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Especialistas não entendem por quê ricos se convertem a Cristo

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Especialistas não entendem por quê ricos se convertem a Cristo

O crescimento das igrejas evangélicas no Brasil, antes vinculado principalmente às camadas populares, tem alcançado novos públicos e provocado uma reavaliação entre estudiosos da religião. Dados recentes e análises acadêmicas indicam um número crescente de conversões entre empresários, artistas e profissionais de alta escolarização, revelando uma mudança no perfil sociocultural dos fiéis.

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O sociólogo Diogo Corrêa, professor da Universidade de Vila Velha e da École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), em Paris, afirma que esse fenômeno confronta uma concepção consolidada na academia: “Durante muito tempo, predominou na academia a ideia de que o crescimento dos evangélicos no Brasil estaria ligado diretamente ao déficit econômico, à baixa escolaridade e à precariedade das condições sociais dos adeptos”, escreveu Corrêa em artigo publicado na Folha de S.Paulo.

A mudança de perfil tem se evidenciado por meio de novas práticas e iniciativas adotadas por igrejas em regiões de alto padrão. Um dos exemplos citados por Corrêa é a Lagoinha Global, cuja sede em Alphaville, na Grande São Paulo, dispõe de áreas VIP destinadas a celebridades e figuras públicas. “Essa iniciativa desafia essa interpretação clássica”, observou o sociólogo, ao comentar a associação histórica entre evangelismo e exclusão social.

Nos anos 1990 e 2000, pesquisas de autores como Fernando Cartaxo Rolim e Cecília Mariz destacavam o papel das igrejas pentecostais e neopentecostais como substitutas da ação estatal nas periferias urbanas. Essas igrejas eram vistas como agentes de apoio espiritual e material, oferecendo redes de solidariedade, espaços de acolhimento e, por vezes, ajuda financeira direta. Corrêa acrescenta que essa abordagem ressaltava também um contraste recorrente entre a ascensão financeira de líderes religiosos e a permanência da pobreza entre grande parte dos membros.

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Atualmente, com aproximadamente 65 milhões de fiéis, os evangélicos representam cerca de 31% da população brasileira, segundo estimativas citadas por Corrêa. A composição social desse grupo, porém, tornou-se mais diversa, abrangendo diferentes extratos econômicos: “Não estamos mais diante apenas de um fenômeno religioso restrito às camadas populares ou marginalizadas, mas sim de uma realidade transversal que inclui representantes das elites sociais, econômicas e culturais”, afirmou.

Um caso recente que ganhou repercussão nas redes sociais ocorreu em Florianópolis, onde a influenciadora digital Tâmara Thaynne registrou sua visita à igreja Get Church. Ao ver a imponência do templo, comparou sua estrutura à de um shopping center. Após assistir a uma declaração do pastor local, que afirmou buscar “honrar a Deus com excelência”, Tâmara revisou sua opinião. Para Corrêa, situações como essa ilustram a transformação no modo como o público enxerga o universo evangélico: “Trata-se de um fenômeno que desafia diretamente a explicação tradicional”, concluiu.

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A expansão da adesão às igrejas evangélicas entre membros das elites sociais brasileiras representa um novo capítulo na história religiosa do país. Para estudiosos, compreender essa nova configuração é essencial para analisar o impacto das igrejas evangélicas nas dinâmicas culturais e sociais do Brasil contemporâneo.

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