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opinião

Na dificuldade, descubra suas forças interiores

A diferença para o sucesso ou para o fracasso está na postura.

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Força Interior
Força Interior (Foto: Direitos Reservados/Deposiphotos)

“O êxito da vida não se mede pelo caminho que você superou, mas sim pelas dificuldades que superou pelo caminho.”  (Abraham Lincoln)

Várias músicas brasileiras produzidas duran­te o período de regime militar possuem um sabor especial porque, para transmitir suas mensagens e evitar que fossem barradas pela censura, seus compositores se esforçavam em esconder seus verdadeiros significados, que muitas vezes eram de críticas ao “sistema”. Isso faz com que, ao escutá-las, haja a satisfação da descoberta.

Aliás, o filósofo Schopenhauer, ensinando a arte de escrever, cita outro pensador, Voltaire, que afirmou: “o segredo para ser entediante é dizer tudo”. 

Percebe-se a verdade dessa lição, por exemplo, na música “Girassol”, cantada em dueto pela Priscilla Alcântara e pelo youtuber Whindersson Nunes. 

Num determinado momento, a letra diz: “Que eu seja todo dia como um girassol”. Ora, bastaria ter parado aqui. Haveria um mistério a ser desvendado. “O que quiseram dizer?”, perguntaríamos. Então, cada ouvinte preencheria com um significado que lhe fizesse sentido e que seria válido, desde que não destoasse do restante da letra, que é gospel, ou seja, voltada para adorar o Criador. Porém, acabaram com a graça da música quando em seguida completam: “De costas para o escuro e de frente para a luz”.

Então, no caso das artes, a censura estatal agiu como uma dificuldade externa que exigiu que os artistas usassem ao máximo sua criatividade a fim de não serem barrados e, só assim, conseguissem transmitir uma mensagem.

Viver longos períodos de tranquilidade facilmente pode levar a um marasmo que vai anestesiando até que se passa a fazer as coisas quase no automático, mesmo as que inicialmente eram complexas, com o nefasto efeito de ador­mecer conhecidas características e também de impedir que venham à tona habilidades até então ocultas e que algumas vezes só eclodem quando sujeitas a ambientes de intensa pressão.

A humanidade está repleta de histórias de pessoas que conseguiram sobreviver e ainda ficaram mais fortes após atravessar momentos de severas dificuldades, pois descobriram talentos e habilidades que não imaginavam possuir. Basta procurar na internet sobre “histórias de superação em meio a crises” e você encontrará relatos incríveis.

Mas, cuidado! Não se deixe levar por pensamentos pessimistas como: “isso não é para mim”; “não sou tão inteligente”; “não tenho um propósito especial neste mundo”; “isso é para a próxima geração, para os mais novos”; “isso é para os ricos”; “isso é para quem nasce pobre e passa muita dificuldade na vida, então precisa se esforçar muito e por isso fica forte”; “não tenho grandes ambições, apenas quero pagar as contas”. Evite pensar assim. Proíba-se.

Sim, é verdade que muitas histórias parecem relatos he­roicos, de seres humanos incríveis que construíram grandes empresas, conquistaram nações, fizeram importantes descobertas, inventaram coisas fenomenais. Contudo, acontecimentos com essa grandiosidade são “pontos fora da curva” e ao comparar com sua vida talvez você tenha dificuldade em se enxergar tão capaz. 

É importante que saiba que esse nível extraordinário de realização é exceção e que é infinitamente maior a quantidade de pessoas comuns que, apesar de não terem ficado famosas e ocupado as manchetes pelo mundo, conseguiram superar grandes crises individuais.

São pessoas que, enquanto atravessavam momentos de desemprego, falência, doença, divórcio, abandono, traição comercial, injustiça, falecimento, acessaram habilidades e talentos que estavam adormecidos e, consequentemente, conseguiram realizar atos que até poderiam ser simples em momentos normais, mas que em determinada época representaram grandes vitórias, como garantir o alimento da família, pagar o aluguel da moradia, comprar remédio para os pais doentes, manter os filhos numa boa escola para que tivessem a chance de um futuro melhor etc.

É a história da dona de casa que (como minha avó paterna) de repente é abandonada pelo marido com cinco filhos pequenos e se vê obrigada a prover o sustento para o lar. Da esposa que, diante das enormes dificuldades que o marido está enfrentando no trabalho, resolve produzir ou vender algo e consegue o louvável mérito de ajudar no sustento da casa. Do homem que sofre uma limitação física e que precisa aprender a fazer algo menos braçal e se torna um empreendedor. São infinitas as situações de superação pessoal e familiar.

As transformações individuais decorrentes das dificuldades não ocorrem apenas na área financeira. Vários são os que só perceberam o tamanho da fé e da confiança que tinham em Deus após passarem momentos de grandes apuros. Outros apenas depois de enfrentar humilhantes necessidades pessoais é que se tornaram generosos com o próximo. Inúmeros os que precisaram ser injustamente acusados para entender a importância do direito à ampla defesa. Incontáveis os que tiveram que errar gravemente para compreender a relevância da misericórdia e do perdão. Muitos precisaram ficar doentes e dependentes para aprender a humildade.

Somos muito mais capazes do que imaginamos, mas as condições externas agem como moldes e assim vamos lentamente sendo conformados, atrofiando nossas capacidades. Por isso, às vezes, é necessário um ambiente externo de forte pressão para romper as muralhas e os confortos e trazer à superfície a força, as habilidades e os talentos que já estavam lá dentro.

O leitor já deve ter assistido a filmes de guerra ou de batalhas medievais e se questionado se teria a coragem e a determinação necessárias para encarar confrontos tão sangrentos. Sob as circunstâncias adequadas, provavelmente teria a mesma coragem.

É interessante notar como da própria “maldição” (dificuldades exteriores) surge a “bênção” (crescimento pessoal, superação). Veja como Deus no deserto mandou usar a imagem de uma serpente de metal pendurada num lugar alto para servir de salvação contra o veneno inoculado pelas serpentes reais que atacavam os murmuradores. É Ele ensinando a ver sob outro ângulo aquilo que aflige. Essa, por exemplo, é a lógica por trás das vacinas (injetar aquilo que nos faz mal, para ficarmos imunes, mais fortes) e dos remédios (“somente a dose correta diferencia o veneno do remédio” – Paracelso, 1493-1541).

O que Albert Einstein disse ser bom para o coletivo também é válido para cada um como indivíduo: “Dificuldades e obstáculos são fontes valiosas de saúde e força para qualquer sociedade”.

Por fim, a diferença para o sucesso ou para o fracasso está na postura com a qual se encaram as batalhas que a vida impõe, sejam elas menos ou mais sangrentas. Lembre-se de que o Criador é a fonte primária para lhe dar força (“Ele fortalece os cansados…” – Is 40:29) e indicar a direção (“Eu lhe ensinarei o caminho por onde você deve ir; Eu vou guiá-lo e orientá-lo” – Sl 32:8). Ele está “ansioso” para ajudar e, se preciso for, se deixará ser ouvido passando sobre as copas das amoreiras (1 Cr 14:15) para nos dar segurança e confiança.

Este trecho foi extraído do livro “Princípios para a Vida”.

Advogado, escritor e palestrante. É autor de seis livros e co-autor de outros. Em seus textos, aborda temas religiosos, jurídicos e de aconselhamento profissional e pessoal. É mestre Direito pela Universidade de Girona, na Espanha, e possui cinco pós-graduações lato sensu. Casado com Raquel e pai de três filhos, Enzo, Giovanah e Vitório.

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