opinião
Como eu me vejo revela quem eu sou?
“Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais” Jr 29:11
É comum frases de efeito, bradadas de pulmões cheios, proclamadoras de que somos aquilo que queremos ser, que somos exatamente do modo com o qual nos enxergamos. Mas será que essas famigeradas frases estão de acordo com as Escrituras Sagradas? É sobre isso que discorremos nesse sinótico artigo.
Certa feita, um escritor disse que cada ponto de vista, é a vista de um ponto. De fato, tal assertiva tem sua parcela de verdade. É bem verdade que o que realmente somos, ou seja, concretizado por nossa identidade, deve ser observado e concluso de um ponto que nos enxergue de forma direta, límpida e sem quaisquer embaraços.
O que estou querendo dizer é que a referência que nós utilizamos para nos enxergar pode ser correta, ou não. Caso seja correta, estaremos vendo o verdadeiro retrato de nossa identidade; se não, esse retrato estará, no mínimo, distorcido. Mas por que as referências são tão importantes? São elas que fundamentam nossas bases e nossa forma de enxergar tudo ao nosso redor, inclusive nós mesmos. Nossas referências fundam nossos valores; nossos valores fundam nossos pensamentos; e nossos pensamentos fundam nossas atitudes. Simples assim. Passemos então à análise de tais referências.
Existem três principais referências que você pode estar utilizando para enxergar quem você é. A primeira delas, e mais comum em nossa sociedade, é a alterreferência. O prefixo alter, proveniente do latim, significa outro. Assim, a alterreferência é a forma de se enxergar a partir da referência do outro, ou seja, da forma como os outros nos enxergam ou desejam que nós sejamos. Explico: pessoas que utilizam esse tipo de referência vivem para criar uma imagem que agrada os outros. Veem sua própria identidade sendo moldada pelo desejo e estigma implantados por certo grupo da sociedade ou por uma pessoa específica. Você conhece alguém assim?
Quem não conhece alguém que estudou determinado curso universitário só para agradar os pais? Se via como médico, porque os pais assim queriam, mas na verdade desejava ser professor? Ou quem não conhece alguém tão preocupado com a moda ou com a forma com a qual as pessoas a verão, que mais parece um manequim sendo transfigurado toda vez que a tendência estilística muda? Na verdade, essas pessoas não sabem quem realmente são e, por tal motivo, projetam nos outros a forma de ver a si mesmas. Na verdade, elas não gostam do que veem em si mesmas, preferindo a imagem implantada pelos outros. Ocorre que a alterreferência produz uma forma distorcida de se enxergar, ocasionando doenças na alma e problemas de identidade.
Com o tempo – para uns leva uma vida inteira – pode a pessoa cair em si e perceber a inautenticidade da alterreferência. Ela decide que não mais será o que os outros querem, mas o que ela mesma quer ser e que ninguém vai impedi-la! É então que surge a segunda forma de enxergar sua própria identidade: a egorreferência. O prefixo ego provém do grego e significa eu. Quem se enxerga a partir dos óculos da egorreferência decide que pode ser quem quiser ser, e ninguém pode pará-la. Alimentados por um antropocentrismo desenfreado, discursos motivacionais e inflamados pela emoção gritam que você é quem você quer ser!
Infelizmente, a egorreferência sofre de inautenticidade e é contrária às Escrituras Sagradas. Conquanto o discurso seja desejável aos ouvidos incautos, ele tem por fim a frustração e a euforia, apenas. Funciona mais ou menos assim: a pessoa clama com voz estrondeante: eu serei o Presidente da República. Então, o que acontece? Ela passa a viver fora da realidade. Quando não consegue ser eleita Presidente da República, logo vem a decepção e a frustração. O problema não está em querer ser Presidente da República, mas em não se enxergar como verdadeiramente é, e por isso, não gostar do que vê e querer ser algo diferente do que enxerga.
Na alterreferência, a pessoa só quer ser como os outros desejam porque não suporta ser como é. Na egorreferência, a pessoa só deseja se tornar como ela mesmo gostaria de ser porque não aguenta mais ser quem ela realmente é, ou ao menos, quem ela pensa que é. Tanto a alterreferência como a egorreferência carecem de autenticidade e não encontram amparo na Palavra de Deus.
Por fim, há uma terceira forma de enxergar quem você é. Trata-se da teorreferência. O prefixo teo, proveniente do grego, significa Deus. Teorreferência é a forma de se enxergar a partir da referência divina. Ora, nós, humanos, somente conseguimos nos enxergar por meio de máscaras. Nós vestimos máscaras todos os dias. Uma hora vestimos a máscara de pai, em outro momento a de filho, no momento seguinte a de cônjuge, depois a de amigo e essas máscaras vão moldando a forma como enxergamos a nós mesmos; enfim, é como se o nosso rosto fosse invisível, e só pudéssemos nos enxergar diante do espelho se vestidos com nossas máscaras. Se as tirarmos, não conseguimos nos enxergar! Não vemos absolutamente nada!
Veja, se precisamos de máscaras para nos enxergar, há uma grande probabilidade de não nos enxergarmos da forma correta. Explico: é que os eventos de nossas vidas distorcem as nossas máscaras. Nossos traumas, lutas, medos, dificuldades, decepções e traições podem distorcer nossas máscaras, motivo pelo qual podemos estar enxergando quem não somos de verdade. Contudo, é o que podemos ver, já que só nos enxergamos por meio de máscaras, muitas delas distorcidas e desfiguradas pelas dores da vida.
Por outro lado, Deus não nos enxerga com máscaras! Ele é o único que pode nos enxergar quando tiramos nossas máscaras! Ele nos vê além das máscaras! Se nos olharmos sem máscaras diante do espelho, não enxergamos nada; é como se nosso rosto fosse invisível. Todavia, isso não ocorre com Deus. Ele nos enxerga como realmente somos! Somente Ele pode ver além de nossas máscaras, coisa que nós mesmos não podemos fazer.
É por isso que, para que você possa descobrir quem você realmente é, você precisa se enxergar com os olhos de Deus! Somente a partir dos olhos do Senhor você pode ter uma visão real, perfeita, e sem distorções de quem você é, pois só Ele pode nos enxergar sem máscaras!
E como fazer isso? O primeiro passo é ser Templo do Espírito Santo, aceitando Jesus como Senhor e Salvador de sua vida. O Espírito Santo é quem pode mudar a forma como nos vemos, de modo que possamos nos enxergar com os olhos do Senhor. Em seguida, é nas Escrituras Sagradas que descobrimos, não somente quem Deus é, mas quem nós verdadeiramente somos. Mas o mais fascinante disso tudo é que Deus nos enxerga como a obra-prima de Sua criação; como herdeiros; como filhos; como aqueles que são mais do que vencedores; como destinatários da paz de Deus; como a menina-dos-olhos do Senhor.
O inimigo de nossas almas tem se utilizado de máscaras distorcidas para aprisionar a muitos, de modo que você não possa se enxergar como você verdadeiramente é, ou seja, como o Senhor Jesus te vê. Não permita isso. Descubra-se!
É na Bíblia Sagrada que você descobrirá quem você realmente é! Então, que tal começar a se descobrir pelos olhos do Senhor?
Que Deus te abençoe grandemente, em nome de Jesus!
Referência: MADUREIRA, Jonas. Inteligência Humilhada. São Paulo: Vida Nova. 2017. 336 p.