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Lideranças evangélicas contestam dados do Censo 2022

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Lideranças evangélicas contestam dados do Censo 2022

Lideranças evangélicas manifestaram insatisfação com a interpretação de que os dados do Censo 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indiquem uma estagnação no crescimento do número de evangélicos no país. Segundo o levantamento, 26,9% da população brasileira com mais de 10 anos se declara evangélica — o que representa cerca de um em cada quatro brasileiros.

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Embora o número represente avanço em relação aos censos anteriores, ficou abaixo das projeções feitas por setores religiosos e analistas do segmento.

A publicação dos dados ocorreu três anos após a coleta, iniciada em 2022, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), e finalizada sob a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A demora na divulgação também gerou questionamentos por parte de líderes religiosos.

Questionamentos

O pastor Silas Malafaia, da Igreja Vitória em Cristo, foi um dos primeiros a se manifestar de forma crítica. Em entrevista, declarou: “Eu não fico preocupado com essa questão numérica de percentagem, se cresceu mais, se cresceu menos. Fico até rindo.” Em seguida, questionou a credibilidade do levantamento: “Tem um monte de coisa para ser questionada. Eu, com todo respeito, onde a esquerda mete a mão, tenho dúvida. Só para te dizer, eu não acredito em número desses caras.”

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Malafaia enfatizou que sua preocupação principal é com o avanço prático da igreja no país, e não com dados estatísticos. “A igreja está crescendo, estamos pregando o Evangelho.” Para ele, o comprometimento dos evangélicos é mais intenso do que o de outros grupos religiosos: “Quando alguém diz que é evangélico, é que pelo menos uma vez por semana vai na igreja. […] Se o cara estiver afastado da igreja, ele não diz que é evangélico, porque sabe que, para ser, tem que praticar.”

O pastor também comparou com os católicos, afirmando que muitos não conhecem os próprios dogmas. “Muitos católicos não sabem nem os dogmas da sua religião […]”, disse. Segundo ele, o IBGE não diferencia os chamados “católicos praticantes”, o que, em sua opinião, distorce os dados.

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Projeções internas

O apóstolo Estevam Hernandes, fundador da Igreja Renascer em Cristo e coordenador da Marcha para Jesus, também manifestou ceticismo quanto aos dados. “O crescimento real é maior do que o levantamento feito,” afirmou. De acordo com Hernandes, estimativas internas e observações do cotidiano indicam que os evangélicos já ultrapassaram a marca de 35% da população brasileira. “Sentimos nas igrejas, e também há o reflexo da presença de evangélicos em todos os setores da sociedade.”

Ele atribuiu possíveis distorções ao contexto da coleta, que ocorreu no período pós-pandemia. Além disso, criticou mudanças metodológicas, como a exclusão de crianças com menos de dez anos, grupo que, segundo ele, representa uma parcela significativa entre os evangélicos. “O povo evangélico tem média de idade bem abaixo dos católicos. […] Acho que precisa fazer correção do método.”

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Viés ideológico e manipulação

César Augusto, líder da Igreja Fonte da Vida, compartilhou avaliação semelhante. “O que a gente vê é um crescimento muito maior. Hoje, seguramente, os evangélicos são mais de 34% da população,” afirmou. Ele apontou a presença crescente dos evangélicos na cultura popular e na mídia como indícios de expansão. “Você vê como estão se voltando para o público evangélico, cantores gravando músicas evangélicas […] em todas as camadas da sociedade.”

Augusto também sugeriu que interesses ideológicos poderiam ter influenciado os dados. “Querendo ou não, tem segmentos que se incomodam com nosso crescimento, especialmente o pessoal de esquerda.” Ele mencionou a abertura constante de novas igrejas como um sinal claro de expansão. “Aluga-se um salão, põe 50, 100 cadeiras, um microfone, uma caixa de som, um violão. Daqui um mês está cheio.”

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Projeções para o futuro

O deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), ex-presidente da Frente Parlamentar Evangélica e ligado à Igreja Vitória em Cristo, também comentou os dados do IBGE. Segundo ele, a presença evangélica tende a impactar diretamente o cenário político do país: “Evangélicos têm tendência a serem conservadores e de direita, na sua maioria. […] 80% tendem a ser de direita, talvez uns 15% ainda se identifiquem com a pauta de esquerda, e 5% não têm preferência.”

Cavalcante projetou que, até 2030, os evangélicos representarão a maioria da população. A estimativa é mais otimista do que a feita pelo demógrafo José Eustáquio Alves, que anteriormente previa essa virada para 2032, mas revisou a projeção com base nos novos dados.

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Críticas internas

Entre os líderes evangélicos, também houve manifestações mais moderadas. O pastor Victor Fontana, da Comunidade da Vila (Igreja Presbiteriana), declarou não ver falhas nos dados do IBGE. Em entrevista à Folha de S. Paulo, apontou que o crescimento mais lento pode refletir crises internas no segmento: “A recente pesquisa da Atlas/Intel mostra 73% dos participantes alegando desconfiança em relação às igrejas evangélicas.”

Fontana destacou fatores como escândalos financeiros e sexuais, além de uma associação política mal planejada, como razões para a perda de credibilidade. “Isso contribui muito para o afastamento, especialmente entre os mais jovens,” avaliou.

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O Censo é a pesquisa demográfica mais abrangente realizada no Brasil por um órgão governamental. Seu objetivo é coletar dados sobre população, habitação, religião e outras características sociais, por meio de entrevistas domiciliares em todas as regiões do país. O recorte religioso, divulgado apenas em junho de 2025, é um dos mais aguardados pela sociedade civil e por líderes políticos e religiosos.

A metodologia usada nesta edição do Censo passou por ajustes, como a delimitação por faixa etária, que excluiu menores de 10 anos da contagem religiosa. Isso, segundo críticos, pode ter contribuído para a percepção de que os números ficaram aquém do esperado.

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