terem, em nome de Cristo, mais pecados acumulados ao seu fardo!
Os que foram verdadeiramente alcançados pela graça, precisam ouvir atentamente a exortação do apóstolo Paulo: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.1,2). Se nos entregamos à libertinagem, então, “temos recebido a graça em vão” (2Co 6.1).
Que surpresa haverá naquele Dia de prestação de contas diante de Deus, quando muitos libertinos reivindicaram a graça de Cristo sobre si, mas apenas sofrerão o juízo eterno, por haverem banalizado a tão preciosa dádiva divinal!
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