estudos bíblicos
Uma salvação grandiosa
Subsídio para a Escola Bíblica Dominical da Lição 2 do trimestre sobre “A supremacia de Cristo”
II. UMA SALVAÇÃO NECESSÁRIA
- Uma obra da graça
“A total depravação da humanidade, a alienação de Deus, a maldade generalizada, a mentira, ira, prostituição, corrupção, idolatria, inveja, e outras incontáveis mazelas da sociedade são chagas terríveis que não podem ser curadas doutro modo a não ser através da cruz de Jesus Cristo” (2). “A cruz se fez necessária, porque o pecado se fez real. Se fez necessária porque estávamos vendidos ao pecado, e ‘sem derramamento de sangue não há remissão’ (Hb 9.22)” (3).
Como Cristo que assumiu para si voluntariamente a missão de salvar-nos, poderia oferecer o sangue da remissão em nosso favor se não assumisse também para si a forma humana? “Sendo achado em forma de Deus”, disse Paulo, “não teve por usurpação ser igual a Deus [ou ‘não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se’, NVI], mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz” (Fp 2.6-8). O autor da carta aos Hebreus, tendo ressaltado muitas vezes a superioridade do Filho, agora destaca que ele, enquanto homem, “por um pouco foi feito menor que os anjos, Jesus, coroado de honra e de glória por ter sofrido a morte, para que, pela graça de Deus, em favor de todos, experimentasse a morte” (2.9, NVI).
O autor da carta ressalta que a morte de Cristo fez-se necessária porque Deus resolveu graciosamente nos salvar. “Pela graça de Deus, em favor de todos” (v. 9). Deus não estava obrigado a nos salvar, mas visto que “Deus amou o mundo” (Jo 3.16), e que “o Filho do homem veio buscar e salvar todo aquele que se havia perdido” (Lc 19.10), logo, o sacrifício de Cristo fez-se necessário como uma condição sine qua non para a reaproximação da humanidade com Deus. Em sua carne, Cristo abriu para nós um “novo e vivo caminho” (Hb 10.20). Na verdade, mais que abrir um caminho, ele fez-se o próprio caminho! (Jo 14.6).
- Jesus, os anjos e os homens
Segundo Craig Keener, alguns cristãos judeus, “reconhecendo Jesus como sobre-humano, mas não querendo ofender seus colegas judeus que defendiam a unicidade de Deus não admitia a divindade de Jesus”. Keener diz que “judeus cristãos do século 2 retratavam Jesus como um anjo superior. A tentação desse modo de pensar provavelmente já estava presente entre os leitores dessa carta” (4). A carta aos Hebreus corrige, então, este posicionamento, evidenciando que Jesus é ao mesmo tempo Deus, adorado pelos anjos, e perfeitamente homem; e nesta humanidade ele “foi feito menor que os anjos”, para sofrer a morte por todos os homens.
O autor da carta aos Hebreus ressalta que Jesus não é mediador dos anjos, mas dos homens (2.16). Se Cristo fora um anjo, como alguns judeus pensavam, ele não poderia ser salvador dos homens, pois “os anjos são espíritos ministradores enviados para servir” (1.14). O teólogo Jacó Armínio traz observações pertinentes sobre a mediação de Cristo:
“Ele é chamado Emanuel, em dois sentidos; em primeiro lugar, porque Ele é Deus e homem, na unidade da sua pessoa, e, em segundo lugar, porque, sendo assim, Ele uniu Deus e os homens na função da Mediação. Mas Ele não está entre Deus e os anjos. Considere, ainda, a declaração de Hebreus 5.1: ‘Todo sumo sacerdote, tomado dentre os homens, é constituído a favor dos homens nas coisas concernentes a Deus’. Todavia, Cristo não é tomado dentre os anjos e, portanto, não foi ordenado para os anjos nas coisas que dizem respeito a Deus. Realmente, afirmo, com confiança, que não havia nada a ser feito, por nenhuma mediação pelos anjos, ou para o bem dos anjos, diante de Deus. Acrescento, ainda, que um Mediador não deveria ser de natureza inferior àquela por quem Ele atua nessa capacidade. Cristo, contudo, em sua natureza humana, foi feito ‘um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte’ (Hb 2.9). Portanto, Ele não é Mediador a favor dos anjos. Finalmente, observo que os anjos são ‘espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação’ (Hb 1.14). ‘Não foi aos anjos que sujeitou o mundo futuro’ (Hb 2.5), mas a Cristo Jesus, em primeiro lugar, e a todos os seus irmãos, em segundo lugar, cuja natureza Ele santificou em si mesmo, e exaltou consigo mesmo àquela dignidade. Portanto, Cristo não é o Mediador dos anjos”. (5)
Agora, não é só Cristo em si mesmo que é superior aos anjos, mas também a relação que ele nos permite desfrutar com Deus por meio de seu sacrifício é superior à relação de Deus com os anjos. Pelo sangue, Cristo trouxe “muitos filhos à glória” (2.10). Não é dito que aos anjos de Deus foi dada herança junto com Cristo ou a glória de Cristo, mas aos salvos, sim: “eu dei-lhes a glória que a mim me deste” (Jo 17.22). Não são aos anjos, mas aos homens, que Cristo chama de “irmãos” (2.11). É sabido de todos que para os anjos que caíram nenhuma propiciação foi oferecida, de tal modo que já estão eternamente condenados; mas aos homens caídos, à raça humana contaminada pela chaga do pecado, Deus em Cristo, “pela graça” (2.9), concedeu remissão. Que oportunidade! Que favor! Que privilégio! Ainda nas palavras de Jacó Armínio: “a união que existe entre Cristo e os cristãos da raça humana é mais estrita e íntima do que aquela que existe entre Ele e os anjos, devido à consubstancialidade de sua natureza humana com a dos homens, da qual os anjos estão separados” (6)
Sim, indubitavelmente a raça humana tem o privilégio de pela fé receber uma grandiosa salvação que nem mesmo aos anjos foi concedida! E isso, é claro, não deve produzir em nós orgulho, mas temor e gratidão ao Deus de toda graça e bondade, pois “isto não vem de vós, é dom de Deus” (Ef 2.8). A “engenharia da salvação” é uma obra divina. Soli Deo Gloria.
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