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Estar em Cristo agora não é garantia de entrada no reino eterno

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Segue a análise de mais um texto-prova que alicerça a crença da perseverança condicional dos santos.

Em 2 Pedro 1:11 o autor escreve:

Pois desta maneira é que vos será amplamente suprida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

Pedro relaciona a entrada de um cristão no reino eterno de Cristo ao cumprimento de condições prévias. Ele diz: “desta maneira”. Como? Confirmando a “vocação e eleição” (v 10). Esse verso é claramente sinergista [1]. O autor não esconde sua convicção da necessidade de uma cooperação humana para que a eleição se concretize, nem oculta a crença de que a chamada não é obrigatoriamente irresistível.

É importante ter certeza se os receptores da epístola eram de fato pessoas conversas. Em Escrituras que suscitam questões como possibilidade de queda e segurança eterna da salvação, não deixar dúvidas quanto ao estado de conversos ou não dos interlocutores é condição sine qua non. Uma razão para isso é a teimosia de alguns em afirmar que passagens como essas não fazem referência a autênticos cristãos nem tem relação com crentes genuínos que lessem tais textos. Estas passagens são dirigidas a ou fazem menção a pseudo crentes dizem.

Mas, para Pedro, sua epístola católica estava sendo escrita para orientar crentes autênticos ou não? No verso 10 o escritor usa o título irmãos. Por cerca de trezentas vezes esse título é aplicado aos crentes no Novo Testamento. O versículo em foco trata de um desses momentos. Mesmo diante de tanta falta de inquirição espiritual, havia esperanças no autor sagrado de que seus irmãos recobrassem os sentidos e passassem à frutificação espiritual.

Outra prova encontra-se no verso nove: “havendo-se esquecido da purificação dos seus antigos pecados”. Esses esquecidos são aqueles que deveriam procurar “diligentemente fazer firme a […] vocação e eleição” (v 10). Ou seja, os irmãos, crentes verdadeiros – aqueles que são dos nossos. Em inatividade espiritual, as virtudes elencadas nos versículos 5-7 não fluiriam de forma robusta e a ausência delas implicaria no esquecimento do perdão dos pecados cometidos anteriormente à conversão.

Retrocedendo um pouco mais, leiamos os versículos 3 e 4, respectivamente: “visto como o seu divino poder nos tem dado tudo o que diz respeito à vida […]” e “pelos quais ele nos tem dado as suas preciosas e grandíssimas promessas […]”. Pedro, ao usar o pronome “nos”, não duvida que fala com e para “irmãos” genuínos. Esta certeza não muda no ato do alerta. Ao dizer “vós” em 1:5, ele se dirige às mesmas pessoas contadas com ele nos versículo 3-4 como membros da prole divina.

Ninguém deveria duvidar que Pedro fala a homens e mulheres convertidos, mas, sempre tem quem teime dizer o contrário.

Notamos no versículo 11, e 10, que o autor trabalha com duas frentes, a saber: a iniciativa divina e a reação do homem. O cristão é instado a confirmar sua eleição. Esta não pode ser levada às últimas consequências caso exista frouxidão moral e espiritual. Pedro não dá como questão líquida e certa que seus irmãos perseverarão finalmente, embora tenha esta expectação. Isso pode ser percebido na cadeia de declarações enfáticas e intensas como “procurai”, “com diligência”, “cada vez maior”, “confirmar”.

O fato é que há uma real possibilidade de queda se não forem cultivadas virtudes próprias à vida de um cristão. É impossível a fé ficar em pé sozinha e não é dado que a fé, haja o que houver, se manterá viva. Por isso, os leitores são convocados a serem frutíferos. Expressões bíblicas como “não apagueis o Espírito” e “sem a santificação ninguém verá ao Senhor” seguem na mesma linha da intenção petrina. Similarmente, Paulo dialoga com os filipenses de modo sinergístico (Fp 2:12-13). Em 1 Coríntios 10:1-12 o apóstolo dos gentios exorta os crentes a deixarem o pobre nível de espiritualidade que eles estavam vivendo. Caso contrário, seus privilégios salvíficos se perderiam. Analogamente Paulo cita a experiência de Israel depois da libertação do Egito. Sendo conduzidos em graça e sob o favor divino e na comunhão do Senhor, muitos israelitas sucumbiram por causa da idolatria, murmuração e rebelião.

Confirmar a eleição vivendo a fé, o conhecimento, o domínio próprio, a perseverança, a piedade, a fraternidade e o amor, é resguardar-se do tropeço (v 10). Tal tropeço pode ser temporário (o filho pródigo, por exemplo) ou definitivo (Hb 6:4-6). A responsabilidade dos irmãos, diz Pedro, é fundamental para a contínua revolução moral da alma deles. No que concerne a Deus, tudo foi feito e providenciado para que fosse “amplamente concedida a entrada no reino eterno do […] Senhor e Salvador Jesus Cristo”. Porém, no que diz respeito aos irmãos, haviam condições a serem observadas de modo sério e diligente, caso contrário sofreriam o desastre espiritual de consequências eternas.

Ninguém diga que estar em cristo agora é garantia de entrada no reino eterno. Pode-se sentir-se um salvo, pois o Espírito testifica com o espírito humano que a pessoa é salva. No entanto, essa salvação deve ser confirmada diuturnamente pelo crente sempre amparado pela graça divina.

Nota:

[1] Tal sinergismo não é humanista nem para o autor (isso deve ser óbvio) nem para mim. Nas Escrituras, toda habilidade de cooperação humana no processo salvífico é um dom divino e nunca algo inato.

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