igreja perseguida
Cristãos enfrentam guerra e perseguição, mas igreja cresce no Irã
A guerra entre Irã e Israel, que resultou em mortes de civis nos dois países nos últimos dias, impôs novos desafios à Igreja secreta iraniana, já fragilizada pela perseguição religiosa constante. Segundo a organização Portas Abertas, cristãos locais relatam medo, perdas familiares e intensificação da vigilância estatal.
Após ataques israelenses a usinas nucleares no Irã, o país entrou em estado de alerta. Em Teerã, moradores enfrentam longas filas para deixar a capital ou abastecer veículos. O governo iraniano, liderado por um regime islâmico desde 1979, tem reprimido a divulgação de imagens da guerra e reforçado a censura à imprensa.
“Uma família cristã em uma das principais cidades do Irã perdeu o pai. Ele havia enviado sua esposa e dois filhos pequenos para uma cidade mais segura, mas, ao se preparar para deixar a casa, uma explosão de bomba nas proximidades tirou sua vida. Sua família agora está tomada pela dor”, relatou o pastor Ali*, responsável por diversas igrejas domésticas no país.
Cristãos iranianos, considerados apóstatas sob a lei islâmica do regime, têm sido particularmente afetados. Morteza*, cristão local, explicou que qualquer um flagrado gravando ou compartilhando imagens pode ser acusado de espionagem, agravando o risco para os seguidores de Jesus.
“Os cristãos são especialmente vulneráveis, pois correm o risco de serem acusados de espionagem e considerados ameaça à segurança nacional. Se sua fé for descoberta, as consequências são ainda piores. Por favor, nestes dias sombrios, seja uma voz pela igreja iraniana”, declarou Morteza, em contato com a Portas Abertas.
A missionária cristã Fereshteh* descreveu o colapso nas cidades: “As pessoas estão abandonando suas casas e pertences, fugindo das grandes cidades sem saber se ou quando poderão voltar. Os preços dos alimentos dispararam, e muitos estão tentando estocar em caso de emergência”.
Esperança em meio à guerra
Apesar do temor causado pelos bombardeios, alguns iranianos enxergam no conflito uma possível ruptura com o regime islâmico. Lana Silk, diretora da organização Transform Iran, afirmou que muitos no país acolheram com esperança os ataques a instalações do governo.
“O povo do Irã há muito se sente preso sob um regime repressivo. Muitos acreditam que essa pode ser a única maneira de uma mudança real acontecer”, disse Silk. Ela também destacou que revoltas anteriores foram esmagadas com violência.
A cristã Mona reforçou esse sentimento: “O povo do Irã não quer guerra. Eles anseiam por paz. Mas o que pode ser feito quando o governo se recusa a renunciar e precisa ser removido por força externa? Talvez agora seja o momento em que o sangue deles trará mudança real e liberdade”.
Uma igreja perseguida que cresce
A Igreja no Irã, majoritariamente clandestina, tem vivido crescimento notável mesmo sob repressão. Desde a Revolução Islâmica de 1979, o regime eliminou o evangelismo público, expulsou missionários estrangeiros e proibiu a distribuição da Bíblia em persa. Pastores foram mortos, e comunidades foram forçadas à clandestinidade.
A Missão Portas Abertas destacou que, apesar dessas medidas, o número de cristãos iranianos aumentou de 500 em 1979 para mais de 1 milhão atualmente, segundo pesquisa da GAMAAN (Grupo de Análise e Medição de Atitudes no Irã), com sede na Holanda.
Segundo a Iranian Bible Society, cerca de 2.000 iranianos têm se convertido a Jesus diariamente. Mesmo diante da proibição oficial, os cristãos continuam compartilhando sua fé de forma discreta.
Atualmente, o Irã ocupa a 9ª posição na Lista Mundial da Perseguição 2025, elaborada pela Portas Abertas. Essa classificação reflete os altos níveis de risco enfrentados por cristãos no país, principalmente os ex-muçulmanos.
*Nomes foram alterados por razões de segurança.