opinião
Eu estou de luto pela música cristã. O que fizeram com ela?
Há também muita bajulação envolvida nesse relacionamento entre os cantores e seus fãs.
Vivemos dias de confusão total na música evangélica, a que chamamos agora de música gospel. Esse termo veio lá dos norte-americanos. Foram eles que deram nome, novos rumos e nova identidade, e finalmente, foram eles que nos influenciaram, para o bem e para o mal.
E já vão longe os dias em que os cantores evangélicos cantavam de forma simples, não faziam longas e cansativas ministrações. Eles simplesmente ajudavam na preparação para a mensagem que seria pregada logo mais pelo pastor. Eles ajudavam a elevarem o clima de adoração e devoção a Deus no culto público, e só. Não havia show, não havia apresentação, havia temor.
Quando ouvi um certo áudio, que anda circulando desvairadamente pela internet, que é atribuído a uma jovem e talentosa cantora gospel, uma compaixão surgiu no meu coração. Não somente por ela, mas por todos os que circulam nesse meio.
Se for ela mesma a protagonista desse triste drama, a cantora estaria, então, se despindo daquela roupagem gospel fabricada pela assessoria de imprensa? Os xingamentos e as discussões daquele áudio me fizeram chorar por dentro. A que ponto chegamos? Onde está o nosso erro? Por que temos que presenciar essa derrocada total de uma cultura evangélica que deveria ser diferente?
O grande problema é que temos sido iguais aqueles aos quais o Senhor mandou combater, repreender e ensinar. Eis o nosso problema. Temos nos portado, hoje, tal e qual o povo israelita se portou ao entrar na Terra de Canaã. Aqui estamos nós repetindo os mesmos erros que eles. Ao invés de condenar e destruir, temos mantido a abominação, nos misturado e nos tornado igual aos moradores dessa terra que Deus já amaldiçoou. É só fazer uma análise na a área musical evangélica. Repare no grande interesse que temos por celebridades que dizem que se converteram. Repare também que logo depois do anuncio da conversão surge no mercado o produto dessa migração, e o show secular torna-se show “gospel”, a música atrevida recebe pinceladas de espiritualidade.
Há também muita bajulação envolvida nesse relacionamento entre os cantores e seus fãs. Só a utilização desse nome “fã” no nosso meio já denuncia escancaradamente que algo está muito errado com o povo que se diz separado por Deus. A palavra Fã é uma abreviatura do termo estadunidense Fanatic e denomina aquela pessoa que tem admiração demasiada por algo ou alguém. Nesse ambiente entra em cena as indústrias fonográficas e as editoras, que de forma profissional trabalham com estes “fanáticos”, disponibilizando farto material com o fim de aguçar esse sentimento, cada vez mais. Objetos como pôsteres, autógrafos, camisetas, canecas e milhares de outros mais são providenciados, além das apresentações ao vivo. É inegável que há uma relação comercial bem estabelecida.
E pior é que todas as formas de comercialização foram adicionadas passivamente ao nosso meio evangélico. E o mais danoso em toda essa relação entre os fãs evangélicos e seus “ídolos” não é tanto esses objetos oferecidos para venda, mas sobretudo, a áurea de santidade que lhes é imputada, já na saída. Todos eles fazem ministrações, todos eles pregam e ensinam, a eles são entregues a condução total dos cultos nas igrejas, mesmo que estes cantores tenham acabado de supostamente se converterem ao evangelho. Há um interesse das empresas que os divulgam de que estes, de imediato, se tornem referencial para os cristãos, tanto de conduta como de santidade.
As músicas viram também tratados teológicos, de modo que muitas heresias são cantadas como verdade, e a grande maioria nem se dá conta disso. A realidade por trás de toda essa orquestração é que muitos desses cantores jamais leram as Escrituras toda, não foram discipulados e acompanhados por um pastor idôneo, não tiveram tempo para amadurecer a fé. E por não estarem prontos, eles aceitam toda essa estrutura comercial e acabam por entrar em terreno perigoso e escorregadio. Aceitando toda essa bajulação e lisonjas públicas excessivas, mal percebendo que eles entraram em uma rota de desmoronamento, perigosa e fatal.
É por isso que muitos deles acabam não suportando e sucumbem. Tombam para a frente como aqueles ídolos dos filisteus tombaram diante da Arca da aliança. Para mim esses ídolos gospel são pobres coitados que inadvertidamente adentraram em um terreno santo, que é a glória de Deus. E o profeta Isaías segue avisando. “ Eu sou o Senhor; esse é meu nome! Não darei a outro a minha glória, nem a imagens o meu louvor”. Nada pode ser posto entre o homem e Deus, a não ser o seu filho Jesus Cristo. Somente a Trindade Santa suporta a adoração.
Presenciar jovens talentosos sucumbindo aos prazeres do mundo é triste demais. Mas, a verdade é que poucos sabem lidar com os talentos que são lhes são dados por Deus. E ainda muito poucos são os que entendem que este talento que lhes foi cedido é somente para a edificação da igreja, e para a evangelização dos povos e cada um será cobrado pelo que recebeu do Senhor. Quando ouvimos a interpretação de uma linda canção, ou lemos um excelente livro, ou ouvimos uma linda pregação, ou ainda outra coisa que remeta à beleza, esse meio que foi utilizado tem um objetivo específico que é apontar para o Criador. Tudo que é belo tem endereço certo, a glória de Deus.
Por isso devemos olhar para estes portadores de talentos com solidariedade, porquanto trazem em si algo que não lhes pertence. E que se mal utilizados, estes os podem destruir completamente. Lembram de Sansão? Aquele jovem recebeu força e vigor fenomenal para livrar o povo. Mas, logo, logo, ele começou a fazer as coisas à sua maneira, usando a fabulosa força divina para os seus prazeres. O final dessa história eu e você conhecemos bem, destruição, choro e arrependimento culminando na morte dele.
Precisamos urgentemente rever muitas das nossas próprias atitudes em relação a estes cantores e cantoras do nosso meio. Devemos começar a fazer a diferenciação correta do que é canto e do que é pregação. Cantor quase nunca é pregador e mestre, salvo estritíssimas exceções. Cantores não são melhores que o restante do povo, cantores não são infalíveis, cantores pecam, cantores são limitados, cantores caem, cantores precisam levantar e prezar, mais do que nunca, pela santificação, como todos nós. O nosso exemplo máximo continua sendo Cristo. Ele veio ao mundo para apontar para a Glória do Pai.
E a nós nos cabe somente seguir imitando a Ele. Mesmo que certos cristãos são tão comprometidos com Cristo que também nos serve de direcionamento, estes precisam ser observados bem de perto, e só quem convive com eles é que poderão saber sobre suas obras, se são boas ou más. Nós, de longe, ouvindo suas músicas não poderemos saber, de fato, vivem o que cantam. Mas, torcemos para que vivam em santidade e conforme os dons que lhes foram entregues.
Soli deo glória.
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