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Planeta descoberto por cientistas reabre debate: há vida fora da Terra?
A possibilidade de existência de vida além do nosso sistema solar voltou a ganhar destaque esta semana após cientistas detectarem impressões químicas consideradas promissoras na atmosfera do planeta K2-18b. A descoberta foi realizada por meio do telescópio espacial James Webb, da NASA, e divulgada em setembro de 2025.
De acordo com os pesquisadores, foram identificados dois gases — dimetil sulfeto (DMS) e dissulfeto de dimetila (DMDS) — que, na Terra, são produzidos exclusivamente por processos biológicos, principalmente por organismos como o fitoplâncton marinho. Apesar do entusiasmo no meio científico, líderes cristãos e estudiosos da Bíblia ponderam a questão sob uma perspectiva teológica e doutrinária.
O cientista e escritor Marcos Eberlin, pós-doutor pela Purdue University (EUA), destacou que o universo existe para manifestar a glória de Deus. Citando o livro de Isaías, ele afirmou: “Os céus manifestam a glória de Deus, mas a Terra nos foi dada de presente”. Para Eberlin, a Bíblia não apresenta nenhuma indicação clara de que exista vida fora da Terra. “O planeta Terra é único, há milhares de condições únicas que só a Terra possui. Esperar que tenha vida em outro planeta por processos naturais é impossível. Não há nenhuma indicação segura”, declarou.
Eberlin também criticou a ideia de que a vida possa ter surgido espontaneamente em outros locais do universo. Segundo ele, essa premissa ignora a complexidade e singularidade do surgimento da vida na Terra, algo que, conforme a fé cristã, aponta para a ação sobrenatural de Deus (Gênesis 1:1).
O pastor José Ernesto, líder da Igreja Presbiteriana Água Viva em Vitória (ES) e articulista da revista Comunhão, compartilha da mesma análise. Para ele, comparar vestígios químicos em K2-18b com a confirmação de vida é semelhante a tirar conclusões precipitadas: “É como se pegássemos uma pequena concha na praia e, com base nessa concha, montássemos toda uma teoria de como é todo o oceano”, afirmou.
O pastor ainda citou Salmo 8:3-4 como referência: “Quando olho para o céu, que tu criaste, para a lua e para as estrelas, que puseste nos seus lugares — que é um simples ser humano para que penses nele?”. Para ele, a Bíblia afirma a centralidade do ser humano no plano de Deus: “Vem sempre uma dúvida: será que estamos sozinhos neste imenso universo? A resposta é sim!”, concluiu.
Segundo José Ernesto, especular sobre vida fora da Terra pode desviar o foco do propósito revelado nas Escrituras: o resgate da humanidade por meio do Evangelho. “Discutir se existe vida em outro planeta é desviar o foco da dependência e dos planos de Deus para a humanidade”, acrescentou.
Entusiasmo moderado entre cientistas
A descoberta dos gases em K2-18b foi recebida com entusiasmo na comunidade da astrobiologia, mas com cautela. Nos últimos anos, anúncios semelhantes sobre possíveis indícios de vida fora da Terra não se concretizaram em confirmações definitivas. A prudência é reforçada pelo fato de que, embora os gases detectados sejam, na Terra, produtos de processos biológicos, sua origem em ambientes alienígenas ainda é incerta.
Terra: o único lar da vida?
No meio cristão, há divergências sobre a possibilidade de vida em outros locais do universo. O pastor e professor acadêmico Geraldo Moyses Gazolli Junior, mestre em Ciências da Religião e doutorando em Teologia, destacou que a Bíblia não afirma explicitamente a existência de civilizações extraterrestres como as popularizadas pela cultura contemporânea. No entanto, ele chamou atenção para um texto em Apocalipse 12:10-12, que diz: “Por isso, alegrai-vos, ó céus, e vós que neles habitais”.
Gazolli interpreta esse trecho como uma sugestão de que existe vida além da Terra no plano espiritual: “Na cultura antiga, o universo era conhecido como céu, e irmãos nossos habitam o universo e celebram a queda de Satanás pelo nosso bem”, afirmou. Para ele, a ideia de que Deus continue trazendo vida em diferentes partes do universo é, dentro de uma perspectiva teológica, uma possibilidade que demonstra a grandiosidade da criação.
Embora a Bíblia não negue a vastidão do cosmos (Salmo 19:1 – “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia a obra das suas mãos”), as Escrituras enfatizam que a vida humana, criada à imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1:26-27), ocupa um lugar central no plano divino.